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domingo, 14 de agosto de 2016

Corte no Ciência sem Fronteiras também afeta pós-docs

Veja agora 7 opções de intercâmbio que unem estudo e trabalho no Canadá
Por Raphael Martins

São Paulo – Depois de tesourar novas bolsas de estudo para graduandos, o corte de verbas para o programa de incentivo ao estudo internacional Ciência Sem Fronteiras (CsF) prejudica também a pesquisa de estudantes de pós-doutorado no exterior.
Essa parcela representa 5% de todas as bolsas concedidas desde 2011 e são destinadas a pesquisadores que desenvolvem trabalhos no mais alto grau acadêmico do CsF.
Com a restrição orçamentária, as solicitações de parte desses acadêmicos para renovação de suas bolsas têm sido negadas pelo Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), mesmo com recomendação de orientadores para que mantenham os trabalhos de pesquisa nas respectivas universidades.
Em resposta ao recadastramento, o CNPq responde que não tem prorrogado nenhuma bolsa de pós-doutorado ou doutorado sanduíche, apenas a categoria GDE, de doutorado pleno.
"Não há recursos para pagar nenhuma prorrogação de outra modalidade. Não se trata de mérito ou demérito das propostas, é apenas uma questão orçamentária mesmo", diz o CNPq em resposta a pesquisadores via e-mail. "Solicitação de reconsideração pela plataforma não é possível. A única forma é por e-mail mesmo e nenhuma tem sido aprovada também."
Segundo o órgão, subordinado ao Ministério da Ciência, Tecnologia, Inovações e Comunicações, as bolsas passam por uma análise a cada doze meses até o total de 48 meses. A avaliação positiva do orientador no exterior, além de relatórios de produtividade, deveriam servir de garantia para a renovação da bolsa.
Acontece que o orçamento do ministério foi reduzido em 19,7% no último ano e isso congelou as bolsas. Sem elas, os pesquisadores precisarão voltar ao Brasil e interromper pesquisas de alta complexidade que vêm desenvolvendo. 
O enxugamento contraria, portanto, o discurso do governo federal de que o programa de internacionalização priorizará de agora em diante a pós-graduação.
Consultado, até o fechamento da reportagem o CNPq não comentou a situação.
Em junho, o jornal Folha de S. Paulo retratou situação semelhante com relação à Capes, órgão que toca o CsF pelo Ministério da Educação. Na ocasião, estudantes de doutorado pleno enfrentavam por motivos muito semelhantes problemas para renovar a concessão de suas bolsas, deixando-os sem dinheiro ou em situação ilegal no país em que estudam.

Cientistas devem voltar ao Brasil

Através da internet, pesquisadores tentam se mobilizar para manter o financiamento, seja através de uma petição on-line ou pela organização de pressão pelas redes sociais. Em um grupo no Facebook, pós-doutorandos compartilham experiências semelhantes de problemas com a renovação de bolsas e como proceder com os cortes.
Um dos que não têm destino definido é o engenheiro de materiais Maviael Silva. A renovação da bolsa, antes prevista para dois anos, foi rejeitada pelo CNPq.
Silva faz seu pós-doutorado na Politécnica de Gdansky, na Polônia, onde há um laboratório de ponta em caracterização de materiais cerâmicos em altas temperaturas. Seu trabalho é focado na aplicação de vitro-cerâmicos em selantes para células a combustível, buscando mecanismos de corrosão desses materiais a altas temperaturas e caracterizando o comportamento da condutividade em função da temperatura. 
"Imagina que materiais refratários usados na indústria de cerâmicos, por exemplo, poderiam se beneficiar desse meu trabalho, além de publicações em revistas especializadas", diz Silva. "Você faz adaptação ao país de destino, ao uso dos equipamentos e, quando está prestes a encontrar resultados, tem que abortar tudo e voltar."
A farmacêutica Alessandra Fedoce enfrenta situação parecida nos Estados Unidos. Ela estuda o papel do estresse oxidativo na indução de doenças psiquiátricas, como ansiedade e o estresse pós-traumatismo.
Sua pesquisa está sendo realizada na Universidade do Sul da Califórnia (USC) — com Kelvin Davies, pesquisador referência mundial na área — e poderia desvendar como o organismo se adapta ao estresse oxidativo e como isso muda ao passar do anos. 
"A hipótese da perda de adaptação é a mais atual para explicar as doenças neurodegenerativas, como Alzheimer. Como a gente sabe, a população brasileira está envelhecendo rápido e estudos nessa área são de expressa importância", diz. "Meu relatório foi classificado como excelente! Nem uma carta de recomendação do Kelvin Davies elogiando meu trabalho me deu a chance de investir nesses resultados". 
Pelo cronograma, a pesquisadora terá que voltar ao Brasil no mês que vem, deixando o trabalho pela metade.
Nesta semana, EXAME.com mostrou o tamanho do corte no Ciência sem Fronteiras, que extinguia as bolsas destinadas a estudantes de graduação. Pois a tesoura chegou também aos pesquisadores do mais alto grau acadêmico entre os beneficiários.
Veja números abaixo.

