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quinta-feira, 7 de fevereiro de 2013

Vai uma punk ou uma heavy metal?


Por Daniel Fromson
The Washington Post

O rótulo na garrafa de cerveja parece a capa de um disco, com um olho flutuante e duas pirâmides que parecem estar ali para trazer Pink Floyd à cabeça. Escaneie o QR code (um símbolo que, capturado pela câmera do celular ou pela webcam do computador, funciona como se fosse um código de barras e serve para ativar funções como redirecionar o navegador do celular para um site) e um videoclipe aparece na tela: o grupo indie de Baltimore Lower Dens toca Is the End the Beggining, sua música niilista e cheia de zumbidos.
Essa cerveja é, de certa forma, a música engarrafada. Ao virar a garrafa no copo, aparece a cerveja alaranjada e nebulosa chamada Sensory Series Vol. 1, criada por Brian Strumke, da Stillwater Artisanal Ales, cervejaria de Baltimore. Ele quis traduzir a música – os sons, a atmosfera – em gostos e aromas. O resultado? Uma saison influenciada pelas belgas com profundidade frutada e um toque defumado.
O novo projeto de Strumke reflete uma tendência intrigante. Por todos os EUA, cervejeiros vêm produzindo bebidas em colaboração com músicos ou inspirados em músicas – fenômeno que joga luz sobre como o rock, o heavy metal e outros estilos têm influenciado a iconografia e a cultura de cervejas artesanais.
Uma dúzia, US$ 450. Ultimate Box Sets, da Lost Abbey, com referências a Iron Maiden e Van Halen. FOTO: Divulgação
“É legal ver projetos como este bombando; afinal, cerveja é arte, ou pelo menos deveria ser”, diz Strumke, que já viajou pelos Estados Unidos e pela Europa como DJ e quer lançar mais três cervejas Sensory Series ainda neste ano. “Quanto mais elementos artísticos conseguirmos trazer para o mundo da cerveja, mais ela se consolida como possível forma de arte e não apenas como indústria manufatureira.”
Strumke não é o primeiro cervejeiro com inclinações musicais a unir as duas paixões. Sam Calagione, da Dogfish Head Craft Brewery –“Toquei um pouquinho de sax no fundamental, depois me apaixonei” –, é bem conhecido por sua histórica Music Series, que lançou em 2010.
A série inclui a Hellhound on my Ale, uma india pale ale dupla com sabor de caramelo e casca de cítrico que homenageia Robert Johnson, guitarrista de blues conhecido como “o avô do rock and roll”. No ano passado, Calagione lançou a Firefly Ale, cerveja oficial do Festival Firefly de Música de Delaware, que teve a participação de bandas como Killers e Black Keys.
A música influencia Brandon Skall e Jeff Hancock, cofundadores da DC Brau, que lançam regularmente discos como os Brothers Brau. Recentemente, eles fizeram uma cerveja em colaboração com a Ska Brewing, do Colorado, e a banda Pietasters, de Washington. Eles esperam fazer cervejas com a banda punk Regents e o grupo heavy metal Darkest Hour.
A colaboração com os Pietasters, uma doppelbock estilo alemão tisnada de café, estreará em março, e a DC Brau doará os lucros para fundação de bolsas de estudo em memória de Todd Eckhardt, baixista morto dos Pietasters, diz Skall, diretor executivo da DC Brau. A cerveja chama-se Taster’s Choice, com base na marca de café instantâneo e em uma música dos Pietasters do mesmo nome.
A DC Brau está sempre fazendo referências a títulos e a letras de músicas nos nomes de suas cervejas, como a Your Favorite Foreign Movie (trecho de Peg, de Steely Dan), Ghoul’s Night Out (título de música dos Misfits) e Thyme After Thyme (referência à música de Cyndi Lauper e ao tomilho).
A conexão rock-cerveja é pelo menos em parte baseada em parâmetros demográficos relativos aos Estados Unidos. Segundo dados divulgados ano passado pelo Beverage Media Group, 80% do volume de cervejas artesanais é bebido por consumidores brancos, na faixa dos 21 aos 44 anos; e 75% é consumido por homens. E de acordo com a mais recente pesquisa, de 2008, do National Endowement for Arts, homens brancos tendem a gostar mais de rock que mulheres e indivíduos de outros grupos étnicos. Pessoas entre 18 e 44 anos são também os mais ávidos fãs de rock contemporâneo.
Por isso talvez não surpreenda que um novo experimento de Tomme Arthur, diretor da Port Brewing, da Califórnia, e sua maraca irmã Lost Abbey, tenha feito tanto sucesso. No semestre passado, fanáticos da cerveja pagaram incríveis US$ 450 pela edição limitada Ultimate Box Sets, de uma dúzia de cervejas envelhecidas Lost Abbey. As garrafas vinham em caixas de transportar instrumentos e batizadas com nomes de canções do Iron Maiden e Van Halen.
BR ROCK
No Brasil, a ligação cerveja e música também é forte. Em geral, músicos com um pé nas brassagens participam da concepção de receitas antes de ganharem rótulos batizados em homenagens às bandas. Há desde cervejeiros caseiros a grandes produtoras artesanais, e homenagens a punks-bregas e a rock escrachado.
FOTOS: Divulgação
Labareda| Lager produzida pela Coruja em parceria com Wander Wildner, leva pimenta na receita e, como o músico, dá toque irreverente no estilo tradicional.
Camila Camila| A cerveja da Bamberg é pop, como a música da banda Nenhum de Nós que inspira o rótulo. É uma Bohemian Pilsener, de estilo marcante.
Whitie Rockin’Beer| Witbier feita em homenagem à banda Velhas Virgens, é fiel em estilo e escrachada em sabor com limão-cravo e sementes de coentro.
Fonte: http://blogs.estadao.com.br/paladar/vai-uma-punk-ou-uma-heavy-metal/

