Ser uma criança ou adolescente internacionalmente famosa pode ter um
lado bastante cruel e perverso. Prova disso é a quantidade de
celebridades que, conforme chegam à fase adulta, têm de encarar
problemas sérios e bem típicos de quem cresceu cercado de demandas
hollywoodianas. A seguir, apresentamos 15 casos conhecidos desse mal:
Soldados posam para a foto em uma trincheira. Da coleção de fotos encontradas porChris A. Hughes
O fotógrafo canadense Chris A. Hughes comprou uma câmera
estereoscópica francesa Richard Verascope de 1914 e encontrou uma bela
surpresa: havia em seu estojo dois pacotes de slides com fotos que, ele
descobriu depois, foram tiradas por um soldado francês durante a
Primeira Guerra Mundial.
Soldados no que parece ser um funeral. Da coleção de fotos encontradas porChris A. Hughes
Soldados tentam ajudar companheiro ferido. Da coleção de fotos encontradas porChris A. Hughes
E o legal é que os slides traziam uns rabiscos com datas e o local onde foram tiradas, além de outras informações.
Esse tipo de câmera cria duas imagens da mesma cena para que, quando
vistas por meio de um visualizador adequado, deem a sensação de que a
foto é tridimensional – assim como as que estão neste post, graças ao
trabalho de edição de Hughes.
Agora, ele está empenhado em encontrar mais câmeras antigas com filmes dentro. Dá para ver os seus achados em seu site, neste link.
No começo deste ano, outro fotógrafo, Anton Orlov, também encontrou
fotos da Primeira Guerra Mundial dentro de uma câmera estereoscópica
francesa Jumelle Bellieni que comprou em um antiquário. Eram oito
fotografias, tiradas em algum lugar da França. As outras fotos estão em
seu blog, aqui.
Casa em um rio após bombardeio. Da coleção de fotos encontradas por Anton Orlov
A medida recomenda que fique proibido o
direcionamento à criança de anúncios impressos, comerciais televisivos,
spots de rádio, banners e sites, embalagens, promoções, merchadisings,
ações em shows e apresentações e nos pontos de venda
O texto aprovado de forma unânime pelo Conselho Nacional dos Direitos
da Criança e do Adolescente (Conanda), composto por entidades da
sociedade civil e ministérios do governo federal, diz que “a prática do
direcionamento de publicidade e comunicação mercadológica à criança com a
intenção de persuadi-la para o consumo de qualquer produto ou serviço” é
abusiva e, portanto, ilegal segundo o Código de Defesa do Consumidor.
A medida recomenda que fique proibido o direcionamento à criança de
anúncios impressos, comerciais televisivos, spots de rádio, banners e
sites, embalagens, promoções, merchadisings, ações em shows e
apresentações e nos pontos de venda.
O texto versa também sobre a proibição de qualquer publicidade e
comunicação mercadológica no interior de creches e escolas de educação
infantil e fundamental, inclusive nos uniformes escolares e materiais
didáticos.
Para o Conanda, a publicidade infantil fere o que está previsto na
Constituição Federal, no Estatuto da Criança e do Adolescente e no
Código de Defesa do Consumidor.
O Instituto Alana integra o Conanda, na condição de suplente, e
contribuiu junto aos demais conselheiros na elaboração e aprovação desse
texto. “Foi uma conquista histórica para os direitos da criança no
Brasil. A publicidade infantil não tinha limites claros e específicos.
Agora, com o fim dessa prática antiética e abusiva, alcançamos um novo
paradigma para a proteção da criança brasileira”, afirma Pedro Affonso
Hartung, conselheiro do Conanda e advogado do Instituto Alana.
Não se enquadram na resolução as campanhas de utilidade pública que
não sejam parte de uma estratégia publicitária. O texto deve ser
publicado no Diário Oficial nos próximos dias.