Fonte: Site da Exame.com

segunda-feira, 18 de maio de 2015

Os limites da meritocracia na educação (por Helio Gurovitz)

Por Helio Gurovitz

Nesta semana será lançado aqui no Brasil Quando a máscara cai, livro em que o escritor americano Walter Kirn – conhecido como roteirista do filme Amor sem escalas, com George Clooney e Vera Farmiga – narra sua insólita amizade de mais de dez anos com um homem que se identificava como Clark Rockefeller e, depois, revelou-se um falsário, farsante e assassino. É uma história espetacular, cujos ingredientes de suspense e mistério têm tudo para fazer dela um sucesso. A questão suscitada pelo caso de Rockefeller é: como alguém pôde enganar tantos por tanto tempo? A melhor resposta foi dada por Kirn, mas num livro anterior, ainda sem tradução no Brasil: Lost in the meritocracy (Perdido na meritocracia). Nele, Kirn narra sua própria trajetória de enganador. Conta como desenvolveu um talento incomum para responder exatamente aquilo que seus professores queriam ouvir e tornou-se um especialista em todo tipo de prova, teste de aptidão e entrevista – sem reunir conhecimentos sólidos sobre coisa alguma. Seu sucesso sem nenhum mérito, como ele mesmo reconhece, revela não apenas os limites do competitivo sistema americano de ensino. Mostra também o equívoco de basear a educação exclusivamente na classificação dos estudantes por meio de notas, grifes, insígnias ou degraus cada vez mais altos e inacessíveis – que conduzem a lugar algum.
 
LIVRO DA SEMANA Lost in the meritocracy  (sem tradução) Walter Kirn  Doubleday 2009 211 páginas US$ 25 (Foto: Divulgação)
Kirn se descreve como um “filho natural da meritocracia”. Meritocracia é aquele sistema que avalia alunos, professores e escolas em provas, depois premia quem se sai melhor. Procura conferir, por meio de métricas e números, mais objetividade aos critérios de avaliação. Em princípio, nada mais justo. O efeito colateral é, nas palavras de Kirn, valorizar quem, como ele, demonstra “aptidão para mostrar aptidão”. “Eu vivia para prêmios, placas, citações, estrelas e nem pensava em algum objetivo, além da minha aparição nas listas de honrarias”, escreve. “Aprender era secundário, ser promovido era primário.” Desde os 5 anos, Kirn foi a mascote dos professores. Concursos de ortografia, debates simulados, sinônimos e antônimos, o tempo de encontro de caminhões trafegando em direções opostas – todo tipo de desafio era visto como mais um passo na escalada que o conduziu de uma fazenda no interior do Minnesota à renomada Universidade Princeton. Lá, passou a dominar o uso de um vocabulário cifrado, de significado obscuro, e desenvolveu uma competência inigualável para a embromação acadêmica. Descobriu então, na marra, que o mundo era mais complexo. O primeiro choque foi social. Suas origens humildes o depreciavam naquele ambiente de patrícios. Ele se atirou a um universo de drogas, vandalismo, sexo e pretensões artísticas duvidosas, que o levou ao colapso nervoso e à afasia. Kirn só se recuperou após um verão de trabalho ameno na biblioteca. No final de seu curso em Princeton, sofreu a primeira derrota na infindável escala meritocrática: foi preterido na concorrida bolsa de estudos Rhodes, para cursar pós-graduação em Oxford, Inglaterra. Mesmo assim, acabou por lá graças a uma outra bolsa, menos conhecida. Só então Kirn diz que começou a estudar por prazer, não pela ambição de reconhecimento. Seu maior aprendizado em Princeton, aquilo que faz dele um excelente escritor, veio de fora das classes. “Não é o que aprendemos na aula que determina o que nos tornamos, são nossas experiências.”
Seu livro nos coloca diante de uma reflexão fundamental em matéria de educação. A palavra “meritocracia” tem sido adotada como mantra por todos aqueles que defendem a reforma no sistema de ensino brasileiro, sobretudo por fundações e institutos mantidos pelo capital privado. Não é que eles estejam errados. É preciso mesmo vencer a resistência corporativa dos sindicatos de professores, encastelados em seus privilégios e avessos a qualquer sistema de avaliação de suas competências. Mas de nada adianta idolatrar os modelos coreano, chileno e finlandês, ou alimentar uma casta de doutores que dominam conhecimentos esdrúxulos em inglês, alemão, chinês – se nosso problema real é ensinar português e matemática às crianças brasileiras da periferia. Apenas a meritocracia não dará conta de transpor o fosso social ou de romper nossa singularidade cultural, que resiste a aceitar o valor do conhecimento – ou alguém aí viu algum vídeo de algum ex-presidente no Facebook sobre os últimos livros que leu ou os últimos desafios de matemática que resolveu? Para um aluno aprender, o mais importante são os exemplos, atitudes, valores. Os sistemas meritocráticos não se preocupam com isso. Inspirados em técnicas de avaliação empresarial, eles só atuam sobre aquilo que é possível para medir; transformam o talento numa espécie de moeda, acumulada aos milhões e bilhões. Só que, em educação, é verdade que dá para medir muita coisa – menos o que importa.
Fonte: Revista Época Online - Sessão colunas e blogs

