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terça-feira, 3 de julho de 2012

A mente doentia dos criminosos bárbaros


JAIRO BOUER é médico formado pela USP, com residência em psiquiatria. Trabalha com comunicação e saúde. E-mail: jbouer@edglobo.com.br (Foto: Camila Fontana/ÉPOCA)
Por Jairo Bouer
Duas adolescentes matam uma colega de 13 anos e arrancam o coração de dentro de seu peito. Uma mulher traída dá um tiro no marido, decepa cabeça e braços, retalha o restante do corpo, acondiciona os pedaços em três malas e sai espalhando as partes pela cidade.
Filmes de terror? Não, apenas noticiário das últimas semanas do país. Para além da violência cotidiana, esses crimes recentes expõem requintes de frieza e crueldade que mexem até com os mais indiferentes.
Embora nenhuma forma de violência mereça justificativa, é mais compreensível para o senso comum que alguém, em momento de intenso desespero, seja capaz de um ato impensado. Essa, aliás, é uma das formas de violência mais difíceis de evitar. É como tentar prevenir o imprevisível. Será que muita gente em situação-limite não estaria sujeita a agir de forma nunca antes imaginada? Não há como saber. Mas, quando há um elemento a mais do crime, como premeditação, esse sentimento é substituído por espanto e indignação.
Decapitar um inimigo e pendurar a cabeça no alto de um poste, retalhar um corpo humano, valer-se da condição de médico para abusar sexualmente de pacientes fragilizadas emocionalmente são crimes que guardam um parentesco. Parece haver um método, uma programação, um desfrute da ocasião. É como se o autor da ação transformasse a tragédia em parque de diversões e passasse a sentir certo prazer naquele momento.
O matador em série (serial killer, em inglês) é alguém que usa um padrão na forma de atacar e matar. É comum que esses criminosos tenham, como base, uma disfunção ou distúrbio conhecidos como psicopatia (que podem ser de vários tipos). Agem acima do bem e do mal. A construção do que é certo ou errado é muito peculiar. Consideram-se grandiosos, plenos de razão. Foi com tom de superioridade que o jovem norueguês que matou 77 pessoas em 2011 deu seu depoimento.
No caso de autores de crimes bárbaros isolados, há, em linhas gerais, alguns quadros psiquiátricos e características mais comuns. Um deles é o surto psicótico, desencadeado por uma variedade de motivos, que leva alguém a agir de acordo com uma percepção delirante da realidade (como se sentir perseguido). Outro é o transtorno de personalidade (como em algumas psicopatias), que faz alguém agir de forma fria e violenta em situações vistas como extremas. Para essas pessoas, decepar o marido ou tirar o coração da amiga são ações feitas com tranquilidade fora do comum. Elas têm um tipo de funcionamento psíquico que não é regra, e sim absoluta exceção. Em geral, podem responder por seus atos, já que escolhem praticar ou não uma ação.  
Fonte: revistaepoca.globo.com/Vida-util/jairo-bouer/noticia/2012/07/mente-doentia-dos-criminosos-barbaros.html