Assista ao documentário Criança, a alma do negócio produzido pelo Instituto Alana em parceria com a produtora Maria Farinha, que reflete sobre estas questões:
A
situação da liberdade de expressão no Brasil "agravou-se dramaticamente
durante 2013 e nos primeiros meses de 2014". A denúncia abre o
relatório "Liberdade de Imprensa no Brasil - Outubro de 2013 a Março de
2014" apresentado ontem na Reunião de Meio de Ano da Sociedade
Interamericana de Imprensa, que se realiza em Bridgetown, capital de
Barbados, no Caribe.
O texto, um detalhado
levantamento de 14 páginas lido pelo jornalista Carlos Müller -
representava a Associação Nacional de Jornais (ANJ) - informa que nos
últimos seis meses foram registradas no País quatro mortes, 66
agressões, dois casos de censura judicial, seis ameaças, um atentado,
uma prisão e três casos de intimidação. "Os casos de assassinatos
impunes de jornalistas e outros profissionais continuam a ser o fato
mais grave" na imprensa do País, adverte o documento. O balanço
desconsidera outros sete casos fatais que, investigados, não apontaram
relação entre as mortes e o exercício do jornalismo.
A
situação do Brasil foi apresentada no final da tarde, depois de
relatórios dramáticos sobre Equador, Argentina e Venezuela. No total,
cerca de 30 levantamentos foram apresentados por delegados de todo o
continente. Hoje o programa inclui debates sobre concentração dos meios
de comunicação, proteção da informação na era do Google e uma homenagem
aos 20 anos da Declaração de Chapultepec.
O documento do
Brasil considera "motivo de alarme" a persistência dos casos de censura
judicial, "posto que praticada por magistrados". O texto afirma que é
"digno de nota que a censura aplicada ao jornal O Estado de S. Paulo, em
31 de julho de 2009, ainda não tenha sido objeto de decisão final". No
entanto, avalia como positivo que as sentenças "sigam sendo revistas
pelas instâncias superiores do Judiciário".
Os protestos
de rua que tomaram as ruas de muitas cidades brasileira, no ano passado,
são detalhadamente descritos. Neles se registraram 66 casos de
"jornalistas profissionais vítimas de truculência policial e de
agressões pelos manifestantes. No episódio mais conhecido, um
cinegrafista da Band, Santiago Andrade, foi atingido por uma bomba no
dia 6 de fevereiro passado, no centro do Rio, e morreu dias depois no
hospital.
Além de Santiago, os outros três mortos
mencionados no relatório foram os jornalistas Geolino Xavier (Portal N3,
Bahia), Pedro Palma (Panorama Regional, Estado do Rio) e Rômulo
Laurentino de Souza (Aroeiras Online, Paraíba). O texto olha o futuro e
alerta que "é motivo de preocupação" que incidentes como o que vitimou
Santiago voltem a ocorrer durante a Copa do Mundo. No capítulo das
agressões, que descreve 66 episódios, um dos destaques foi a ação da PM
paulista, dia 22 de fevereiro passado, em manifestação contra a Copa, no
centro de São Paulo. Cenas de violência nas ruas terminaram, naquele
dia, com 19 jornalistas detidos.
O relatório informa, por
fim, que a ANJ reuniu-se com o ministro da Justiça, Eduardo Cardozo, e
pediu providências contra o cenário hostil ao exercício do jornalismo. O
ministro "reconheceu a gravidade da situação" e prometeu adotar medidas
como criar um protocolo de atuação para a polícia em sua atuação nas
manifestações de rua. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.
Iniciativa é da Secretaria-Geral da Presidência da República (SG-PR) é sociedade pode opinar até 17/04
Uma consulta pública
para saber o que a sociedade considera importante para o futuro da
internet no Brasil e no mundo está aberta aos brasileiros até o dia 17
de abril. A iniciativa da Secretaria-Geral da Presidência da República
(SG-PR) foi lançada na quinta-feira (20), durante a realização de um
bate-papo virtual (hangout) sobre o tema.
