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quinta-feira, 21 de junho de 2012

O FIM DA EUROPA ALEMÃ

 
Gazeta Wyborcza, Varsóvia – Presseurop – imagem de Rainer Hachfeld

A coisa parece decidida: Berlim vai impor a sua visão política e a sua ordem económica à UE. Não é fácil, escreve o Gazeta Wyborcza, porque o seu modelo social está em declínio e o país não está mais bem preparado do que os outros para a união política.


Muitos mitos foram crescendo em torno da política europeia da Alemanha, mitos que não permitem abarcar totalmente a gravidade da situação atual. Pelo menos dois exigem uma explicação.

O primeiro mito diz que a Alemanha – o maior beneficiário da moeda única e a maior economia da Europa – renunciou à solidariedade com o resto do continente e virou-lhe as costas. Na realidade, sem o apoio da Alemanha, a zona euro teria caído há muito tempo. Nos últimos três anos, Berlim concedeu mais de 200 mil milhões de euros em empréstimos e garantias de crédito a Estados-membros da conturbada zona euro.

O segundo mito diz que – apesar da crise – a Alemanha está hoje tão bem que perdeu o interesse na Europa e procura parceiros em países como a China ou o Brasil. É certo que foi o comércio com aqueles países que levou ao crescimento da Alemanha no primeiro trimestre de 2012, apesar da deterioração das condições de mercado. Mas as exportações alemãs continuam dependentes da zona euro, que representa 40% das transações (contra apenas 6% com a China). O colapso do euro e a agitação social e política que previsivelmente se seguiria em pelo menos algumas das economias da moeda única afetaria muito mais a Alemanha do que diversos outros países.

Fim da simbiose

As fontes do problema alemão da Europa – ou do problema europeu da Alemanha – residem noutro lado e são mais determinantes. Em primeiro lugar, a atual crise atingiu duramente a Alemanha. Não em termos económicos, mas em termos políticos e morais. Longe de anunciar o início de uma "Europa alemã", significa realmente o seu fim.

O sistema de moeda comum foi baseado no modelo alemão e o Banco Central Europeu é uma cópia do Bundesbank. A falência desta "Europa de Maastricht" destrói efetivamente dois pressupostos cruciais para a política da Alemanha – que as soluções alemãs são as melhores para a Europa e que o modelo económico alemão progride em simbiose com a integração europeia.

Antes de a crise começar, ambos faziam sentido. A Alemanha apoiou uma integração cada vez mais estreita, servindo de motor à formação do mercado comum e da moeda única – e isso beneficiou a Europa. Mas foi também um pré-requisito para a prosperidade do pós-guerra da Alemanha, que se baseou na reconstrução da reputação internacional do país e no desenvolvimento de uma economia orientada para a exportação. Nas últimas duas décadas, a Alemanha habituou-se a pensar que o que era bom para a Alemanha também o era para a Europa. Hoje, essa simbiose acabou.

Remédio para a crise

Para salvar a Europa, os alemães não precisam apenas de abrir os cordões à bolsa, mas também de abandonar os seus conceitos a respeito da Europa e da economia, considerados garantia de sucesso da Alemanha nas décadas do pós-guerra. Isso significa um grande desafio político e intelectual.

O princípio inabalável de que cada país é responsável pelas suas próprias dívidas está hoje posto de lado. O BCE tem desempenhado um papel fundamental na recuperação da economia de vários países da falência, contrariando o dogma alemão de que a manutenção da estabilidade monetária é a única função da instituição.

É um paradoxo que a Alemanha precise de se reinventar num momento em que o seu modelo tem mais êxito que nunca, com a economia em crescimento e o desemprego mais baixo de sempre. Mudar de rumo nestas circunstâncias requer uma grande dose de coragem e determinação, que Merkel não tem.

A fraqueza do gigante

O segundo motivo, pouco conhecido, para o presente dilema europeu da Alemanha tem a ver com a sua própria situação socioeconómica. Os benefícios do sucesso económico da Alemanha da última década têm tido uma distribuição muito desigual. A desigualdade económica tem crescido mais rapidamente do que no resto do mundo industrializado.

