A história de amor entre a alemã Lea Ferno, de 31 anos, e o Brasil começou há sete anos. Estágios no Rio, em São Paulo e em Brasília mudaram o rumo de sua carreira e vida amorosa, além de lhe ensinarem a ter paciência.
Lea fazendo turismo na Chapada da Diamantina, em 2011
"Se eu não tivesse morado no Brasil, minha vida seria muito mais monótona. Foi lá que descobri o que eu queria fazer da vida. Eu estudava Estudos Latino-Americanos em Colônia e comecei a me interessar pelo Brasil e pelo português. Eu achava o idioma e sua melodia muito bonitos e pensei que tinha que ir para o país para aprendê-lo. Então, consegui dois estágios, um no Rio, por três meses nos estúdios da emissora alemã ZDF, e outro em São Paulo, também por três meses, na fundação alemã Friedrich Ebert.
Essa experiência em São Paulo, em 2010, me marcou para sempre. Eles trabalhavam com projetos sociais. Tinha uma ONG que fazia uma revista escrita por adolescentes e seminários com jovens do Brasil inteiro. Eles eram tão engajados, num país marcado pela pobreza e pela desigualdade. Eu me identifiquei, me deu vontade de ajudar.
Tanto que hoje, sete anos depois, trabalho com algo parecido aqui na Alemanha. Estou na organização Kindernothilfe e dou apoio a projetos sociais com crianças no Brasil. Em novembro, viajo para lá a trabalho. Fico muito feliz em fazer algo que para mim faz sentido e para um país com que me identifico.
Ao mesmo tempo em que quero ajudar, respeito muito o Brasil, não acho que sei mais que as pessoas de lá. Aliás, aprendi muito com os brasileiros. Sempre achei impressionante a paciência. Na fila ou no trânsito, por exemplo. Uma vez o ônibus errou o caminho, e ninguém ficou com raiva. Aprendi que muitas vezes a raiva só atrapalha e que é melhor deixar para lá. Em outros momentos, eu pensava: ‘Gente, agora é hora de reclamar.' É um país mais caótico, mas sempre se consegue escapar com o jeitinho brasileiro, a flexibilidade.
Eu queria aplicar mais isso. Agora que faz tempo que morei lá, já voltei a ser alemã em muitas coisas. Mas quando tenho que andar de trem e reclamo dos pequenos atrasos, penso nas pessoas que passam horas a caminho do trabalho no Brasil e, muitas vezes, fazem isso sem reclamar. E ainda tenho o jeitinho brasileiro todos os dias em casa: meu namorado, um baiano que conheci em Brasília.
Lea em sua primeira para no Brasil, o Rio de Janeiro, em 2010
Como alemã, gosto muito de planejar, e ele – e conheço mais brasileiros assim – não entende muito bem por que aqui a gente tem que marcar as coisas com antecedência. Por que não se pode simplesmente visitar um amigo espontaneamente, dizer: "Vou passar na sua casa.” Eu preciso desse planejamento, gosto dessa Vorfreude (expectativa), e talvez tenha sido justamente o que me fez organizar várias idas ao Brasil.
Desde os primeiros estágios, no Rio e em São Paulo, eu sempre quis voltar para o país. Fui algumas vezes de férias e consegui um estágio em Brasília em 2012, na Unaids. Entre os amigos que fiz lá, estava uma menina que trabalhava como empregada doméstica e estudava à noite. Fiquei impressionada com essa força de vontade dela. Acho que os brasileiros lidam muito bem com as dificuldades, enquanto aqui muitas vezes se reclama por bobagem.
Tenho contato com pessoas que conheci no Brasil até hoje. Encontrei muita gente simples e acolhedora na rua. As pessoas têm tanta energia. Aliás, tem muita energia em tudo. Também adoro a cultura, a música – MPB, samba, Seu Jorge, Vanessa da Mata – e a dança – forró, samba de gafieira. Conheci meu namorado num grupo de dança. E adoro um simples prato de arroz, feijão, salada e carne e as lanchonetes com sucos frescos.
