segunda-feira, 5 de novembro de 2012

Segunda geração de imigrantes brasileiros sofre exclusão no Japão


Jovens da segunda geração de imigrantes brasileiros no Japão sofrem de exclusão e dificuldade de integração no país em que nasceram ou foram criados desde cedo.

Segundo o Itamaraty, a dificuldade de integração de brasileiros nascidos ou criados no exterior é mais grave no Japão, onde há, segundo o ministério da Justiça japonês, 36.869 crianças e adolescentes brasileiros até 14 anos de idade - 17,55% do total de brasileiros residentes.

Diferentemente dos pais, eles não aceitam ser tratados como estrangeiros, mas esbarram em dificuldades como não dominar o idioma como os nativos.

Segundo a ministra Luiza Lopes da Silva, diretora do Departamento Consular e de Brasileiros no Exterior do Itamaraty, sem o domínio completo da língua, acabam sendo identificados facilmente pelos japoneses e tratados como estrangeiros - mesmo sendo cidadãos do país.

"Os pais (desses jovens) vieram ao país com uma mentalidade diferente, só para trabalhar. Já a segunda geração vê (no cotidiano do japonês) como poderia ser a vida deles e como ela não é", disse a ministra.

Esse problema não existe, segundo ela, em países onde o idioma é de mais fácil assimilação como os Estados Unidos e a Grã-Bretanha.

Evasão escolar

De acordo Lopes da Silva, a segunda geração tenta frequentar escolas japonesas, mas muitos acabam abandonado as carteiras escolares e assim diminuindo suas chances de inclusão.

Os motivos da evasão são a dificuldade dos cursos e a incapacidade dos pais, que também não dominam a língua perfeitamente, de dar apoio nas tarefas de casa, algo essencial no sistema educacional japonês.

Segundo a ministra, outro termômetro dessa falta de integração é a baixa quantidade de casamentos entre japoneses e descendentes de brasileiros.

Além da barreira do idioma, as diferenças culturais e a alta concorrência no mercado de trabalho dificultam ainda mais a integração.

Anderson Yuiti Kinjo, de 18 anos, nasceu no Japão, mas nunca frequentou a escola japonesa. Terminou o ensino médio em uma instituição de ensino brasileira.

"Na época que comecei a estudar, havia muitos boatos sobre bullying contra estrangeiros nas escolas japonesas e, por isso, meus pais optaram pelo ensino em português", disse à BBC Brasil.

"Gosto muito do Japão, falo bem o japonês, mas não me sinto completamente à vontade aqui", disse o rapaz, que planeja voltar para o Brasil para continuar os estudos. Ele não está satisfeito com o emprego em uma linha de montagem de eletrônicos na província de Gunma.

Ao contrário de boa parte dos colegas, Yudi Taniguti, também de 18 anos, conseguiu acompanhar a escola japonesa. Ele chegou ao Japão com os pais, vindo de Caldas Novas (GO), quando tinha 2 anos de idade.

Taniguti trabalha em uma fábrica de eletrônicos. "Minha mãe fala que a vida no Japão vai ser sempre a mesma, sem oportunidades. Já no Brasil acho que teria mais chances", disse.

No limbo

"A situação dos filhos de imigrantes deve ser sempre acompanhada com atenção. Se crescer já é um processo cheio de descobertas, mesmo no país natal, o desafio é muito maior quando se mora em um país tão diferente", disse o diplomata Paulo Henrique Batalha, da Embaixada do Brasil em Tóquio.

Já o sociólogo e professor da Universidade Musashi, Angelo Ishi, afirmou que os filhos de brasileiros correm o risco de não dominar bem nenhum dos dois idiomas.

"Não importa se é o português ou o japonês, o jovem tem de estudar e aprimorar os conhecimentos a ponto de poder manejar pelo menos uma língua em nível avançado", afirmou.

Para Ishi, esses jovens estão num "limbo" entre a sociedade japonesa e a comunidade brasileira no Japão.

"A ironia é que, quanto mais um jovem sobe um degrau de escolaridade e se integra à sociedade japonesa, no geral, ele acaba se distanciando dos conterrâneos. Por isso, a comunidade brasileira continua órfã em termos de jovens líderes bilíngues".

Para tentar amenizar os problemas enfrentados pelos jovens brasileiros, os governos brasileiro, japonês, e a iniciativa privada têm desenvolvido projetos.

Entre eles, está o Arco-Íris, do Ministério da Educação do Japão. Criado em 2009, o programa tem como objetivo a escolarização das crianças estrangeiras que moram no Japão.

Com ênfase no ensino da língua japonesa, o objetivo dele é facilitar a transição de alunos de escolas brasileiras para o sistema de ensino público japonês, gratuito. Mais de 5 mil jovens já foram beneficiados pelo projeto.

O Itamaraty vem monitorando o problema e tem projetos semelhantes de assistência a estudantes. O principal deles funciona em Hamamatsu.

Para Ishi, o grande desafio das próximas gerações de filhos de imigrantes brasileiros é conquistar diplomas universitários. "Não há fórmula segura para ascensão social, seja em qual país for, que não seja através dos estudos", afirmou.

Paraguai

Segundo a ministra Lopes da Silva, os filhos de imigrantes brasileiros que vivem no Paraguai também enfrentam barreira semelhante com a língua guarani - que também é falada no país, ao lado do castelhano.

