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quinta-feira, 29 de março de 2018

"Símbolo" (por Rogério Rocha)

Rogério Rocha
Símbolo


A vida dentro da vida
guardada n’alma,
sorvida da aurora
das nossas alegrias.

O símbolo dentro do símbolo.
A guarda do sagrado,
O império dos segredos,
Instado a dizer-nos
No não dito, no não visto,
No sim, no não, no íntimo.

Somos sonho, somos signo,
Somos tempo, somos símbolo.

O vermelho do sangue
Na pele brotando,
A ferida nefasta
Nascida de um parto,
De um grito, de um fato.
Um sinal que emite sentidos.
Um som inaudível, a princípio,
E no princípio, ruídos ao fundo.

A voz da memória, o passado em jogo,
O sinal do princípio no crepitar do fogo.
No mais antigo do antigo a figura perene,
A dizer, no sempre, o que queremos.

A esfinge nos atinge: Kerub.

O mistério de ser gente,
De ser corpo, de ser homem.
O olhar que nos fala,
O corpo que nos fala,
O silêncio que nos fala,
A paixão que nos consome.

A gramática do ser
Abundante, a mostrar,
Apontar, consignar,
Uma physis constante.

Somos sonho, somos signo,
Somos tempo e somos símbolo.
Ainda assim, nos importa
Saber ler nos símbolos
A linguagem dos túmulos,
A voz dos narradores,
A letra dos pergaminhos,
O som dos arredores.

Fragmentos de um tempo
Adormecido.

P.S.: Poema do livro "Travessias" (no prelo)

terça-feira, 26 de dezembro de 2017

O ÚLTIMO BEIJO
Por Rogério Rocha.



Sangrava muito. O tapete do quarto, ao pé da cama, recebia seu sangue como água. Ajoelhado ao chão, Mário esperava o fim.


Seu pulso esquerdo, cortado pela faca que agora escapava de sua mão direita, abria-se na vermelhidão da carne.


A visão fatal lhe avançava aos olhos. Escurecendo o dia, estava enfim entregue à pura sorte. Seu intento extremo conhecia o desfecho almejado. Sua curta existência fechava as cortinas naquele instante. Um espetáculo trágico que não lhe valia aplausos.


Estava só, como desde sempre. Estava só. De novo só, como no início. O começo e o fim tão próximos. Iguais em tudo. Solidão e melancolia. Um rastro de vida, sem motivos pra comemorar, apagava-se agora.


Muito frio pelo corpo. Muito frio, muito frio... um frio intenso se apossara do jovem entorpecido. Parecia cair sobre ele a bruma gélida de um inverno nórdico. Inverno que nunca haveria em sua quente terra natal.


Em poucos minutos, pensou no que vivera até aquele instante. Por alguns segundos teve medo, teve dó, piedade de si mesmo. Por breves segundos sentiu medo. Medo de tudo. Todo tipo de medo, que aqui não vale nominar.


Sentiu-se amargo. Amargo sofrimento esse, de quando as coisas terminam.


Entretanto, e muito estranhamente para ele, naquele instante, de algum modo, enfim, sentiu-se também profunda e terrivelmente completo. Como se aquele fosse o seu grande momento.


Já quase não havia mais luz. Não em seu quarto, pois a luminária estava acesa. Também quase não havia mais em sua consciência. Era pouca, tênue, fraca, quase a se apagar.


Cingiu os punhos, num último esforço, e deixou-se cair para frente. Sua cabeça bateu forte no chão, como igualmente o resto de seu corpo, soando um baque surdo por sobre o tapete já rubro e molhado.


O lado esquerdo do seu rosto colou-se ao chão. Sua boca ficou entreaberta, com sangue em filete a esvair bem no canto, emoldurando o que a princípio poderia ser quase um sorriso de vitória.

 
Os olhos entreabertos e fixos no vazio relembravam um passeio que a memória guardara, com as cores, formas e desenhos próprios do mundo quando num momento de felicidade. E nos flashes da memória, vívida e dolorosa, a lembrança de uma tarde radiante, do caminho do campo, das margens de um rio, de sua namorada sorrindo, mãos dadas, caminhando e falando-lhe sobre coisas que queria fazer na manhã seguinte quando voltassem para casa.


