A ciência se aproxima de descobrir por que existe algo em vez de nada | ||||||
por Michael Shermer | ||||||
Por que existe algo em vez de nada? Essa é
uma daquelas questões profundas difíceis de responder. Ao longo de
milênios, os humanos simplesmente disseram “Foi Deus quem fez”: um
criador precedeu o Universo e o criou a partir do nada. Mas isso levanta
a pergunta de quem criou Deus – e se Deus não precisar de um criador, a
lógica dita que o Universo também não precisa. A ciência lida com
causas naturais (não sobrenaturais) e por isso permite várias maneiras
de explorar de onde é que o “algo” veio.
Universos múltiplos
Há
muitas hipóteses de multiversos que nos mostram como o Universo poderia
ter nascido a partir de outro. Nosso Universo pode ser, por exemplo,
apenas um entre vários universos-bolha com diferentes leis naturais, que
produziriam estrelas, com algumas delas colapsando em buracos negros e
tendo peculiaridades que dariam origem a novos universos – de maneira
similar à singularidade que os físicos acreditam ter dado origem ao Big
Bang.
Teoria-M
No livro The Grand Design (O grande projeto),
escrito em 2010 com Leonard Mlodinow, Stephen Hawking elege a
“Teoria-M” (uma extensão da teoria de cordas que inclui 11 dimensões)
como “a única candidata à teoria completa do universo. Se for finita – e
isso ainda terá que ser provado – será o modelo de um universo que cria
a si mesmo”.
Criação de espuma quântica
O
“nada” do vácuo espacial na verdade é feito de turbulências
espaço-temporais subatômicas em distâncias extremamente pequenas,
mensuráveis na escala de Plank – a distância na qual a estrutura do
espaço-tempo é dominada pela gravidade quântica. Nessa escala, o
princípio da incerteza de Heisenberg permite que a energia decaia
brevemente em partículas e antipartículas, produzindo “algo” a partir do
“nada”. O nada é instável. Em seu novo livro, A Universe from Nothing,
o cosmólogo Laurence M. Kraus tenta ligar a física quântica à teoria da
relatividade geral de Einstein para explicar a origem de um Universo
dessa maneira: “Na gravidade quântica, os universos podem aparecer
espontaneamente, e de fato sempre o farão. Esses universos não precisam
estar vazios, mas podem conter matéria e radiação desde que sua energia
total, incluindo a energia negativa associada à gravidade
(contrabalanceando a energia positiva da matéria), seja zero”. Além
disso, “para universos fechados que podem ser criados a partir desses
mecanismos para durar mais do que intervalos infinitesimais de tempo,
algo como a inflação se faz necessário”. As observações mostram que o
Universo é de fato plano (há matéria suficiente para desacelerar sua
expansão, mas não detê-la), tem energia total zero e passou por uma
rápida inflação, ou expansão, logo após o Big Bang, como descrito pela
cosmologia inflacionária. “A gravidade quântica não apenas parece
permitir que universos sejam criados a partir do nada – ou seja, da
ausência de espaço e tempo –, ela pode precisar que seja assim. O ‘nada’
– nesse caso a ausência de espaço, de tempo, de tudo! – é instável”.
As
outras hipóteses também são testáveis. A ideia de que novos universos
possam surgir de buracos negros em colapso pode ser esclarecida a partir
de conhecimentos adicionais sobre as propriedades de buracos negros,
que estão sendo estudadas. Outros universos-bolha podem ser detectados
nas sutis variações de temperatura da radiação cósmica de fundo deixada
pelo Big Bang de nosso Universo. A Sonda Anisotrópica de Micro-ondas
Wilkinson (WMAP, em inglês) está coletando dados sobre essa radiação.
Além disso, o Observatório de Ondas Gravitacionais por Interferômetro
Laser (LIGO, em inglês) foi projetado para detectar ondas gravitacionais
excepcionalmente fracas. Se existem outros universos, talvez rugas em
ondas gravitacionais indiquem sua presença. Talvez a gravidade seja uma
força relativamente tão fraca (se comparada ao eletromagnetismo e às
forças nucleares) porque parte dela “vaza” para outros universos. Mesmo
que Deus seja visto como o criador das leis da Natureza que fizeram o
Universo (ou multiverso) surgir a partir do nada – se essas leis forem
determinísticas –, então Deus não teve escolha na criação do Universo, e
por isso não foi necessário. De qualquer forma, por que deveríamos nos
voltar para o sobrenatural quando nossa compreensão do natural ainda
está em seus estágios iniciais? Seríamos sábios ao seguir esse princípio
cético: antes de dizer que algo não é deste mundo, certifique-se de que
não seja deste mundo.
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Fonte: Scientific American Brasil
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