Os "brasiguaios", como são conhecidos, formam hoje uma comunidade de 200 mil pessoas no Paraguai. Outros cerca de 300 mil têm dupla nacionalidade, segundo o Itamaraty.

"A proximidade com o Brasil e a facilidade para cruzar a fronteira também dificulta a integração", disse a ministra. Segundo ela, a facilidade de voltar para o Brasil faz com que muitos tenham dificuldades de se identificar como paraguaios.

Atualmente, o Itamaraty promove conferências regulares com especialistas e autoridades dos dois países com o objetivo principal de integrar a comunidade de descendentes de brasileiros na sociedade paraguaia. Projetos educacionais também estão em estudo.

Para a diretora do Departamento Consular do Itamaraty, essa dificuldade de integração das comunidades no Paraguai e no Japão deve ser um estágio transitório, que deve ser superado com o tempo.

Fonte: Notícias Uol

NA VÉSPERA DAS ELEIÇÕES NOS EUA OBAMA E ROMNEY EMPATAM NOS 49%



Diário de Notícias – Lusa – foto Reuters


O Presidente dos Estados Unidos e candidato a uma reeleição pelo Partido Democrata, Barack Obama, e o seu rival republicano, Mitt Romney, estão empatados com 49 por cento das intenções de voto, segundo uma sondagem da CNN.
A um dia das eleições, a sondagem CNN/ORC é a quarta independente que prevê um empate entre os dois candidatos, que no fim de semana visitaram alguns dos Estados decisivos como Ohio, Virginia, New Hampshire, Pensilvânia, Iowa e Colorado.
O diário Politico e a Universidade George Washington preveem um empate de 48 por cento, tal como o Washington Post, enquanto a NBC News e o Wall Street Journal esperam um ponto de diferença a favor de Obama, com 48 por cento.
Apenas o Centro Pew prevê a vitória de Obama, com 50 por cento, face a 47 por cento dos votos para Romney, com uma margem de erro de 2,2 pontos percentuais.
Segundo a sondagem da CNN, 53 por cento das mulheres pretendem votar em Obama face a 44 por cento dos homens, uma diferença de nove pontos que "poderá ser a maior desde 1996", segundo o diretor de sondagens daquela cadeia de televisão norte-americana, Keating Holland.
Holland também constatou que Obama "está a ter menos apoio entre os mais jovens face há quatro anos" e que os dois candidatos estão empatados no que se refere ao apoio dos idosos.
Romney continua a liderar as intenções dos eleitores brancos, com 57 por cento face a 40 por cento de Obama.
Obama apresenta uma vantagem entre os eleitores com rendimentos inferiores a 50 mil dólares (39.000 euros), com 56 por cento face a 40 por cento de Romney, que conta, assim, com o apoio dos eleitores mais ricos, de 52 por cento face a 47 por cento de Obama.
O noroeste e médio oeste dos Estados Unidos apoiam Obama, enquanto o sul, oeste e as zonas rurais do país apoiam Romney, segundo a mesma sondagem, realizada entre 02 e 04 de novembro junto de 1.010 adultos, dos quais 918 estão registados para votar e 693 têm intenções de votar, apresentando uma margem de erro de 3,5 pontos.
Os votos eleitorais chave para o desempate cabem a Estados como o Colorado (nove), Florida (29), Iowa (seis), Nevada (seis), New Hampshire (quatro), Carolina do Norte (15), Ohio (18), Virginia (13) e Wisconsin (10).
Segundo o Washington Post, Obama começou a campanha com 18 Estados e o distrito de Columbia a seu favor, que somam 237 votos dos 270 necessários para garantir a presidência dos EUA entre um total de 538 votos do Colégio Eleitoral que elege formalmente o Presidente, enquanto Romney contava com 23, que totalizavam 191 votos eleitorais.
Hoje, os dois candidatos terminam a campanha com visitas a Estados decisivos, designadamente ao Wisconsin, Iowa, Florida, Virginia e Ohio, onde se encontrarão na cidade de Columbus.

sábado, 3 de novembro de 2012

Jimmy Page ensina riff de 'Kashmir' a Jack White & The Edge

"A Viagem" (Cloud Atlas) - Trailer Extendido Legendado




Direção e roteiro: Andy Wachowski e Lana Wachowski (Matrix) e Tom Tykwer (Corra, Lola, Corra)
Elenco: Tom Hanks, Halle Berry, Hugo Weaving, Jim Sturgess, Ben Whishaw, Jim Broadbent, Susan Sarandon, Hugh Grant, Doona Bae, James D'Arcy, Keith David
Estreia (Brasil): 28 de dezembro

"Sweet Caroline": 2 versions (Neil Diamond vs. Elvis Presley)




Gladys Knight - "Help Me Make it Through the Night" (live 1972)




Take the ribbon from your hair,
Shake it loose and let it fall,
Layin' soft upon my skin.
Like the shadows on the wall.

Come and lay down by my side
'till the early morning light
All I'm takin' is your time.
Help me make it through the night.

I don't care what's right or wrong,
I don't try to understand.
Let the devil take tomorrow.
Lord, tonight I need a friend.