Ali, sobre o chão vermelho em que se achava, no mesmo filme da lembrança, reviveu o momento de um convite para um banho, o lançar-se ao rio depois de uma corrida breve pra tomar impulso, os dois a cair na água como pedras lançadas do alto das árvores, ele a subir novamente, cabeça furando a correnteza, sugando o ar para os pulmões e novamente alcançando a estabilidade do nado e da flutuação. Logo depois o espanto, o desespero, a sensação de total abandono, ao não saber onde estava sua amada.


Muito depois e bem longe dali, num olhar perdido, naquela mesma tarde, mirou aquilo que parecia um corpo a deslizar lentamente, seguindo o curso do rio, já quase a sumir do alcance da visão.


Foi então quando Mário, imóvel sob a poça de sangue, antes do suspiro mais profundo que daria em sua vida, no quarto vazio, sentiu um cheiro de flores invadir o ambiente, seguido de uma brisa macia a afagar-lhe o corpo e um leve e último beijo a tocar-lhe a face lívida. A noite então chegara.

sábado, 8 de novembro de 2014

A CIDADE (por Rogério Rocha)




A Cidade

Há de tudo dentro do mundo.
Há tanto mundo dentro de mim.
Há lugares e rumos, sentidos profundos
e vagos desejos caindo das copas
das árvores.

Há vida em lugares impensáveis.
Há margens que cruzam espaços.
Há cidades para além das cidades.

Onde estamos é o lugar de viver.
Onde vivemos é o lugar de se estar.
Todo lugar, de algum modo, é meu lugar.
E nas manhãs, abro os olhos
e vejo subir aos céus
aquelas partículas de doce alegria.

Dentro de mim espero brotar maravilhas,
coisas que nunca guardei.

Dentro de tudo há um mundo,
há um mundo dentro de mim.

Nas cidades para além das cidades
não sobram saudades,
porque levo-as comigo e trago;
absorvo os sentidos e removo as barreiras
para sabê-las melhor e não tê-las.

Minha cidade é também absurda
e confunde-se com a cidade que não há,
mas, mesmo assim, hei de estar.

O meu lugar é qualquer.
O meu lugar é onde estou.
E o melhor lugar para se estar
é onde reside o querer.

O hoje é parte do que construo
como premissa do meu futuro.
A cidade em mim mais branda,
é, porém, não menos estranha.

A cidade que vivo
habita em cada motivo,
habita aqui e acolá.

São Luís, Paris, qualquer lugar...

A cidade orbita em meus versos,
a cidade medita quando me disperso
e a esqueço.
E se a esqueço, não perco de mim, contudo,
os seus caminhos mais profundos,
os teus reinos e submundos,
eis que em mim vive a célula primeva
que te inventa como verdade. 

Quero ser qual andarilho.
Quero ser como poeta.
Quero ser como profeta
que recebe versos do além
e os decifra em fúlgido estribilho.

Cidade eterna, cidade concreta,
filha dos ventos e das noites.
Poetas que nunca te escreveram
serão lembrados, pois, desde sempre,
saídos do teu ventre quente,
caídos ao teu lado, 
serão parte desse enredo incerto,
dessa magnitude insólita.

Cidade que trago comigo
e que levo para todos os cantos.
Cidade de sonhos e desencantos,
cidade das minhas alegrias.
Quero-te tanto em noites tenebrosas
como nas manhãs luzidias.

São Luís, 08 de novembro de 2014.

Rogerio Rocha




sábado, 26 de julho de 2014

Momento poético: ¨Fragmentos" (por Rogério Rocha)


Por Rogério Rocha

Verso VI (Fragmentos)

Perene espanto! Espanto que me toma sempre. 
Toda hora que desperto,
toda vez que olho o mundo (olhos abertos).
É milagre vivermos como hoje somos.
É milagre ter ao lado minúsculos objetos de alienação
ainda inertes à nossa conduta.
Repito o que dizes e digo sempre o novo na repetição.
Mas que novo? Que novo se recria no absurdo, no estorvo?

Abusamos das piadas, dos versos, dos repentes...
Talvez assim sejamos mais crentes.
Talvez assim saiamos do ventre da palavra
como serpentes esquálidas, 
reluzindo a pele lisa e escamada.