Alvo do Fla, Sampaoli é expulso e vê La U ser campeã chilena nos pênaltis


Cotado para assumir o Flamengo, o técnico argentino Jorge Sampaoli faturou o Campeonato Chileno de forma dramática nesta segunda-feira, com direito a gol nos acréscimos e decisão por pênaltis. O Universidad de Chile bateu o O 'Higgins por 2 a 1 e, por conta da derrota pelo mesmo placar no jogo de ida, decidiu o duelo nos pênaltis, vencendo o desempate por 2 a 0. Em um jogo muito violento dentro de campo, com 10 cartões (sendo dois vermelhos), sobrou até para Sampaoli, que foi expulso no início da segunda etapa.
Jose Rojas com a taça de campeão da La U Chile (Foto: EFE)Expulso no segundo tempo, Jose Rojas ergue a taça de campeão chileno (Foto: EFE)
La U ganha o inédito tricampeonato chileno, somando 16 conquistas na história da competição. Antes, havia tido a chance em três oportunidades: 1966, 1995 e 2001, perdendo para Universidade Católica, Colo Colo e Wanderers, respectivamente. Já o O 'Higgins segue sem nenhum título nacional.
Mesmo com o título, o técnico argentino, que tem contrato com os chilenos até o fim de 2013, vai se reunir agora com dirigentes do Universidad de Chile para falar sobre a reformulação do elenco nesta terça-feira e pode até deixar o cargo.
- Tenho uma reunião com o presidente nesta terça-feira e teremos várias coisas a esclarecer - limitou-se a dizer o técnico, após a partida.
Jorge Sampaoli técnico da La U é expulso final Chile (Foto: EFE)Sampaoli foi expulso na final desta segunda (EFE)
Cartões e pênaltis em campo
Dentro de campo, o que mais chamou a atenção foi a indisciplina. No início do segundo tempo, o capitão de La U, José Rojas, se estranhou com Barroso, e o juiz mandou os dois para o chuveiro. O mesmo destino tiveram os treinadores das duas equipes, expulsos em diferentes momentos da etapa final. Além disso, o árbitro distribuiu outros oito cartões amarelos - cinco para o O'Higgins e três para La U.
Os dois primeiros gols da partida foram marcados em cobranças de pênaltis. Fernández abriu o placar para o O 'Higgins aos 31 do primeiro tempo, enquanto Charles Aránguiz deixou tudo igual aos 22 da etapa complementar. Já nos acréscimos foi a vez de Marino virar a partida e levar o duelo para a disputa de pênaltis.
Após o apito final, Aránguiz e Ruidíaz marcaram os dois únicos gols da disputa de pênaltis, e coube ao goleiro Johnny Herrera o papel de herói ao defender duas cobranças e ver os rivais errarem o alvo em outras duas oportunidades.
Fonte: globoesporte.globo.com/futebol

Tributo muito bom a um filme muito ruim














Sábado, 7 de julho, uma multidão vai se reunir no Cine Windsor, em São Paulo, para um tributo a um filme horroroso.
Na ocasião, será exibido um ótimo documentário sobre este filme horroroso.
O filme é “Coisas Eróticas”, dirigido por Rafaelle Rossi e lançado nos cinemas de São Paulo em 7 de julho de 1982. O documentário se chama “A Primeira Vez do Cinema Brasileiro”.
Até o próprio Rafaelle Rossi – que morreu em 2007 – sabia que seu filme não prestava: “Coisas Eróticas foi meu pior filme”, disse.
Por que então homenagear um filme tão ruim?
Fácil: porque a importância de “Coisas Eróticas” não é estética, é sociológica.
“Coisas Eróticas” foi o primeiro filme de sexo explícito brasileiro e um marco na história da Boca do Lixo e do cinema independente nacional.
O documentário, dirigido por Hugo Moura, Denise Godinho e Bruno Graziano, conta não só a saga da produção do filme, mas a história do cinema da Boca e da transição da pornochanchada para o sexo explícito, no início dos anos 1980.
É um período muito interessante e pouco explorado do nosso cinema, em que o enfraquecimento da Censura e a esperteza dos produtores, que passaram a usar mandados de segurança para liberar os filmes, fizeram nascer uma verdadeira indústria do sexo explícito.
Paradoxalmente, o sexo explícito acabou matando a Boca do Lixo, como explica muito bem Carlão Reichenbach, em uma de suas últimas entrevistas.
O filme também resgata a figura de Rafaelle Rossi, um diretor medíocre e conhecido trambiqueiro da Boca, “homenageado” no documentário por vários atores e técnicos, que aparecem contando os canos que tomaram do homem. Divertidíssimo.
Não estarei em São Paulo sábado, ou não perderia a estréia do documentário.
Fui entrevistado para o filme e dei um depoimento sobre um dos astros de “Coisas Eróticas”, Oásis Minitti, um guerreiro da época em que não existia o Viagra para ajudar os atores.
Oásis vivia na redação no “Notícias Populares”, sempre disposto a ficar pelado e tirar fotos para divulgar um novo filme ou peça. Assim que ele pintava na redação – e “pintava” é a palavra certa – os fotógrafos já sabiam o que lhes esperava: ver Oásis batendo continência. Era hilariante.
Aqui vai a programação de sábado no Cine Windsor, com entrada franca:
19h: exibição do documentário “A Primeira Vez do Cinema Brasileiro”.
20h30: coquetel de intervalo.
21h: mesa de debate com a presença de Eduardo Rossi (filho do Raffaele), Fábio Fabrício Fabretti (escritor e biógrafo da Jussara Calmon), Walder Laurentis (ator de “Coisas Eróticas”) e Débora Muniz (atriz da Boca e que falará sobre o período de transição entre pornochanchada e o pornô).
22h: exibição de “Coisas Eróticas”.
aqui, o trailer do documentário (só para maiores de 18 anos, por favor).
Não há programa melhor para este sabadão. Sério.

