sábado, 23 de junho de 2012

Fernando Lugo é cassado e deixa Presidência do Paraguai

O presidente paraguaio Fernando Lugo discursa após impeachment
Reprodução: Marcos Brindicci/Reuters

O Senado do Paraguai aprovou nesta sexta-feira o impeachment do presidente Fernando Lugo, por 39 votos favoráveis, contra 4 (e duas abstenções). Considerado culpado por deputados e senadores, o chefe de estado foi automaticamente afastado do cargo - ele é o primeiro presidente a ser destituído na história do país. Quem assume em seu lugar é o vice-presidente, Federico Franco, que deve permanecer no posto até a realização de eleições gerais previstas para abril de 2013. Franco foi convocado de imediato para prestar juramento diante do Congresso Nacional como novo presidente do Paraguai. Líder do Partido Liberal, ele é membro da Aliança Patriótica para a Mudança (APC), coalizão que venceu as eleições presidenciais de 2008.


Cinco acusações contra Lugo

A comissão de acusação apresentou documento com cinco argumentos contra o presidente:
1. Massacre de Curuguaty
2. Protesto de grupos socialistas na sede das Forças Armadas, com a aprovação de Lugo - considerado um desrespeito à ordem nacional
3. Assinatura arbitrária de um controverso protocolo, o que foi visto pelos opositores como um atentado à soberania da República
4. Incapacidade do presidente em conter a insegurança que assola o país
5. Instabilidade causada no campo, especialmente em Ñacunday, devido às invasões de terras - que teriam sido facilitadas por Lugo

Em seu discurso oficial após a decisão, Fernando Lugo acusou o Legislativo de "ferir profundamente" a democracia, que, segundo ele, foi "traída covarde e traiçoeiramente" pelo Senado. O ex-presidente afirmou ainda que a Casa transgrediu todos os direitos de defesa e reiterou que sempre atuou de acordo com a lei. "Hoje, não é Fernando Lugo que recebe um golpe, é a história paraguaia e sua democracia", declarou, afirmando também estar disposto a responder por suas ações como ex-mandatário.
Aprovado a toque de caixa, o processo de impeachment de Lugo durou pouco mais de 24 horas: da manhã de quinta-feira, quando a Câmara aprovou o pedido de julgamento político por 76 votos contra 1 (da deputada do partido de esquerda Frente Guazú), até o fim da tarde desta sexta, quando o Senado - a quem cabia a decisão final - decidiu cassar o chefe de estado. Lugo é acusado de "mau desempenho de suas funções" de presidente, após a morte de 17 pessoas, entre policiais e camponeses, em confronto armado durante uma reintegração de posses há uma semana.
Defesa e acusação - O presidente se ausentou durante todo o processo e enviou seus representantes, que argumentaram que as acusações contra o presidente careciam de provas concretas e criticaram a "subjetividade" dos congressistas. Enquanto a sessão ocorria no Senado, Lugo participou de uma reunião ministerial com representantes de Brasil, Argentina, Bolívia, Colômbia, Equador, Peru, Uruguai e Venezuela, além do secretário-geral da Unasul, Alí Rodríguez Araque, no Palácio Presidência.
O argumento da acusação foi o de que Lugo, além de mau desempenho como presidente, tem vínculos com grupos guerrilheiros e está estimulando um conflito social no país (leia mais no quadro ao lado). Os senadores deram menos de 24 horas para Lugo preparar sua defesa, e o presidente teve duas horas desta sexta para apresentar seus argumentos diante do plenário, marcadamente oposicionista. A rapidez com que o caso foi analisado levantou uma série de discussões, e o próprio governo brasileiro chegou a considerar um "golpe de estado", o que motivou uma mobilização da União de Nações Sul-Americanas (Unasul).
Jorge Adorno/Reuters
O vice Federico Franco com o presidente Fernando Lugo
Federico Franco (à esq.), ao lado de Lugo
Dentro da lei - Por mais que impressione a rapidez com que todo o processo foi julgado, os parlamentares tiveram o cuidado de trabalhar dentro da lei. O "impeachment relâmpago" é legal, afirma o especialista em política latino-americana e professor de Relações Internacionais da ESPM, Mario Gaspar Sacchi. O artigo 225 da Constituição nacional determina que um chefe de estado pode sofrer um processo de impeachment em caso de "mau desempenho de suas funções, delitos cometidos no exercício de seus cargos e crimes comuns".
Sacchi explica que cabe à Câmara de Deputados averiguar se há condições formais para a abertura do processo, que então deve ser julgado pelo Senado, que se converte em uma espécie de tribunal. "É um processo rudimentar, da época colonial, e você precisa lembrar que o Paraguai é um país que viveu uma série de ditaduras, então é muito fácil tirar alguém do poder", diz o especialista. Sacchi ressalva que o tempo exíguo dado a Lugo para arquitetar sua defesa lança uma sombra sobre o processo. "Não é o que seria esperado em uma democracia."

Biografia - Fernando Lugo é um ex-bispo da religião católica, eleito há quatro anos no Paraguai com promessas de defender as necessidades dos pobres. A reforma agrária era uma das prioridades de seu governo, mas o chefe de estado teve dificuldades para aproximar posições entre as organizações camponesas e os proprietários, na medida em que buscava colocar ordem no organismo encarregado pela distribuição de terras. No início deste ano, o presidente veio ao Brasil para tratar um linfoma, no Hospital Sírio-Libanês, em São Paulo. Internado para a realização de exames de controle, seguiu o tratamento de um câncer detectado em agosto de 2010.