sexta-feira, 2 de janeiro de 2015

Jogo faz aluno experimentar o mundo do trabalho

Marina Morena Costa
Ao atuar em parceria com o Instituto de Formação Industrial (ITI), uma ONG indiana focada em estudo e aprendizagem percebeu que os jovens desistem ou mudam de emprego com muita frequência. Uma das razões é a falta de contato adequado com as possibilidades do mundo do trabalho quando estão prestes a ingressar nessa nova etapa. Pensando em como resolver este problema, a Quest Alliance criou o game de estratégia Career Quest para professores trabalharem em sala de aula com estudantes acima de 16 anos. No jogo de tabuleiro, os alunos assumem o papel de gerentes de fábricas concorrentes. Vence quem tiver a maior pontuação em “produção”.
Career Quest: objetivo do jogo não é ajudar alunos a escolher suas carreiras, e sim fazer com que eles recebam uma melhor compreensão do mundo do trabalho
Career Quest: objetivo do jogo não é ajudar alunos a escolher suas carreiras, e sim fazer com que eles recebam uma melhor compreensão do mundo do trabalho
Para conquistar esses pontos, os alunos devem gerenciar de maneira eficiente o ciclo de produção de sua fábrica, com o objetivo de maximizar a produção. Entre as tarefas dadas, os estudantes têm que contratar empregados, treinar profissionais não-qualificados, tomar decisões estratégicas no momento certo e gerir recursos de forma inteligente. Tudo isso ao mesmo tempo em que constroem e montam produtos.
“O objetivo do jogo não é ajudar alunos a escolher suas carreiras, e sim fazer com que eles recebam uma melhor compreensão do mundo do trabalho. Os alunos têm compartilhado que o jogo tem sido bem-sucedido em capturar sua atenção para temas ‘duros’”, conta Nikita Bengani, gerente de programas da Quest Alliance em entrevista por email ao Porvir.
O tabuleiro é inspirado no layout de uma fábrica. Na medida em que avançam, os jogadores recebem cartões com diferentes perfis de trabalhadores, esboços e partes dos produtos, e recursos para a construção. Vários eventos acontecem na fábrica ao longo do jogo, que dificultam ou ajudam o trabalho do gestor.
As ilustrações e exemplos utilizados fazem parte do contexto de fábricas que produzem máquinas pesadas de terraplanagem, como guindastes, tratores e escavadeiras. As habilidades trabalhadas, no entanto, são relevantes para qualquer fábrica que trabalhe com produção e montagem de produtos. “O jogo cria uma experiência de imersão na qual os alunos entendem as habilidades profissionais e sociais do mundo do trabalho”, resume Nikita.
De acordo com os criadores, o game proporciona aos alunos uma noção de como funciona uma fábrica e os papéis de diferentes profissionais na produção; incorpora situações cotidianas que os empregados encontram e como isso os afeta; e demonstra sutilmente a importância do aperfeiçoamento profissional contínuo que é necessário para crescer profissionalmente.
Atualmente, a QUEST Alliance trabalha na elaboração de um vídeo que dará aos professores uma visão geral dos objetivos de aprendizagem do jogo, e será um tutorial de como docentes e alunos devem jogá-lo. Apesar de ter sido elaborado para estudantes do ensino médio, Nikita conta que pessoas de diversas idades têm se entusiasmado com o game.
A Quality Education and Skills Training (QUEST) Alliance é uma instituição sem fins lucrativos, fundada em 2005 como parte de um programa da International Youth Foundation (IYF), apoiado financeiramente pela Agência dos Estados Unidos para o Desenvolvimento Internacional (USAID). Seu objetivo principal é auxiliar educadores e instituições de ensino a utilizar a tecnologia no ensino e aprendizagem. A sigla em inglês significa “Educação de Qualidade e Treinamento de Habilidades” (em tradução literal).
Fonte: Jornal do Brasil Online

sexta-feira, 12 de dezembro de 2014

DESAFIOS DA EDUCAÇÃO NO SÉCULO XXI (por Rogério Rocha)

Neste vídeo exponho os principais desafios e exigências postas aos mestres, estudantes e aprendizes no século em que estamos. 

A partir do contexto evidenciado, e com base em conceitos como o de sociedade em rede, conectivismo e transferência de conhecimento, elenco algumas das condições necessárias ao bom desenvolvimento da relação ensino-aprendizagem, bem como as características que deve ter o aprendiz do século XXI diante das novas ferramentas utilizadas na educação. Assistam! Comentem! Curtam!


sexta-feira, 21 de novembro de 2014

O professor é o fator que mais influencia na educação das crianças

A família, a vizinhança e o esforço pessoal contam no resultado de cada aluno. Mas pesquisa após pesquisa mostra que um fator importa muito mais que os outros: o professor

CAMILA GUIMARÃES (ÉPOCA Online)


