Com uma equipe de coautores, James Patterson publica 14 livros por ano e se tornou o escritor mais bem pago do mundo
DANILO VENTICINQUE
Tornar-se um escritor bem-sucedido era uma ambição distante para o americano James Patterson em 1976, quando lançou seu primeiro romance. Aos 29 anos, ele trabalhava como redator publicitário e escrevia histórias de suspense nas horas vagas. Os 10 mil exemplares vendidos em sua estreia não foram o bastante para torná-lo um best-seller, mas o animaram a continuar investindo no passatempo literário, sem grandes pretensões. Nos 15 anos seguintes, publicou seis livros com relativo sucesso. Uma marca respeitável para um amador, mas longe de chamar a atenção do mercado literário. Foi só aos 43 anos, quando seu célebre detetive Alex Cross levou-o pela primeira vez às listas de mais vendidos, que Patterson decidiu se dedicar em tempo integral à literatura. Desde então, seu sucesso e sua produtividade têm assombrado o mundo das letras. Seus 102 livros venderam mais de 220 milhões de exemplares e o levaram 63 vezes à respeitada lista de mais vendidos do The New York Times – um recorde na história do jornal. Em 2011, Patterson bateu sua marca pessoal de produtividade ao publicar 14 livros. Foi o bastante para torná-lo o escritor mais bem pago do mundo, de acordo com a lista publicada pela revista americana Forbes. Com um acréscimo de US$ 94 milhões a sua fortuna apenas neste ano, ele aparece bem à frente de nomes como Stephen King, John Grisham e J.K. Rowling.
Enquanto a maioria dos autores de sucesso constrói sua fortuna com um punhado de grandes sucessos, atribuídos à sorte ou à inspiração sobre-humana, Patterson transformou a escrita numa atividade quase industrial. “Escrever best-sellers deixou de ser um desafio para mim”, disse ele a ÉPOCA, num dos intervalos de sua pesada rotina de trabalho. Aos 65 anos, ele dedica mais de dez horas por dia a seus textos. Ao contrário do francês Honoré de Balzac (1799-1850), cuja produtividade costuma ser explicada pelo consumo de inúmeras xícaras de café que o ajudavam a suportar longas madrugadas de trabalho, Patterson prefere as manhãs. A rotina de sua casa em Palm Beach, na Flórida, é conhecida por todos os vizinhos: ele acorda todos os dias às 5 horas e escreve até as 7h30. Joga golfe por uma hora, volta a escrever e interrompe o trabalho ao meio-dia, para almoçar com sua mulher. Dorme por meia hora e em seguida volta ao escritório, de onde só sai às 19 horas. “Aproveito a noite para brincar com meu filho (Jack, de 13 anos). Todos vamos dormir cedo, e na manhã seguinte estou de pé às 5 horas de novo”, diz.
Mesmo essa dura rotina de trabalho não explica como ele é capaz de publicar mais de um livro por mês. Para chegar a esse recorde, como um dos autores mais prolíficos de sua geração, Patterson recorreu ao célebre método do francês Alexandre Dumas (1802-1870), autor de mais de 100 mil páginas em sua carreira literária. O segredo? Mais que um autor, Dumas era o líder de uma equipe de escritores que produziam histórias sob sua supervisão. Patterson é um dos poucos autores de best-sellers que admitem trabalhar com coautores, embora suspeite-se que a prática seja mais difundida. (A americana Nora Roberts, de 61 anos, é um dos alvos mais frequentes da acusação. Ela afirma ter escrito cada palavra de seus 218 livros.) Em vez de negar a terceirização criativa, Patterson a defende. “Sou um grande fã do trabalho em equipe. A maioria dos roteiros para televisão e cinema é escrita por equipes. As pessoas pensam que isso é incomum, mas boa parte da ficção que consomem é feita por dois ou mais autores”, afirma.
Patterson diz não saber exatamente quantos coautores o auxiliam atualmente – “Seis ou sete, eu acho”. Ele costuma recrutar publicitários que se dedicam à literatura nas horas vagas ou aspirantes a escritor que não tiveram sua sorte. Todos trabalham seguindo a mesma rotina. Depois de discutir a ideia do livro com o coautor, Patterson escreve uma sinopse detalhada, que pode ter de 50 a 80 páginas. Com a sinopse em mãos, cabe ao funcionário a tarefa de escrever a primeira versão da história. O rascunho é entregue de volta a Patterson, que reescreve alguns trechos e encaminha o texto a um de seus editores. O processo todo leva de oito a dez meses. Para manter o ritmo intenso de lançamentos, Patterson e sua equipe chegam a trabalhar em 20 romances simultaneamente.
Embora seu método de trabalho seja alvo frequente de ataques de acadêmicos e de outros escritores zelosos das tradições do ofício – eles o acusam de transformar a criação literária em processo industrial –, Patterson diz não se incomodar com as críticas. “Não poderia me importar menos com o que dizem sobre mim. Só me preocupo em escrever minhas histórias. Há milhões de pessoas esperando por elas”, afirma. Segundo ele, a ajuda de outros escritores melhora seu estilo, em vez de descaracterizá-lo. “Sou um bom contador de histórias, e meus co-autores costumam ter um texto literário mais refinado. Juntos, conseguimos entregar um livro melhor para nossos leitores.”
Para o romancista americano David Ellis, um dos mais novos membros da equipe de Patterson, a preocupação em satisfazer o leitor é o segredo do sucesso do patrão. “Mais do que um homem de negócios, James é um grande entusiasta dos livros”, escreveu Ellis em seu blog. “Os leitores gostam de entretenimento, e é isso que James oferece a eles. Quando o leitor abre um livro dele, sabe que verá faíscas.” A promessa costuma ser cumprida. Com capítulos curtos e cheios de diálogos, os livros de Patterson podem não impressionar pela qualidade literária, mas são repletos de reviravoltas e cenas sangrentas de ação. Cumprem com perfeição a meta de deixar o leitor ansioso pela próxima página – e pelo próximo livro, que não tarda a chegar.
Com a popularização dos e-books, algumas editoras passaram a pedir que seus autores escrevam ao menos um livro por ano, para cativar o público. “Minha editora nunca terá esse problema”, diz Patterson. “Gosto de escrever muito, e eles gostam de ganhar dinheiro.” Seu método de trabalho parece ter sido talhado para um tempo em que romances são produtos comprados por impulso. E sua consagração como escritor mais bem pago do mundo (ao menos neste ano) pode fazer com que outros o vejam como exemplo a imitar, não como banalizador da ficção.
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