Fonte: veja.abril.com.br

ASSANGE NO EQUADOR: BASTIDORES DO PEDIDO DE ASILO

 
 
Relações entre fundador do Wikileaks e Correa são antigas. Além de proteger jornalista, abrigo reforçaria luta contra oligopólios de mídia

Tadeu Breda, editor de Latitude Sul Outras Palavras

O criador do WikiLeaks, Julian Assange, pediu asilo político à embaixada do Equador em Londres, no Reino Unido. Quem confirmou a informação é o próprio chanceler equatoriano, Ricardo Patiño, por meio de sua conta no Twitter. O pequeno país andino analisa a requisição do ativista australiano que em 2010 possibilitou o vazamento de 250 mil telegramas diplomáticos dos Estados Unidos, em sua luta por transparência. Gerou algumas crises, impactou as relações internacionais e, sobretudo, desagradou Washington.

No Equador, as revelações do Wikileaks fizeram com que o presidente Rafael Correa expulsasse a embaixadora norte-americana no país, Heather Hodges. A diplomata recusou-se a pedir desculpas ou dar explicações sobre algumas acusações de corrupção dirigidas a um alto funcionário da polícia equatoriana que vazaram junto com o lote de telegramas confidenciais. As ameaças que Assange começava a sofrer desde então fizeram com que o jornalista Kintto Lucas — naquela época vice-chanceler do Equador — sondasse a possibilidade oferecer-lhe asilo político no país.

Rafael Correa, porém, foi rápido ao desautorizar seu funcionário. “Não se fez nenhuma proposta formal ao diretor do Wikileaks. Foi uma declaração pessoal do vice-chanceler, sem autorização. Embora os Estados Unidos tenham cometido um grande erro, nunca apoiaremos o rompimento das leis de um país pelo fato de este ter atuado equivocadamente, e destroçado a confiança dos aliados”, esclareceu o presidente. “

Nada mais lógico para um chefe de Estado que exige respeito à soberania de seu país respeitar também a soberania dos outros. De lá pra cá, porém, muita água passou por debaixo da ponte. Julian Assange permaneceu todo esse tempo em prisão domiciliar no Reino Unido, aguardando o julgamento de sua extradição para a Suécia pela Corte Suprema britânica. O fundador do WikiLeaks teria cometido crimes sexuais contra duas suecas em 2010.

“Assange manifesta em sua carta que não houve [contra si], até hoje, acusação formal nem processo por algum delito, em nenum país do mundo”, escreveu o chanceler Ricardo Patiño, já adiantando as razões que provavelmente fundamentarão o pedido de asilo do australiano. “Julian Assange diz ter recebido ameaças de morte, bloqueio financeiro extrajudicial e possibilidade de ser entregue a autoridades dos EUA.”

Na mansão em que se encontrava até há dias — agora está protegido na embaixada do Equador –, Assange conduzia um programa de entrevistas com grandes figuras da política internacional chamado The World Tomorrow. Um dos convidados foi precisamente Rafael Correa, apresentado pelo anfitrião como um dos líderes mais destacados da América Latina, agora que Lula e Hugo Chávez estão saindo de cena. A conversa aconteceu por videoconferência.

Há quem diga que o assunto “asilo político” havia sido mencionado nos bastidores do programa. São rumores. O certo é que o talk show se desenrolou em clima de descontração. Rafael Correa deu as boas-vindas a Assange, que entrara no seleto grupo de perseguidos políticos, ao que o criador do WikiLeaks recomendou: “Não vá ser assassinado, hein?!”

Mas diplomacia é coisa séria, e o Equador fez questão de garantir à comunidade internacional que não está se imiscuindo na Justiça alheia. Como recebeu um pedido de asilo, o país se diz na obrigação de analisá-lo. É o que está fazendo agora. Caso aceite a requisição de Julian Assange, não será a primeira vez que as autoridades equatorianas abrem as portas do país para estrangeiros em fuga. O Equador abriga cerca de 54 mil refugiados: a imensa maioria são colombianos ameaçados pela guerra civil que assola algumas regiões do país desde os anos 1960.

Essa receptividade concedeu ao Equador o título de nação que mais recebe refugiados em toda América Latina. Por isso, o Alto Comissariado das Nações Unidas para os Refugiados (ACNUR) lançou há pouco uma campanha chamada “Gracias, Ecuador” pelo apoio do país à causa. Inclusive o chefe da ACNUR, Antonio Guterres, acaba de realizar uma visita oficial a Quito.

A nova Constituição equatoriana, aprovada em 2008, também deixa bastante clara a vocação do país em proteger refugiados e asilados. Em seu artigo 41, a Carta diz: “São reconhecidos os direitos de asilo e refúgio, de acordo com a lei e os instrumentos internacionais de direitos humanos (…) O Estado respeitará e garantirá o princípio de não-devolução, além da assistência humanitária e jurídica de emergência.”

Em seu Twitter, o chanceler equatoriano escreveu: “A liberdade de expressão agra entre em debate no mais alto nível. Não tememos estar em chapa quente. E enfrentar o necessário”. Talvez o asilo a Julian Assange, caso seja concedido e para além dos pepinos diplomáticos que possam acarretar, venha a calhar ao governo equatoriano. Rafael Correa tem sido sistematicamente acusado pelos grandes jornais do país, pela Sociedade Interamericana de Imprensa e pela Comissão Interamericana de Direitos Humanos como um cerceador da liberdade de expressão.

O presidente nega, e diz combater apenas os abusos, crimes e injúrias cometidos pelos grandes veículos em nome da liberdade de imprensa. Lembra que algumas empresas midiáticas pertencem a grandes banqueiros e que a Constituição aprovada em 2008 proíbe a posse cruzada dos meios de comunicação. Por isso, está lutando para emplacar no Equador uma Ley de Medios que dividirá igualmente o espectro radioelétrico entre poder público (nacional, provincial, cantonal e paroquial), iniciativa privada e organizações comunitárias, populares e movimentos sociais.