Yesterday is dead and gone
And tomorrow's out of sight.
And it's sad to be alone.
Help me make it through the night.

I don't care what's right or wrong,
I don't try to understand.
Let the devil take tomorrow.
Lord, tonight I need a friend.

Yesterday is dead and gone
And tomorrow's out of sight.
Lord, it's bad to be alone.
Help me make it through the night.

Vida em xeque: 182 juízes brasileiros vivem sob ameaça


Sem aparições públicas. Vida restrita ao convívio familiar. Com deslocamento vigiado. Privados do direito básico de ir e vir. Essa é a rotina de quase 200 magistrados brasileiros, acossados pelo crime organizado. Em alguns casos, por quadrilhas integradas por policiais e outros servidores públicos. Em outros, por facções gestadas dentro do sistema penitenciário, como o paulista Primeiro Comando da Capital (PCC).
Em Porto Alegre, a juíza Elaine Canto da Fonseca recebeu um recado desde uma prisão: deveria soltar presos que seriam julgados por ela. Como se recusou, se desloca desde o início do ano em carro blindado. Em Mato Grosso do Sul, o juiz federal Odilon de Oliveira convive com nove agentes federais de escolta, inclusive dentro de casa. Em Goiás, o juiz federal Paulo Augusto Moreira Lima pediu afastamento do processo que conduzia contra o bicheiro Carlos Augusto Ramos, o Carlinhos Cachoeira, após receber ameaças. Cabia ao magistrado analisar denúncias contra 79 réus supostamente vinculados ao bicheiro, entre eles 35 policiais. Em Rondônia, o juiz trabalhista Rui Barbosa Carvalho passou a usar colete à prova de balas e trocou de celular 12 vezes, em decorrência de ameaças recebidas após suspender pagamento de precatórios por suspeita de fraude.
Casos como esses foram discutidos em 8 de outubro num encontro de magistrados promovido em Manaus. O debate foi uma iniciativa do Conselho Nacional de Justiça (CNJ), que contabiliza este ano 182 juízes ameaçados no país. Desses, apenas 60 contam com escolta.
Esse tipo de levantamento começou a ser feito em 2011, logo após o assassinato da juíza fluminense Patrícia Acioli, morta com 21 tiros em 11 de agosto daquele ano. Investigações concluíram que ela foi executada por PMs que tinha mandado prender, por integrarem milícias clandestinas.
Logo após a morte de Patrícia o CNJ contabilizou 150 juízes brasileiros ameaçados. Mesmo com toda a comoção causada pelo assassinato da magistrada, o número aumentou, passando aos atuais 182. Antes restritas a magistrados criminais, agora a lista dos que estão na mira do crime inclui também juízes trabalhistas, justamente pelas milionárias causas que costumam julgar e os interesses que contrariam.
Zero Hora obteve uma listagem do número de ameaçados por Estado, feita com base em relatórios dos Tribunais de Justiça (veja nesta página). Os campeões em magistrados jurados de morte em 2012 são Rio de Janeiro, com 29 ameaçados, e Minas Gerais, também com 29. Alguns Estados com pequena população, como Tocantins e Alagoas, surpreendem pelo número de magistrados em risco: 12, cada. Apenas cinco Estados brasileiros não informam terem juízes ameaçados.
Diante desses números, o Rio Grande do Sul até parece um paraíso. Apenas duas juízas requisitaram proteção este ano. E foram contempladas com escolta.
— Felizmente, não temos tradição de riscos e muito menos de ataques contra magistrados. E contamos com um Núcleo de Inteligência do Judiciário para prevenir esse tipo de problema — explica o desembargador Tulio Martins, do Conselho de Comunicação Social do Tribunal de Justiça-RS.
Dão apoio ao núcleo policiais militares, policiais civis e agentes de segurança do Judiciário. Entre as providências rotineiras está levantamento de possíveis inimigos dos juízes. Numa fase posterior, propiciar escolta e carro blindado para qualquer magistrado sob risco, além do presidente do TJ, sempre protegido.
O presidente da Associação dos Juízes do Rio Grande do Sul (Ajuris), Pio Dresch, diz que nem todos os casos chegam ao conhecimento do CNJ. Um deles é suposta contratação de pistoleiros para matar um juiz do Interior, que acabou tirando licença para "esfriar" a ameaça.
— Um dos problemas que enfrentamos é que, devido à escassez de magistrados, não é possível simplesmente transferir o juiz para outra comarca, o que seria razoável. É preciso abrir vaga antes. A verdade é que falta uma sistemática para lidar com magistrados em risco — desabafa Dresch.
O presidente da Ajuris considera que uma alternativa para as constantes ameaças de morte seria implantar no Brasil os "juízes sem rosto". São magistrados que teriam seus nomes ocultados nos processos que julgam, para sua própria proteção. O sistema funcionou na Colômbia durante os Anos 90, época do auge das guerras do narcotráfico naquele país.
Revista Consultor Jurídico, 3 de novembro de 2012

Um ataque contra a sua privacidade


Nova lei da internet, em discussão no congresso, coloca em risco as informações privadas dos brasileiros que acessam a rede