sábado, 2 de junho de 2012

Eles mostraram a real cara do Brasil ao brasileiro


No centenário de nascimento de Nelson Rodrigues e Jorge Amado, especialistas explicam como obra dos autores influeciaram a cultura do país
Jorge Amado nasceu em 10 de agosto de 1912, na Bahia. Treze dias depois, em Pernambuco, nasce Nelson Rodrigues. Apesar de terem visões políticas totalmente opostas, os escritores tiveram grande importância para a história cultural do Brasil. Rodrigues era anticomunista. Já Amado simpatizava com a esquerda. Mesmo assim, ambos sofreram com a censura em seus trabalhos. Outro ponto em comum entre os dois é a abordagem da sexualidade em suas obras, que renderam tanto a um quanto ao outro o repúdio da elite brasileira. No ano de centenário de nascimento desses brasileiros, especialistas analisam o papel que suas obras têm ainda hoje para o relato do cotidiano e dos costumes do povo à época de seus romances.
Linha do tempo compara trajetória dos dois artistas. (Imagem: Paula Zogbi Possari e Meire Kusumoto)
Dois “Jorges”
Jorge Amado ajudou a difundir a cultura do Brasil no exterior e, por que não dizer, aos próprios brasileiros. Com livros publicados em mais de 50 países e em 49 idiomas diferentes, o baiano tornou-se popular principalmente pelo seu variado repertório de assuntos, como conta a doutoranda Marly D’Amaro Blasques Tooge na Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas (FFLCH) da USP. “Ele toca em questões fundamentais, como relações de trabalho, raça, matrimônio e a estrutura da sociedade capitalista”, diz. O professor de Literatura Brasileira, Antonio Dimas, concorda ao dizer que, “mais que temas, Jorge escolhe gentes muito parecidas com a que ainda vemos no nosso cotidiano, nas esferas mais diversas”.
Jorge é conhecido por caracterizar o povo baiano e as classes sociais mais baixas. Na juventude, muda-se para o Rio de Janeiro para cursar Direito. Ainda na faculdade, toma contato com o movimento comunista, que se reflete em suas obras. “No trabalho dele há muita identificação de uma grande massa. A linguagem é acessível, diferente de outros autores contemporâneos mais rebuscados. Até como comunista, Jorge não escrevia para a elite”, explica Marly.
O escritor chega a ser deputado federal pelo PCB (Partido Comunista Brasileiro), mas é cassado depois que o partido perde o registro, na ditadura do Estado Novo, em 1948. Com as perseguições políticas e as desilusões quanto ao método totalitário que o comunismo tinha adotado, Amado se desvincula do PCB e abandona a militância. Alguns críticos dividem a obra do escritor a partir desse ponto. “Depois disso ele se aproxima muito do candomblé e faz obras dedicadas a mulheres, criando personagens como Gabriela, Tieta, Dona Flor. Mas continua com a temática social”, conta Marly. Para Dimas, “existe um Jorge antes e outro depois” de sua militância. “O melhor é o que vem depois. É um Jorge livre de dogmatismos políticos, menos idealista. Portanto, menos autoritário e menos professoral”, explica. O divisor de águas de seu trabalho, segundo o professor, é Gabriela, Cravo e Canela, romance de 1958. A obra, que virou novela nas décadas de 1960 e 1970, ganhará uma nova montagem na televisão ainda esse ano.
Além de revelar a cultura do Brasil ao exterior, Jorge também colaborou na popularização de temas que eram pouco retratados pelos artistas: o Brasil do interior. “Ele deu [à televisão] um sotaque mais abrangente, deixando claro que o país não se limita apenas aos 8 mil km de litoral. Que ele é mais profundo também”, conclui Dimas.
O teatro pós Nelson