Eis o xis da questão: quem poderá chamá-lo de inimigo da liberdade de expressão e da livre circulação de ideias se seu governo concede asilo político ao homem que, justamente por escancarar informações confidenciais e relevantes ao mundo, sofre perseguições do Estado supostamente mais democrático da Terra?

À conjuntura política do momento, some-se a já amplamente conhecida combatividade de Rafael Correa à história de desrespeito que os Estados Unidos tiveram com a América Latina, seja patrocinando golpes, seja (no caso equatoriano) financiando serviços de inteligência e pagando salários extraoficiais para policiais e militares em troca de segredos estratégicos. Tudo parece se casar perfeitamente, e Kintto Lucas, desautorizado em 2010, comemora as voltas que a vida dá. “Parece piada, mas não é. Na caso de Assange, o tempo continua a me dar razão”, escreveu no Twitter, talvez cedo demais.

“Julian Assange, do Wikileaks, manifesta que quer continuar sua missão em um territorio de paz e comprometido con a verdade e a justiça”, prossegue Ricardo Patiño, citando trechos da carta apresentada pelo criador do WikiLeaks ao governo equatoriano. “Estamos dispostos a defender princípios, não interesses mesquinhos. E pior para os culpados de tantos fatos execráveis.”

Resta saber se, uma vez exilado no Equador, Julian Assange realmente terá a plena liberdade que a Constituição do país lhe garante. Ou se poderá revelar sem maiores problemas informações verídicas contrárias a Rafael Correa caso existam — e caiam em suas mãos. Nunca é demais lembrar que os Estados não têm amigos: têm interesses. E os interesses mudam como se muda de cueca.

Tadeu Breda é autor do livro “O Equador é Verde — Rafael Correa e os paradigmas do desenvolvimento” (Editora Elefante, 2011)

Fonte: Página Global

quinta-feira, 21 de junho de 2012

ONGs divulgam carta de repúdio a documento da Rio+20

Agência Estado
Organizações não-governamentais (ONGs) que participam da Rio+20 divulgam na tarde desta quinta-feira uma carta de repúdio aos resultados diplomáticos da conferência. O texto é assinado por ícones do movimento ambientalista, como o cientista Thomas Lovejoy e a ex-ministra Marina Silva.
O documento acordado entre os países para ser aprovado na plenária final da conferência na sexta-feira, intitulado "O Futuro que Queremos", é classificado como "fraco e muito aquém do espírito e dos avanços conquistados nestes últimos 20 anos, desde a Rio-92".
Na quarta-feira, lideranças da sociedade civil pediram que a expressão "com plena participação da sociedade civil" seja removida do parágrafo introdutório do documento. 
Leia abaixo a íntegra da carta e a lista de signatários: 
A RIO+20 QUE NÃO QUEREMOS
O Futuro que Queremos não passa pelo documento que carrega este nome, resultante do processo de negociação da Rio+20.
O futuro que queremos tem compromisso e ação, e não só promessas. Tem a urgência necessária para reverter as crises social, ambiental e econômica e não postergação. Tem cooperação e sintonia com a sociedade e seus anseios, e não apenas as cômodas posições de governos.
Nada disso se encontra nos 283 parágrafos do documento oficial que deverá ser o legado desta Conferência. O documento intitulado O Futuro que Queremos é fraco e está muito aquém do espírito e dos avanços conquistados nestes últimos 20 anos, desde a Rio-92. Está muito aquém, ainda, da importância e da urgência dos temas abordados, pois simplesmente lançar uma frágil e genérica agenda de futuras negociações não assegura resultados concretos.
A Rio+20 passará para a história como uma Conferência da ONU que ofereceu à sociedade mundial um texto marcado por graves omissões que comprometem a preservação e a capacidade de recuperação socioambiental do planeta, bem como a garantia, às atuais e futuras gerações, de direitos humanos adquiridos.
Por tudo isso, registramos nossa profunda decepção com os chefes de Estado, pois foi sob suas ordens e orientações que trabalharam os negociadores, e esclarecemos que a sociedade civil não compactua nem subscreve esse documento.
SIGNATÁRIOS:
Ashok Khosha
Bill Mackbidden
Camila Tulmin
Fabio Feldman
Juan Carlos Jintrack
Kumi Naidoo
Marina Silva
Mathis Wackernagel
Ricardo Young
Thomas Lovejoy
William Kees
Roberto Klabin
Sergio Mindlin
Yolanda Kakabadse

Fonte: Jornal do Comércio

País alcança 75 milhões de acesso à banda larga

Agência Brasil
JUSTIN SULLIVAN/AFP/JC
A banda larga móvel representa a maioria dos acessos, com 56,4 milhões de conexões.
A banda larga móvel representa a maioria dos acessos, com 56,4 milhões de conexões.
O total de acessos à internet, por meio de conexão banda larga no País, somou 75 milhões em maio deste ano, com um crescimento de 74% em relação ao mesmo mês do ano passado. De acordo com a Associação Brasileira de Telecomunicações (Telebrasil), desde o início do ano, foram ativados 15,4 milhões de novos acessos fixos e móveis à internet rápida.
A banda larga móvel representa a maioria dos acessos, com 56,4 milhões de conexões. Desse total, 11,2 milhões são de modems de acesso à internet, segmento que cresceu 72,3% desde maio de 2011. Os acessos de terceira geração (3G), que incluem os smartphones, somaram 45,2 milhões, com crescimento de 128,6% na comparação com maio do ano passado. A banda larga fixa chegou a 18,7 milhões de acessos.
A cobertura das redes de terceira geração, que permitem a conexão móvel à internet em alta velocidade, já está presente em 2.958 mil municípios e a infraestrutura de banda larga fixa está instalada em todo o país.