Izabelle Torres
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A privacidade dos 71 milhões de brasileiros que navegam na internet vale muito dinheiro e está em risco no debate em torno das regras para o funcionamento da rede mundial de computadores no Brasil. O texto do marco civil da internet em discussão no Congresso vem atraindo um jogo de lobbies e deixa brechas à proteção de dados dos usuários. A nova legislação permite que as informações pessoais que circulam pelos sites acionados pelos internautas sejam usadas para alimentar o mercado de publicidade direcionada.
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Apesar de assegurar, à primeira vista, a inviolabilidade dos dados, o texto em tramitação agride a privacidade do usuário, como pode ser conferir numa leitura mais atenta da proposta. O perigo mora no artigo do projeto que supostamente garantiria os direitos dos internautas. Apesar de proibir o fornecimento a terceiros de registros de conexão e acesso, o texto abre exceção para casos em que o próprio usuário dá “consentimento livre, expresso e informado” para o uso de seus dados. Isso acontece, na maioria das vezes, sem que a pessoa se dê conta. Ocorre que praticamente todos os termos de adesão para a criação de contas de e-mails ou redes sociais incluem essa autorização automática. O cliente não tem opção: ou concorda com os termos de uso ou simplesmente não usa os serviços. A artimanha garante aos provedores de serviços o acesso a dados dos internautas. A invasão se dá na forma de uma aparente coincidência: o internauta comenta sobre um produto ou serviço na rede e logo passa a ser bombardeado por anúncios.
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A manobra é replicada nos cadastros de sites de compras e outros serviços online. Ela é mais flagrante no Google. Ali, para abrir uma conta no Gmail, o usuário esbarra num termo de adesão escrito apenas em inglês, no qual abre mão da privacidade. “Você concorda que o Google pode usar seus dados de acordo com a política de privacidade”, diz um trecho do contrato. Na rede social Facebook não é diferente. Ao se cadastrar, o internauta precisa aprovar os termos do acesso, que na prática representam a autorização para o uso dos dados de navegação. “Usamos as informações que recebemos sobre você em relação aos serviços e recursos que fornecemos a você e a outros usuários, como seus amigos, nossos parceiros, os anunciantes que compram anúncios no site e os desenvolvedores que criam os jogos, aplicativos e sites que você usa”, informa o termo.
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Enquanto provedores de serviços como e-mail e rede social se beneficiam dos contratos para lhes garantir o acesso e o uso de informações dos usuários, provedores de conexão, como as companhias telefônicas, fecham parcerias milionárias com empresas especializadas em rastrear a navegação. A multinacional Phorm é uma dessas empresas e hoje presta serviços para a Oi e a Telefônica no Brasil. Sua missão é traçar o perfil dos internautas e descobrir seus interesses de navegação. São provedores de acesso como as duas empresas de telefonia que mais brigam para que o marco da internet não as deixe de fora do clube de quem fatura em cima da privacidade dos internautas. O argumento é que os sites de e-mails e redes sociais já fazem esse rastreamento, mesmo sem previsão legal. “É uma briga grande, mas acreditamos que o texto da forma como está fechará muitas brechas”, alega o relator do projeto na Câmara, deputado Alexandre Molon (PR-RJ). “Sabemos que algumas empresas, como a Phorm, vivem dessa bisbilhotagem disputada pelo mercado da rede. Queremos frear esse comércio e impedir que a privacidade alimente os negócios. Acho que o marco é um avanço para isso.” O parlamentar não explica, porém, como vai garantir a privacidade dos usuários diante dos termos de adesão que o internauta encontra pelo caminho. O governo tem pressa na votação do texto. Um dos que pressionam pela aprovação ainda neste ano é o ministro das Comunicações, Paulo Bernardo.
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GANHAM PARA VASCULHARDeputado Alexandre Molon (PT-RJ) diz que 
empresas vivem da bisbilhotagem
Na contramão do discurso de Molon, o especialista em direito eletrônico Renato Opice Blum, da Fundação Getulio Vargas, diz que a aprovação do marco não vai garantir a privacidade, mas apenas oficializar – se não aumentar – o comércio de publicidade direcionada que existe atualmente. “Esse texto não muda nada, uma vez que a maioria dos brasileiros autoriza o uso e a divulgação dos seus dados sem se dar conta. O problema é que ninguém costuma ler os contratos dos serviços”, diz. Para Blum, como a nova legislação não deve frear o comércio de informações, restará aos brasileiros ter cautela ao navegar na rede e, sobretudo, na hora de escolher os serviços que contrata. Diante da guerra de interesses, o único consenso entre os vários atores dessa discussão é que, aprovado o texto em debate no Congresso, ganharão força os negócios feitos à custa da privacidade do internauta.
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 Fotos: shutterstock; Sérgio Lima/Folhapress
Fonte: Revista Istoé - Ano 36 - Edição nº 2240

sexta-feira, 2 de novembro de 2012

VIGÍLIA (Por Rogério Rocha)














Vigília

Um dia a mais ou a menos,
Não importa, se sei que a morte,
Espetáculo obscuro do destino,
Bate à porta.

Por isso espero,
Por isso vigio.

Vigio teu sono, teus anseios,
Passeio na noite, sem receios.
Caminho sobre as cinzas...
Sobre as cinzas de um menino
Que tornou-se um rapazinho,
Que sorriu, cortou caminho,
Pulou janelas, cruzou esquinas
Da triste cidade, quando era tempo.