O país tem tantas riquezas diferentes, com sua mistura cultural, sua natureza. O Brasil tem muitas cores fortes, o verde brilhante, muito sol. Eu gostava de pegar na mão a terra vermelha, que não temos aqui. E tem tantos lugares incríveis, como as praias de Ilhéus, os rios e ilhas do Pará. Uma vez escalei a Pedra da Gávea à noite para ver o nascer do sol. Foi lindo.
Pode até ser que se eu tivesse feito um estágio num projeto social na África, por exemplo, e não no Brasil, minha vida fosse diferente agora. Mas não sei, tem muitos países que acho interessantes, mas não como o Brasil. Talvez minha alma seja um pouco brasileira, sempre me senti em casa lá. Do que mais sinto falta são as pessoas, a alegria, a espontaneidade, o calor. Apesar de todos os problemas do país, acho que dá para ter uma vida muito boa no Brasil. Quem sabe ainda vou morar lá algum dia."
Na série Como o Brasil mudou minha vida, a DW conta a história de alemães que viveram no país.
Reportagem publicada no site da DW Brasil: http://www.dw.com/pt-br/aprendi-muito-com-os-brasileiros/a-40587051
Para o jornalista Xico Sá, que escreve na edição brasileira do El País, a palavra do ano no Brasil foi "treta", que no dicionário é associada a rolo, desentendimento, mentira, complô, chicana, cilada, emboscada, conspiração, sujeira, malandragem, trama, marmelada, empulhação, velhacaria, etc.
Realmente, foi muita treta para um ano só.
Portanto, só nos resta torcer para que 2018 nos traga menos tretas, que das tantas deste ano já estamos cheios.
Neste programa, veiculado originalmente na TV Brasil, discutem-se os impactos positivos e negativos da influência da cultura brasileira nos povos africanos de língua portuguesa.
Neste novo vídeo do canal, abordo sinteticamente o conceito de modernidade líquida de Zygmunt Bauman, explicando a razão da escolha deste termo para definir nossa época, ao invés do uso do também conhecido termo "pós-modernidade". Assistam, curtam, compartilhem e inscrevam-se!
Neste vídeo trago algumas explicações acerca do constitucionalismo,
analisando seu surgimento histórico e sua função junto aos Estados de
Direito, bem como o papel da democracia no estabelecimento da era dos
direitos no Ocidente. Assistam! Curtam! Compartilhem! E inscrevam-se no
canal!
O artigo ora apresentado tem por objetivo, por meio de uma
reflexão em bases filosóficas, abordar e problematizar a questão da
tolerância, a partir da visão exposta pelo pensamento de John Rawls e de
outros pensadores e jusfilósofos contemporâneos, sobretudo das
contribuições de Thomas Scanlon e Colin Bird, enfatizando sobretudo os
dilemas surgidos em torno do tema e seu caráter paradoxal, indagando-se
ainda pelos seus limites e até onde indivíduos e grupos sociais podem ou
devem tolerar atos de intolerância.
Norberto Bobbio (1909-2004) foi um dos maiores politógos do século XX. Dentre sua extensa obra, deixou uma importante contribuição à Ciência Política: seu livro Teoria Geral da Política: a filosofia política e as lições dos Clássicos. Este texto tentará abordar ligeiramente algumas considerações sobre o conceito de política na visão desse autor.
A palavra política deriva de politikós, do grego, e diz respeito àquilo que é da cidade, da pólis (na Grécia Antiga), da sociedade, ou seja, que é de interesse do homem enquanto cidadão. Já na Grécia Antiga, um dos primeiros a tratar da política como uma prática intrínseca aos homens foi Aristóteles, com seu livro A Política.
Ao longo do tempo, o termo política deixou de ter o sentido de adjetivo (aquilo que é da cidade, sociedade) e passou a ser um modo de “saber lidar” com as coisas da cidade, da sociedade. Assim, fazer política pode estar associado às ações de governo e de administração do Estado. Por outro lado, também diria respeito à forma como a sociedade civil se relaciona com o próprio Estado.