As irmãs americanas Beatriz e Elizabeth Vergara, de 15 e 16 anos, passam por uma experiência inusitada para adolescentes que frequentam o ensino médio público. Com mais sete alunos, elas processam o Estado da Califórnia, onde moram e estudam, por oferecer uma educação ruim. O processo correu entre janeiro e junho. Mais surpreendente foi o argumento usado: segundo os advogados das meninas, o Estado da Califórnia fere a Constituição dos Estados Unidos, ao manter a estabilidade de emprego e outras leis de proteção ao professor, porque isso dificulta a demissão de educadores ruins. A decisão do juiz Rolf True não tem precedentes. Ele concordou que a estabilidade de emprego mantém os maus professores em sala de aula. Na sentença, afirmou: ‘‘Os maus professores são determinantes para a educação das crianças. Além de chocar nossa consciência, isso viola o direito constitucional dos estudantes de ter oportunidade de uma educação básica de qualidade”. A causa das irmãs Vergara foi levada à Justiça pela ONG Students Matter (Estudantes Importam), de David Welch, um empresário do setor de fibras ópticas e ex-estudante de escola pública.
Um mau começo  (Foto: época)
Apesar de a decisão ser de primeira instância e de não criar jurisprudência, True fez barulho, na Califórnia e nos EUA. Precisa fazer barulho também no Brasil. Acabamos de passar por campanhas eleitorais, para presidente e governadores, fraquíssimas em propostas de mudanças na educação. Por aqui, o debate se concentra quase exclusivamente em quanto investir. Pouco se discute como investir de forma a melhorar o nível do professor.
Os EUA passam por profundas reformas na educação, regionais e nacionais, há décadas. Uma das maiores lutas dos reformistas é pela qualidade dos educadores. Isso passa pela avaliação do trabalho do professor. É preciso dar a ele oportunidade para melhorar e, se for o caso, dispensá-lo – medidas controversas, que contrariam leis antigas, o senso comum e os poderosos sindicatos de professores. A interpretação da lei feita pelo juiz True abalou as amarras dessas velhas regras. Desde junho, pelo menos mais três processos semelhantes ao das irmãs Vergara foram abertos em outros Estados americanos.
Um professor ruim ensina metade ou menos do que o aluno precisa aprender no ano
Reduzir a estabilidade de emprego dos professores é apenas uma das várias estratégias adotadas por países como EUA, Finlândia, Polônia e Chile. Todos já fizeram ou conduzem reformas educacionais, para chegar a um objetivo: melhorar a qualidade do professor e, dessa forma, melhorar o aprendizado do aluno.

Pode parecer óbvia, mas a ligação entre a qualidade do professor e o que se aprende em sala de aula só foi estudada e comprovada nos últimos anos. As pesquisas mais recentes mostram que não há fator mais importante para o sucesso do aluno na escola e na vida adulta. É mais decisivo que o tamanho das redes de ensino, em que região do mundo estão, as diferenças socioeconômicas entre os estudantes, os gastos com a educação de cada país, se a escola tem ou não computador, se a família ajuda na lição de casa. Por isso, para elevar o nível da educação, deve-se colocar o professor sob o microscópio. “Ninguém precisa reinventar a roda para melhorar a educação brasileira. Se a escola é o lugar onde alunos ganham conhecimento, então o professor é chave para um aprendizado de sucesso”, afirma João Batista de Oliveira, doutor em pesquisa educacional e autor do livro Repensando a educação brasileira.
>> A importância da participação dos pais na educação escolar

As pesquisas se preocuparam em medir a influência do professor entre crianças com o mesmo nível socioeconômico, na mesma escola e até na mesma série. Pesquisadores da Faculdade de Educação da Universidade Stanford descobriram que, enquanto o estudante com professor fraco aprende metade ou menos do que deveria no ano, aquele que tem bons professores aprende o equivalente a um ano a mais, e o que tem professores considerados excelentes, um ano e meio a mais. A mais recente pesquisa sobre o assunto, da Universidade Harvard, analisou duas décadas de desempenho de alunos e professores.  Chegou à conclusão de que os alunos de classes com  melhores professores ganham, ao longo da vida adulta, US$ 250 mil a mais.

Como construir um bom professor  (Foto: Época)
Para além da academia, a vida real também mostra os efeitos positivos do bom professor. “O professor é o segredo das reformas bem-sucedidas de potências educacionais, como Finlândia, Polônia e Coreia”, afirma Amanda Ripley, autora do livro As crianças mais inteligentes do mundo. Ela viajou e acompanhou estudantes em cada um desses países para compreender o que fizeram. “São diferentes países, com diferentes culturas e tamanhos, com poucas coisas em comum. Uma delas é levar mais a sério a preparação dos professores para a sala de aula”, afirma.
Como tornar os professores melhores? Por onde começar? Há um consenso entre estudiosos e educadores: um bom começo é mudar a forma como recrutamos e formamos os futuros educadores. No Brasil, alunos do grupo dos melhores e mais brilhantes no ensino médio dificilmente seguem para o curso de pedagogia. A maioria dos jovens que prestam vestibular para esse curso está entre os 20% piores resultados do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem). “Os melhores seguirão carreiras mais atraentes, como medicina e engenharia”, afirma Barbara Bruns, economista que chefia os estudos de educação do Banco Mundial para a América Latina. Em novembro, será publicado no Brasil um livro com os resultados de uma ampla pesquisa liderada por ela, sobre a qualidade dos professores da região. Ela afirma que, na Universidade de São Paulo (USP), onde os ingressantes estão entre os melhores alunos do Brasil, pedagogia é o único curso que aceita candidatos com pontuação inferior à metade da prova do vestibular. Cerca de 90% dos professores do Brasil se formam em faculdades de baixa qualidade.