Quando era tempo, proclamou versos.
Quando era tempo, correu ao vento.
Amou, sofreu, criou, alegrou-se...
Quando era tempo.

Mas há pouco a se fazer...

Por isso espero.
Por isso vigio.


Vigio teu sono, teus anseios,
Passeio na noite, sem receios.
Persigo a sombra, o teu corpo,
A marca pungente de um corte,
Cicatrizado por dentro.
Persigo teu beijo turbulento,
teu abraço, em mim, tão forte.

Espero acordado, 
atento, circunspecto.
Por mim mesmo, espero,
Um dia ouvir
O sussurro de uma voz
Me chamando pra dormir.


CONCLUSÃO PARA CONSOLO (por Bandeira Tribuzi)


Bandeira Tribuzi (poeta maranhense -  1927-1977)


Conclusão para Consolo

Bicho da terra estás apenas morto.
Já a terra de que és bicho te recobre
e uma pequena flor acena, leve,
um pequenino adeus sobre teu túmulo.

Tua mulher jamais esquecerá
tua sólida figura. Nem teus filhos
que em si a reproduzem e prosseguem
tua presença em gestos e palavras.

O tempo que rompeu teu rude corpo
como inverno passando sobre o campo,
não cortou a semente indispensável.

Ele mesmo será propício à nova
árvore forte que sustém o mundo
e reverdece o chão da vida mágica.



Bandeira Tribuzi, foi o pseudônimo de José Tribuzi Pinheiro Gomes, poeta que iniciou o Modernismo no Maranhão em 1948, com a publicação do livro de poesia Alguma Existência. Fez parte de um movimento literário difundido através da revista "A Ilha", que lançou o pós-modernismo na poesia maranhense. Foi fundador do jornal O Estado do Maranhão. Entre seus principais livros de poemas, estão: Alguma existência (1948); Rosa da Esperança (1950); Safra (1960); Pele & Osso (1970).

quinta-feira, 1 de novembro de 2012

UFOLOGIA É CIÊNCIA?


Boa parte dos estudos sobre óvnis carece de rigor científico ou está impregnada de forte misticismo. A culpa é também dos cientistas, que evitam pisar nesse campo minado para não colocar em risco sua reputação