Nelson Rodrigues era mestre em causar reações ambíguas. Em vida, foi considerado gênio e idiota, moralista e tarado. Defendia um estilo próprio de jornalismo, no qual cabiam até algumas mentiras, e alinhou-se à ditadura militar nos anos 70, apesar de ter a obra fortemente censurada.
“Aos cem anos de nascimento, Nelson Rodrigues merece ser lembrado como um autor que revolucionou o texto dramático brasileiro”, afirma Berta Waldman, professora de literatura hebraica e judaica da FFLCH e pesquisadora de Nelson Rodrigues. A peça Vestido de Noiva, encenada pela primeira vez em 1943, é considerada um marco do teatro moderno no país. “Com vergonha de dizer às pessoas que havia escrito a peça em seis dias, Nelson mentia dizendo que havia levado seis meses para escrevê-la”, conta Priscila Melo, jornalista e especialista no autor.
A aclamação no âmbito teatral foi quase imediata: Vestido de Noiva é apenas sua segunda peça. No entanto, atingir o ápice no início da carreira teve seus pontos negativos. De acordo com Berta Waldman, o próprio autor costumava dizer: “Com Vestido de Noiva, conheci o sucesso; com as peças seguintes, perdi-o, para sempre”.
A terceira peça foi Álbum de Família, publicada em 1946. Ela foi encenada cerca de 20 anos depois, por ter sofrido censura. “Sua publicação foi marcada pela reação da crítica que não sabia como se posicionar perante o acumulo de incestos e de relações marcadas pela violência, antagonismo e morte”, conta Paulo Maciel, pesquisador de teoria e história do teatro. “Boa parte da sociedade da época repugnava suas obras literárias, acreditando que estas poderiam instigar as pessoas a terem os mesmos desejos relatados”, completa Priscila Melo.
Censura
Nelson era anticomunista declarado. Usava suas crônicas para debochar da esquerda brasileira e defender o golpe militar de 1964. Apesar disso, foi o autor mais censurado no teatro brasileiro. A acusação era de “representar uma ameaça às famílias, a sua moral e aos bons costumes. Em sua defesa o dramaturgo alegava a burrice dos censores que não percebiam a moralidade de seu ‘teatro desagradável’”, explica Maciel.
Muito além do teatro
Apesar ter sido imortalizado como dramaturgo, Nelson Rodrigues estreou no campo das letras como jornalista, aos 13 anos, no periódico A Manhã, que pertencia a seu pai. Ele teve uma produção significativa em diversos gêneros textuais. “Nelson transitou do jornalismo à crônica, passando pelo conto, pelo teatro, romance, pelas confissões e memórias”, conta Maciel.
Grande parte do estilo do autor vem da época em que foi repórter policial. “Nelson Rodrigues é o único jornalista brasileiro a possuir uma tipologia própria e uma resistência ao ‘novo’ jornalismo objetivo implantado pelos norte-americanos”, afirma Priscila Melo. De acordo com a pesquisadora, Nelson utilizava a subjetividade e até a ficção para relatar um fato. Eram acrescentadas falas no corpo das matérias, sem deixar de usar os elementos referenciais para dar credibilidade à notícia.


Fonte: Jornal do Campus

sábado, 7 de abril de 2012

Conhecendo o país: Brasília (DF) - Brasil

Uma cidade a se descobrir, a se conhecer. Diferente das outras, é bem verdade. Mas Brasília é a amplitude dos lugares. É o  ir e vir. Espaços abertos (dimensões de vida e trabalho). Sentimento de estar onde todos estão, todos vão, todos passam, veem, se encontram e ficam.


Um lugar sem igual: a singularidade no coração de um país dentro de muitos outros países. 


Ver, sentir, andar (caminhar sem ter pressa). Brasília é assim: um encanto na vastidão do cerrado. Brasília do Eixo Monumental, do cerrado monumental, dos monumentais poderes, da visão de uma celeste Pietà.


