sábado, 28 de dezembro de 2019

A FIGURA DO JUIZ DE GARANTIAS E A LEI 13964/2019

segunda-feira, 16 de dezembro de 2019

LANÇAMENTO DO LIVRO DE POEMAS "PEDRA DOS OLHOS"

Rogério Henrique Castro Rocha - ou simplesmente Rogério Rocha - é maranhense da cidade de São Luís, técnico judiciário da 9ª Vara Criminal, ex-assessor jurídico, professor de Filosofia, palestrante, produtor cultural, membro fundador dos projetos de divulgação de filosofia e literatura Iniciativa Eidos e Duo Litera. 



Rogério Rocha é licenciado em Filosofia e bacharel em Direito, ambos pela Universidade Federal do Maranhão, sendo pós-graduado em Direito Constitucional (LFG/UNIDERP/ANHANGUERA) e em Filosofia (Paradigmas em pesquisa sobre Ética - IESMA). Também é Mestre em Criminologia pela Universidade Fernando Pessoa (Porto - Portugal).

Foi inspirado no efeito que lhe rendeu a leitura de mestres como Carlos Drummond de Andrade, Jorge de Lima, Fernando Pessoa e Manuel Bandeira, que começou a escrever seus primeiros versos, ainda na imaturidade da fase de transição entre a infância e a adolescência. Contudo, foi ainda na juventude, quando fazia os cursos de Direito e Filosofia da Universidade Federal do Maranhão, movido pela leitura de pensadores como Friedrich Nietzsche e Martin Heidegger, de poetas como Friedrich Hölderlin e Rainer Maria Rilke, e influenciado pelas filosofias do existencialismo e da fenomenologia, que começou a ganhar densidade seu fazer poético, que hoje atinge um momento mais próximo à maturidade.

No dia 11 de Janeiro, às 19h, na Livraria Themis, no Monumental Shopping, o escritor Rogério Rocha lançará seu primeiro livro solo, intitulado “Pedra dos Olhos”. 

Trata-se de uma reunião de poemas construídos ao longo de três décadas e que pode dar ao leitor da revelação lietrária maranhense, que já participou de duas antologias (uma bilíngue, em inglês/português, lançada em Salões do Livro na Europa, Canadá e EUA, e no Concurso Literário Gonçalves Dias 2019, no qual foi premiado com o segundo lugar, em meio a mais de 300 poemas inscritos), a dimensão de parte daquilo que compõe sua jornada poética, com traços filosóficos e o lirismo que definem de seu estilo, além do universo de imagens e vivências que habitam seus versos.

domingo, 15 de dezembro de 2019

O Que Acontecerá Aos Humanos Até 2025

Tesla - O Mestre dos Raios

Nikola Tesla disso isso quando perguntado sobre o futuro de suas invenções!

Frequência Mágica: A Descoberta que pode mudar o Mundo

Sala de Visita – Entrevista com Benjamin Moser

David Jackson, "Machado de Assis: A Literary Life"

Interview with Clarice Lispector - São Paulo, 1977 (English subtitles)

Entrevista do ano de 1977, onde conhecemos um pouco da magnífica escritora brasileira Clarice Lispector.


terça-feira, 15 de outubro de 2019

Possibilidade de candidaturas sem filiação partidária será discutida em audiência pública

A convocação foi feita pelo ministro Luís Roberto Barroso, relator do recurso extraordinário de dois cidadãos não filiados a partidos que tiveram registros de candidatura negados pela Justiça Eleitoral no Rio de Janeiro.
O ministro Luís Roberto Barroso, do Supremo Tribunal Federal (STF), convocou audiência pública para o dia 9/12 para discutir a constitucionalidade das candidaturas avulsas (sem filiação partidária) em eleições. A matéria é tema de Recurso Extraordinário (RE) 1238853, com repercussão geral reconhecida.
Segundo o relator, o tema extrapola os limites jurídicos e, por isso, é importante dar voz às instituições e partidos políticos, aos movimentos sociais, às associações de direito eleitoral e a políticos, acadêmicos e especialistas para que o STF conheça pontos de vista diferentes sobre a questão. Entre os pontos a serem discutidos estão as dificuldades práticas relacionadas à implementação das candidaturas avulsas e os impactos da adoção dessa possibilidade sobre o princípio da igualdade de chances, sobre o sistema partidário e sobre o regime democrático.
Inscrições

Os interessados deverão manifestar sua intenção de participar da audiência pelo e-mail candidaturaavulsa@stf.jus.br até 1º/11. A solicitação deverá conter a qualificação do órgão, da entidade ou do especialista, a indicação do expositor, acompanhada de breve currículo de até uma página, e o sumário das posições a serem defendidas na audiência. 

Os participantes serão selecionados a partir de critérios como representatividade, especialização técnica e domínio do tema, garantindo-se a pluralidade da composição da audiência e a paridade dos diversos pontos de vista a serem defendidos. A relação dos habilitados a participar da audiência será divulgada no portal eletrônico do STF até 18/11.

Caso concreto

O recurso foi interposto por dois cidadãos não filiados a partidos que tiveram o registro de sua candidatura a prefeito e a vice-prefeito do Rio de Janeiro (RJ) indeferida pela Justiça Eleitoral. Eles sustentam que a Constituição Federal não proíbe explicitamente a candidatura avulsa e que o Pacto de São José da Costa Rica (Decreto 678/1992) rejeita o estabelecimento de qualquer condição de elegibilidade que não seja idade, nacionalidade, residência, idioma, instrução, capacidade civil ou mental, ou condenação em processo penal.