por Leandro Steiw

Em novembro de 1977, o primeiro-ministro de Granada, Eric Matthew Gairy, sugeriu a criação de uma agência na Organização das Nações Unidas (ONU) para coordenar os estudos mundiais sobre o fenômeno óvni. A proposta foi adiante e, um ano depois, foi constituído um grupo de trabalho, formado, entre outros, pelos astrofísicos Josef Allen Hynek e Jacques Vallée, pelo engenheiro Claude Poher e pelo astronauta Leroy Gordon Cooper Jr. Pela primeira vez na curta história da ufologia, objetos voadores não-identificados seriam estudados com o aval de uma instituição digna de crédito no mundo todo. Mas os Estados Unidos não gostaram muito da idéia e avisaram que não financiariam qualquer investigação oficial sobre óvnis. Sem o apoio e a grana da maior economia do planeta, a idéia foi engavetada. E ficou uma pergunta no ar: se a ONU tomasse a frente desses estudos, a ufologia seria levada mais a sério?
O estudo de óvnis é um campo minado, no qual os cientistas evitam pisar para não explodir a própria reputação. A maioria dos acadêmicos considera a ufologia uma pseudociência, ou seja, um trabalho destituído do rigor da metodologia científica. Para piorar, dezenas de charlatões tomaram conta das pesquisas ufológicas, com a intenção de explorar a boa-fé das pessoas. Mas há cientistas, com formação acadêmica e reconhecimento público, que adotaram a ufologia como sua especialidade. Como identificar quem é quem no meio desse balaio de gatos?
Primeiro, é preciso entender o conceito. A ufologia investiga o fenômeno óvni – qualquer objeto visto no céu que não possa ser identificado ao primeiro olhar. A hipótese extraterrestre é apenas uma das possibilidades a serem investigadas. “Este é o principal problema da ufologia: a maioria dos próprios ufólogos”, diz Rogério Chola, ombudsman da revista UFO. “Eles são os responsáveis por perpetuar os paradigmas de que óvni é o mesmo que nave extraterrestre.”
Esqueça os preconceitos
Os óvnis realmente existem. Pode ser um avião passando entre as nuvens, uma estrela brilhante, um meteoro, um satélite artificial, um balão meteorológico, pássaros. Pode ser um punhado de coisas banais que normalmente não tomariam a sua atenção, mas que, por terem aparecido em condições desfavoráveis – escuridão, neblina, distância –, não puderam ser identificadas de imediato. Os pilotos de aviões comerciais e militares freqüentemente encontram objetos desconhecidos no céu e relatam como óvnis. O papel dos ufólogos é este: buscar uma explicação para os fenômenos. “Se nenhuma dessas hipóteses explicar ou reproduzir o fenômeno, então o objeto continua sendo um óvni. Claro que a hipótese extraterrestre deve ser a última a ser considerada e, caso o óvni preencha certos requisitos, poderá ser enquadrado como um artefato de origem desconhecida da tecnologia humana e da natureza do planeta Terra. Ir além disso é especular sem argumentos convincentes”, afirma Chola.
As teorias
Atualmente, há quatro teorias sobre o fenômeno óvni. A primeira apela para o racional: óvni é algum tipo de aeronave avançada, secreta ou experimental de fabricação humana, desconhecida ou mal reconhecida pelo observador. A segunda é a mais polêmica: se nenhum fenômeno natural ou tecnologia terrestre servir de explicação, trata-se de uma espaçonave alienígena. A terceirateoria aponta para hipóteses psicossociais e psicopatológicas: quem vê um óvni sofre de algum distúrbio. E a quarta escola apóia-se na religião, no ocultismo e no sobrenatural – os óvnis são mensagens divinas ou diabólicas. Pobre do ufólogo quando as hipóteses de uma tendência misturam-se às de outra. “A ufologia extrapolou os seus limites ao enveredar por caminhos místicos e transcendentais, passando a estudar vida extraterrestre, canalizações de mensagens extraterrestres, contatos telepáticos e entidades de outras dimensões, entre outros, o que a rigor não compete a ela estudar”, diz Chola.
Mas a responsabilidade não é só dos ufólogos. Como a ciência abdicou do direito de estudar os óvnis, diversas histórias permanecem sem resposta e adubam a já fértil imaginação do homem. Um dos poucos cientistas que tentaram encontrar uma explicação para o fenômeno óvni foi o astrofísico americano Josef Allen Hynek (1910-1986), fundador do Centro para Estudos Ufológicos e conselheiro do Projeto Blue Book (leia mais na página 22). Nos anos 50, Hynek era cético sobre óvnis e acreditava que as descrições eram feitas por testemunhas que não haviam sido capazes de identificar objetos naturais ou de fabricação humana. Depois de ler dezenas de papéis, porém, ele encontrou relatos de gente instruída – como astrônomos, pilotos, oficiais de polícia e militares – que mereciam um mínimo de crédito. Hynek conversou com físicos que também contaram ter visto objetos voadores impossíveis de explicar à luz dos conhecimentos atuais daciência . Ele então abandonou o ceticismo, encarou a ufologia como profissão, aplicou a metodologia científica nas pesquisas e foi um dos personagens da frustrada tentativa de abrir a agência coordenadora na ONU.
No entanto, aos poucos, Hynek se tornou um crítico da explicação extraterrestre. Em 1976, ele afirmou: “Tenho apoiado cada vez menos a idéia de que os óvnis são espaçonaves de outros mundos. Há tantas coisas se opondo a essa teoria . Para mim, parece ridículo que superinteligências viajariam grandes distâncias para fazer coisas relativamente estúpidas, como parar carros, coletar amostras de solo e assustar pessoas”. No final da vida, ele estava convencido de que os “discos voadores” tinham mais a ver com fenômenos psíquicos do que com veículos alienígenas.
Seja como for, a hipótese extraterrestre vem perdendo das outras teorias por falta de provas físicas. Em 60 anos, nenhum dos milhares de humanos que alegam ter contatado ETs conseguiu apresentar um único objeto comprovadamente de origem extraterrena. O mais famoso ufólogo do século 21, o americano cético Philip Klass, oferece 10 mil dólares a qualquer vítima de abdução que registrar queixa no FBI e deixar a polícia federal americana averiguar o caso. Se for verdade, o denunciante ganha a grana. Se for mentira, será multado em 10 mil dólares e preso por cinco anos. Até hoje, ninguém topou o desafio. H
"O principal problema da ufologia hoje é a maioria dos próprios ufólogos. Eles são os responsáveis por perpetuar os paradigmas de que óvni é sinônimo de nave extraterrestre"
Rogério Chola, ombudsman da revista ufo
"Parece ridículo que superinteligências viajariam grandes distâncias para fazer coisas relativamente estúpidas, como parar carros, coletar amostras e solo e assustar pessoas"
Josef Allen Hynek, astrofísico americano
Fonte: Supertinteressante - jun. 2005