Mas para Norberto Bobbio, falar em política enquanto prática humana conduz, consequentemente, a se pensar no conceito de poder. O poder estaria ligado à ideia de posse dos meios para se obter vantagem (ou para fazer valer a vontade) de um homem sobre outros. Assim, o poder político diria respeito ao poder que um homem pode exercer sobre outros, a exemplo da relação entre governante e governados (povo, sociedade). Contudo, ao falar em poder político, é preciso pensar em sua legitimação. Podemos ter poderes políticos legitimados por vários motivos, como pela tradição (poder de pai, paternalista), despótico (autoritário, exercido por um rei, uma ditadura) ou aquele que é dado pelo consenso, sendo este último um modelo de governo esperado. O poder exercido pelo governante em uma democracia, por exemplo, dá-se pelo consenso do povo, da sociedade. No caso brasileiro, o poder da presidenta é garantido por que existe um consenso da sociedade que o autoriza e, além disso, há uma Constituição Federal que formaliza e dá garantias a esse consenso.
Conforme nos mostra Norberto Bobbio (2000), há uma tipologia moderna das formas de poder, como poder econômico, poder ideológico e poder político, sendo que este último seria aquele no qual se tem a exclusividade para o uso da força. Nas palavras de Bobbio (ibidem, p. 163), “o poder político, enfim, funda-se sobre a posse dos instrumentos através dos quais se exerce a força física (armas de todo tipo e grau): é o poder coativo no sentido mais estrito da palavra”. Contudo, Norberto Bobbio também aponta que não é apenas o uso da força, mas sim seu monopólio, sua exclusividade, que tem o consentimento da sociedade organizada. Em outras palavras, será uma exclusividade de poder que pode ser exercida sobre um determinado grupo social, em determinado território.
Outro aspecto importante para Bobbio sobre a política é que sua finalidade ou seu fim não pode se resumir apenas em um aspecto, pois “[...] os fins da política são tantos quantas forem as metas a que um grupo organizado se propõe, segundo os tempos e as circunstâncias” (ibidem, p. 167). Porém, um fim mínimo à política (enquanto poder de força) é a manutenção da ordem pública e a defesa da integridade nacional. Essa finalidade é mínima para a realização de todos os outros fins do poder político. Porém, é importante se atentar para o fato de que o poder político não pode ter como finalidade o poder pelo poder, pois se assim fosse perderia o sentido.
Norberto Bobbio, citando Carl Shmitt, também fala da ideia de política como relação amigo-inimigo, dizendo que “o campo de origem e de aplicação da política é o antagonismo, e sua função consistiria na atividade de agregar e defender os amigos e de desagregar e combater os inimigos” (ibidem, p. 170). No debate de ideias para se pensar a ordem social, essa oposição é fundamental, contudo, apenas esse nível de antagonismo pode ser tolerado pelo Estado, uma vez que a extrema divisão ou situação de conflito entre aqueles que compõem uma sociedade poderia levar ao caos.
No exercício de compreensão do conceito de política, deve-se considerar que na filosofia política moderna aquilo que é político não necessariamente coincide com o social, pois, ao longo da história, as outras esferas da vida foram se separando do Estado, a exemplo do poder religioso e do poder econômico. Na visão de Bobbio, a política restringe-se à esfera do Estado, instituição esta responsável pela ordem social. Para Bobbio, “enquanto a filosofia política clássica está alicerçada sobre o estudo da estrutura da pólis e das suas várias formas históricas ou ideais, a filosofia política pós-clássica caracteriza-se pela contínua tentativa de uma delimitação daquilo que é político (o reino de César) em relação àquilo que não é político (seja ele o reino de Deus ou o reino das riquezas), por uma contínua reflexão sobre aquilo que diferencia a esfera da política da esfera da não política, o Estado do não Estado...” (ibidem, p. 172).