Fonte: Jornal do Comércio

Cristiano Ronaldo decide e coloca Portugal na semifinal

Agência Estado
FABRICE COFFRINI/AFP/JC
Português não quer desperdiçar a chance de mostrar talento na Eurocopa.
Português não quer desperdiçar a chance de mostrar talento na Eurocopa.
Cristiano Ronaldo tem o sonho de bater Messi e ser voltar a ser o melhor do mundo. E o português não quer desperdiçar a chance de mostrar talento na Eurocopa, principal competição da temporada. Nesta quinta-feira, o craque do Real Madrid voltou a se destacar e não sossegou até fazer o gol da vitória de Portugal sobre a República Checa, por 1 a 0, em Varsóvia, pelas quartas de final da competição.
Com mais este gol, Cristiano Ronaldo já é o artilheiro da Eurocopa, com três gols, empatado com Mario Gomez (Alemanha), Mandzukic (Croácia) e Dzagoev (Rússia). O português, porém, já sabe que terá mais dois jogos para mostrar talento na competição, uma vez que Portugal está na semifinal. Na próxima etapa, pega quem passar de Espanha e França, que jogam no sábado.
Como nem o Barcelona nem o Real Madrid chegaram à final da Liga dos Campeões e cada um dos dois conquistou um título (o Real o Espanhol, o Barça a Copa do Rei), teoricamente Messi e Cristiano Ronaldo estão empatados na disputa de melhor da temporada. O argentino, porém, não tem a mesma chance que o português, de comandar sua seleção em um título importante no ano.
E Cristiano Ronaldo vem aproveitando a chance que tem. Depois de marcar dois contra Holanda, no jogo que classificou Portugal para a segunda fase (e ser, disparado, o melhor em campo), o craque voltou a mostrar por que é um diferencial.
O show começou o jogo em Varsóvia, nesta quinta, com um chute cara a cara com Cech, aos 24 minutos de jogo, que parou nas mãos do goleiro, em grande intervenção. Aos 32, Cristiano Ronaldo tentou de bicicleta, mas mandou para longe.
A primeira das duas bolas na trave foi já no último minuto da etapa inicial, num lance individual. O craque recebeu na área, passou pelo marcador e bateu rasteiro, seco, no pé da trave esquerda. Depois, no comecinho da segunda etapa, Cristiano Ronaldo bateu falta de longe e acertou novamente a parte baixa do poste.
O gol, porém, nasceu num lance coletivo. João Moutinho fez jogada pela ponta direita e cruzou na área. Hugo Almeida não alcançou, mas Cristiano Ronaldo estava lá. O craque deu a volta no marcador, apareceu livre e cabeceou para o chão, sem chances para Cech.
No fim do jogo, a República Checa buscou o empate e Cristiano Ronaldo quase fez o segundo. Num lance aos 42 minutos, caiu na área e ficou pedindo pênalti. Quando a partida já estava nos acréscimos, o astro pegou bola no campo de defesa, com o gol adversário vazio (Cech havia atravessado o campo para tentar um gol de cabeça), mas foi desarmado no último drible.

Fonte: Jornal do Comércio

Começa julgamento político do presidente do Paraguai

 O julgamento político do presidente do Paraguai, Fernando Lugo, teve início às 18h15 (19h15 de Brasília), com a apresentação da acusação a cargo de cinco deputados que exercem a função de fiscais no processo.

Diante do Senado constituído em tribunal, o primeiro a expor as razões pelas quais Lugo deve ser retirado do cargo foi Carlos Liseras, do Partido Colorado.
Mais cedo, em uma sessão extraordinária retransmitida pela TV, os senadores aprovaram um completo regulamento do processo constitucional promovido horas antes pela Câmara dos Deputados contra o presidente. 

Na manhã de hoje, o Parlamento paraguaio aprovou o início de um processo de impeachment do presidente Fernando Lugo, a quem partidos de oposição responsabilizam pelos confrontos.

Jorge Adorno/Reuters
Fernando Lugo fala a jornalistas; ele enfrenta processo de impeachment
Fernando Lugo fala a jornalistas; ele enfrenta processo de impeachment

Lugo já anunciou que vai enfrentar o julgamento político e não pretende renunciar. Ele é acusado de "mau desempenho de suas funções", principalmente por um episódio sangrento de conflito de terras ocorrido na semana passada.
Um confronto armado deixou seis policiais e 11 camponeses mortos na sexta-feira passada em Curuguaty, a 250 km da capital.
O episódio forçou a saída do ministro do Interior, Carlos Filizzola, e do comandante da polícia, Paulino Rojas, que deixaram seus cargos pressionados pelo Congresso.
A reforma agrária era uma das prioridades do governo de Lugo, mas o mandatário teve dificuldades para aproximar posições entre as organizações camponesas e os proprietários, na medida em que buscava colocar ordem no organismo encarregado pela distribuição de terras. 

Fonte: Folha de São Paulo (Mundo)

O FIM DA EUROPA ALEMÃ

 
Gazeta Wyborcza, Varsóvia – Presseurop – imagem de Rainer Hachfeld

A coisa parece decidida: Berlim vai impor a sua visão política e a sua ordem económica à UE. Não é fácil, escreve o Gazeta Wyborcza, porque o seu modelo social está em declínio e o país não está mais bem preparado do que os outros para a união política.


Muitos mitos foram crescendo em torno da política europeia da Alemanha, mitos que não permitem abarcar totalmente a gravidade da situação atual. Pelo menos dois exigem uma explicação.

O primeiro mito diz que a Alemanha – o maior beneficiário da moeda única e a maior economia da Europa – renunciou à solidariedade com o resto do continente e virou-lhe as costas. Na realidade, sem o apoio da Alemanha, a zona euro teria caído há muito tempo. Nos últimos três anos, Berlim concedeu mais de 200 mil milhões de euros em empréstimos e garantias de crédito a Estados-membros da conturbada zona euro.