terça-feira, 30 de outubro de 2012

"FREUD É APENAS UMA LENDA"; ENTREVISTA COM O FILÓSOFO MIKKEL BORCH-JACOBSEN


Mikkel Borch-Jacobsen

"Freud é apenas uma lenda"
Filósofo e historiador, o professor da Universidade de Washington diz por que considera o pai da psicanálise uma fraude
por Natália Martino
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OMISSÃO
"Muitos pacientes de Freud cometeram suicídio e
ele nunca disse uma palavra sobre isso"
, afirma o professor 
O filósofo e historiador Mikkel Borch-Jacobsen não se esquiva de uma polêmica. A última década da sua carreira, dedicada aos estudos sobre a história da psicanálise e da psiquiatria, foi pródiga em livros e opiniões controversas que lhe renderam inimigos entre terapeutas do mundo inteiro. Começou a receber as primeiras críticas severas em 1996 com o lançamento do livro “Anna O. – Uma Mistificação Centenária”, no qual questionava as avaliações de Freud sobre uma das suas principais pacientes. Foi também um dos autores do “Livro Negro da Psicanálise”, uma das obras mais barulhentas já lançadas sobre o assunto. Agora, escreveu “Os Pacientes de Freud”, lançado recentemente no Brasil (Editora Texto e Grafia), no qual reconstrói a trajetória de 31 pacientes de Freud. Na obra, ele conta os motivos que os levaram até o analista e, principalmente, como viveram durante e depois do tratamento. A partir de documentos, como cartas trocadas entre o terapeuta e seus amigos e entrevistas confidenciais feitas com os pacientes de Freud, o autor desconstrói o mito do criador da psicanálise.
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"Os medicamentos foram excluídos das histórias que o psicanalista
contou, mas muitos pacientes eram viciados em morfina"
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"Como Anna iria se curar se seu analista era o próprio pai do qual
ela deveria se desligar? Parece óbvio, mas ele não percebeu isso"
 O que os relatos que o sr. apresenta em seu livro revelam sobre Freud e a psicanálise?
Mikkel Borch-Jacobsen -
As histórias dos pacientes de Freud foram a base das suas teorias. Quando percebemos que elas são falsas, como vemos ao analisar a vida dos pacientes que descrevo no livro, toda a teoria da psicanálise é abalada. O caso apresentado por Freud como sendo de Anna O., que hoje sabemos tratar-se de Bertha Pappenheim, por exemplo, é considerado um dos mais fundamentais para o desenvolvimento da psicanálise. A paciente tinha sintomas graves de histeria que, supostamente, Freud curou com o método catártico. Mas isso não é verdade. No fim do tratamento, ela já não suportava mais conviver com o problema e foi internada em uma clínica, onde continuou apresentando o mesmo quadro de histeria. Apenas seis ou oito anos depois, Bertha foi considerada curada. Não se sabe como ela se curou, mas é óbvio que não foi com a psicanálise, ninguém se cura por meio de um tratamento finalizado quase uma década antes.  
Istoé -
Os resultados terapêuticos eram insuficientes?
Mikkel Borch-Jacobsen -
Na maioria dos casos sim. Era comum que as condições dos pacientes piorassem, como no caso de Viktor von Dirsztay, que mais tarde chegou a admitir que a análise o destruiu. Muitos outros dos seus pacientes cometeram suicídio, como Margit Kremzir e Pauline Silberstein. Claro que qualquer terapeuta está sujeito ao risco de suicídio dos seus pacientes, mas a questão é que Freud nunca disse uma palavra sobre isso.
Istoé -
Ele escondia esses fatos?
Mikkel Borch-Jacobsen -
Como um bom positivista, Freud sempre afirmou que suas teorias eram baseadas na observação de dados clínicos. Por um longo período, porém, tudo o que sabíamos sobre esses dados se baseava no que ele escolheu nos mostrar. Ao compararmos essas histórias com a realidade, observamos discrepâncias que automaticamente invalidam as conclusões de Freud. Os medicamentos, por exemplo, foram sistematicamente excluídos das histórias que ele contou, mas muitos dos seus pacientes eram viciados em morfina. Hoje é muito claro que a droga teve em alguns casos um papel essencial no tratamento. Freud dizia, por exemplo, que diante dos ataques histéricos de Anna von Lieben, a Cäcilie M. citada em “Estudos sobre a Histeria”, ele conduzia um tratamento hipnótico que a fazia se sentir melhor. O que ele não nos contava é que as crises dela eram causadas por abstinência de drogas e que ela se acalmava quando ele lhe dava uma injeção de morfina. A famosa cura catártica nada mais era do que cura com morfina.
Istoé -
Os diagnósticos dele são questionáveis?
Mikkel Borch-Jacobsen -
Sim, os diagnósticos que Freud alegava fazer tão cuidadosamente escancaram discrepâncias entre sua prática real e suas descrições. Quando o pai da jovem Ida Bauer, que Freud eternizou como Dora, a levou até Freud devido a um episódio de asma, o analista instantaneamente diagnosticou neurose. Mas como ele poderia saber? Aquela era a primeira vez que ele a via. Há vários exemplos desse tipo e uma vez que definia seu diagnóstico, Freud o mantinha obstinadamente, mesmo que os fatos mostrassem a ele outro caminho. As consequências dessa postura frequentemente eram bem sérias, como quando Freud forçou Horace Frink a se divorciar da esposa para se casar com a milionára Angelika Bijur para combater a homossexualidade que o paciente negava vigorosamente.
Istoé -
Freud chegava a dar conselhos tão diretos aos pacientes?
Mikkel Borch-Jacobsen -