Durante a fase de crescimento, a competitividade das exportações da Alemanha deveu-se precisamente, em grande parte, a valores de mão de obra, ou seja, baixos salários. Quem antes estava desempregado beneficiou realmente com a criação de novos empregos. Mas a qualidade da maioria desses empregos está muito longe do confortável epíteto de "capitalismo do Reno". A Alemanha detém a maior quantidade de contratos de trabalho “descartáveis” da Europa.

A isso somam-se elevadas dívidas de muitos municípios, que, forçados a introduzir medidas de austeridade drásticas, fecham serviços públicos, piscinas, centros culturais e de saúde. Paradoxalmente, a erosão do modelo social alemão acelerou-se a partir do lançamento do euro e do resultante “boom” económico.

Enquanto a Europa vê a Alemanha como uma potência económica que domina todo o continente, os alemães – apesar da prosperidade – assistem a uma crise do modelo de Estado social e de crescimento do bem-estar a que se tinham habituado a seguir à guerra.

Déficit democrático

O terceiro problema da Alemanha em relação à Europa tem a ver com democracia. A recusa dos alemães em aceitar a criação de “eurobonds” (títulos europeus de dívida) ou outras soluções mais radicais prende-se com o facto de considerarem que tal transferência de prerrogativas para a UE iria obrigar a alterações na sua constituição. O Tribunal Constitucional de Karlsruhe assim o defendeu em tempos, definindo os limites possíveis para a integração.

A UE tem hoje um problema real de democracia. Um dos aspetos é a tecnocracia, que, como aponta Ivan Krastev na edição mais recente de Polityczny Przegląd ("Comentário político"), significa que, na Itália ou Grécia, "os eleitores podem mudar governos, mas não a política económica".

A outra face deste problema é a falta de vontade política por parte das sociedades (não apenas da alemã) em delegar mais poderes à UE. Talvez a Europa só possa ser salva com um grande passo na direção de uma união política, mas é precisamente a isso que a opinião pública dos Estados-membros se opõe.

O economista norte-americano Raghuran Rajan escreveu há algum tempo que os políticos são incapazes de responder a perigos de escala desconhecida. É uma boa explicação para a posição de Angela Merkel. Até agora, a política alemã concentrou-se em minorar danos e tentar preservar ao máximo a "Europa alemã".

Nos últimos tempos, a chanceler Merkel vem mencionando a necessidade de criar uma união política, perspetiva que os dirigentes da UE irão discutir na cimeira do final deste mês. Não é Berlim, mas Paris, que se pode revelar o maior obstáculo a esse processo. O dilema "colapso da UE ou união política" tornou-se muito real. Talvez a maior falha de Merkel tenha sido a sua incapacidade para preparar o público para ambos os cenários.
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Merkel-Hollande

Entre o narcisismo e a histeria

Ao oferecer 100 mil milhões de euros em garantias à Espanha para resgatar o sistema bancário do país, a chanceler Angela Merkel "esqueceu os seus princípios por momentos". Deixou também no ar a ideia de que os gregos iriam ser igualmente beneficiados. Mas, como realça a Newsweek Polska, isso ainda não significa uma reversão da política de austeridade e de cortes no orçamento:

A Alemanha tornou-se um gigante narcisista – muito orgulhoso do seu êxito... A chanceler parece estar a dizer a todos na UE: ‘Sejam como nós’. Este narcisismo não seria tão trágico se não se tivesse dado o render da guarda em França. Ao invés de procurar novas soluções, o novo Presidente francês está apenas interessado em dizer mal de Berlim. Vem exigindo histericamente que Merkel – sem quaisquer condições à partida – assine um enorme programa de ‘eurobonds’, que os alemães não terão capacidade de cobrir. Esta é a fotografia da liderança da UE cinco minutos antes do desastre. O narcisismo alemão está no comando. E a histeria francesa continua a fazer exigências irrealistas, porque é a única coisa de que é capaz.