O segundo mito diz que – apesar da crise – a Alemanha está hoje tão bem que perdeu o interesse na Europa e procura parceiros em países como a China ou o Brasil. É certo que foi o comércio com aqueles países que levou ao crescimento da Alemanha no primeiro trimestre de 2012, apesar da deterioração das condições de mercado. Mas as exportações alemãs continuam dependentes da zona euro, que representa 40% das transações (contra apenas 6% com a China). O colapso do euro e a agitação social e política que previsivelmente se seguiria em pelo menos algumas das economias da moeda única afetaria muito mais a Alemanha do que diversos outros países.

Fim da simbiose

As fontes do problema alemão da Europa – ou do problema europeu da Alemanha – residem noutro lado e são mais determinantes. Em primeiro lugar, a atual crise atingiu duramente a Alemanha. Não em termos económicos, mas em termos políticos e morais. Longe de anunciar o início de uma "Europa alemã", significa realmente o seu fim.

O sistema de moeda comum foi baseado no modelo alemão e o Banco Central Europeu é uma cópia do Bundesbank. A falência desta "Europa de Maastricht" destrói efetivamente dois pressupostos cruciais para a política da Alemanha – que as soluções alemãs são as melhores para a Europa e que o modelo económico alemão progride em simbiose com a integração europeia.

Antes de a crise começar, ambos faziam sentido. A Alemanha apoiou uma integração cada vez mais estreita, servindo de motor à formação do mercado comum e da moeda única – e isso beneficiou a Europa. Mas foi também um pré-requisito para a prosperidade do pós-guerra da Alemanha, que se baseou na reconstrução da reputação internacional do país e no desenvolvimento de uma economia orientada para a exportação. Nas últimas duas décadas, a Alemanha habituou-se a pensar que o que era bom para a Alemanha também o era para a Europa. Hoje, essa simbiose acabou.

Remédio para a crise

Para salvar a Europa, os alemães não precisam apenas de abrir os cordões à bolsa, mas também de abandonar os seus conceitos a respeito da Europa e da economia, considerados garantia de sucesso da Alemanha nas décadas do pós-guerra. Isso significa um grande desafio político e intelectual.

O princípio inabalável de que cada país é responsável pelas suas próprias dívidas está hoje posto de lado. O BCE tem desempenhado um papel fundamental na recuperação da economia de vários países da falência, contrariando o dogma alemão de que a manutenção da estabilidade monetária é a única função da instituição.

É um paradoxo que a Alemanha precise de se reinventar num momento em que o seu modelo tem mais êxito que nunca, com a economia em crescimento e o desemprego mais baixo de sempre. Mudar de rumo nestas circunstâncias requer uma grande dose de coragem e determinação, que Merkel não tem.

A fraqueza do gigante

O segundo motivo, pouco conhecido, para o presente dilema europeu da Alemanha tem a ver com a sua própria situação socioeconómica. Os benefícios do sucesso económico da Alemanha da última década têm tido uma distribuição muito desigual. A desigualdade económica tem crescido mais rapidamente do que no resto do mundo industrializado.

Durante a fase de crescimento, a competitividade das exportações da Alemanha deveu-se precisamente, em grande parte, a valores de mão de obra, ou seja, baixos salários. Quem antes estava desempregado beneficiou realmente com a criação de novos empregos. Mas a qualidade da maioria desses empregos está muito longe do confortável epíteto de "capitalismo do Reno". A Alemanha detém a maior quantidade de contratos de trabalho “descartáveis” da Europa.

A isso somam-se elevadas dívidas de muitos municípios, que, forçados a introduzir medidas de austeridade drásticas, fecham serviços públicos, piscinas, centros culturais e de saúde. Paradoxalmente, a erosão do modelo social alemão acelerou-se a partir do lançamento do euro e do resultante “boom” económico.

Enquanto a Europa vê a Alemanha como uma potência económica que domina todo o continente, os alemães – apesar da prosperidade – assistem a uma crise do modelo de Estado social e de crescimento do bem-estar a que se tinham habituado a seguir à guerra.

Déficit democrático

O terceiro problema da Alemanha em relação à Europa tem a ver com democracia. A recusa dos alemães em aceitar a criação de “eurobonds” (títulos europeus de dívida) ou outras soluções mais radicais prende-se com o facto de considerarem que tal transferência de prerrogativas para a UE iria obrigar a alterações na sua constituição. O Tribunal Constitucional de Karlsruhe assim o defendeu em tempos, definindo os limites possíveis para a integração.

A UE tem hoje um problema real de democracia. Um dos aspetos é a tecnocracia, que, como aponta Ivan Krastev na edição mais recente de Polityczny Przegląd ("Comentário político"), significa que, na Itália ou Grécia, "os eleitores podem mudar governos, mas não a política económica".

A outra face deste problema é a falta de vontade política por parte das sociedades (não apenas da alemã) em delegar mais poderes à UE. Talvez a Europa só possa ser salva com um grande passo na direção de uma união política, mas é precisamente a isso que a opinião pública dos Estados-membros se opõe.

O economista norte-americano Raghuran Rajan escreveu há algum tempo que os políticos são incapazes de responder a perigos de escala desconhecida. É uma boa explicação para a posição de Angela Merkel. Até agora, a política alemã concentrou-se em minorar danos e tentar preservar ao máximo a "Europa alemã".

