Um novo estudo publicado na edição de janeiro deste ano de Psychological Science
pode explicar por que somos todos tão otimistas sobre os tempos que
(acreditamos que) estão por vir. Uma equipe de psicólogos experimentais,
liderados por Karl K. Szpunar, pesquisador da Universidade Harvard,
criou um método para produzir simulações futuras, usadas para estudar as
características e a permanência desses fenômenos mentais. Szpunar e
seus colegas começaram registrando detalhes biográficos reais lembrados
por universitários. Alguém poderia, por exemplo, contar aos
pesquisadores sobre tomar uma cerveja com uma amiga no bairro onde mora,
emprestar um livro ao primo ou comprar um aparelho de televisão durante
a liquidação anual do shopping.
Uma semana depois, os
pesquisadores reviram todas as pessoas, lugares, situações e objetos de
passados recentes e remotos citados pelos voluntários e misturaram tudo.
Apresentaram aos estudantes combinações aleatórias de suas lembranças e
os instruíram a pensar em cenários imaginários futuros. Seria possível,
por exemplo, a pessoa imaginar uma cena positiva na qual estivesse se
divertindo com o primo no bar; um cenário negativo em que estivesse
discutindo com o primo por causa de um livro, com a TV ligada ao fundo; e
uma simulação neutra, na qual o voluntário estivesse comprando um livro
no shopping.
Depois, os psicólogos testaram as lembranças dos
voluntários sobre esses cenários futuros, fornecendo-lhes dois dos três
detalhes digamos, o bar e o primo, e pediram que completassem o detalhe
que faltava no caso, a televisão, para recriar a cena simulada. Foram
aplicados testes em alguns dos estudantes dez minutos após eles terem
imaginado futuras situações e avaliados outros participantes no dia
seguinte. A proposta era descobrir se o conteúdo emocional dos futuros
imaginados – positivo, negativo ou neutro – influía para que fossem mais
ou menos fixados.
Os resultados foram intrigantes: após dez
minutos, os voluntários conseguiam recordar todas as simulações
igualmente bem. Um dia depois, porém, detalhes de cenários negativos
eram muito mais difíceis de ser resgatados que os dos positivos ou
neutros.
Essa descoberta é consistente com o que se sabe a
respeito de lembranças negativas – tendem a desaparecer mais rapidamente
que as positivas –, reforçando a ideia de que, de fato, prevalece a
idealização do passado. Assim, as versões negativas do que está por vir
desaparecem com o tempo, enquanto as positivas permanecem – deixando, no
balanço, basicamente uma visão predominantemente rósea do amanhã. Esse
processo pode acarretar ilusões, mas parece sinal de saúde psíquica. É
importante lembrar, por exemplo, que pessoas que sofrem de depressão e
outros transtornos de humor tendem não apenas a ruminar os
acontecimentos negativos passados, mas também a antever cenários
tristes. Adultos psicologicamente saudáveis costumam ser otimistas sobre
o que o futuro lhes reserva. Talvez seja um processo adaptativo
imaginar o pior, de vez em quando, para em seguida nos esforçarmos para
driblar o que pode ser evitado – para, posteriormente, deixarmos
fantasmas que não podem ser combatidos desaparecer aos poucos.
Fonte: Revista Mente e Cérebro