terça-feira, 10 de abril de 2012

Microsoft faz contagem regressiva para "matar" Windows XP


Sistema operacional lançado em 2001 vai deixar de receber suporte em 8 de abril de 2014. Foto: Wikimedia/Reprodução
Sistema operacional lançado em 2001 vai deixar de receber suporte em 8 de abril de 2014
Foto: Wikimedia/Reprodução
A Microsoft começou nesta semana a contagem regressiva de dois anos até que Windows XP pare de receber suporte e atualizações. O sistema operacional foi lançado em 2001, e a companhia de Redmond parou de vendê-lo em 2008. Por isso, em 8 de abril de 2014 ela não vai mais mandar updates para os usuários, que - sugere a desenvolvedora - devem pensar em migrar para o Windows 7.
A mesma contagem vale para o Office 2003, que deve ser mudado para o Office 2010, de acordo com a sugestão do blog oficial da Microsoft. "O Windows XP e o Office 2003 eram excelentes softwares quando foram lançados, mas o ambiente da tecnologia mudou", diz o texto, assinado por Stella Chernyak, ressaltando que os usuários hoje têm expectativas diferentes, e que o mesmo vale para as companhias - principalmente no que tange a mobilidade, segurança e confiabilidade.
Mas a migração não deve ser fácil. O TechCrunch cita dados do StatCounter de que mais de um terço dos PCs ainda rodam Windows XP hoje em dia, e foi só em outubro passado que o uso do Windows 7 se tornou mais comum que o do XP no mundo. No que diz respeito às companhias, por exemplo, 22% das empresas americanas rodam com o sistema operacional lançado há 11 anos.
"Agora você pode se perguntar - 'eu deveria esperar mais dois anos para migrar para as versões de Windows e Office que forem disponibilizadas?'", diz o post da Microsoft, respondendo à possível questão com um 'não'. A justificativa, para as empresas, é que a migração deve ser feita enquanto ainda há suporte para o XP e o Office 2003, além do que pode haver "ganho substancial de resultados" com os softwares já disponíveis.
Fonte: Tecnologia Terra

quinta-feira, 1 de março de 2012

Para ministro do STF, primeira instância não funciona


O ministro do STF (Supremo Tribunal Federal) Gilmar Mendes disse ontem que o país necessita fazer "uma reforma completa do sistema de Justiça criminal" e que a primeira instância do Judiciário "não funciona" no país.
O ministro deu as declarações durante sessão no tribunal, ao comentar o caderno "A Engrenagem da Impunidade", publicado pela Folha no último domingo.
Eduardo Anizelli - 15.ago.2011/Folhapress
Ex-presidente do Supremo e CNJ Gilmar Mendes
Ex-presidente do Supremo e CNJ Gilmar Mendes
As reportagens revelaram que falhas e omissões cometidas por juízes, procuradores da República e policiais federais estão na raiz da impunidade de políticos que têm direito a foro privilegiado no Supremo.
Segundo a legislação, ministros, senadores e deputados federais, entre outras autoridades, só podem ser processadas e julgadas no STF.
Mendes disse que temas "extremamente complexos" dão origem a "soluções simples e, em geral, erradas", numa referência à proposta de extinção do foro privilegiado.
"Recentemente o grande jornal Folha de S.Paulo publicou uma matéria sobre o funcionamento do foro privilegiado. E logo alguns apressados chegaram à conclusão: o foro privilegiado funciona mal, logo funciona bem o primeiro grau. Certo? Não. Errado. Não funciona bem o primeiro grau também no país."
Entre as reportagens publicadas pelo jornal, havia uma entrevista com um colega de Mendes no STF, o ministro Celso de Mello, na qual ele defendia a supressão "pura e simples" do foro especial.
Mello observou que o foro para senadores e deputados federais, que representam a imensa maioria dos processos hoje em andamento no STF, só foi criado em 1969, durante a ditadura militar.
Ontem, no tribunal, Mendes disse que o Judiciário de primeira instância tem sérios problemas estruturais. "Falta defensor, falta juiz, falta promotor."
O ministro afirmou que existem "4.000 homicídios sem inquérito [policial] abertos em Alagoas" e "mil crimes" contra a vida prestes a prescrever na comarca de Jaboatão dos Guararapes (PE).
"Não vamos fazer simplificação em relação a isso. É necessário fazer uma reforma completa do sistema de Justiça Criminal."
As principais entidades representativas de juízes e procuradores da República e a corregedora do CNJ (Conselho Nacional de Justiça), Eliana Calmon, já defenderam a extinção do foro. Ela disse que o mecanismo "é próprio de 'república das bananas'".

Fonte: Folha.com

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