Nos últimos tempos, a chanceler Merkel vem mencionando a necessidade de criar uma união política, perspetiva que os dirigentes da UE irão discutir na cimeira do final deste mês. Não é Berlim, mas Paris, que se pode revelar o maior obstáculo a esse processo. O dilema "colapso da UE ou união política" tornou-se muito real. Talvez a maior falha de Merkel tenha sido a sua incapacidade para preparar o público para ambos os cenários.
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Merkel-Hollande

Entre o narcisismo e a histeria

Ao oferecer 100 mil milhões de euros em garantias à Espanha para resgatar o sistema bancário do país, a chanceler Angela Merkel "esqueceu os seus princípios por momentos". Deixou também no ar a ideia de que os gregos iriam ser igualmente beneficiados. Mas, como realça a Newsweek Polska, isso ainda não significa uma reversão da política de austeridade e de cortes no orçamento:

A Alemanha tornou-se um gigante narcisista – muito orgulhoso do seu êxito... A chanceler parece estar a dizer a todos na UE: ‘Sejam como nós’. Este narcisismo não seria tão trágico se não se tivesse dado o render da guarda em França. Ao invés de procurar novas soluções, o novo Presidente francês está apenas interessado em dizer mal de Berlim. Vem exigindo histericamente que Merkel – sem quaisquer condições à partida – assine um enorme programa de ‘eurobonds’, que os alemães não terão capacidade de cobrir. Esta é a fotografia da liderança da UE cinco minutos antes do desastre. O narcisismo alemão está no comando. E a histeria francesa continua a fazer exigências irrealistas, porque é a única coisa de que é capaz.

quarta-feira, 20 de junho de 2012

Memórias do amanhã

Temos a tendência de imaginar que o futuro será melhor. Estudo revela que ao nos lembrarmos do que pensamos no passado nos inclinamos a tomar melhores decisões
por Wray Herbert
©SEMISATCH/SHUTTERSTOCK

Um novo estudo publicado na edição de janeiro deste ano de Psychological Science pode explicar por que somos todos tão otimistas sobre os tempos que (acreditamos que) estão por vir. Uma equipe de psicólogos experimentais, liderados por Karl K. Szpunar, pesquisador da Universidade Harvard, criou um método para produzir simulações futuras, usadas para estudar as características e a permanência desses fenômenos mentais. Szpunar e seus colegas começaram registrando detalhes biográficos reais lembrados por universitários. Alguém poderia, por exemplo, contar aos pesquisadores sobre tomar uma cerveja com uma amiga no bairro onde mora, emprestar um livro ao primo ou comprar um aparelho de televisão durante a liquidação anual do shopping.

Uma semana depois, os pesquisadores reviram todas as pessoas, lugares, situações e objetos de passados recentes e remotos citados pelos voluntários e misturaram tudo. Apresentaram aos estudantes combinações aleatórias de suas lembranças e os instruíram a pensar em cenários imaginários futuros. Seria possível, por exemplo, a pessoa imaginar uma cena positiva na qual estivesse se divertindo com o primo no bar; um cenário negativo em que estivesse discutindo com o primo por causa de um livro, com a TV ligada ao fundo; e uma simulação neutra, na qual o voluntário estivesse comprando um livro no shopping.

Depois, os psicólogos testaram as lembranças dos voluntários sobre esses cenários futuros, fornecendo-lhes dois dos três detalhes digamos, o bar e o primo, e pediram que completassem o detalhe que faltava no caso, a televisão, para recriar a cena simulada. Foram aplicados testes em alguns dos estudantes dez minutos após eles terem imaginado futuras situações e avaliados outros participantes no dia seguinte. A proposta era descobrir se o conteúdo emocional dos futuros imaginados – positivo, negativo ou neutro – influía para que fossem mais ou menos fixados.

Os resultados foram intrigantes: após dez minutos, os voluntários conseguiam recordar todas as simulações igualmente bem. Um dia depois, porém, detalhes de cenários negativos eram muito mais difíceis de ser resgatados que os dos positivos ou neutros.

Essa descoberta é consistente com o que se sabe a respeito de lembranças negativas – tendem a desaparecer mais rapidamente que as positivas –, reforçando a ideia de que, de fato, prevalece a idealização do passado. Assim, as versões negativas do que está por vir desaparecem com o tempo, enquanto as positivas permanecem – deixando, no balanço, basicamente uma visão predominantemente rósea do amanhã. Esse processo pode acarretar ilusões, mas parece sinal de saúde psíquica. É importante lembrar, por exemplo, que pessoas que sofrem de depressão e outros transtornos de humor tendem não apenas a ruminar os acontecimentos negativos passados, mas também a antever cenários tristes. Adultos psicologicamente saudáveis costumam ser otimistas sobre o que o futuro lhes reserva. Talvez seja um processo adaptativo imaginar o pior, de vez em quando, para em seguida nos esforçarmos para driblar o que pode ser evitado – para, posteriormente, deixarmos fantasmas que não podem ser combatidos desaparecer aos poucos.

Fonte: Revista Mente e Cérebro
Wray Herbert é psicólogo e atualmente é diretor da Associação para Ciência Psicológica, nos Estados Unidos.           

A aventura virtual da escrita

Exposição digital organizada pela Biblioteca Nacional da França usa o rico acervo da instituição para conta a história da escrita
 


O surgimento da escrita, há mais de 5 mil anos, foi resultado do desenvolvimento do comércio e da urbanização em algumas partes do mundo. Em seguida, a necessidade de novas formas de comunicação deu origem aos primeiros livros. É isso que mostra a exposição virtual “A aventura do livro”, organizada pela Biblioteca Nacional da França utilizando vários itens de seu acervo.

A mostra pode ser acessada no site http://classes.bnf.fr/livre/. Ao visitá-la, o internauta descobre que a escrita surge simultaneamente na Mesopotâmia e no Egito no IV milênio a.C., e na América Central e no sul da Índia no II milênio a.C. Com o passar do tempo os sistemas se tornam cada vez mais complexos, como mostra o site por meio de vídeos.