A convocação da audiência pública foi proferida no Recurso Extraordinário com Agravo (ARE) 1054490, reautuado como Recurso Extraordinário (RE) 1238853 por determinação do relator.


Matéria extraída do site do STF: http://portal.stf.jus.br/noticias/verNoticiaDetalhe.asp?idConteudo=426313&ori=1

quarta-feira, 25 de setembro de 2019

MINICURSO FILOSOFIA E SOCIOLOGIA COMO BASES ARGUMENTATIVAS PARA A REDAÇÃO

Na segunda edição do curso, vamos apresentar aos alunos as ferramentas argumentativas da sociologia e da filosofia que irão alavancar suas notas nas redações.
Valor da inscrição: R$ 50,00.
Turma com máximo de 24 alunos.
Pagamento por transferência bancária: Agência 2972-6, Conta corrente 22579-7 (Banco do Brasil) ou no local e dia do evento (caso existam vagas).

quarta-feira, 14 de agosto de 2019

A inconstitucionalidade da equiparação do crime de homofobia e transfobia ao crime de racismo



crime O STF (Supremo Tribunal Federal), no dia 13/06/2019, através da Ação Direta de Inconstitucionalidade por Omissão (ADO), proposta pelo partido PPS (Partido Popular Socialista), fundamentada na “omissão do Poder Legislativo”, equiparou o crime de homofobia e transfobia ao crime de racismo, insculpido na Lei nº 7716/1989. Não obstante o entendimento de nossa Corte Superior, acreditamos que tal equiparação viola expressamente os princípios da legalidade e da reserva legal, bem como afronta diretamente o princípio da Separação de Poderes, em uma flagrante violação à sistemática jurídica brasileira, conforme exporemos a seguir.
2. Princípio da Legalidade e da Reserva Legal
O princípio da legalidade e da reserva legal vêm disposto no art. 5º, inciso XXXIX, de nossa Carta Magna:
XXXIX – não há crime sem lei anterior que o defina, nem pena sem prévia cominação legal;
Não obstante já previstos em nossa Lei Maior, o art. 1º, do Código Penal, enfatiza:
Art. 1º – Não há crime sem lei anterior que o defina. Não há pena sem prévia cominação legal.
De acordo com nossa legislação pátria, não podemos falar em crime ou pena, sem que lei anterior os definam como tal. Ou seja, a lei deve ser a única fonte do Direito Penal, não dando espaço para que a liberdade dos cidadãos seja suprimida pelo livre arbítrio de quaisquer autoridades que sejam. Nesse mesmo sentido, Paulo Bonavides nos ensina que
O princípio da legalidade nasceu do anseio de estabelecer na sociedade humana regras permanentes e válidas, que fossem obras da razão, e pudessem abrigar os indivíduos de uma conduta arbitrária e imprevisível da parte dos governantes. (…), evitando-se assim a dúvida, a intranquilidade, a desconfiança e a suspeição, tão usuais onde o poder é absoluto…
Muitos autores remontam a origem dos princípios da legalidade e reserva legal à Carta Magna Inglesa, do ano de 1215, editada pelo Rei João Sem Terra, que em seu art. 39 dispos que
Nenhum homem livre será detido, nem preso, nem despojado de sua propriedade, de suas liberdades ou livres usos, nem posto fora da lei, nem exilado, nem perturbado de maneira alguma; e não poderemos, nem faremos pôr a mão sobre ele, a não ser em virtude de um juízo legal de seus pares e segundo as leis do país.
A inteligência do citado artigo impressiona, tendo em vista o período em que foi escrito. 
Apesar de à época viger uma monarquia, o rei, utilizando-se de seu poder absoluto, editou uma lei que limitou seus próprios poderes de ação contra a menor das minorias: o indivíduo, obrigando-se a se submeter às leis consagradas da comunidade e do país.
Seguindo a lógica da Carta Magna Inglesa de 1215, o Brasil, desde o Código Criminal do Império, de 1830, até a reforma da parte geral do Código Penal de 1940, efetuada no ano de 1984, previu expressamente o princípio da legalidade e da reserva legal, dando a todos os cidadãos brasileiros a segurança jurídica de que ninguém poderia ser punido por um tipo incriminador que não estivesse previsto antecipadamente em lei.
Neste mesmo sentido, analisando a importância dos princípios em tela, Ferbauch assevera:
I) Toda imposição de pena pressupõe uma lei penal (nullum poena sine lege). Por isso, só a cominação do mal pela lei é que fundamenta o conceito e a possibilidade jurídica de uma pena. (…) Por fim, é mediante a lei que se vincula a pena ao fato, como pressuposto jurídico necessário. III) O fato legalmente cominado (o pressuposto legal) está condicionado pela pena legal (nullum crimen sine poena legali). Consequentemente, o mal, como consequência jurídica necessária, será vinculado mediante lei a uma lesão jurídica determinada.
Ou seja, consoante Ferbauch, a lei é PRESSUPOSTO JURÍDICO NECESSÁRIO para que o Estado possa punir um indivíduo sob seus domínios, limitando, assim, seu poder, além de abarcar seus cidadãos com a segurança jurídica.
3. Violação ao princípio da legalidade, ao princípio da reserva legal e ao princípio da separação de poderes
Acreditamos que qualquer grupo, através dos meios disponíveis e legais previstos em um Estado Democrático de Direito, pode lutar para que leis sejam promulgadas em seu benefício – ainda que de conteúdo incriminador e repressivo -, desde que, repise-se: observem o trâmite necessário disposto em nossa Constituição para que uma lei seja promulgada e passe a viger.
Entretanto, no caso em tela, vemos um grupo minoritário, usando do Judiciário (que, em tese, só deveria aplicar as leis e dar a elas a melhor interpretação) PARA CRIAR UMA LEI DE CARÁTER PENAL, QUE PODE ATENTAR DIRETAMENTE CONTRA A LIBERDADE DOS INDIVÍDUOS.
Ou seja, ao atender o pedido efetuado pelo PPS (Partido Popular Socialista) na ADO nº 26, o Judiciário, usurpando a função conferida ao Poder Legislativo, inovou legislativamente, ultrapassando os seus limites institucionais, já que, de acordo com o art. 22, inciso I, da Constituição Federal, é de competência da União (Congresso Nacional) a edição de leis de cunho penal.
Nesse sentido, elucidativa a lição de Guilherme de Souza Nucci:
Ao cuidarmos da legalidade, podemos visualizar os seus três significados. No prisma político, é a garantia individual contra eventuais abusos do Estado. Na ótica jurídica, destacam-se os sentidos lato e estrito. […] Neste último enfoque, é também conhecido como princípio da reserva legal, ou seja, os tipos penais incriminadores somente podem ser criados por lei em sentido estrito, emanada do Poder Legislativo, de acordo com o processo previsto na Constituição Federal.
Apesar do cediço conhecimento desses princípios pela comunidade jurídica, vemos que, na prática, eles foram totalmente ignorados pelo nosso Supremo Tribunal Federal.
4. Conclusão
Há, por conseguinte, notória violação por parte do STF aos princípios da legalidade e da reserva legal, além de afronta direta ao princípio da Separação dos Poderes, todos previsto em nossa Constituição Federal, ao equiparar crimes de cunho homofóbico e transfóbico ao crime de racismo, em uma flagrante inovação legislativa.
No mais, frise-se: todos os grupos têm o direito de lutar para que leis que os protejam sejam editadas, entretanto, como operadores do direito, não podemos compactuar com atuações que envilecem princípios de nosso ordenamento jurídico, sob pena de abalarmos a ordem do Estado Democrático de Direito.

