Vigília
Um dia a mais ou a menos,
Não importa, se sei que a morte,
Espetáculo obscuro do destino,
Bate à porta.
Por isso espero,
Por isso vigio.
Vigio teu sono, teus anseios,
Passeio na noite, sem receios.
Caminho sobre as cinzas...
Sobre as cinzas de um menino
Que tornou-se um rapazinho,
Que sorriu, cortou caminho,
Pulou janelas, cruzou esquinas
Da triste cidade, quando era tempo.
Quando era tempo, proclamou versos.
Quando era tempo, correu ao vento.
Amou, sofreu, criou, alegrou-se...
Quando era tempo.
Mas há pouco a se fazer...
Por isso espero.
Por isso vigio.
Vigio teu sono, teus anseios,
Passeio na noite, sem receios.
Persigo a sombra, o teu corpo,
A marca pungente de um corte,
Cicatrizado por dentro.
Persigo teu beijo turbulento,
teu abraço, em mim, tão forte.
Espero acordado,
atento, circunspecto.
Por mim mesmo, espero,
Um dia ouvir
O sussurro de uma voz
Me chamando pra dormir.
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