A exposição apresenta diferentes tipos de escrita e suas descrições, além de indicar bibliografia complementar para pesquisa e disponibilizar várias ilustrações, tudo de forma didática e organizada.
 
Fonte: História Viva

Turquia quer repatriar bens culturais

Governo reivindica a posse de antiguidades retiradas ilegalmente do país e contrabandeadas no início do século XX para museus americanos
 

Vista da cidade de Usak, de onde foi retirado ilegalmente o Tesouro da Lídia, que foi devolvido à Turquia
pelo Museu Metropolitan em 1993
Depois do sucesso das autoridades italianas e gregas em recuperar artefatos arqueológicos retirados ilegalmente de seus lugares de origem, agora é a vez dos turcos. Acredita-se que dezenas de antiguidades do país foram escavadas e contrabandeadas no início do século XX e hoje estão espalhadas por vários museus americanos, como o Getty, de Los Angeles; o Metropolitan, de Nova York; e o Museu de Arte de Cleveland.

Segundo o diretor de Patrimônio Histórico e Museus da Turquia, Murat Suslu, a ideia não é criar um conflito entre países, e sim iniciar um processo de cooperação. “Acredito que eles possam entender nosso ponto de vista”, afirma.

Os pedidos de repatriação das peças foram acompanhados de provas da origem dos artefatos, e algumas das negociações começaram nos anos 1990. Em 1993 os turcos receberam de volta o chamado Tesouro da Lídia após uma batalha judicial de seis anos com o Museu Metropolitan.

Fonte: História Viva

Muito barulho por nada

A ciência se aproxima de descobrir por que existe algo em vez de nada
por Michael Shermer
©Kevin Carden/ Shutterstock

Por que existe algo em vez de nada? Essa é uma daquelas questões profundas difíceis de responder. Ao longo de milênios, os humanos simplesmente disseram “Foi Deus quem fez”: um criador precedeu o Universo e o criou a partir do nada. Mas isso levanta a pergunta de quem criou Deus – e se Deus não precisar de um criador, a lógica dita que o Universo também não precisa. A ciência lida com causas naturais (não sobrenaturais) e por isso permite várias maneiras de explorar de onde é que o “algo” veio.


Universos múltiplos
Há muitas hipóteses de multiversos que nos mostram como o Universo poderia ter nascido a partir de outro. Nosso Universo pode ser, por exemplo, apenas um entre vários universos-bolha com diferentes leis naturais, que produziriam estrelas, com algumas delas colapsando em buracos negros e tendo peculiaridades que dariam origem a novos universos – de maneira similar à singularidade que os físicos acreditam ter dado origem ao Big Bang.

Teoria-M
No livro The Grand Design (O grande projeto), escrito em 2010 com Leonard Mlodinow, Stephen Hawking elege a “Teoria-M” (uma extensão da teoria de cordas que inclui 11 dimensões) como “a única candidata à teoria completa do universo. Se for finita – e isso ainda terá que ser provado – será o modelo de um universo que cria a si mesmo”.

Criação de espuma quântica
O “nada” do vácuo espacial na verdade é feito de turbulências espaço-temporais subatômicas em distâncias extremamente pequenas, mensuráveis na escala de Plank – a distância na qual a estrutura do espaço-tempo é dominada pela gravidade quântica. Nessa escala, o princípio da incerteza de Heisenberg permite que a energia decaia brevemente em partículas e antipartículas, produzindo “algo” a partir do “nada”. O nada é instável. Em seu novo livro, A Universe from Nothing, o cosmólogo Laurence M. Kraus tenta ligar a física quântica à teoria da relatividade geral de Einstein para explicar a origem de um Universo dessa maneira: “Na gravidade quântica, os universos podem aparecer espontaneamente, e de fato sempre o farão. Esses universos não precisam estar vazios, mas podem conter matéria e radiação desde que sua energia total, incluindo a energia negativa associada à gravidade (contrabalanceando a energia positiva da matéria), seja zero”. Além disso, “para universos fechados que podem ser criados a partir desses mecanismos para durar mais do que intervalos infinitesimais de tempo, algo como a inflação se faz necessário”. As observações mostram que o Universo é de fato plano (há matéria suficiente para desacelerar sua expansão, mas não detê-la), tem energia total zero e passou por uma rápida inflação, ou expansão, logo após o Big Bang, como descrito pela cosmologia inflacionária. “A gravidade quântica não apenas parece permitir que universos sejam criados a partir do nada – ou seja, da ausência de espaço e tempo –, ela pode precisar que seja assim. O ‘nada’ – nesse caso a ausência de espaço, de tempo, de tudo! – é instável”.

As outras hipóteses também são testáveis. A ideia de que novos universos possam surgir de buracos negros em colapso pode ser esclarecida a partir de conhecimentos adicionais sobre as propriedades de buracos negros, que estão sendo estudadas. Outros universos-bolha podem ser detectados nas sutis variações de temperatura da radiação cósmica de fundo deixada pelo Big Bang de nosso Universo. A Sonda Anisotrópica de Micro-ondas Wilkinson (WMAP, em inglês) está coletando dados sobre essa radiação. Além disso, o Observatório de Ondas Gravitacionais por Interferômetro Laser (LIGO, em inglês) foi projetado para detectar ondas gravitacionais excepcionalmente fracas. Se existem outros universos, talvez rugas em ondas gravitacionais indiquem sua presença. Talvez a gravidade seja uma força relativamente tão fraca (se comparada ao eletromagnetismo e às forças nucleares) porque parte dela “vaza” para outros universos. Mesmo que Deus seja visto como o criador das leis da Natureza que fizeram o Universo (ou multiverso) surgir a partir do nada – se essas leis forem determinísticas –, então Deus não teve escolha na criação do Universo, e por isso não foi necessário. De qualquer forma, por que deveríamos nos voltar para o sobrenatural quando nossa compreensão do natural ainda está em seus estágios iniciais? Seríamos sábios ao seguir esse princípio cético: antes de dizer que algo não é deste mundo, certifique-se de que não seja deste mundo.