O secretário de Política de Informática do Ministério da Ciência,
Tecnologia e Inovação (MCTI), Virgilio Almeida, participou do encontro,
que ocorreu no Anexo do Palácio do Planalto e reuniu blogueiros,
jornalistas, especialistas em internet, músicos e representantes do
governo brasileiro.
As questões escolhidas durante a consulta pública farão parte de uma
carta proposta que será entregue aos coordenadores e participantes da
conferência NETmundial, que acontece em São Paulo, nos dias 23 e 24 de
abril.
Os autores das 15 propostas mais votadas poderão participar
diretamente da NETmundial e discutir suas sugestões com especialistas
internacionais. Para o diretor de Participação Social da SG-PR, Pedro
Pontual, é fundamental ouvir o que as pessoas esperam da governança da
internet.
“Nós sabemos que são interesses diversos que se expressam em uma
conferência como essa e, nesse sentido, é fundamental que tanto a
sociedade brasileira como a sociedade civil no plano internacional se
mobilizem para pautar os temas que serão iniciados com essa consulta”,
ressalta.
O resultado da consulta pública será divulgado durante a Arena
NETmundial, atividade aberta ao público que ocorrerá em paralelo a
conferência, no Centro Cultural São Paulo, entre 22 e 24 de abril.
Arena NETmundial
No espaço haverá mesas livres de debates entre representantes do
governo brasileiro e a sociedade civil, atividades culturais,
mobilização e comunicação digital. Toda a programação será transmitida
pela internet.
Para o secretário do MCTI, a internet deve ser vista como um espaço
público, assim como as ruas e as praças. “A evolução da internet se deve
à contribuição da sociedade, com o desenvolvimento, por exemplo, do
software livre e a colocação de conteúdos e desenvolvimento
tecnológico”, pondera Virgilio.
“É uma construção coletiva, que envolve governos, setor privado,
sociedade civil, organizações não governamentais [ONGs] e o setor
acadêmico, e todos esses setores devem estar representados nessa
conferência”.
Nesta entrevista inédita, concedida ao GLOBO há duas semanas, o historiador francês Jacques Le Goff, morto na terça-feira, repassa sua obra, que desmonta lugares comuns a respeito da Idade Média. Com dois livros recém-lançados no Brasil sobre os protagonistas e a economia da era medieval, ele sugere que as origens do capitalismo na Europa da época ajudam a entender a crise do mercado e da democracia no mundo atual
Por Guilherme Freitas
A Idade Média de Jacques Le Goff não é o período de trevas e decadência enraizado no senso comum ocidental. Com cinco dezenas de livros publicados sobre religião, economia, política, artes, lendas, costumes e outros aspectos das sociedades europeias da época, o historiador francês, que morreu na terça-feira, aos 90 anos, afirmou-se como um dos mais reconhecidos medievalistas de nosso tempo. Em mais de seis décadas de carreira, ele se esforçou para destacar os traços criativos e dinâmicos de uma era que, como sempre disse, tem mais ligações com o presente do que se costuma acreditar.
Popular no Brasil, onde parte significativa de sua obra já foi traduzida, Le Goff teve mais dois títulos lançados no país este ano: “Homens e mulheres da Idade Média” (Estação Liberdade, tradução de Licia Adan Bonatti) e “A Idade Média e o dinheiro” (Civilização Brasileira, tradução de Marco de Castro). Em meados de março, o historiador concedeu entrevista ao GLOBO, por e-mail, sobre estes livros, que sintetizam vertentes importantes de sua obra.
“Homens e mulheres da Idade Média” é um volume coletivo, coordenado por Le Goff para a editora francesa Flammarion, com textos de 43 autores sobre figuras de relevo daquele período. Papas, santos, reis e teólogos foram “os grandes personagens” do mundo medieval, escreve o historiador, mas o livro abre espaço também para artistas, que deixam de ser vistos como artesãos anônimos e passam a ser reconhecidos como “autores”, e para o imaginário da época, relacionando mitos pagãos e religiosos, como o rei Arthur, o mago Merlin e Satã.