Todos os países que investiram para tornar a carreira mais atraente também tinham estratégias para melhorar a qualidade de quem já estava no sistema. No caso do Brasil, são 2 milhões de professores da educação básica. Um caminho comum é fazer uma avaliação periódica do professor, descobrir suas falhas e ajudá-lo a melhorar. A avaliação de professores, com a redução da estabilidade de emprego, enfrenta resistências, especialmente se o propósito for premiar os melhores. Os defensores da meritocracia afirmam que tratar professores bons e ruins da mesma forma espanta os jovens talentosos e desprestigia a carreira. Quem é contra menciona programas de bonificação sem efeito nenhum no resultado do aprendizado, como em alguns Estados americanos. “Sou contra avaliar professor para premiar os melhores”, diz Maria Izabel de Noronha, presidente do Sindicato dos Professores do Estado de São Paulo, o maior da América Latina. “Para valorizar a carreira docente e avançar na qualidade do ensino, é preciso pagar salários maiores e melhorar as condições de trabalho do professor.”
As discordâncias são muitas, mas é possível chegar a um acordo. Isso ocorreu no Chile, país latino-americano mais bem colocado nas avaliações internacionais de educação. Em 2003, os chilenos adotaram a avaliação de professores. Seus critérios foram elaborados em conjunto pelo Ministério da Educação, pelo sindicato dos professores, pelos administradores municipais e por técnicos da área. Ficou definido ali como o professor deve organizar uma aula e como deve elaborar uma prova para avaliar o aprendizado. A prova para os professores se tornou obrigatória. Eles são avaliados por pares e suas aulas são filmadas por observadores externos. “Avaliamos se ele tem domínio do conteúdo e da turma, como ele interage com os alunos, como organiza a aula”, diz Sergio Martinic, pesquisador da Universidade Católica do Chile. Se, após cinco avaliações, o professor ainda tiver desempenho insuficiente, é demitido. Ao mesmo tempo, os cursos de pedagogia chilenos modernizaram o currículo. Orientam-se mais para práticas em sala de aula que para disciplinas teóricas. O governo passou a financiar os estudos dos candidatos que tirarem mais de 60% da nota do vestibular.

Mexer na formação e na carreira dos professores envolve tomar medidas impopulares e esperar resultados no longo prazo. Mas não é impossível. A Finlândia começou fechando todas as faculdades de pedagogia. A Coreia leva a meritocracia a extremos e paga salários milionários aos professores-astro. É preciso ir além das políticas de inclusão na escola e estabelecer um debate sobre qualidade de ensino e dos professores. Falta só começar.

Fonte: ÉPOCA ONLINE

domingo, 5 de maio de 2013

Escolas se livram de estereótipos para formar sociedade menos machista



Getty Images
Menino segura boneca em Phnom Penh, Camboja (foto ilustrativa/ 24/02/2003)
No salão de cabeleireiro de mentirinha, João Pontes, de 4 anos, penteia a professora, usa o secador no cabelo de uma coleguinha e maquia a outra, concentradíssimo na função. Menos de cinco minutos depois, João está do outro lado da sala, em um round de luta com o colega Artur Bomfim, de 5 anos, que há pouco brincava de casinha.
Nos cantos da brincadeira do Colégio Equipe, na zona oeste de São Paulo, não há brinquedo de menino ou de menina. Todos os alunos da educação infantil - com idade entre 3 e 5 anos - transitam da boneca ao carrinho sem nenhuma cerimônia.
"O objetivo é deixar todas as opções à disposição e não estimular nenhum tipo de escolha sexista. Acreditamos que, ao não fazer essa distinção de gênero, ajudamos a derrubar essa dicotomia entre o que é tarefa de mulher e o que é atividade de homem", explica a coordenadora pedagógica de Educação Infantil do Equipe, Luciana Gamero.
Trata-se de um "jogo simbólico", atividade curricular da educação infantil adotado por um grupo de escolas que acredita que ali é o espaço apropriado para quebrar alguns paradigmas. A livre forma de brincar visa a promover uma infância sem os estereótipos de gênero - masculino e feminino -, um dos desafios para construir uma sociedade menos machista.
"Temos uma civilização ainda muito firmada na questão do gênero e isso se manifesta de forma sutil. Quando uma mulher está grávida, se ela não sabe o sexo da criança, compra tudo amarelinho ou verde", afirma Claudia Cristina Siqueira Silva, diretora pedagógica do Colégio Sidarta. "Nesse contexto, a tendência é de que a criança, desde pequena, reproduza a visão de que menino não usa cor de rosa e menina não gosta de azul."
Por isso, no colégio em que dirige, na Granja Viana, o foco são as chamadas brincadeiras não estruturadas, em que objetos se transformam em qualquer coisa, a depender da criatividade da criança. Um toco de madeira, por exemplo, pode ser uma boneca, um cavalo ou um carrinho. "Quanto menos referência ao literal o brinquedo tiver, menos espaço haverá para o reforço social", diz Claudia.
A reprodução dos estereótipos acontece até nas famílias que se enxergam mais liberais. Ela conta que recentemente, em uma brincadeira sobre hábitos indígenas, um menino passou batom nos lábios. Quando a mãe chegou para buscá-lo, falou de pronto: "Não quero nem ver quando seu pai vir isso."
"Podia ser o fim da experimentação sem preconceitos, que não tem qualquer relação com orientação sexual. Os adultos, ao não entender, tolhem essa liberdade de brincar por uma 'precaução' sem fundamento", afirma Claudia.
Visão de gênero
Se durante a primeira infância esses estímulos são introjetados sem que a criança se dê conta, ao crescer um pouquinho - a partir dos 5 anos -, elas já expressam conscientemente a visão estereotipada que têm de gênero.
No Colégio Santa Maria, no momento de jogar futebol, os meninos tentavam brincar apenas entre eles, não permitindo que as meninas participassem. Foi a hora de intervir. "Explicamos que não deveria ser assim e começamos a propor, por exemplo, que os meninos fossem os cozinheiros de uma das brincadeiras", diz Cássia Aparecida José Oliveira, orientadora da pré-escola da instituição.
Na oficina de pintura, todos foram convidados a usar só lápis cor de rosa - convite recusado por alguns. "Muitos falam 'eu não vou brincar disso porque meu pai diz que não é coisa de menino'. Nesses casos, a gente conversa com a família. Entre os convocados, os pais de meninos são a maioria. Um menino gostar de balé é sempre pior do que uma menina querer jogar futebol. E, se não combatemos isso, criamos uma sociedade machista e homofóbica."
O embate é árduo e é preciso perseverança. Mesmo no Colégio Equipe, aquele em que as crianças se alternam entre o cabeleireiro e o escritório, alguns comentários demonstram que a simulação da casinha é um primeiro passo na construção de um mundo menos machista. O pequeno Artur, de 5 anos, se anima ao participar da brincadeira. Mas, em um dado momento do faz de conta, olha bem para a coleguinha e avisa: "Eu sou o marido. Vou sair para trabalhar. Você fica em casa."