domingo, 11 de agosto de 2019

O DIA EM QUE A PROSA VENCEU UM CONCURSO DE POESIA*


   POR JEANDERSON MAFRA*

Mais de quarenta poetas ludovicenses aguardavam neste dia 10 de Agosto, aniversário do poeta maranhense Gonçalves Dias, o desfecho de um Concurso de Poesia em São Luís, e para estranheza de boa parte dos que "constroem com as palavras" e, neste caso, Poesia, a Prosa saiu vitoriosa.

É certo que há um grande dissenso no mundo literário sobre o que contém literariedade ou não e a Crítica Literária já se debruçou em demasia nesse campo. A Poesia Concreta, para exemplificar, foi a mais taxativa e ruptora com o cânone tradicional e de forma alguma a queremos reconfigurar à nossa realidade poética tão rica e, por vezes, "vanguardista"; rompendo com o metro e a medida na sua saga pela beleza estética que melhor desperte as emoções e quebre os paradigmas, libertando-se de amarras e da prisão conceitual dos lugares institucionalizados e "velhacos", os quais vivem a ditar os limites do que é literariedade.

A Poesia, originalmente, era identificada pelo que possuía de ritmo. E foi assim que Bandeira trincheirou o seu 'fazer poético' em sua obra "O Ritmo Dissoluto".

O verso, a métrica, o ritmo, o sentido figurado, a paródia e, sobretudo, a "criatividade" definem a Poesia e seu poder imagético, harmônico e capaz de transcender à realidade banal qualquer particular. É a isto que chamamos CATARSE.

Sem mais delongas, o prêmio calhou à Prosa. E a pergunta é: pode haver Poesia numa Prosa? Sim, pode. Porém esta tem sua definição e estrutura própria, sendo a mais simplória desta categoria, o conto.

É certo que até havia um 'lirismo' poético na Prosa vencedora do Concurso "de Poesia" hoje, mas temo que Gonçalves Dias se revirara no caixão quando a ordem do discurso era transgredida em sua "terra das palmeiras, onde canta o sabiá". Pois, por mais que a Prosa possa ter de poeticidade, em sua construção, continua a ser prosa.

Há - por mais "outsider" que este pobre ensaísta possa ser - uma linha que delimita os gêneros e, por conseguinte, os perpetua na construção do que é literário. Romance é romance, conto é conto, crônica é crônica, ainda que haja algo de poético em seu contexto (e penso que sempre haverá). Porém Prosa é Prosa e Poesia é Poesia. Se não, tudo será considerado poesia a partir de hoje e passaremos a apreciar as bulas de remédio.
A Poética,  ora observada na Prosa "Eu pirata"(sic) - que torço a que o agraciado escritor transforme em Romance - foi, nada mais e nada menos,  um "condoreirismo" inicial da interjeição de surpresa e lamento "Aahh" que dava o 'tom poético' de uma leitura enfadonha de mais ou menos cinco laudas, lidas por um "poeta" (sim, não tenho dúvidas!) com faringite e que, graças à Providência, não tossiu como temia no decurso da "leitura".

No meio do salão lotado, com a imprensa "imprensando" os transeuntes, cabeças poéticas balançavam e meneavam em negativa. Uma negativa, praticamente, geral.