O processo de emancipação da sociedade no sentido de seu “funcionamento” sem a presença do Estado poderia levar ao fim da política enquanto ação coercitiva para coesão social. Em outras palavras, se a sociedade conseguisse manter sua ordem sem o poder político (que usa da força), ela não precisaria mais do Estado.
Nesse mesmo livro, Bobbio também fala da relação entre política e moral, uma vez que ambas estão ligadas à ação (à práxis) humana. Porém, aquilo que fundamenta ou motiva, ou aquilo que é permitido ou proibido, nem sempre tem o mesmo sentido para a política e para a moral. Segundo Bobbio, pode haver “ações morais que são impolíticas (ou apolíticas) e ações políticas que são imorais (ou amorais)” (ibidem, p. 174), distinção esta que, aliás, já se fazia presente na obra de Nicolau Maquiavel. Dessa forma, seria preciso considerar que existem razões e ações do Estado que são justificadas quando por ele praticadas, mas jamais permitidas a um indivíduo. A política seria a razão do Estado, enquanto a moral seria a razão do indivíduo. Assim, seria preciso pensar na autonomia da ação política, a qual é motivada por razões que não são as mesmas da ação individual.
Em suma, dessa breve explanação sobre alguns aspectos da obra citada de Norberto Bobbio, pode-se inferir que, em linhas gerais, sua posição tenta compreender a política como “atividade ou conjunto de atividades que têm de algum modo, como termo de referência, a pólis, isto é, o Estado” (ibidem, p. 160).
Paulo Silvino Ribeiro Colaborador Brasil Escola Bacharel em Ciências Sociais pela UNICAMP - Universidade Estadual de Campinas Mestre em Sociologia pela UNESP - Universidade Estadual Paulista "Júlio de Mesquita Filho" Doutorando em Sociologia pela UNICAMP - Universidade Estadual de Campinas
Existem mais serial killers homens do que mulheres - ou as criminosas apenas não são descobertas?
Lais ModelliDe São Paulo para a BBC Brasil
24 novembro 2017
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O termo serial killer, ou assassino em série, foi formulado em 1979, depois que agentes do FBI, a polícia americana, passaram uma década entrevistando assassinos famosos dos Estados Unidos, como Richard Speck, que em 1966 invadiu o apartamento de oito universitárias, em Chicago, torturou, estuprou e matou sete delas. A única sobrevivente se escondeu embaixo da cama e conseguiu escapar do apartamento.
Ao analisarem as entrevistas, os agentes, que queriam traçar o perfil psicológico de criminosos sádicos, descobriram características comuns nos crimes de homicídios múltiplos, normalmente violentos, cruéis e, aparentemente, sem motivo.
"A expressão serial killer aparece para definir o criminoso que pratica, ao menos, três homicídios de modo sequenciado, os quais indicam condições assemelhadas de execução, como: excesso de brutalidade, impulsividade, frieza e sadismo", explica o professor de Criminologia do programa de pós-graduação em Ciências Criminais da PUC do Rio Grande do Sul, Ney Fayet Jr.
Porém, até aquele momento, somente homens criminosos haviam sido entrevistados.
Segundo a psicanalista Mercês Muribeca, coordenadora da especialização em Criminologia e Psicologia Investigativa Criminal no Centro Universitário de João Pessoa, até o final do século passado, as Ciências Criminais consideravam que somente homens se tornavam assassinos cruéis.
O argumento utilizado era de que mulheres não teriam força física para expor suas vítimas a violência extrema, como mutilação, esquartejamento, estupro e até canibalismo, frequente em crimes serializados. Uma avaliação de crimes rumorosos ao longo da história, no entanto, revelam atrocidades como as da Condessa Elizabeth Báthory de Ecsed, nobre húngara que no século XV que matou pelo menos 60 meninas para se banhar no sangue delas, ou de Ilse Koch, alemã casada com membro da SS retirava a pele de presos tatuados durante a 2ª Guerra Mundial para decorar abajures de sua casa.