quinta-feira, 14 de fevereiro de 2013

A Biblioteca Roubada


"A Carta Roubada" é um dos contos mais célebres de Edgar Allan Poe. Nele, o escritor norte-americano conta a história de um ministro que resolve chantagear a rainha roubando a carta que lhe fora endereçada por um amante.

Desesperada, a rainha encarrega sua polícia secreta de encontrar a carta, que provavelmente deveria estar na casa do ministro. Uma astuta análise, com os mais modernos métodos, é feita sem sucesso. Reconhecendo sua incompetência, o chefe de polícia apela a Auguste Dupin, um detetive que tem a única ideia sensata do conto: procurar a carta no lugar mais óbvio possível, a saber, em um porta-cartas em cima da lareira.

A leitura do conto de Edgar Allan Poe deveria ser obrigatória para os responsáveis pela educação pública. Muitas vezes, eles parecem se deleitar em procurar as mais finas explicações, contratar os mais astutos consultores internacionais com seus métodos pretensamente inovadores, sendo que os problemas a combater são primários e óbvios para qualquer um que queira, de fato, enxergá-los.

Por exemplo, há semanas descobrimos, graças ao Censo Escolar de 2011, que 72,5% das escolas públicas brasileiras simplesmente não têm bibliotecas. Isto equivale a 113.269 escolas. Um descaso que não mudou com o tempo, já que, das 7.284 escolas construídas a partir de 2008, apenas 19,4% têm algo parecido com uma biblioteca.

Mesmo São Paulo, o Estado mais rico da Federação, conseguiu ter 85% de suas escolas públicas nessa situação. Ou seja, um número pior do que a média nacional.

Diante de resultados dessa magnitude, não é difícil entender a matriz dos graves problemas educacionais que atravessamos. Difícil é entender por que demoramos tanto para ter uma imagem dessa realidade.

Ninguém precisa de mais um discurso óbvio sobre a importância da leitura e do contato efetivo com livros para a boa formação educacional. Ou melhor, ninguém a não ser os administradores da educação pública, em todas as suas esferas. Pois não faz sentido algum discutir o fracasso educacional brasileiro se questões elementares são negligenciadas a tal ponto.

Em política educacional, talvez vamos acabar por descobrir que "menos é mais". Quanto menos "revoluções na educação" e quanto mais capacidade de realmente priorizar a resolução de problemas elementares (bibliotecas, valorização da carreira dos professores etc.), melhor para todos.

A não ser para os consultores contratados a peso de ouro para vender o mais novo método educacional portador de grandes promessas.
Vladimir Safatle
Vladimir Safatle é professor livre-docente do Departamento de filosofia da USP (Universidade de São Paulo). Escreve às terças na Página A2 da versão impressa.

Fonte: http://www1.folha.uol.com.br/colunas/vladimirsafatle/1226003-a-biblioteca-roubada.shtml

domingo, 20 de janeiro de 2013

A tecnologia pode reinventar a educação?


Em passagem pelo Brasil, Salman Khan, da fundador da Khan Academy conta como a tecnologia pode mudar completamente a forma com que crianças (e adultos) aprendem