Acontece que cinco poetas foram classificados para a final e três escolhidos para premiação. O terceiro lugar ficou para um jovem poeta que tinha como mote poético "o olho", ainda que "o olho do cú" tenha ficado "para sempre" como referência no seu excelente,  e bem nordestino,  cordel. Pois foi de fato um poema de matiz cordelista o que lera, no meio de uma platéia mista de crianças a idosos e na qual meu filho de 09 anos não conseguiu reter o riso (aliás, todos rimos).

O segundo lugar ficou para um lindo e verdadeiro poema que falava de São Luís e versava sobre a "solidão histórica" de nossa cidade. O poema é de autoria do poeta Rogério Rocha que, dos cinco finalistas traduziu o "espírito" do Concurso de Poesia e que, na minha irrisória opinião deveria vencer.

O primeiro lugar, como adiantado, foi de uma Prosa "resgatada" entre tantos poemas, como se lançada ao ar para sorteio e "lida" (jamais declamada) tediosamente, lauda por lauda.Tanto que o vencedor, "ao chegar na metade eu já havia esquecido o começo" confessou-me uma poetisa ao final.

Sucede que a "Comissão Avaliadora" - os ditos ""jurados", responsáveis por avaliar a presença de "poesia" nos textos - era inapta para o empreendimento, o que acabou por refletir no resultado. Ainda que escritores e membros de Academias regionais, é forçoso dizer que só quem escreve Poesia, e "oficia" sobre ela,  pode "dissertar" sobre a mesma, tendo a autoridade de julgar seu poder catártico. Ora, todos os presentes naquele salão eram poetas e foram, por assim dizer, subestimados em seu poder de análise - e não podemos deixar este momento em branco, sem a devida "crítica" e observação que lhe cabe.
A Literatura no Maranhão,  e sua ausente "crítica",  foi silenciada por muito tempo devido a um "provincianismo oligárquico" onde quem detinha o "status" simplesmente era tratado como autoridade apenas por publicar uma obra, coisa que "antigamente" era privilégio de poucos. Lembremos, por exemplo,  que nossa Maria Firmina dos Reis foi reconhecida, ao seu devido lugar na História da Literatura nacional, apenas recentemente, devido ao preconceito, racismo, misoginia e "egoísmo literário" de sua época. Não precisamos relembrar também que os grandes e renomados literatos da nossa "Atenas Brasileira" só foram reconhecidos quando cruzaram a fronteira do Maranhão.

A Associação  Maranhense de Escritores Independentes está de parabéns por este e por outros projetos que têm desenvolvido ao longo deste curto espaço de tempo desde que foi fundada e do qual tive a honra de participar. Esta breve crítica vêm pela própria necessidade de se fazer uma crítica literária no âmbito de nossa Literatura maranhense, sempre deixada nas brumas das noites ludovicenses, por vezes, no peito dos inspirados poetas.

Frye, em sua "Anatomia da Crítica"( 1957), dizia que

"[... ] a primeira coisa que um crítico literário, tem de fazer é ler literatura, para obter um levantamento indutivo de seu próprio campo e deixar seus princípios críticos se configurarem a si próprio apenas com o conhecimento deste campo".

Longe de qualquer "crítica pelo gosto" ou reacionarismo em prol de cânones arcaicos, defendo o pensamento dos formalistas russos onde as rupturas e o não-alinhamento à "tradição literária" quanto à poética devem ser o caminho para se atingir o ideal que se quer da Poesia: o de atingir o âmago da alma humana e de vislumbrar assim a liberdade.



Jeanderson Mafra*, postulante a poeta, graduado em Letras, co-autor do livro "Fragmentos de Mármore" e amante das palavras.

