Ligados à extrema-esquerda, estudantes que invadiram a reitoria da USP compõem um grupo pequeno, sem reconhecimento da UNE nem apoio de seus colegas de universidade
Paula RochaCONTRA
Encapuzados, cerca de 50 estudantes invadiram a
reitoria da USP para pedir a saída da PM do campus
Eles nasceram na elite, estudam numa das
melhores universidades do Brasil, usam roupas e tênis de marca, se dizem
anarquistas e afirmam que defendem a causa operária. Os estudantes que
lideraram as manifestações contra a presença da Polícia Militar no
campus da USP (Universidade de São Paulo) nas últimas semanas compõem um
grupo pequeno, movido por questões ideológicas ultrapassadas, mas capaz
de gerar uma discussão de âmbito nacional. Munidos de paus e pedras, e
com os rostos cobertos para não serem identificados, cerca de 50 jovens
invadiram a reitoria da USP na terça-feira 1o, como forma de forçar o
reitor, João Grandino Rodas, a retirar a PM da universidade. O protesto
foi motivado pela repressão a três alunos da Faculdade de Filosofia,
Letras e Ciências Humanas (FFLCH), pegos fumando maconha no campus.
Quando seriam encaminhados a uma delegacia para assinar um termo
circunstanciado, outros estudantes intervieram e a PM usou cassetetes e
bombas de gás lacrimogêneo para dispersá-los. A ação truculenta da
polícia serviu de gatilho para que os radicais colocassem em prática o
movimento autointitulado Ocupa USP – Contra a Repressão. Na quinta-feira
3, a Justiça autorizou a reintegração de posse do prédio da reitoria.
Mas eles decidiram manter a ocupação.
A principal reivindicação do grupo, coordenado por três correntes de extrema-esquerda – a Liga Estratégica Revolucionária – Quarta Internacional, o Movimento Negação da Negação e o Partido da Causa Operária (PCO) –, é a suspensão do convênio entre a PM e a universidade, firmado após a morte do estudante Felipe Ramos de Paiva, baleado no estacionamento da Faculdade de Economia e Administração (FEA) em maio passado. O episódio chamou a atenção da sociedade para a falta de segurança no campus e levou a reitoria da USP a pedir reforço no policiamento. Segundo dados da Secretaria de Segurança Pública de São Paulo, a iniciativa conseguiu reduzir significativamente a incidência de diversas modalidades de crimes na universidade (leia quadro). Esse argumento, no entanto, é desconsiderado pelos garotos mascarados. “O real objetivo da Polícia Militar na USP não é o de inibir crimes, mas sim de combater manifestações políticas e cercear o direito de expressão livre de estudantes e trabalhadores”, dizem os estudantes no Manifesto da Ocupação, publicado na internet. Além disso, eles também exigem que os processos administrativos movidos contra docentes e discentes da USP, devido a ocupações anteriores, sejam suspensos.
A principal reivindicação do grupo, coordenado por três correntes de extrema-esquerda – a Liga Estratégica Revolucionária – Quarta Internacional, o Movimento Negação da Negação e o Partido da Causa Operária (PCO) –, é a suspensão do convênio entre a PM e a universidade, firmado após a morte do estudante Felipe Ramos de Paiva, baleado no estacionamento da Faculdade de Economia e Administração (FEA) em maio passado. O episódio chamou a atenção da sociedade para a falta de segurança no campus e levou a reitoria da USP a pedir reforço no policiamento. Segundo dados da Secretaria de Segurança Pública de São Paulo, a iniciativa conseguiu reduzir significativamente a incidência de diversas modalidades de crimes na universidade (leia quadro). Esse argumento, no entanto, é desconsiderado pelos garotos mascarados. “O real objetivo da Polícia Militar na USP não é o de inibir crimes, mas sim de combater manifestações políticas e cercear o direito de expressão livre de estudantes e trabalhadores”, dizem os estudantes no Manifesto da Ocupação, publicado na internet. Além disso, eles também exigem que os processos administrativos movidos contra docentes e discentes da USP, devido a ocupações anteriores, sejam suspensos.
A FAVOR
Manifestação de alunos que desejam a permanência da polícia para reprimir a violência
Para o sociólogo Renato Cancian, autor do livo “Movimento Estudantil e Repressão Política”, a militância político-partidária, intensificada a partir dos anos 1970, acabou por enfraquecer o movimento estudantil, já que houve um completo distanciamento das demandas educacionais. “Os militantes partidários defendem uma agenda eminentemente política, enquanto os apartidários pregam a completa dissociação do movimento estudantil de questões políticas mais amplas”, diz Cancian. “E, na verdade, as duas agendas podem coexistir, desde que tenham equilíbrio.” O especialista ainda defende a ideia de que a solução para a questão da violência no campus da USP deve incluir outras medidas além da presença da PM. “A USP deveria investir em mais iluminação e no treinamento da guarda universitária.” O orçamento em 2011 da USP é de R$ 3,6 bilhões, dinheiro que vem de impostos cobrados em São Paulo. Desse total, 85% vai para o pagamento de salários de professores e funcionários.
Colaborou Flávio Costa
Fonte: Istoé
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