por Luciana Galastri

Editora Globo
Crédito: Divulgação Khan Academy
 Em 2004, Salman Khan, engenheiro estadunidense, percebeu que sua prima de 12 anos, Nádia, estava com dificuldades em matemática. Ele se ofereceu para ajudá-la a estudar, mas, como moravam em cidades distantes, as aulas eram feitas através do telefone e de material que Khan enviava à garota pela internet. O resto da família do engenheiro ficou sabendo e, logo, Khan se viu dando aulas para todos os seus priminhos e priminhas. Ficou difícil conciliar o tempo entre eles e enviar material para todos. A solução veio por meio de um amigo da família que sugeriu o que, na época, era uma novidade: "Você já ouviu falar do YouTube"?
Nascia, aí, a Khan Academy, uma organização sem fins lucrativos, que hoje é um sistema inovador de ensino, testado internacionalmente. E, nesta quinta-feira, dia 17 de janeiro, o seu fundador esteve em São Paulo para explicar os conceitos desse novo método que começa a ser aplicado em escolas brasileiras.
Através do YouTube, Khan explicava conceitos de álgebra para seus primos e, ao mesmo tempo, desenvolveu um software livre, que produzia exercícios para que eles treinassem o que aprendiam. As aulas logo começaram a ficar famosas pela rede, por terem uma linguagem acessível. Khan conta que percebeu o potencial educativo que aquele poderia ter e, quando o seu canal no YouTube começou a ficar mais famoso, largou seu emprego como investidor para se dedicar exclusivamente ao programa.
"Foi muito arriscado. Eu não tinha investimento nenhum, minha estrutura tecnológica era uma câmera, um computador e um software que todos conhecem como Microsfot Paint", mas perseverou, investindo todas as suas economias no projeto. E, em meados de 2008, Khan ficou sabendo que os filhos de Bill Gates usavam suas aulas online.
"Logo o pessoal da Microsoft erntrou em contato comigo, perguntando 'do que eu precisava' para levar o projeto adiante. E o Google também. Hoje, graças ao investimento de empresas interessadas, temos uma equipe de 40 pessoas na sede principal, além de várias organizações internacionais, que traduzem o nosso material e o aplicam em seus países", conta o engenheiro, citando o caso da Fundação Lemann que, no Brasil, promove a Khan Academy em escolas públicas de São Paulo.
Atualmente, a Khan Academy tem 3800 aulas, softwares de exercícios e programas que analisam os dados individuais de cada aluno, mostrando o progresso deles em diferentes áreas do conhecimento.
Veja uma das aulas traduzidas: 

Mas qual é a vantagem deste método de ensino? 

De acordo com Khan, a forma com que as crianças passam pela escola hoje é sofrida. "Elas ficam sentadas, ouvindo monólogos, sem poderem se mexer por 60 minutos seguidos. E, depois, precisam aplicar aquilo em exercícios distantes de sua realidade", comenta. A Khan Academy tira a responsabilidade do professor fazer longas explicações e confia no poder da tecnologia para fazer o contato inicial entre o estudante e a matéria.

Através dos vídeos, o aluno pode assistir as aulas em seu próprio ritmo, retomar explicações que não tenha entendido, sem ser obrigado a se demorar em tópicos que já tenha compreendido ou fingir ter compreendido algo que não entendeu, se expondo diante da turma ou, pior, não resolvendo suas dúvidas.
A aula e o contato com o professor seriam dedicados a um tempo definido por Khan como mais precioso. "É onde ocorre a troca de conhecimentos, a resolução de exercícios. O professor aproveita esse tempo para identificar dificuldades individuais de seus alunos e eles também podem conversar e aprender um com o outro", explica.
O conceito mais importante da a Khan Academy é considerar que cada um tem um ritmo diferente de aprendizado. E, no sistema atual de ensino, dificuldades básicas acabam não sendo resolvidas e sendo soterradas por outras matérias. Isso faz com que o aluno não perceba a totalidade de seus conhecimentos e que acabe 'fingindo aprender' quando apenas decora conceitos, sem compreendê-los.
"O aluno que não sabe matemática básica não aprende geometria, ele não consegue. Ele acaba fingindo aprender, decorando fórmulas mecânicas que dão a ele o resultado esperado, ele passa por média na prova. Mas na hora de resolver um problema mais complexo, ele não consegue". Para Khan, a culpa é do sistema de avaliação. "Achamos passável uma nota 7 de 10, por exemplo. Afinal, o aluno está acima da média. Mas e se, ao construirmos um edifício, o primeiro andar estiver só 70% bom? Com os alunos é a mesma coisa, ao chegarmos a um nível mais alto, corremos a chance de um desabamento", explica.
Quando o aluno aprende as coisas ao seu tempo, tem chance de revisão e atenção mais individual do professor, há menos chance de que esse desabamento futuro ocorra. Os estudantes ficam mais interessados e os professores mais motivados. 

E os professores?

Khan afirma que não há a menor intenção de substituir professores por vídeos ou por softwares. "O sistema Khan permite que eles possam identificar dificuldades individuais do aluno e ajudá-los, também, de forma individual", explica. De acordo com o educador, hoje o professor precisa assumir um papel de policial em sala de aula, o que é desgastante e contra-produtivo, exigindo a atenção do aluno o tempo todo.

Com o método Khan, os educadores não precisam cobrar a atenção seguida dos alunos por longas explicações, obrigando-os ao silêncio, mas sim fazer com que eles tenham uma interação maior entre eles e com o próprio professor. O professor deve desafiá-los, estimular sua criatividade e oferecer ajuda individual.
"E o aluno também passa a ver professores com outros olhos. Eles pensam 'poxa, essa pessoa quer me ajudar' e não 'essa pessoa quer me obrigar a fazer algo que eu não quero'", conclui o engenheiro. E isso se reflete no rendimento dos alunos: segundo pesquisas feitas nos EUA, as notas de estudantes que usam esse método são significativamente maiores. 

A Khan Academy no Brasil 

Através da Fundação Lemann, mais de 400 vídeos da Khan Academy foram traduzidos para o português, nas disciplinas de matemática, biologia, química e física. No YouTube, essas aulas arrecadaram mais de 1,9 milhão de visualizações. O método também está sendo aplicado com mais de 1200 alunos de 10 escolas públicas de São Paulo - neste ano, o número ainda deve crescer: serão incluidos mais alunos, totalizando um número de 6 mil, e mais 600 vídeos serão traduzidos.