Ele intervia diretamente na vida dos seus pacientes e não hesitou em instigar alguns a se casarem e terem filhos, por exemplo. Foi o que aconteceu com Max Graf e Olga Hönig, os pais do “pequeno Hans” – e o casamento foi um completo desastre. Em outros casos, Freud proibia pacientes de se masturbarem, como no caso da sua filha, Anna Freud. Sempre que essas instruções eram dadas, Freud era a voz da autoridade.  
Istoé -
Ele acreditava que podia tratar a filha?
Mikkel Borch-Jacobsen -
Freud queria muito ajudar a filha a se desligar dele e isso fica claro em várias cartas que ele escreveu a amigos. Mas a única coisa que ele podia oferecer a ela era a psicanálise, o que, obviamente, era a coisa mais estúpida que ele poderia fazer. Como ela conseguiria se curar se sua única ajuda era de um analista que era o próprio pai do qual ela deveria se desligar? Por mais óbvio que pareça, Freud não percebeu isso. Não estou dizendo que ele abusou da filha, de jeito nenhum, ele a amava. Mas estava tão convencido de que sabia como ajudá-la que não permitiu que ela se libertasse dele.
Istoé -
Para Freud, a psicanálise sempre funcionava? 
Mikkel Borch-Jacobsen -
Sim, claro, ele acreditava que havia descoberto a cura para as doenças mentais. Freud tinha suposições teóricas que o impediam de ver o que estava acontecendo. Ele estava tão convencido de que a terapia funcionava que, quando ela não dava certo, ele simplesmente achava que era necessário ir mais fundo no inconsciente. Só no fim da sua vida, em seus últimos artigos, ele admitiu que os métodos eram inconclusivos em alguns casos.
Istoé -
Mas em algum momento ele foi deliberadamente negligente ou desumano com seus pacientes?
Mikkel Borch-Jacobsen -
Sim, a forma como ele sacrificava seus pacientes no altar das suas teorias é vergonhosa. Marie von Ferstel, por exemplo. Ela era uma mulher rica que sofria de fobias e de constipação. Freud disse a ela que, para resolver esses problemas, ela teria que aprender a se desapegar, por exemplo, do dinheiro. O que ela fez? Transferiu para ele o título de uma das suas propriedades, que ele prontamente vendeu. Eu acho isso imperdoável. Freud simplesmente não era uma pessoa admirável.
Istoé -
De que forma essas revelações atingem a psicanálise hoje?
Mikkel Borch-Jacobsen -
Não vejo como salvar a psicanálise diante de tudo isso. Eu sei que muitas pessoas admiram Freud como um pensador independentemente das vicissitudes de sua prática. Também acho que ele era um gênio, tinha ideias realmente incríveis. Mas as suas teorias são contraditórias demais às suas práticas para serem levadas a sério.
Istoé -
O sr. aponta essas contradições em 31 casos e Freud atendeu pelo menos cinco vezes mais pacientes. Não poderia ser coincidência?
Mikkel Borch-Jacobsen -
Uma das minhas principais fontes de pesquisa foram as entrevistas com pacientes de Freud conduzidas por Kurt Eissler, que era secretário do Arquivos de Freud. Esse material ficou inacessível até 1999, quando Eissler morreu e, a partir daí, começou a ser colocado em domínio público, processo que só deve acabar em 2057. Eissler tinha enorme interesse em defender a memória do pai da psicanálise e se essas entrevistas fossem positivas não teriam sido tornadas confidenciais. Muita coisa ainda será revelada, possivelmente conseguiremos rastrear outros pacientes, mas não acho que as novas histórias irão contradizer as estatísticas que já temos.
Istoé -
Muitas pessoas afirmam hoje ter encontrado conforto na psicanálise. Não há nenhum valor nisso?  
Mikkel Borch-Jacobsen -
No meu ponto de vista, neuroses, como histeria e obsessão, não são doenças mentais, são pedidos de socorro. A análise cumpre, nesses casos, o papel que a religião cumpria antes. As pessoas iam até o padre para buscar respostas e as encontravam. Qualquer uma das centenas de tipos de psicoterapias que existem hoje pode cumprir esse papel. Reconheço que, em alguns casos, pessoas com problemas pessoais podem encontrar conforto no divã.
Istoé -
Mas seus livros parecem tentar destruir a psicanálise.
Mikkel Borch-Jacobsen -
Eu sou um acadêmico e meu único interesse é separar as verdades das lendas. Freud é apenas uma lenda. Ele reescreveu a história de acordo com seus propósitos pessoais.
Istoé -
Essa sua postura crítica em relação à psicanálise acompanhou toda a sua carreira?
Mikkel Borch-Jacobsen -
Não, no início eu era simpático à psicanálise e tinha interesse especial na escola Lacaniana.
Istoé -
E o que essa mudança significou profissionalmente? 
Mikkel Borch-Jacobsen -
Eu era constantemente convidado para conferências e para escrever artigos em revistas até que eu publiquei meu primeiro livro mais crítico sobre Freud. A partir desse momento, não fui mais convidado para nada. Não se pode ser crítico à psicanálise sem sofrer as consequências disso.
Istoé -
O sr. também estudou a psiquiatria. Acredita que esse é um caminho mais válido para tratar doenças mentais?
Mikkel Borch-Jacobsen -
A psiquiatria não é uma teoria única, mas, de forma geral, fez enormes progressos, como se vê, por exemplo, nos diagnósticos de esquizofrenia, depressão e outras doenças. Do ponto de vista da cura, porém, ela não avançou. Temos várias drogas hoje que nos permitem controlar certos sintomas das doenças mentais, mas ainda não há cura para elas e nem mesmo se conhece suas causas. A psiquiatria tenta encontrar soluções, mas ainda não foi bem-sucedida.
Istoé -
Qual é o próximo mito que o sr. pretende desbancar?
Mikkel Borch-Jacobsen -
Agora estou estudando a indústria farmacêutica. Sou muito crítico com as drogas psiquiátricas e, por isso, estou pesquisando esse universo do ponto de vista histórico.  

Fonte: Revista IstoÉ, ed. 2242, 25. Out. 2012.

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