Já em “A Idade Média e o dinheiro”, Le Goff dá sequência a uma linha de pesquisas que vem desde seu primeiro trabalho, “Mercadores e banqueiros na Idade Média” (1956). O novo livro mostra o surgimento do capitalismo nas cidades medievais, onde o mercado em expansão entrou em atrito com a condenação da usura pela Igreja. O historiador contrasta a busca crescente de Estados e indivíduos por lucro com ícones religiosos da época, como a imagem, recorrente em narrativas e pinturas, de um homem que chega ao Inferno com um saco de dinheiro.
Le Goff foi um dos herdeiros da escola dos “Annales”, que na primeira metade do século XX revolucionou a historiografia deslocando seu foco para as ideias e os processos sociais. Nos anos 1970, foi um dos líderes do movimento conhecido como “Nova História”, que lançava mão de análises abrangentes para traçar a “história das mentalidades”. Em clássicos como “A civilização do Ocidente medieval” (1964) e “Para uma outra Idade Média” (1977), Le Goff buscou iluminar as particularidades daquele período, mas também ressaltar como as transformações ocorridas naquele tempo reverberam até hoje:
— A História é uma sequência de continuidades e mutações. E, raramente, de rupturas — disse Le Goff ao GLOBO.Em “Homens e mulheres da Idade Média”, o senhor afirma que aquele foi um período “criativo e dinâmico”, ao contrário da visão “obscurantista” dominante. Por que ainda temos uma visão negativa da Idade Média? E quais são os elementos mais “criativos” e “dinâmicos” dela?
A visão negativa da Idade Média se manifesta com intensidade a partir do século XIV, quando o poeta italiano Petrarca cria a expressão “Idade das Trevas” [que retratava a Idade Média como uma fase decadente da Europa, entre os períodos “luminosos” do Império Romano e do Renascimento]. Os lugares comuns sobre a Idade Média prosseguiram do Renascimento ao racionalismo do século XIX, apesar da reabilitação iniciada pelo Romantismo, com autores como Walter Scott, Victor Hugo, Augustin Thierry... E esses lugares comuns chegaram até nossos dias. Em todos os setores da sociedade repete-se como se fosse óbvio: “Não estamos mais na Idade Média”. No entanto, uma mudança de atitude dos pesquisadores em relação a essa época foi se consolidando ao longo do século XIX, a partir do esforço de instituições científicas como a École des Chartes e a coleção de estudos medievais “Monumenta Germaniae Historica”. Com a renovação do método e do espírito histórico em torno da revista “Annales”, fundada em 1929 por Marc Bloch e Lucien Febvre, o estudo da Idade Média passou por uma revisão. O progresso da economia rural e da economia monetária, a ascensão das cidades, o brilho da criação artística do estilo românico ao gótico nas catedrais, palácios e praças, tudo isso atesta o espírito criativo e dinâmico de uma longa Idade Média. O senhor defende que o Renascimento dos séculos XV e XVI não representou o fim da Idade Média, como se costuma pensar, mas sim o “terceiro” e mais importante Renascimento da Idade Média. Por quê?
Acredito que o Renascimento inventado no século XIX por Michelet [historiador francês que cunhou a expressão em sua “História da França”, de 1855] não começa nos séculos XV e XVI. E que a “longa” Idade Média dura até meados do século XVIII. O primeiro Renascimento da Idade Média ocorreu nos séculos VIII e IX, com um pequeno núcleo de pensadores e cientistas agrupados em torno do imperador Carlos Magno. O segundo Renascimento, no século XII, é marcado pelo progresso agrícola, pelo desenvolvimento das cidades e pelo início das realezas nacionais. O Renascimento dos séculos XV e XVI é um período importante no campo das artes e na afirmação das nações, mas nos planos econômico e ideológico permanece essencialmente rural e marcado pelo cristianismo, ainda que no século XVI ele se divida em dois ramos: a Igreja Católica e a Reforma.
O senhor escreve que os grandes personagens da Idade Média são “santos, reis, Papas e teólogos”. Que condições permitem a ascensão dessas figuras históricas?