Fonte: andrebarcinski.blogfolha.uol.com.br

Site da Folha bate recorde mensal e diário de audiência em junho


O site da Folha bateu novamente no mês passado seu recorde de audiência, com 252 milhões de páginas vistas. A melhor marca até então era a de maio passado (242 milhões de páginas).
No acumulado do primeiro semestre, o crescimento da audiência em relação ao mesmo período do ano passado é de 34%.
Em junho, a Folha passou a cobrar pelo acesso frequente ao conteúdo de seu site. O modelo, chamado de "muro de cobrança poroso", começou a vigorar no dia 21.
O sistema adotado pelo jornal, que segue uma tendência mundial, permite a leitura gratuita de até 40 reportagens por mês --sendo que no 21º clique se pede um cadastro simples ao internauta.
Somente assinantes da Folha e do UOL têm acesso a mais de 40 textos por mês.
E apenas assinantes da Folha podem ler a réplica digital do jornal (edicaodigital.folha.com.br) e ler sem restrições o aplicativo para tablets e celulares (que pode ser acessado no navegador de internet do aparelho, digitando app.folha.com).
Na semana passada, depois da introdução do modelo de cobrança, o site já bateu duas vezes (na quarta e na quinta-feira) o que era seu recorde diário de audiência no período anterior.
Com o novo modelo, a versão do jornal na internet ganhou o conteúdo completo da edição impressa.
O site da Folha é o mais acessado dos jornais brasileiros. Para medir sua audiência, o jornal usa o serviço da Omniture, empresa especializada no acompanhamento de sites e que tem entre seus clientes publicações do grupo Time-Warner, a Bolsa Nasdaq e a Microsoft.
Alex Argozino/Editoria de Arte/Folhapress


Fonte: www1.folha.uol.com.br

segunda-feira, 2 de julho de 2012

Como as traições tem influenciado o rumo da história

Como as traições tem influenciado o rumo da história

A história está cheia de casos de pessoas muito confiáveis que se revelaram capazes de delatar e prejudicar os melhores amigos e a pátria. Conheça a sórdida - e ambígua - saga da traição

Álvaro Oppermann | 20/06/2012 12h9
Um dos episódios mais bem guardados da Revolução Cubana tinha no bojo uma traição em família. E só veio à tona em outubro, quando Juanita Castro lançou o livro de memórias Fidel y Raúl, mis Hermanos. La Historia Secreta, co-escrito com a jornalista María Antonieta Collins. Quinta dos sete filhos de Ángel Castro e Lina Ruz González, Juanita traiu seus irmãos trabalhando para a CIA entre 1961 e 1964, em plena Havana. "Foi uma relação estreita com o arqui-inimigo dos Castro", diz a jornalista sobre a informante de 76 anos, que vive no exílio há 45, primeiro no México e depois nos Estados Unidos. Nesse período, ela nunca falou com os irmãos.

A traição está entre os capítulos mais sombrios - e saborosos - da História ocidental. A própria Bíblia cita vários casos, nenhum tão peculiar quanto aquele em família. Primogênito de Adão e Eva, Caim ficou enciumado da predileção de Deus por seu irmão caçula. Levou Abel para um campo deserto, onde o matou. À traição, subentende-se. "Agora és maldito e expulso do solo fértil que abriu a boca para receber de tua mão o sangue de teu irmão", ordenou Javé ao assassino. "Na cultura do Ocidente não existe delito mais grave que o de defraudar a confiança adquirida", afirma José Manuel Lechado, em Traidores que Cambiaron La Historia ("Traidores que mudaram a História", inédito no Brasil). Mas, sob perspectivas distintas, certos personagens desleais podem até ser heróis. "Na visão dos ingleses, George Washington (protagonista da independência americana) foi um grande traidor", diz Lechado. Seja bem-vindo à narrativa dos atos sorrateiros. E cuidado com quem está às suas costas. Já diz o ditado: "Deus me livre dos amigos, porque os inimigos eu sei quem são".