"Existe um estereótipo de que a mulher, pela própria constituição física e pelo papel que lhe é atribuído na sociedade, de filha, esposa e mãe, está ligada à função de cuidadora, a comportamentos ternos, de pessoa doce", afirma a pesquisadora.
Além disso, por pertencerem a um grupo social vulnerável, mulheres costumam ser as principais vítimas de serial killers.
"Torna-se fácil pensar a mulher como vítima da violência e não como agressora. Isso, porém, não significa que não existam mulheres assassinas em série. Elas existem porque é da natureza humana o sadismo, a perversão, a psicopatia, o narcisismo. Isso não é uma exclusividade anatômica ou de sexo, raça, credo ou cultura", afirma Muribeca.
Para Fayet Jr., mulheres assassinas podem não estar sendo descobertas com a mesma frequência que os homens por causa dos padrões de gênero construídos pela sociedade.
"A criminalidade é tão antiga quanto a humanidade. Existem evidências que se trata de um fenômeno constante em todos os tempos e em todos os tipos e modelos de organizações sociais. Contudo, os registros históricos da criminologia são escassos sobre homicídios praticados por mulheres em comparação aos praticados por homens, reforçando a clara desproporção entre a criminalidade masculina e a feminina", conta o pesquisador.
Preconceitos e mitos, explica Muribeca, sempre rondaram casos de assassinatos brutais pela curiosidade que eles despertam, por um lado, e pela falta de informação que a sociedade recebe sobre o tema, por outro. Ao longo da história, crimes chocantes chegaram até mesmo a serem atribuídos a criaturas não-humanas.
"Devido ao fato da cena de crime ser aterradora e suas vítimas serem expostas a um requinte de crueldade, sadismo e brutalidade, acreditavam que os assassinos eram lobisomens, vampiros, monstros, homens besta, feras, etc.", conta a psicanalista.
Recentes pesquisas sobre o perfil psicológico de assassinas em série têm mostrado que elas não compartilham de várias características apresentadas em assassinos homens, como violência e impulsividade.
Essas descobertas baseadas na diferença de gênero do criminoso levantam uma nova questão para o problema: existem poucas assassinas sádicas ou elas apenas não estão sendo descobertas?
Psicopatia e crueldade feminina
A psicóloga Roberta Salvador-Silva, do Grupo de Pesquisa Neurociência Afetiva e Transgeracionalidade da PUC-RS, explica que um conjunto de fatores culturais, biológicos e históricos ajuda a entender por que existe - ou parece existir - muito mais homens que mulheres assassinos em série.
"Homens são mais agressivos por apresentarem níveis maiores de testosterona, que os predispõem a maior agressividade", explica. "Além disso, meninos e homens são incentivados pela sociedade a terem comportamentos violentos como modo de afirmação da masculinidade".
Em 2001, um estudo do Departamento de Psicologia Clínica da Universidade de Columbia, EUA, mostrou a relação entre assassinos em série e psicopatia: 86,5% dos criminosos entrevistados eram psicopatas e 9% exibiam alguns traços psicopáticos, mas não serem considerados portadores do distúrbio.
De acordo com a literatura psiquiátrica dos anos 2000, há mais psicopatas homens que mulheres: 4% das psicopatias ocorrem em homens e 1% em mulheres. Mas Salvador-Silva explica que a maioria dos estudos sobre psicopatia quase não aborda mulheres como amostras.
"Como as amostras dos estudos quase sempre são masculinas, se reforça um estereótipo de que não existem muitas mulheres psicopatas, o que não representa a realidade", afirma a pesquisadora. "Esse conjunto de fatores pode levar autoridades a negligenciar casos de psicopatas mulheres, fazendo, consequentemente, com que seus comportamentos e crimes passem despercebidos", conclui.