Quer saber mais? Acesse o site da Khan Academy e confira as vídeo-aulas do programa. Outra dica é acessar osite da Fundação Lemann, para ver o material disponível em português.
Veja, também, a palestra de Salman Khan feita em São Paulo (em inglês):

Fonte: Revista Galileu Online

sábado, 16 de julho de 2011

Direito: multiplicação de cursos compromete formação de bacharéis


Brasil concentra mais cursos de direito que o todo o resto do mundo junto. Atualmente, são 1.200 cursos credenciados, segundo a Ordem dos Advogados

Nathalia Goulart
Bacharéis em direito prestam exame da OAB em São Paulo
Bacharéis em direito prestam exame da OAB em São Paulo (Roberto Assunção/Folhapress)
“Ou freamos a expansão do ensino ou no próximo ano teremos um índice ainda maior de reprovação no exame da Ordem”, Maurício Gieseler, advogado
No mais recente exame da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB), nove em cada dez bacharéis em direito foram reprovados e não podem, portanto, advogar até que sejam aprovados em provas futuras. O resultado ascende a luz amarela em instituições de ensino superior de todos os cantos do país: 90 das 610 faculdades inscritas no exame não aprovaram nem um aluno sequer. Para especialistas, esse é um sinal claro de que o ensino jurídico enfrenta uma crise crônica, causada, em grande medida, pela expansão desenfreada dos cursos de graduação. 
Há quase uma década, havia pouco mais de 200 cursos de direito no Brasil. Em 2005, esse número saltou para 800. De acordo com a OAB, hoje já são 1.200 cursos cadastrados - a esmagadora maioria deles, particular. Um estudo realizado pelo magistrado Jefferson Kravchychy, do Conselho Nacional da Justiça (CNJ), dá a dimensão dessa oferta: o Brasil tem mais faculdades de direito que todo o resto do mundo junto. As faculdades de todos os países do mundo somam 1.100 cursos.



“Os números mostram como é fácil conseguir autorização de funcionamento hoje”, diz o diretor da Faculdade de Direito da Universidade de São Paulo (USP), Antônio Magalhães Gomes Filho. “A fiscalização rigorosa seria um importante passo para melhorar a qualidade dos nossos bacharéis. A maioria dos cursos está preocupada em oferecer título, não formação profissional. Se isso não mudar, a situação não melhora." Ophir Cavalcanti, presidente da OAB, reforça: “Se o governo não criar mecanismos mais rígidos de aprovação e fiscalização, esse estelionato educacional seguirá se repetindo.” 
Numa tentativa de controlar esse caos, o MEC anunciou no início de junho o fechamento de 11.000 vagas de direito em todo o Brasil, afetando 136 cursos. Menos de dez dias depois, fechou mais 281 cadeiras, de seis cursos. Para o advogado Maurício Gieseler as medidas são insuficientes. “A medida é cautelar. Caso as universidades provem que estão em conformidade com as exigências do governo, essas vagas serão reabertas. Além disso, logo após o suspensão das vagas, o MEC autorizou a abertura de 4.200 vagas em 33 novos cursos”, argumenta. “Ou freamos a expansão do ensino ou no próximo ano teremos um índice ainda maior de reprovação no exame da Ordem.”
Excelência - De acordo com a OAB, as vinte melhores instituições de ensino superior públicas aprovam, em média, entre 70% e 90% dos candidatos inscritos no exame da Ordem, enquanto nas vinte piores públicas e nas vinte melhores privadas, a aprovação média é de 40% a 60%. Já as vinte piores instituições particulares têm apenas entre 3% e 5% de seus alunos classificados.
A fórmula de sucesso das melhores instituições quando o assunto é ensino jurídico começa com o vestibular. “Nossos estudantes enfrentaram um processo seletivo competente e rigoroso. Esse é o primeiro passo para a excelência”, diz Gomes Filho, da USP, quarto curso que mais aprovou no último exame da Ordem e um dos mais conceituados e tradicionais do Brasil. “Se a qualidade do aluno selecionado é baixa, ou ele não acompanha o curso ou, pior, a universidade se adapta a um baixo padrão de qualidade.” Maurício Gieseler concorda. “Devido a uma oferta muito grande de cursos, as universidades privadas facilitam o ingresso dos candidatos. O resultado é que elas acabam se adequando ao baixo nível dos alunos. Essa é a lógica do mercado educacional”, afirma Gieseler.
Outra importante medida que garante a excelência de universidades como a USP é a qualidade do corpo docente. Na instituição, todos os professores são, no mínimo, doutores. Além disso, enfrentam, ao longo da carreira, pelos menos três concursos públicos. “O corpo docente é outro grande problema da expansão do ensino. Não existe número suficiente de profissionais capacitados para dar aulas em universidades”, diz Gomes Filho. Sérgio Porto, diretor da Faculdade de Direito da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), o curso mais bem avaliado pelo Enade, prova que mede a qualidade da formação dos estudantes brasileiros, resume: “Temos uma biblioteca equipada, professores avaliados periodicamente, alunos que enfrentam um vestibular rigoroso. Aqui, nada é improvisado. A excelência vem em primeiro lugar.”
Fonte: Veja/Educação

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