GRANDE PIRÂMIDE DO EGITO: UM PROPÓSITO NÃO EXPLICADO

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A construção da Grande Pirâmide de Giza é atribuída à antiga civilização egípcia. Os egiptólogos argumentam que por volta de 2560 AEC, os egípcios terminaram a Grande Pirâmide de Giza, projetada e construída como o lugar de descanso eterno para a Quarta Dinastia do Faraó Khufu.
A Pirâmide de Khufu, também chamada “Horizonte de Khufu” em tempos antigos, é a mais antiga, maior e mais maciça das três pirâmides que estão na parte do planalto de Gizé do seu maior complexo da pirâmides.
Acredita-se que a Grande Pirâmide de Giza tenha sido encomendada por Khufu com base em uma série de marcas que foram supostamente descobertas dentro das câmaras da pirâmide. Uma dessas marcas foi traduzida e lida: “Amigos de Khufu,” supostamente descrevendo um grupo de pessoas que participaram da construção da pirâmide.
Mas, além das marcas encontradas dentro da pirâmide, pouco se sabe sobre a pirâmide e sua construção. Sabemos que a competição da Grande Pirâmide de Giza marcou o auge da antiga construção da pirâmide egípcia e que durante anos, séculos e milênios, nenhum outro edifício no Egito se igualaria à Grande Pirâmide de Giza em termos de tamanho, design, complexidade e mistério.
E o mistério que envolve a mais famosa de todas as pirâmides é bem merecido. Apesar de ter estudado a pirâmide de Khufu durante séculos, os estudiosos têm sido incapazes de descobrir o seu mistério.
Como foi construída a pirâmide? Que tipo de tecnologia os antigos egípcios usaram (não estou falando de alienígenas)? Como é que eles extraíam os enormes blocos de pedra e os cinzelavam até à perfeição? Que tipo de logística estava envolvida? E como eles moveram os blocos de pedra através do deserto? Eles não tinham a roda, então tudo foi alcançado por meio da força? Eles fizeram uso do rio Nilo, sim, mas como colocaram as pedras maciças sobre os barcos e, em seguida, levaram-na para a terra uma vez que os navios chegavam ao seu destino?
Quando foi a pirâmide exatamente construída, e podemos ter certeza de que foi encomendada por Khufu? Se a pirâmide foi pretendida realmente como o lugar do descanso eterno do faraó, por que nós não encontramos nenhum traço de um túmulo dentro da pirâmide? Onde está a múmia do faraó se a pirâmide era seu lugar de descanso eterno? A única coisa que encontramos na alegada Câmara do Rei são os restos mortais de um sarcófago de granito de construção que é indigno de um rei.
A construção da Grande Pirâmide de Giza foi um processo de construção gigantesco, empurrando os limites da construção egípcia antiga para um nível inteiramente novo. Era um projeto que deixaria um registro da civilização egípcia para as futuras gerações poderem ver. Então por que não encontramos nenhum papiro, documentos ou hieróglifos que mencionem como a pirâmide foi construída? Quem participou de sua construção? E por que não podemos encontrar referências à construção da pirâmide em qualquer lugar do Egito?
A única referência possível que já descobrimos que poderia indicar uma pequena parte na construção da pirâmide é o chamado Merer Journal, uma coleção de papiros antigos – o mais antigo já encontrado no Egito – que remonta ao reinado de Khufu. O diário escrito por um homem chamado Merer nos conta que ele e seus trabalhadores participaram do transporte de blocos de calcário de diferentes pedreiras pelo Egito até o platô de Giza através de um barco de carga. Uma vez que o diário de Merer faz referência a Khufu, os arqueólogos argumentam que foi escrito durante a Quarta Dinastia, por volta de 2560-2570 AEC.
Portanto, os estudiosos chegaram à conclusão de que, desde que o papiro remonta à época em que a pirâmide era mais provável de ser construída, e menciona o planalto e calcário de Gizé, Merer e sua tripulação provavelmente participaram da construção da Grande Pirâmide, transportando enormes blocos de pedra para o local da construção. Mas, apesar disso, não há evidência direta que nos diga isso. Não existem escritos que falem da construção da pirâmide, de como os trabalhadores transportaram os blocos de pedra, nem de como os empilharam para eventualmente formar a Grande Pirâmide.
Você quer me dizer que os antigos egípcios completaram o projeto de construção mais impressionante já tentado em sua história, e decidiram não registrar uma única palavra sobre isso? Nem uma única frase, hieróglifos, palavra, imagem, menciona a construção da pirâmide. Não há registros que mencionem para quem a Pirâmide foi construída e qual era seu propósito. A única coisa que sabemos é que é uma estrutura de pedra maciça, diferente de qualquer outro monumento de pedra na Terra. Nós sabemos que seus construtores usaram 2,3 milhões de blocos de pedra para construí-la. Nós sabemos que por 3.800 anos após a sua conclusão, ele permaneceu o edifício mais alto do mundo. E não há uma única peça de evidência escrita que mencione sua construção.
Também sabemos que, ao contrário de outras pirâmides no Egito, a Grande Pirâmide é a única que tem passagens ascendentes e descendentes. Além disso, o projeto ScanPyramids provou que ainda há muito que não sabemos sobre a pirâmide. Em 2017, eles escanearam a pirâmide de Khufu usando radiografia de múon e descobriram que há pelo menos uma câmara oculta dentro da pirâmide que era anteriormente desconhecida.
Chamada de “o Grande Vácuo”, a câmara misteriosa tem um comprimento de 30 metros (98 pés), sua seção transversal parece semelhante em design à da Grande Galeria. O propósito exato da câmara permanece um mistério, embora alguns pesquisadores sugiram que o vazio pode ter sido usado durante a construção da pirâmide. Mas como não temos nenhum escrito sobre a pirâmide, não podemos entender qual era seu propósito.
Pelo que sabemos, poderia haver muitos outros vazios e câmaras não detectadas dentro da pirâmide. Mas, novamente, esse é o problema que enfrentamos quando estudamos a pirâmide.
Embora escavações arqueológicas no passado tenham revelado uma infinidade de informações sobre as possíveis funções e significado da pirâmide, não podemos concluir nada, pois quase tudo o que sabemos sobre a pirâmide é baseado em teorias e suposições.
Nenhuma evidência direta pode apoiar essas teorias.
Por exemplo, é amplamente afirmado que todas as três pirâmides no platô de Giza foram pretendidas como túmulos para os faraós. E enquanto todas as três estruturas são majestosas e dignas de um deus, os arqueólogos nunca encontraram uma única peça de evidência que pode sugerir que as pirâmides em Gizé serviram como túmulos.
De fato, todas as três pirâmides, a de Khufu, Khafre e Menkaure carecem de suas múmias correspondentes. Em outras palavras, nunca encontramos as pirâmides para conter os restos mumificados dos faraós. Não somente isso, nós não encontramos dentro das pirâmides uma sala que seja digna de um faraó também.
Os estudiosos argumentam que as câmaras de enterro dentro das pirâmides foram saqueadas há muito tempo e que seu conteúdo, incluindo as múmias, foram tomadas por ladrões de sepulturas e estão desde então perdidas para a história. Mas por que diabos você roubaria uma múmia? Quero dizer, mesmo há milhares de anos atrás, não faria qualquer sentido, assim como não faz qualquer sentido hoje em dia.
Mas vamos parar por um minuto e dizer que isso é verdade e que os saqueadores realmente roubaram tudo, incluindo as múmias, de dentro das câmaras funerárias das pirâmides.
Então porque é que na Terra essas alegadas câmaras de enterro estão sem inscrições? Marcas? Onde estão os impressionantes hieróglifos e imagens pelos quais os antigos egípcios são tão famosos?
Compare alguns dos outros túmulos egípcios antigos através do Egito com o interior das pirâmides. Os túmulos em todo o Egito são decorados com imagens do Faraó, dos deuses egípcios antigos e cenas da vida após a morte. Tome por exemplo o túmulo do Faraó Tutancâmon, e compare-o com a imagem acima da câmara do Rei dentro da Grande Pirâmide e pergunte-se, será que ele se parece com uma câmara de enterro digna de um rei?
A resposta é não, não é. Parece vazia. Parece fria, e não há sinais ou pistas que sugiram que tenha havido hieróglifos intrincados e belos dentro dela.
Apesar de a Grande Pirâmide de Giza ser a pirâmide mais impressionante já construída, não há textos antigos que a mencionem ou mencionem o seu exato propósito. Não existem indícios ou sinais de contadores que possam sugerir a existência de hieróglifos, ou qualquer outra coisa relacionada com um túmulo egípcio antigo bem construído.
Os antigos egípcios construíram um monumento de pedra com um volume total de 2.583.283 metros cúbicos, supostamente como uma tumba. E então? Esqueceu-se de decorar a câmara funerária de maneira típica?
Creio que não vimos o quadro completo quando se trata do interior da Grande Pirâmide de Giza. Ou o monumento não foi concebido para servir como um túmulo, ou há vazios, câmaras e túneis embaixo e dentro da pirâmide que ainda não foram encontrados, e poderia possivelmente revelar o verdadeiro propósito da pirâmide.
Este é um excerto do próximo livro de Ivan Petricevic, Pyramidomania: a world of Pyramids.
Fonte: Extraído do site SOCIENTÍFICA