Fonte: Scientific American Brasil

Sonâmbulos Violentos

Um perigo real ainda pouco compreendido
por Daisy Yuhas
commons.wikimedia.org
Lady Macbeth vagando durante o sono; pintura de Henry Fuseli.
No mês passado, psiquiatras da Stanford University anunciaram que o sonambulismo está aumentando. Mais de 8,4 milhões de americanos adultos – 3,6% da população americana com mais de 18 anos – têm tendência ao sonambulismo. Esse é um aumento de 2% no número encontrado pelos mesmos autores há uma década.

E como aponta o último volume de Scientific American Mind, um subgrupo desses andarilhos noturnos pode ser perigoso para um fenômeno preocupante e perigoso: a violência no sono. O sonambulismo agressivo na população geral gira em torno de 2%, segundo pesquisas conduzidas na América do Norte e Europa. Mas nem todos os sonâmbulos exibem comportamento violento e o que causa a violência ainda é um mistério.

De fato, três transtornos distintos estão associados à violência no sono. Em transtornos de sonambulismo, a pessoa opera em um estado mental que fica entre o sono e o despertar, executando comportamentos complexos sem consciência evidente. Em comparação, pessoas com epilepsia noturna do lobo frontal experimentam ações inadvertidamente violentas, repetitivas e breves, como correr ou chutar, que precedem uma convulsão. Um terceiro problema, o distúrbio comportamental do sono REM (sigla em inglês para “movimento rápido dos olhos”) ocorre quando os centros de movimento no tronco cerebral – que criam paralisia durante o sono profundo – se deterioram, geralmente devido a uma doença do sistema nervoso como Parkinson. Sem essa paralisia, o corpo fica livre para se mover e agir como se estivesse no sonho, causando ferimentos acidentais tanto a quem dorme quanto a quem divide a cama. Em 2000 Eric Olson, do Centro Mayo de Distúrbios do Sono, revisou os registros de 93 pacientes com o distúrbio comportamental do sono REM e descobriu que 64% haviam atacado seus cônjuges e 32% haviam se machucado durante o sono.

Como várias doenças podem estar por trás da violência no sono, investigar os incidentes é compreensivelmente difícil. Michael Cramer Bornemann, especialista em sono do Centro Regional de Distúrbios do Sono de Minnesota, e seus colegas do Sleep Forensics Associates já lidaram com mais de 200 casos forenses relacionados a distúrbios do sono, geralmente a pedido da lei. Desses casos, apenas os de sonambulismo foram associados a comportamentos criminosos. Ele estima que cerca de um terço dos casos que os associados forenses encontram envolvem sedativos, como o Ambien, que podem aumentar o risco de transtornos de sonambulismo. Em um estado que fica entre o despertar e o sono essas pessoas podem caminhar por aí, comer, ou até dirigir enquanto adormecidos. Porém, mesmo sendo possível avaliar a probabilidade de alguém ter distúrbios de sono, decidir se aquela pessoa estava acordada ou dormindo durante um incidente específico é outra história.
Em 1997, Scott Falater, do estado do Arizona, esfaqueou repetidamente sua mulher e a empurrou na piscina do casal. Quando a polícia – acionada por um vizinho – chegou, Falater parecia inconsciente do que havia acontecido com sua mulher. Ele alegou estar adormecido durante o incidente.

Em 2004, a psicóloga Rosalind Cartwright – consultada pela defesa de Falater – escreveu um relatório do caso, fazendo um paralelo com um assassinato por sonambulismo no Canadá. Nos dois casos o assassino não tinha motivo aparente e era conhecido por ter uma relação positiva com a vítima. Os dois homens alegaram não se lembrar do ataque. Cartwright adiciona que essas pessoas estavam passando por intenso estresse pessoal e privação de sono na época do ataque, o que aumenta o risco de distúrbios do sono. Falater estava tomando pílulas de cafeína pela primeira vez em muitos anos. Cartwright observou que a adição desse estimulante à sua rotina diária pode ter aumentado ainda mais o risco de ter o sono interrompido. Os julgamentos, porém, tiveram resultados muito diferentes. Enquanto o caso do Canadá acabou em absolvição, os jurados ficaram céticos em relação à história de sonambulismo de Falater. Ele foi considerado culpado de homicídio e condenado à prisão perpétua.

Como Cartwright aponta no relatório, não existe teste único para diagnosticar transtornos do sono com certeza. Ela conduziu uma bateria de testes psicológicos e quatro noites de estudos antes de testemunhar que um distúrbio do sono poderia estar envolvido no caso de Falater. Mesmo assim, é praticamente impossível – e eticamente problemático – reconstruir as circunstâncias de uma dada noite ou obrigar um paciente a caminhar ou falar durante o sono.

Cramer-Borneman adiciona que a violência no sono apresenta desafios importantes para o sistema legal. Apesar de o sistema atual reconhecer apenas a mens rea, uma mente culpada é requisito para um ato culposo – talvez a compreensão tudo-ou-nada da mente seja inapropriada. Em vez disso, a violência no sono pode ser melhor explicada em termos de níveis de consciência, despertar, autocontrole e sono.

No momento, a possibilidade de vagar como Lady Macbeth, com olhos abertos “mas sentidos fechados” permanece uma realidade assombrosa: um vislumbre dos muitos mistérios que o cérebro adormecido ainda guarda.

Fonte: Scientific American Brasil

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