Os santos são uma novidade, uma criação do cristianismo; os reis são uma nova figura de chefe político; os Papas lideram a Igreja cristã; os teólogos substituem os filósofos da Antiguidade. Portanto, Deus como criador da Humanidade e do mundo é o principal mote do pensamento da época. A ascensão dessas categorias foi possibilitada, por um lado, pela cristianização da maior parte da Europa e, por outro, pela constituição de Estados que, ao longo da Idade Média, tornaram-se nações. Se pensamos nas obras que parecem dominar o pensamento cristão medieval, o que vem à mente são as sumas teológicas. E se há uma obra que se afirma como sua coroação, é a “Suma Teológica” de São Tomás de Aquino.
“Homens e mulheres da Idade Média” tem um capítulo sobre Francisco de Assis, que o senhor já havia estudado em outro livro. Na sua opinião, o que significa a decisão do cardeal Jorge Mario Bergoglio de adotar como Papa o nome de Francisco? Como o senhor avalia o papado de Bergoglio?
Acredito que, ao escolher o nome Francisco, o cardeal Bergoglio quis retirar da Santa Sé a imagem de riqueza e poder que ela havia adquirido. O caráter único deste nome na lista de Papas nos faz pensar sobre semelhanças entre a situação de crise no mundo atual, principalmente na Europa, e certos traços do avanço da pobreza na Idade Média, no tempo de Francisco de Assis. O gesto de escolher o nome Francisco é, ao mesmo tempo, o resgate de uma tradição de humildade da Igreja e uma concepção original do pontificado.
Há mais homens que mulheres no livro, uma diferença que o senhor justifica dizendo que isso é também “uma representação do lugar que elas ocupavam”. Que lugar era esse?
Embora a mulher não tenha sido tão depreciada na sociedade cristã medieval como costumamos acreditar, é fato que a Idade Média cristã é uma era masculina. A mulher é vista como um ser degradado pela memória do pecado de Eva, e nem a devoção por Virgem Maria é suficiente para mudar isso. A impossibilidade institucional e espiritual de as mulheres exercerem o sacerdócio as rebaixa a uma categoria inferior à dos homens.
Também há poucos artistas no livro (Dante, Giotto e Bocaccio, por exemplo). Mas há toda uma seção dedicada a personagens imaginários, como mitos de origem histórica (Rei Arthur), figuras religiosas (Satã) e lendas populares (o mago Merlin). O senhor explica que é durante a Idade Média que emergem as noções de “autor” e “artista”. Como? E quais são os traços mais fortes do imaginário das sociedades medievais?
A onomástica no mundo dos artistas durante a Idade Média é um assunto delicado. Por muito tempo, o artista é anônimo ou é considerado apenas um artesão. É a partir da difusão da noção de “beleza”, a partir do século XIII, como bem mostrou Umberto Eco [em “História da beleza”, de 2004], que o personagem do artista adquire em certas cidades italianas prestígio social e profissional. O primeiro a se beneficiar disso foi o pintor Giotto (1266-1337), em Florença. O imaginário de qualquer sociedade humana, em qualquer época, reflete a experiência, o pensamento e o sentimento de seus integrantes. Na Idade Média, acrescenta-se a isso um mundo de maravilhas que recupera parte do que chamamos de “cultura popular”, da qual o cristianismo medieval se beneficiou muito. Ao prestígio do homem como criatura à imagem e semelhança do Deus cristão, juntou-se o prestígio dessa dimensão maravilhosa do humano.
O senhor descreve a universidade como “um novo poder” na sociedade medieval. Quem eram seus personagens mais representativos?
Foram os próprios homens e mulheres da Idade Média que concederam à universidade um status de poder equivalente ao do sacerdócio e da realeza. O intelectual da Idade Média se retira do studium monástico da Alta Idade Média para ser formado ou pelas universidades ou pelas novas ordens mendicantes urbanas, sobretudo os franciscanos, ou “frades menores”, e os dominicanos, ou “pregadores”. O nome desta última ordem sublinha o fato de que na Idade Média a oralidade tinha um papel essencial no mundo intelectual, no qual sermões eram tão importantes quanto exercícios universitários.