domingo, 16 de junho de 2019

FERNANDO PESSOA E SEUS HETERÔNIMOS

Nascido em 13 de junho de 1888, em Lisboa, Fernando Pessoa liderou o movimento modernista em Portugal, cujos ideais vieram à tona na revista Orpheu. Considerado um escritor singular e muito criativo, foi através da heteronomia que Fernando Pessoa alcançou o prestígio e o sucesso não só em Portugal, mas em toda a literatura universal.
Através de seus heterônimos, Fernando Pessoa mostrava seu vasto projeto artístico: seus heterônimos tinham biografia, estilo e ideais próprios, eram diferentes uns dos outros. Foram mais de 70 heterônimos criados, alguns desenvolvidos completamente, outros não. Os mais marcantes foram: Alberto CaeiroRicardo Reis e Álvaro de Campos.
Como ele mesmo, Fernando Pessoa tinha um forte traço nacionalista. Alimentava o gosto pelo épico e fazia retomada às Grandes Navegações, época de grandes conquistas para Portugal que foi apagado com o tempo.
Voltando-se para temas tradicionais, vemos ainda um traço saudosista nele.

Alberto Caeiro


Alberto Caeiro era o mestre de todos os outros heterônimos, além de ser mestre do próprio Fernando Pessoa. Nascido em 16 de abril de 1889, Caeiro era órfão de pai e mãe e viveu a vida inteira no campo com sua tia.
Fruto de um local bucólico, Caeiro defende a simplicidade da vida e seus pensamentos são extraídos do contato com a natureza e a vida simples. Ele procurava ver o real e como a realidade se configura de maneira simples.
Acreditava que os pensamentos do poeta - as sensações – eram obtidos por meio dos sentidos do ser humano, sem a interferência do pensamento humano. Para ele, as coisas “eram como eram”, não havia necessidade de pensar. Tudo era objetivo.
Caeiro faleceu em 1915, tuberculoso.

Ricardo Reis

Nascido em 19 de novembro de 1887, no Porto, Ricardo Reis tinha formação em medicina. Exilou-se no Brasil porque não concordava com a Proclamação da República Portuguesa. É uma face de Fernando Pessoa ligada ao clássico, à cultura greco-latina.
Ricardo Reis valorizava a vida campestre e a simplicidade das coisas, mas ao contrário de Caeiro, ele não se sente feliz e integrado à natureza, sentindo-se fruto de uma sociedade decadente, que caminha para a destruição. Para Reis, o destino de todos já havia sido traçado e só restava aproveitar a vida ao máximo.

Álvaro de Campos


Era a face mais ligada ao modernismo e ao futurismo. Nascido em 15 de outubro de 1890, em Távira, Álvaro é engenheiro formado em Glasgow, mas não exerceu a profissão por não gostar de sentir-se preso em escritório.
É um homem voltado para o presente e sua poesia buscava transmitir o espírito do mundo moderno. Teve três fases: decadentista, futurista e pessoal. Na fase decadentista há uma ligação com o simbolismo, um descontentamento, o tédio em relação ao mundo presente; na fase futurista vemos a ligação com o moderno e o tempo presente, que passava por modernização; na fase pessoal, vemos questionamentos sobre si próprio, descontentamentos e certo abatimento.