Brasília larga, Brasília linda ao redor do Lago, por sobre o qual impõe-se a vista. E que vista!


Uma imagem, uma cidade. Outrora sonho, hoje concreta. Cidade aberta. Luz que nos toca, calor que acimenta sentimentos vastos, olhares complexos, sol que adentra a retina. Beleza etérea nos traçados, nos lugares. Palácios a céu aberto. Colunas, paredes, trajetos feitos em função de todos. Plano-piloto que manobra sobre a gente, sobre as mentes, corações que pulsam completos quando é dia ou quando a noite cai, mesmo que fria.


Outro plano, outro entorno, no esplendor dourado dos ipês surgidos em julho. Aparição que apraz a alma, que abranda a velocidade dos carros que seguem no além das avenidas. 










































Texto, fotos e vídeos produzidos por Rogério Rocha.

segunda-feira, 26 de março de 2012

A LEGISLAÇÃO BRASILEIRA ANTIDROGAS E A CONSTRUÇÃO DE UM NOVO PARADIGMA

Por Rogério Henrique Castro Rocha

 A nova Política Nacional Antidrogas, que culminou na aprovação da Lei n.º 11.343/2006, e que instituiu o Sistema Nacional de Políticas Públicas sobre Drogas (SISNAD), está baseada na aplicação da Justiça Restaurativa, substituindo a prática tradicional do encarceramento pela aplicação de penas alternativas (advertência, indicação de frequência a cursos educativos e prestação de serviços), voltadas precipuamente à reinserção social do usuário (dependente ou não) de drogas ilícitas.

A concepção político-ideológica presente na legislação anterior, denominada por alguns de "visão de holofote", situava a discussão sobre as drogas sob a ótica da punição, entendendo que as penas privativas de liberdade resolveriam o problema dos usuários/dependentes. Tal concepção não distinguia o usuário do traficante, dando-lhes, ao final, igual tratamento e dificultando em demasia a perspectiva de recuperação e reinserção do sujeito no seio da sociedade.

Ao abandonar-se a visão meramente punitiva em prol de sanções de caráter educativo, a legislação atual passa a considerar as múltiplas dimensões que envolvem a problemática das drogas.

O ser humano, nesse aspecto, necessita ser visto como pessoa em sua integralidade. Dessa forma, a inter/trans/multidisciplinaridade, integrada aos conhecimentos técnicos do corpo de profissionais envolvidos com a prestação jurisdicional, é de suma importância para se alcançar um resultado satisfatório no enfrentamento de tão complexas questões.

Nesse sentido, é fundamental, ainda, que se busque efetivar a mudança na cultura judiciária em face, sobretudo, da figura de usuários e dependentes de drogas, pois a visão jurídica outrora vigente mostra-se hoje ultrapassada.

O espírito que trouxe a lume a nova lei nos impele, da mesma forma, a uma mudança de olhar acerca da condição dos drogaditos. É necessário ao operador do direito usar de sensibilidade e sabedoria ao distinguir cada sujeito dentro do panorama fático e jurídico do uso de drogas. 

Para tanto, a aplicação da nova lei requer profissionais capacitados nos aspectos jurídico, ético e procedimental, para a realização de um trabalho cooperativo e transdisciplinar.

Igualmente, cabe a magistrados, promotores, defensores públicos, delegados e demais operadores do direito adotarem a postura segundo a qual é melhor conscientizar e tratar os usuários do que encarcerá-los.

Por outro lado, sem a participação do conjunto da sociedade a tarefa do Poder Judiciário se tornará muito mais árdua, com risco de se inviabilizar a efetividade da lei. Razão pela qual a prática desse novo paradigma (restaurativo), aliado à necessária mudança de cultura, talvez sejam os principais desafios à aplicação correta, à disseminação e consolidação de novas práticas junto ao Judiciário e a sociedade.

É essencial, portanto, a construção de um novo paradigma de abordagem e tratamento dos agentes, dando a cada um a devida atenção.  De fato, diferentemente do que vigorara nos antigos regramentos infraconstitucionais, não podemos mais confundir as figuras do usuário, do portador, do dependente e do traficante, como se os mesmos integrassem uma só e única categoria, tomando-os como passíveis das mesmas penalidades. Sob tal aspecto, pelo menos, a mentalidade da nova lei antidrogas mostrou alguma evolução.