A palavra "traição", muito além da infidelidade conjugal, mudou de sentido ao longo do tempo. "Hoje ela é acima de tudo um crime contra o Estado. Mas nem sempre foi esse o caso", afirma Alan Orr em Treason and the State ("A traição e o Estado", sem edição em português). Na Antiguidade, trair era agir contra os deuses. Foi o pecado que cometeu, na visão de seus súditos, o faraó Akenaton. No século 14 a.C., ele aboliu a antiga religião egípcia e seu panteão para determinar a adoração monoteísta a Aton e proclamar-se único representante dele. Na Batalha das Termópilas (480 a.C.), entre espartanos e persas, o grego Efialto entregou aos inimigos o segredo de uma estreita passagem entre as montanhas, até a retaguarda grega. Por sua perfídia, vista como uma ofensa direta ao deus da guerra, Ares, Efialto foi amaldiçoado.

Trair começou a ganhar status laico e jurídico na Roma antiga. Segundo o historiador do direito Simon Hirsch, os romanos inventaram o conceito de crimen maiestatis (lesa-majestade) para atos contra a soberania de Estado, o que incluía excentricidades como destruir a estátua do imperador.

Ilustrações: Murilo Maciel

Na Europa, durante a Idade Média, o conceito passou a se referir ao atentado contra a vida do senhor feudal, do rei ou do papa. Mas e se um rei se insurgisse contra o papa? Isso seria traição? E o barão que se rebelasse contra o monarca? No século 13, a opinião dominante entre os juristas era a de que, em ambos os casos, a quebra de hierarquia configurava o delito. No imaginário do aldeão médio, contudo, não havia pior infame que Judas Iscariotes. Com um beijo, entregou Jesus por 30 moedas de ouro. O cristianismo transformou a traição em pecado gravíssimo. Mas o ato do apóstolo demorou a se disseminar. "Até a década de 60 do século I, diferentes memórias parecem sugerir, no seu todo, que os cristãos desconheciam o tema da traição de Jesus", diz André Chevitarese, professor de história da Universidade Federal do Rio de Janeiro. A malhação de Judas só começou por volta do século 4.

Óleo fervente e veneno

Foi na Inglaterra de Henrique VIII que a traição ganhou sua acepção moderna, de crime contra o Estado. O tema é especialmente caro aos ingleses, que usam três palavras para designá-lo: treason, de uso jurídico, e treachery e betrayal, de uso comum. Segundo Orr, o conceito legal moderno nasceu das formulações dos juristas das eras Tudor (século 16) e Stuart (século 17). Ainda não havia separação clara entre Estado e monarca, mas a nova concepção já era diferente da medieval. O crime contra o Estado (que incluía o rei e altos cargos eclesiásticos) era chamado de Alta Traição (High Treason). Em 1530, um cozinheiro condenado por tentar envenenar o bispo de Rochester foi jogado num panelão de óleo fervente. Os reis utilizavam a mesma regra para neutralizar inimigos. Ela ensejou várias condenações irregulares, como a de Ana Bolena, segunda esposa de Henrique VIII, em 1536. Também havia uma "traição menor" (Petty Treason), que contemplava, entre outros delitos, o de mulheres que matavam maridos. Essa lei só foi abolida em 1828.

O método mais usado para se livrar de pessoas indesejadas era o veneno. Só em Paris havia cerca de 30 mil "especialistas" que ofereciam seus serviços por encomenda. Envenenado, sir Thomas Overbury foi vítima do mais mirabolante caso de Alta Traição, em 1613, contra o rei James I da Casa de Stuart. Tudo não passou de uma tramoia de Lady Frances Howard. Desejando casar-se com o conde de Rochester, Robert Carr, sofreu a enfática oposição de Overbury, amigo íntimo do assediado. Ela persuadiu o rei a dar um cargo para o desafeto bem longe dali - na Rússia. Desesperado, Thomas recusou a "promoção". A dama, então, convenceu James I de que a negativa do nobre fora motivada por uma conspiração. Notório paranoico, o rei mandou trancar Overbury na Torre de Londres. Ele apareceu morto em 15 de setembro de 1613. E Frances, enfim, casou-se com o conde.