SHAMAN - "Fairy Tale" Cover

quarta-feira, 24 de abril de 2019

AS SUTILEZAS DA COMPLEXA ARTE DA CONVIVÊNCIA


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Por Rogério Rocha

A arte de conviver é tão antiga quanto a existência humana sobre a Terra. Apesar disso, e de ser uma necessidade do indivíduo, que parece trazer em seu gene a imperiosa necessidade do pertencimento, temos muito ainda por aprender.
Conviver é, antes de tudo, saber viver junto, dividir espaço e partilhar com o outro nossos medos e fragilidades, mas também nossas esperanças e realizações. E é o outro (por vezes tão próximo, por vezes distante), quem justamente nos dá a certeza de que somos únicos e diferentes.
Mas por que, afinal de contas, é tão difícil conviver com o diferente? E se somos de fato únicos e, por isso mesmo, intrinsecamente diferentes, por que será a convivência harmoniosa tão difícil?
Uma resposta possível é a de que talvez não tenhamos sido capazes ainda de desenvolver a virtude fundamental ao convívio humano: a tolerância. A tolerância é a virtude que nos capacita a aceitar o outro como ele é. Um ser singular. Especial.
E é justamente por sermos singulares que nos tornamos importantes para o outro. Afinal, imaginem se fossemos exatamente iguais em tudo. Iguais em qualidades e defeitos, comportamentos e aspectos físicos, nos gostos e no modo de pensar. Creio que tudo seria muito monótono, pois qualquer pessoa teria as mesmas características que as nossas. Consequentemente, ninguém seria especial.
 A tolerância, portanto, baseia-se na capacidade de enxergar em cada ser humano um indivíduo único e especial dentro da pluralidade que invariavelmente nos rodeia.
Outra qualidade fundamental ao convívio harmônico é a sabedoria de esperar o tempo próprio de cada coisa. A isto chamamos paciência. Ser paciente é dar tempo ao tempo, é ajustar nossas expectativas e equilibrá-las às dos demais. É saber que o momento não pertence só a mim. É semear hoje o bem e amanhã colher o amor.
Viver com o outro, portanto, o nosso próximo de cada dia, o diferente, o único, o singular e especial, é descobrir que buscamos tornar-nos aquilo que aspiramos ser. Passo a passo, degrau a degrau, entre tropeços e vitórias, nas muitas trilhas que compõem a jornada da vida. São essas as divinas sutilezas da complexa arte da convivência.

segunda-feira, 22 de abril de 2019

POR QUE NOS EUA NÃO TEM BATUCADA?