Para a psicanalista Julia Bárány, autora do livro O Mal Disfarçado de Bem: Manual de Sobrevivência para Vítimas de Psicopatas, a psicopatia é um fenômeno social. "Trata-se de um problema de saúde pública que atinge ambos os sexos, mas no Brasil ainda não se reconhece desse modo o problema".
Nem todo psicopata será um assassino ou um serial killer. "Mesmo assim, o psicopata, homem ou mulher, não tem nenhum impedimento moral para matar, independente de quem for a vítima: filho, parceiro, chefe ou um desconhecido", aponta Bárány.
Além de não ser um problema moral matar, o psicopata não aprende com punição e não sente arrependimento, podendo repetir o ato quantas vezes achar necessário. Daí os crimes em série serem mais frequentes entre psicopatas.
"Se ele decide não matar, não é porque teve pena do outro ou se arrependeu - psicopatas não possuem esses sentimentos - mas porque não querem encarar as possíveis consequências do crime", explica a psicanalista.
Sutis e perigosas
A psicóloga Cema Cardona Gomes, autora da pesquisa de mestrado Psicopatia e agressividade em mulheres apenadas, realizada pela Universidade do Vale do Rio dos Sinos em 2010, aponta que há semelhanças e diferenças importantes entre criminosos psicopatas homens e mulheres.
"A literatura mostra que há maior incidência do transtorno nos homens", explica Gomes. "Mas nem sempre o grau de intensidade do transtorno tem uma diferença significativa entre homens e mulheres".
De modo geral, insensibilidade, emoções superficiais e ausência de culpa são características comum a ambos os sexos.
Um estudo da Universidade Penn State Harrisburg, na Pensilvânia, publicado em 2015, analisou 64 assassinas em série dos Estados Unidos e concluiu que há diferenças entre homens e mulheres no que se refere a motivações do crime, características das vítimas e métodos de execução.
De acordo com a pesquisa, enquanto os homens costumam matar por sexo, as mulheres costumam matar por vingança, poder ou dinheiro. Quanto aos métodos, os homens são mais brutais e violentos com o corpo da vítima, se valendo de facadas, estrangulamento, mutilação e esquartejamento. Já as mulheres são mais sutis e se utilizam de métodos que simulem uma morte de causa natural.
"O emprego da brutalidade excessiva é menos frequente nos delitos cometidos por mulheres, que se valem, muitas vezes, do envenenamento ou da asfixia", explica Fayet Jr. "Aliás, esses métodos implicam mortes que podem ser avaliadas como resultantes de causas naturais, o que dificultaria, ainda mais, a sua descoberta".
Se a brutalidade é menor nos métodos de execução dessas assassinas, elas tendem a ser mais cruéis que os homens na escolha das vítimas. Normalmente são pessoas do seu círculo social, principalmente aquelas que necessitem de seus cuidados ou nos membros da própria família.
"Como um padrão, os homens tendem a atacar pessoas desconhecidas, aleatoriamente, ao passo que as mulheres encontram em pessoas próximas ou em parentes os seus alvos preferenciais", conta Fayet Jr.
Outro fato chocante sobre a psicopatia feminina apontou que algumas profissões ligadas ao cuidado do outro, como professora, babá, cuidadora e enfermeira, podem atrair mulheres psicopatas por verem nos vulneráveis suas vítimas perfeitas.
Este dado foi encontrado pela pesquisa da Universidade Penn State Harrisburg, que também concluiu ser mais difícil descobrir crimes hediondos cometidos por assassinas: elas geralmente levam oito anos para serem descobertas, enquanto que os homens levam, em média, quatro.
Relações familiares conturbadas
"O psicopata geralmente tem problemas de relacionamento com família e amigos. Ele também tem sempre uma história triste para contar sobre sua vida, em que ele sempre é o injustiçado", explica a psicanalista.
Difícil de ser notada na sociedade, uma assassina psicopata pode ser mais facilmente identificada em seu ambiente familiar, principalmente se tiver filhos ou pessoas próximas sob seus cuidados, explica Gomes.