O senhor define a cidade como “uma grande criação da Idade Média”. Qual é a herança mais importante da cidade medieval para a cidade contemporânea?
A cidade medieval é um centro de produção econômica, principalmente de artesanato. Além disso, é o centro da emergência de uma classe social que surge disposta a governar a si mesma, a burguesia. Mas, com sua tendência de alastramento da pobreza e do crime, é também centro de miséria e delinquência. É ainda um centro festivo, espaço de sociabilidade manifestada na praça pública. A ideia da cidade como grande centro se reforçou até nossos dias.
Em “A Idade Média e o dinheiro”, o senhor observa que a forma como pensamos no dinheiro hoje é “produto da modernidade”. Mas afirma que foi na Idade Média que a busca de indivíduos e Estados por dinheiro começou a ser legitimada. Como o dinheiro era visto na Idade Média?
O dinheiro começou a adquirir na Idade Média um valor e um uso econômico, insuflados pelas cidades, mas também era visto como incitação ao pecado da usura. A cidade medieval estava dividida entre a prosperidade e a condenação do dinheiro. O desejo de não reprimir o progresso econômico e a marcha dos indivíduos rumo à riqueza leva a Igreja e as instituições urbanas a distinguir entre o que há de legítimo na cobrança de juros pelos credores e o uso ilegítimo que fazem dele os usurários. No que diz respeito à poupança e ao uso do dinheiro, a Idade Média evoluiu da itinerância das feiras à estabilidade dos bancos. Esse processo pode ser visto como uma “sedentarização” da vida econômica, simultânea ao desenvolvimento comercial.
O senhor escreve que até o século XII as sociedades medievais eram divididas entre “poderosos” e “fracos”. Depois disso, surge a distinção entre “ricos” e “pobres”. Quais são as consequências dessa mudança?
No início da Idade Média, as distinções são sobretudo institucionais, como aquelas entre senhor e servo. O fato de possuir terras ou não era o critério essencial. Depois, com o desenvolvimento do comércio e a ascensão das cidades, surge a discriminação pelo dinheiro. O pobre substitui o servo. Essa mudança conduz a uma sociedade dominada pelo capitalismo.
“A Idade Média e o dinheiro” retoma o tema de seu primeiro livro, “Mercadores e banqueiros na Idade Média” (1956). Nele, o senhor analisava a “revolução comercial” promovida por essas duas categorias naquele período. Como a análise das origens do capitalismo na Idade Média pode ajudar a compreender a fase atual do capitalismo?
A História é uma sequência de continuidades e mutações — e, raramente, de rupturas. Uma das diferenças essenciais entre a sociedade medieval e a nossa é a industrialização, que alargou muito a base do funcionamento econômico e social, enquanto na Idade Média essa atividade era essencialmente rural, militar e religiosa. A sociedade de classes analisada por Marx no século XIX é muito diferente da sociedade de três estados da Idade Média, composta pelos que pregam, os que lutam e os que trabalham (oratores, bellatores, laboratores). Uma longa mutação conduziu à Revolução Francesa, que inspirou mutações no resto do mundo. A situação social das cidades medievais unia poder político e poder econômico. Hoje, democracia e capitalismo são, acima de tudo, antagonistas.
A vida dos astronautas é desafiadora. Quando estão no espaço, dedicam
seu tempo a pesquisas científicas, e na Terra, contribuem para o
treinamento de jovens que embarcarão nas viagens espaciais do futuro.
No entanto, os astronautas são expostos a problemas de saúde
decorrentes da ausência de gravidade, como a perda de massa muscular e
óssea, e alterações no senso de equilíbrio.