Ilustrações: Murilo Maciel

No Brasil, um dos episódios mais conhecidos de traição é o de Domingos Fernandes Calabar. Contrabandista e senhor de engenho em Pernambuco, em 1632 decidiu juntar-se aos holandeses da Companhia das Índias Ocidentais, que pilhavam o Nordeste desde a década anterior. Os préstimos de Calabar foram vitais para que a Holanda estendesse seus domínios de Pernambuco até o Rio Grande do Norte. Capturado pelos portugueses em 1635, ele foi estrangulado e esquartejado. Já José Anselmo dos Santos, o Cabo Anselmo, construiu sua infâmia durante a Ditadura. De líder da Associação dos Marinheiros, passou a guerrilheiro da Vanguarda Popular Revolucionária e então a delator. Preso em 1970, foi convencido pelo delegado Sérgio Paranhos Fleury a entregar os companheiros. Em janeiro de 1973, o cabo serviu de isca para o extermínio de seis dos principais militantes da VPR, num sítio em Pernambuco. Entre as vítimas estava Soledad Barret Viedma, companheira dele, grávida de sete meses. Depois disso, teve de sumir. Fez uma cirurgia plástica e mudou de identidade, bancado pelo regime.

A história mostra que às traições não faltam ambiguidades. Para Juanita Castro, os verdadeiros pérfidos foram seus irmãos. Devotada revolucionária, responsável pela construção de clínicas e hospitais em Cuba, ficou desapontada com Fidel e Raúl, quando tiveram início as prisões, fuzilamentos e confisco de propriedades. Nessa época, ela tinha laços estreitos com o então embaixador da representação do Brasil em Havana, Vasco Leitão da Cunha, e sua mulher, Virgínia. O casal ofereceu asilo a muitos rebeldes durante a ditadura de Fulgencio Batista. Inclusive a Juanita, em 1958. Três anos depois, Virgínia procurou a irmã de Fidel - já desencantada com a revolução - para que ela se reunisse "com amigos". Tais amigos eram da CIA. Juanita aceitou repassar informações, desde que nada fosse usado nas tentativas de assassinato a El Comandante. Em 1964, depois da morte da mãe, Raúl conseguiu-lhe um visto para ir ao México. Lá, Juanita rompeu formalmente com os irmãos.
"A traição é um conceito extraordinariamente ambíguo, que foi utilizado - e ainda o é - para combater inimigos políticos e também para justificar fracassos", diz Lechado. Isso vale para o Brasil, como ilustra o caso de Calabar. Em 1975, um tribunal simulado, em João Pessoa, julgou que o ex-senhor de engenho agiu em favor dos conterrâneos e o absolveu. De traidor passou a mártir.


Galeria da infâmia

Uma pequena seleção do clube que insiste em crescer


Conde Ugolino della Gherardesca

Membro do partido Gibelino, aliado ao imperador, ele comandava Pisa no início do século 13. O partido rival, o Guelfo, dominava Gênova e Florença. Acusado pelo arcebispo Ubaldini, um desafeto, de aderir ao guelfos, Ugolino foi destituído.Ambos aparecem como traidores na Divina Comédia.

Mary Stuart

Pretendente católica ao trono inglês, Mary - chamada carinhosamente de "rainha dos escoceses" (terra dos Stuart) - foi encarcerada por ordem da rainha Elizabeth I, que temia uma trama dos católicos contra ela, anglicana. Após 19 anos na prisão, Mary Stuart foi executada por Alta Traição em 1587.

Joaquim Silvério dos Reis

Em 1789, entregou os inconfidentes mineiros para ter suas dívidas com a coroa portuguesa perdoadas. Seu amigo Tiradentes acabou enforcado e esquartejado. Depois, Silvério ganhou uma pensão vitalícia de Portugal e foi até recebido por dom João.

Charles Maurice de Talleyrand-Périgord

Ministro das Relações Exteriores de Napoleão, dizia que "traição era uma questão de datas". Virou agente da Rússia e entregou segredos do império francês aos austríacos. Em 1815, organizou a deposição de Napoleão e a volta da monarquia.

Jin Bihui

Conhecida como "Mata Hari do Oriente", a manchu foi espiã para o Japão na corte do último imperador da China, Pu Yi. Bela e inteligente, era amante do principal assessor militar do imperador. Gostava de usar roupas masculinas. Segundo uma versão, sofreu abuso sexual na infância. Foi executada como traidora pelo governo nacionalista chinês em 1948.

Heinrich Himmler

O chefe da SS abandonou Hitler e negociou uma rendição da Alemanha com os EUA e a Grã-Bretanha quando viu que o nazismo estava com os dias contados. Hitler, ao descobrir a traição, ficou furioso. Himmler terminou preso pelo exército inglês em maio de 1945. Depois, suicidou-se.