"O pobre envolvimento afetivo dos psicopatas pode ocasionar vários prejuízos à mulher, como dificuldades de aprendizagem, dificuldades no casamento, relações violentas com homens e pobre experiência materna", descreve a psicóloga.
Salvador-Silva conta que recentes estudos feitos pelo Grupo de Pesquisa Neurociência Afetiva e Transgeracionalidade mostrou que a falta de empatia e a frieza emocional de mães psicopatas fazem com que essas mulheres tenham muita dificuldade em atender às necessidades de pessoas que demandam maior cuidado, sendo os filhos pequenos os principais prejudicados.
"Realizamos pesquisas com mulheres psicopatas que estavam presas e verificamos um prejuízo em reconhecer expressão facial de choro em fotos de bebês, nas quais as demais presidiárias não-psicopatas apresentavam extrema facilidade. Esse é um dado extremamente relevante porque o bebê comunica as suas necessidades básicas por meio do choro", relata Salvador-Silva.
Incapaz de cuidar de alguém por não perceber as necessidades do outro, o psicopata, porém, tem uma grande capacidade de encenar comportamentos sociais esperados e simular emoções que geram empatia. Mas, se por um lado essas mães são, por natureza, negligentes no cuidado com os filhos, por outro elas costumam enaltecer a maternidade, se apresentando para a sociedade como mães protetoras e amorosas.
"Frequentemente elas usam o discurso de que os filhos são as coisas mais importantes da vida delas. É muito comum dizerem frases do tipo: 'em meus filhos ninguém encosta um dedo!'. Essa fala está associada a uma questão narcisista e de posse dos filhos do que de proteção, no sentido de que ninguém pode afrontá-la fazendo mal ao que é seu", explica Salvador-Silva.
Bárány afirma que, por não experimentarem sentimentos, mães psicopatas não encontram dificuldade em abandonar os filhos ou matá-los quando não julgarem mais vantajosa a maternidade.
"O que importa para qualquer psicopata é o jogo, e isso se estende às mães psicopatas: enquanto os filhos servem para provocar, extorquir e manipular ou se vingar do progenitor, ela está presente na vida deles; quando ela descobre algo mais interessante, abandona ou mata como se fosse algo corriqueiro, porque não há conexão e envolvimento emocional dela com qualquer pessoa que seja", explica Bárány. "Essas mães podem expor o filho de propósito a situações que podem levá-lo à morte, como soltar da sua mão em uma via movimentada ou ser negligente com doenças ou até com a alimentação da criança".
Quando não mortos, filhos criados por psicopatas podem apresentar problemas por toda a vida.
"Essas vivências vão se dar, muitas vezes, repletas de maus-tratos, humilhações e uma série de abusos que podem levar ao enrijecimento do indivíduo", explica a psicóloga. "A criação pode favorecer a formação de futuros psicopatas e criminosos, pois crianças criadas por essas mulheres, que vão crescer em ambientes com pouca afetividade, têm maiores chances de ter desvios de conduta".
Prevenir
Na legislação brasileira, não existe um termo ou um crime específico para tratar do serial killer. Além disso, para Fayet Jr., o Judiciário enfrenta dificuldades em avaliar e lidar com criminosos psicopatas.
Como parte do problema, Bárány defende que é urgente que a psicopatia seja tratada como problema de saúde pública no Brasil.
"Recebo pedido de ajuda de vítimas de psicopatas todos os dias", conta. "É preciso que a saúde pública e o sistema judiciário - no caso de um processo de guarda de filhos, por exemplo - reconheçam esse perfil antes que os crimes aconteçam. Depois que matou uma primeira vez, não há volta porque o psicopata não aprende com a punição", defende a psicanalista, alertando que esses crimes podem ser previstos e prevenidos com mais informações sobre psicopatia e demais transtornos que estejam relacionados com assassinatos em série.
Police in the US state of Delaware are
poised to deploy "smart" cameras in cruisers to help authorities detect a
vehicle carrying a fugitive, missing child or straying senior.