Além do pecado original está o lume,
A voz clemente que abre aos ouvidos o verbo crescente,
o logos completo:
origem das coisas no ar, das frases que vagam,
das certezas que ficam, depois da queda, depois da chuva.
O sereno ainda impera!

domingo, 20 de julho de 2014

Momento poético: "Poeira e tempo" (por Rogério Rocha)



Poeira e tempo


Poeira e tempo, na junção dos elementos.
Na paisagem, o vento ao longe soprando
Os restos do dia e as dores da vida...

No penhasco, a solidão da queda veloz.
Na voz, o embargo da palavra apodrecida.

Um rio de corredeira se esvai sem pressa.
Mesmo assim, a chuva implora paciência
E impera silenciosa por sobre vales perdidos.

Poeira e tempo, na eclosão dos sentimentos.
Na paisagem, as nuvens, que somem tão mansas,
Acalentando as crianças que brincam ao relento.

São Luís, 11/02/2009.

sexta-feira, 2 de novembro de 2012

VIGÍLIA (Por Rogério Rocha)














Vigília

Um dia a mais ou a menos,
Não importa, se sei que a morte,
Espetáculo obscuro do destino,
Bate à porta.

Por isso espero,
Por isso vigio.

Vigio teu sono, teus anseios,
Passeio na noite, sem receios.
Caminho sobre as cinzas...
Sobre as cinzas de um menino
Que tornou-se um rapazinho,
Que sorriu, cortou caminho,
Pulou janelas, cruzou esquinas
Da triste cidade, quando era tempo.

Quando era tempo, proclamou versos.
Quando era tempo, correu ao vento.
Amou, sofreu, criou, alegrou-se...
Quando era tempo.

Mas há pouco a se fazer...

Por isso espero.
Por isso vigio.


Vigio teu sono, teus anseios,
Passeio na noite, sem receios.
Persigo a sombra, o teu corpo,
A marca pungente de um corte,
Cicatrizado por dentro.
Persigo teu beijo turbulento,
teu abraço, em mim, tão forte.

Espero acordado, 
atento, circunspecto.
Por mim mesmo, espero,
Um dia ouvir
O sussurro de uma voz
Me chamando pra dormir.


quarta-feira, 14 de dezembro de 2011

Nessa noite



Sentado na cama e vendo o vento levar tudo,
Apagando da minha mente a fantasia dourada
E um cruel sentimento de outros tempos.

Como dói esse momento, como é vão todo tormento
Alimentado na flor da idade, a fals(a)idade
De querer tudo, de tudo temer também.

Nessa noite o silêncio escreve a última página
De um livro que ninguém lerá.
Nessa noite os olhos frios da tristeza
Fitarão fixamente o espaço
entre a memória e o esquecimento.

E tudo será como sempre,
Embora a sorte nos diga que não.
E tudo entrará para o aqui,
Pois, a toda hora, algo de sísmico
Nos atinge e abala.

Caindo aos pedaços a morada
Que por uma vida habitávamos.

segunda-feira, 10 de outubro de 2011

Na quietude secreta da paz





     Quando para sempre tiver meus olhos fechados
 E carregares contigo todos os meus legados,
    Ouve então os cânticos que deixei ao infinito.

      Quando meus pés a terra mãe não mais tocarem
       E quiseres saber o rumo novo de minha jornada,
           Olha então o céu estrelado com suas vias absolutas.

E guardarás contigo a minha doce semente.
                                    
                                    
                                 Rogério Rocha

terça-feira, 2 de agosto de 2011

Olhares de um viajante - Brasil - Parte I


Boa Viagem - Recife

Praia de Muro Alto - Ipojuca - Pernambuco

Praia de Muro Alto - Ipojuca - Pernambuco

Mariscos

Mariscos em banco de corais
Prática de caiaque - Muro Alto - PE

Prática de caiaque - Muro Alto - PE

Prática de caiaque - Muro Alto - PE

Muro Alto - PE - Brasil

Muro Alto - PE - Brasil


Seres dos corais
Entardecer em Cabo de Santo Agostinho - PE

Entardecer em Cabo de Santo Agostinho - PE


Entardecer em Cabo de Santo Agostinho - PE

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