Para evitar esses e outros efeitos, pesquisadores do Kings College de
Londres, em conjunto com o Instituto de Tecnologia de Massachusetts e a
Agência Espacial Europeia , criaram um traje espacial chamado Skinsuit,
que pode combater a perda de massa muscular e óssea durante longas
exposições à microgravidade.
Feito de um material leve e maleável, o Skinsuit gera uma tensão
gradual desde os ombros até os pés por meio de fios horizontais,
semelhantes a um cinto.
O traje simula o ganho de um grama de peso, imitando a atração
gravitacional da Terra e o impulso correspondente gerado no corpo
humano.
No espaço, os astronautas chegam a crescer até sete centímetros
porque a gravidade não exerce pressão sobre a coluna vertebral, o que
pode acarretar dores nas costas. Mais tarde, quando retornam à Terra,
são mais propensos a desenvolver hérnias de disco e precisam fazer
exercícios específicos para voltar à antiga forma.
“Na Terra, estamos constantemente resistindo à gravidade; mesmo
quando estamos sentados ou caminhando, exercitamos os músculos e os
ossos. No espaço, a gravidade não exerce pressão e eles não estão
sujeitos às forças naturais de que precisam para continuar saudáveis”,
explica Phil Carvill, do Centro de Ciências Aeroespaciais e Fisiologia
Humana do King´s College.
Por enquanto, o protótipo está em fase de testes na Agência Espacial
Europeia, mas será usado pela primeira vez pelo astronauta Andreas
Morgensen em uma missão em 2015, quando sua funcionalidade será
avaliada.
Alguns estudos também sugerem que o traje pode ser útil também na
Terra, contribuindo para aliviar problemas na parte inferior da coluna.
Aeroporto de Recife: destaque entre os brasileiros ao disponibilizar lugares para sentar
São Paulo – Mais uma pesquisa global aponta, em números, o que os brasileiros já sabem muito bem na prática: os aeroportos brasileiros estão entre os piores do mundo quando o assunto é infraestrutura e eficiência de serviço.
Entre os 14 aeroportos brasileiros mais movimentados, que fizeram parte
do levantamento realizado pela Proteste Associação de Consumidores,
apenas o de Recife foi classificado como “bom”, de acordo com a avaliação dos próprios passageiros.
A pesquisa envolveu mais de 150 aeroportos de todo o mundo, sendo
consideradas as respostas de 9 mil questionários enviados a pessoas de
seis países: Brasil, Bélgica, Portugal, Espanha, França e Itália.
Entre os brasileiros, também foram avaliados os aeroportos de Porto Alegre, Natal, Viracopos, Florianópolis, Curitiba, Salvador, Congonhas, Galeão, Fortaleza, Confins, Santos Dumont, Guarulhos e Brasília.
Todos tiveram notas gerais consideradas medianas ou ruins.
Foram avaliados oito quesitos: acesso ao aeroporto via transporte
coletivo, placas de orientação, as telas que exibem os voos, banheiros,
lugares para sentar, segurança, tempo de espera até o embarque e o
embarque propriamente dito.
Recife teve boas avaliações nos quesitos “lugares para sentar” e “telas
de partida e chegada”. Recentemente, também foi considerado o sétimo
melhor aeroporto da América do Sul, segundo o World Airport Awards 2014, da Skytrax.
Considerando ainda apenas os aeroportos da América do Sul, foi o mais
bem posicionado entre os brasileiros, além de liderar na qualidade dos
funcionários.
Entretanto, não há tantas razões para comemorar. Na pesquisa da
Proteste, o aeroporto foi considerado ruim e péssimo nos itens “acesso
via transporte coletivo” e “segurança”, critérios de grande importância
para quem vai viajar.
As nota final de Recife, 74, é também distante dos grandes aeroportos
do mundo, como o de Changi, em Singapura, que venceu com 88 pontos.
O representante brasileiro com pior colocação foi o aeroporto de Brasília, conquistando a nada honrosa quarta pior posição mundial no ranking.
Confira na tabela a seguir as notas dos aeroportos brasileiros em alguns quesitos considerados no ranking global.