Por Cynara Menezes
Não é curioso que os Estados Unidos não usem tambores em sua música como todos os outros países que tiveram mão-de-obra escrava vinda da África? Eu sempre fiquei me perguntando isso. Por que a música dos negros norte-americanos é tão diferente da música brasileira, de Cuba, do Caribe? Onde foram parar os tambores? Cadê a batucada?
Pense em todos os grandes ídolos da música afro-americana: Charlie “Bird” Parker tocava sax. Louis Armstrong tocava trompete. Nina Simone tocava piano, assim como Stevie Wonder e Ray Charles. Miles Davis tocava trompete. E Wynton Marsalis, idem. Robert Johnson tocava guitarra. Chuck Berry, idem. Leadbelly tocava um violão de 12 cordas.
Os negros chegaram aos EUA vindos, em sua maioria, de regiões que hoje se conhecem como Senegal, Gâmbia, Nigéria, Camarões, Namíbia, Congo, Angola e Costa do Marfim. Os negros brasileiros vieram de Moçambique, do Benin, da Nigéria, e também de Angola, Congo e da Costa do Marfim. Com todas as diferenças existentes entre estas nações africanas, todas elas faziam uso de tambores com fins musicais e de comunicação. Por que então nós temos o samba e os gringos não? Por que não tem atabaque, agogô e cuíca na música afro-americana e sim saxofone, clarinete, trompete, instrumentos “de brancos” que os negros, aliás, aprenderam a tocar com maestria? Simplesmente porque os tambores foram proibidos na terra do tio Sam durante mais de 100 anos.
No dia 9 de setembro de 1739, um domingo, em uma localidade próxima a Charleston, na Carolina do Sul, um grupo de escravos iniciou uma marcha gritando por liberdade, liderados por um angolano chamado Jemmy (ou Cato). Ninguém sabe o que detonou a rebelião, conhecida como a “Insurreição de Stono” (por causa do rio Stono) e que é considerada a primeira revolta de escravos nos EUA. Conta-se que eles entraram numa loja de armas e munição, se armaram e mataram os dois brancos empregados do lugar. Também mataram um senhor de escravos e seus filhos e queimaram sua casa. Cerca de 25 brancos foram assassinados no total. Os rebeldes acabaram mortos em um tiroteio com os brancos ou foram recapturados e executados nos meses seguintes.
A reação dos senhores foi severa. O governo da Carolina do Sul baixou o “Ato Negro” (Negro Act) em 1740, trazendo uma série de proibições: os escravos foram proibidos de plantar seus próprios alimentos, de aprender a ler e escrever, de se reunir em grupos, de usar boas roupas, de matar qualquer pessoa “mais branca” que eles e especialmente de incitar a rebelião. Como os brancos suspeitavam que os tambores eram utilizados como uma forma de comunicação pelos negros, foram sumariamente vetados. “Fica proibido bater tambores, soprar cornetas ou qualquer instrumento que cause barulho”, diz o texto.
A proibição se espalhou pelo país e só foi abolida após a guerra civil, mais de um século depois, em 1866. Antes disso, o único lugar onde os negros podiam se reunir com certa liberdade eram as igrejas; daí o surgimento dos spirituals, a música gospel, com letras inspiradas pela Bíblia, que eles cantavam muitas vezes à capela (sem instrumentos) ou marcando o ritmo com palmas. As mãos batendo no corpo e os pés batendo no chão foram os substitutos que os escravos encontraram para os tambores, resultando em formas de dança e música conhecidas como “pattin’ juba”, “hambone” e “tap dance” (sapateado), ainda hoje utilizados por artistas negros (e também brancos) dos EUA.
“Os tambores ‘falantes’ africanos interagiam com os dançarinos utilizando diferentes ritmos, assim como comunicando mensagens através dos tons e batidas. Os tocadores de tambor podiam fazer seus instrumentos ‘falarem’ sons específicos, de forma que a percussão constituía um texto sonoro. A musicalidade de várias palavras africanas era tão precisa que elas podiam ser escritas como notas musicais. Os escravos levaram estes ritmos e o uso destas técnicas para a América”, diz o coreógrafo norte-americano Mark Knowles, autor do livro Tap Roots: the Early History of Tap Dance.
Os brancos sabiam que as rebeliões de escravos eram organizadas durante encontros que envolviam dança e que a cadência dos tambores podia ser um convite à insurreição, com o uso dos tambores falantes. “Proibidos os tambores, o corpo humano, o mais primitivo de todos os instrumentos, se tornou a principal forma de ritmo e de comunicação entre os escravos. Usando o corpo como percussão, em uma tentativa de imitar os sofisticados ritmos e cadências dos tambores, com o elaborado uso de batidas dos saltos e do bico do sapato, surgiu o que chamamos de ‘tap dance’. Mesmo hoje em dia, quando dois sapateadores mantêm uma conversação com seus pés, é como se estivessem telegrafando mensagens, como faziam originalmente os tambores africanos”, afirma Knowles.
Alguns estudiosos atribuem ao banimento dos tambores o fato de a música dos EUA em geral não ser tão rica em compassos como a sul-americana ou a caribenha. “Há uma coisa peculiar que quase toda a música norte-americana tem em comum: uma extensa ênfase em um mesmo ritmo, muito diferente da encontrada em qualquer outro lugar no mundo. É assim: Boom – Bap – Boom – Bap, com um bumbo na primeira e terceira batidas, ou em todas as quatro, uma caixa precisamente na segunda e quarta, e quase nada entre elas. Este ritmo é chamado de ‘duple’ (compasso binário) em teoria musical, e você pode encontrar variações dele em todos os estilos da música americana popular moderna: Blues, Motown, Soul, Funk, Rock, Disco, Hip Hop, House, Pop, e muito mais”, diz o DJ Zhao neste interessante artigo.
“O predomínio generalizado deste monorritmo simplificado, rígido e mecânico, minimizando elementos polirrítmicos na música para o papel de embelezamento, às vezes ao ponto de não-existência, é muito diferente do foco em polirritmos complexos que existe em várias formas da moderna música sul-americana e caribenha: o Son Cubano e a Rumba, a Bossa Nova brasileira, o Gwo Ka e Compas haitiano, o Calipso de Trindade e Tobago… Nenhum deles depende tão extensivamente do duple.”
Em sua autobiografia, To be or Not… to Bop, o trompetista Dizzy Gillespie atribui esta menor complexidade rítmica da música afro-americana em relação à música afro latino-americana à proibição dos tambores. “Os ingleses, ao contrário dos espanhóis, tiraram nossos tambores”, lamenta Gillespie (leia mais aqui). Em meados da década de 1940, muitos congueros (tocadores de conga, espécie de atabaque) migraram para os Estados Unidos e exerceram influência na música local, criando o jazz afro-cubanoGillespie colocou a conga do cubano Chano Pozo em sua música e a parceria resultou em Manteca (1947), canção pioneira por introduzir percussão cubana no jazz.
Nos rincões do Mississippi, driblou-se a proibição dos tambores com bandas de flautas e tarol (caixa), instrumentos que eram aceitos e inclusive tocados no Exército durante a guerra civil. Em 1942, o folclorista Alan Lomax gravou pela primeira vez gente como Othar Turner e Ed e Lonnie Young, cuja sonoridade esbanja ancestralidade, soa a África e foi comparada à música haitiana. É o mais próximo de uma batucada que encontrei na música negra dos EUA. Não parece meio maracatu?
Enquanto nos Estados protestantes os tambores eram banidos, na católica Louisiana eles foram permitidos até o século 19 e eram utilizados sobretudo nas cerimônias de vodu, religião afro-americana levada para os EUA pelos escravos do Benin, antigo Daomé – de onde vieram também a maioria dos negros da Bahia. Assim como em Salvador, havia muito sincretismo em New Orleans até começar a perseguição ao vodu e por conseguinte aos tambores.
A partir de 1850 o uso de tambores passou a ser restringido até mesmo na Congo Square, uma praça da cidade onde tradicionalmente os negros se reuniam para tocar tambores, dançar e entrar em transe espiritual ao som de música. Nos anos 1970 a praça foi reabilitada e até hoje rola um batuque de primeira por lá.
Apesar desta “percussofobia”, como alguns chamam, a música negra dos EUA é maravilhosa, sem sombra de dúvidas. Mas como seria ela se os tambores não tivessem sido proibidos? Mais parecida com a brasileira? Nunca saberemos.

*Artigo originalmente publicado no site Socialista Morena em 15.11.2015

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