Apesar dos pequenos avanços  alcançados pelas inconstantes políticas públicas no setor, observa-se que  ainda uma enorme resistência aos princípios filosóficos e teóricos que fundamentam o novel modelo restaurativo de Justiça. Ainda assim, talvez o passo mais decisivo para a superação desse obstáculo esteja sendo dado agora, quando se começa a construir, consensualmente, uma nova agenda nacional, coordenando ações que envolvem governo e sociedade, capacitando a comunidade jurídica por meio de cursos e treinamentos (como os que são promovidos pelo Conselho Nacional de Justiça), descentralizando ações e, por fim, estreitando os laços com a sociedade e a comunidade científica.

Rogério Henrique Castro Rocha

segunda-feira, 19 de março de 2012

CITAÇÃO DO DIA: Arthur Schopenhauer

(Arthur Schopenhauer - filósofo alemão - *1788  -  +1860 )


"Os homens estão mil vezes preocupados em ficarem ricos do que em adquirirem cultura, embora seja inteiramente certo que aquilo que um homem é contribui mais para sua felicidade do que aquilo que ele tem". (Arthur Schopenhauer)

segunda-feira, 10 de outubro de 2011

As culturas e as "drogas"




Com o lançamento do livro Drogas e Cultura: novas perspectivas, editado em parceira com a Universidade Federal da Bahia, o Ministério da Cultura espera contribuir para uma maior eficácia das políticas públicas sobre “drogas” em nosso País. Não poderíamos nos furtar a esta discussão, especialmente pela gravidade crescente de que se reveste. Sobretudo porque dela a dimensão cultural da questão não pode estar ausente, se quisermos desenvolver uma ação responsável sobre o assunto.
O consumo de “drogas” sempre remeteu a várias esferas da vida humana. Fatores de ordem moral e cultural possuem uma ação determinante na constituição de padrões reguladores ou estruturantes do consumo de todos os tipos de “drogas”.
A cultura não é apenas um componente a mais, ela é de fundamental importância. Sentimos que a sociedade não está sabendo tratar o tema das drogas. Ele não é apenas um caso de polícia e de saúde pública. Com “droga”, ou sem “droga”, os seres humanos, ao longo do tempo, têm buscado ampliar o horizonte do real. Parece ser algo intrínseco à sua natureza.
Não podemos continuar tendo uma visão simplista e superficial sobre o assunto. Não se trata de desconsiderar os riscos e as complexidades bioquímicas do uso dessas substâncias, mas de abrir mais espaço para este tipo de reflexão na discussão sobre as “drogas”.
A militarização no combate às “drogas” está perdendo a batalha em todo o Ocidente, e no Oriente. Esta ação não tem diferenciado o usuário do traficante, para ela o consumidor é um cúmplice.
Não basta a descriminalização. Algumas drogas, como o crack, viciam e geram dependências com conseqüências devastadoras; inclusive, parte das drogas legais. A bebida, por exemplo, tem presença maciça nos acidentes de trânsito e muitos remédios causam níveis altos de dependência. Entretanto, não podemos imputar à cultura a possibilidade de solucionar o problema. A cultura entra como um componente a mais de uma análise multidisciplinar, mas de fundamental importância.  
A diferenciação entre o consumo próprio – individual ou coletivo – e o tráfico ainda não foi totalmente estabelecida. A ausência de tal distinção acarreta um tratamento de desconfiança moral, policial e legal frente a todos os usuários de substâncias psicoativas, independente de seus hábitos e dos contextos culturais.
Existem drogas legais, e drogas ilegais. Drogas leves e pesadas. Drogas que criam dependência e drogas que não criam.
Precisamos balizar de um modo mais atento e detalhado as relações entre os usos, os consumos, a circulação e os direitos privados dos cidadãos.
Devemos incorporar uma compreensão “antropológica” sobre as substâncias psicoativas, uma abordagem mais voltada para a atenção aos comportamentos e aos bens simbólicos despertados pelos diversos usos culturais das “drogas”, tanto no nível individual quanto social. Precisamos exercer um papel propositivo na elaboração da atual política nacional sobre a matéria, buscando sempre a ênfase na redução dos danos.
Ao desconhecer certas singularidades e ignorar os diversos contextos culturais, acabamos por tratar de modo estanque e indiferenciado as distintas apreensões culturais e nos tornamos incapazes de distinguir as implicações dos múltiplos usos das “drogas”.
As “drogas” estão na sociedade e nas culturas e, portanto, não podem ser entendidas fora delas. Nossos pesquisadores e nossa legislação devem, em alguma medida, levar em consideração a dimensão cultural para cunhar políticas públicas mais eficazes e mais adequadas à contemporaneidade.   
Juca Ferreira
Ministro de Estado da Cultura

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