The video feeds will be analyzed using artificial intelligence
to identify vehicles by license plate or other features and "give an
extra set of eyes" to officers on patrol, says David Hinojosa of Coban
Technologies, the company providing the equipment.
"We are helping officers keep their focus on their jobs," said Hinojosa, who touts the new technology as a "dashcam on steroids."
The program is part of a growing trend to use vision-based AI to
thwart crime and improve public safety, a trend which has stirred
concerns among privacy and civil liberties activists who fear the
technology could lead to secret "profiling" and misuse of data.
US-based startup Deep Science is using the same technology to help
retail stores detect in real time if an armed robbery is in progress, by
identifying guns or masked assailants.
Deep Science has pilot projects with US retailers, enabling automatic alerts in the case of robberies, fire or other threats.
The technology can monitor for threats more efficiently and at a
lower cost than human security guards, according to Deep Science
co-founder Sean Huver, a former engineer for DARPA, the Pentagon's
long-term research arm.
"A common problem is that security guards get bored," he said.
Until recently, most predictive analytics relied on inputting numbers
and other data to interpret trends. But advances in visual recognition
are now being used to detect firearms, specific vehicles or individuals
to help law enforcement and private security.
Recognize, interpret the environment
Saurabh Jain is product manager for the computer graphics group
Nvidia, which makes computer chips for such systems and which held a
recent conference in Washington with its technology partners.
He says the same computer vision technologies are used for
self-driving vehicles, drones and other autonomous systems, to recognize
and interpret the surrounding environment.
Nvidia has some 50 partners who use its supercomputing module called
Jetson or its Metropolis software for security and related applications,
according to Jain.
One of those partners, California-based Umbo Computer Vision, has
developed an AI-enhanced security monitoring system which can be used at
schools, hotels or other locations, analyzing video to detect
intrusions and threats in real-time, and sending alerts to a security
guard's computer or phone.
Israeli startup Briefcam meanwhile uses similar technology to interpret video surveillance footage.
"Video is unstructured, it's not searchable," explained Amit Gavish,
Briefcam's US general manager. Without artificial intelligence, he says,
''you had to go through hundreds of hours of video with fast forward
and rewind."
"We detect, track, extract and classify each object in the video. So it becomes a database."
This can enable investigators to quickly find targets from video
surveillance, a system already used by law enforcement in hundreds of
cities around the world, including Paris, Boston and Chicago, Gavish
said.
"It's not only saving time. In many cases they wouldn't be able to do
it because people who watch video become ineffective after 10 to 20
minutes," he said.
'Huge privacy issues'
Russia-based startup Vision Labs employs the Nvidia technology for
facial recognition systems that can be used to identify potential
shoplifters or problem customers in casinos or other locations.
Vadim Kilimnichenko, project manager at Vision Labs, said the company
works with law enforcement in Russia as well as commercial clients.
"We can deploy this anywhere through the cloud," he said.
Customers of Vision labs include banks seeking to prevent fraud,
which can use face recognition to determine if someone is using a false
identity, Kilimnichenko said.
For Marc Rotenberg, president of the Electronic Privacy Information
Center, the rapid growth in these technologies raises privacy risks and
calls for regulatory scrutiny over how data is stored and applied.
"Some of these techniques can be helpful but there are huge privacy issues when systems are designed to capture identity and make a determination based on personal data," Rotenberg said.
"That's where issues of secret profiling, bias and accuracy enter the picture."
Rotenberg said the use of AI systems in criminal justice calls for
scrutiny to ensure legal safeguards, transparency and procedural rights.
In a blog post earlier this year, Shelly Kramer of Futurum Research argued that AI holds great promise for law enforcement, be it for surveillance, scanning social media for threats, or using "bots" as lie detectors.
"With that encouraging promise, though, comes a host of risks and responsibilities."
Published in: phys.org
link: https://phys.org/news/2017-11-privacy-artificial-intelligence-crimestopper.html