Augusto Pinochet

O general Augusto José Ramón Pinochet Ugarte (1915-2006) foi Chefe do Exército do Chile no fim do governo socialista de Salvador Allende. Quando Pinochet orquestrou o golpe de 11 de setembro de 1973, Allende foi pego de surpresa: considerava-o um bom amigo. Allende suicidou-se e o general instaurou um sangrento regime militar que duraria até 1990.

Tommaso Buscetta

Foi importante membro da Cosa Nostra e ficou rico traficando drogas no Brasil. Preso em 1984 e deportado para a Itália, fez um acordo com a Justiça local, entregando o esquema da Máfia. Foi o primeiro a quebrar o código de silêncio da organização. Faleceu em 2000 em Nova York, livre, mas muitos de seus parentes foram mortos por causa da traição.


Inesquecível colaboracionismo

O auxílio às tropas de Adolf Hitler deixou muitas cicatrizes 


A cooperação com os nazistas é um capítulo da Segunda Guerra que muitos franceses gostariam de apagar. Em 1940, o Norte do país foi ocupado pelo exército de Hitler. Para manter a nação funcionando, assumiu o poder um governo fantoche , em Vichy, liderado pelo marechal Philippe Pétain. Um dos mais notórios colaboracionistas foi Pierre Laval. Como ministro das Relações Exteriores, ele autorizou a deportação de 15 mil judeus. Em 1945, foi considerado culpado de Alta Traição e fuzilado. Outras pessoas simpáticas ao invasor, mesmo aquelas indiretas, como Coco Chanel, encararam o "julgamento moral" dos compatriotas. A estilista era amante do espião Hans Gunther von Dincklage. Graças a ele, pôde manter seu apartamento num hotel de Paris. Não se sabe até que ponto ela conhecia segredos da espionagem nazista, mas, ao fim da guerra, saiu de Paris e refugiou-se na Suíça, onde permaneceu até 1954. Foi então que criou o glamouroso terninho Chanel. E o sucesso ofuscou a mácula da guerra. Já na Inglaterra, o oficial do exército William Joyce foi condenado à forca por fazer propaganda nazista no rádio. Conhecido como Lorde Haw Haw, ele transmitia de Berlim, para as ilhas britânicas, exaltações ao Führer.

Saiba mais


LIVRO

Traidores que Cambiaron la Historia, José Manuel Lechado, Ediciones Espejo de Tinta, 2006
O autor espanhol narra as mudanças no conceito de traição no Ocidente e conta casos famosos. A obra ainda não foi editada em português.


Post-Scriptum

Estranhas coalizões 

A traição na conjuntura política brasileira 


Luiz Inácio falou: "Se Jesus Cristo viesse para cá, e Judas tivesse a votação num partido qualquer, Jesus teria de chamar Judas para fazer coalizão". Como o apóstolo ganhou infâmia na condição de quem traiu a confiança de Cristo em troca de dinheiro, a frase do presidente Lula irritou a Igreja e provocou diferentes reações acerca do sentido da traição e sobre como se governa o Brasil.

Na política, e em todas as formas de relações sociais, trair simboliza deslealdade ou infidelidade. Geralmente, o suposto traidor busca vantagens pessoais ou posições de poder. Mas há situações em que pessoas abandonam seu partido ou evitam adotar teses defendidas por ele apenas para manter a coerência com os ideiais originários da agremiação.

Casos de traição política no Brasil não são recentes. No século 18, o delator Joaquim Silvério dos Reis levou à morte Tiradentes. O líder comunista Luis Carlos Prestes, preso pelo governo Vargas no Estado Novo (o mesmo que entregou sua mulher, Olga Benário, para os nazistas), depois apoiou Getulio para as eleições presidenciais de 1950. Carlos Lacerda, Jânio Quadros, Paulo Maluf e muitos outros colecionam histórias em que figuraram tanto como traídos quanto como traidores.

Mas fatos mais recentes ocorridos com Lula e com o Partido dos Trabalhadores ilustram bem a polêmica em torno do que se considera traição política. Fundado em 1980 com orientação programática socialista e crítica ao capitalismo, o PT se colocou como alternativa (quase única) para a construção de uma sociedade mais justa rejeitando acordos com partidos de centro para a direita. Assim, perdeu as eleições presidenciais de 1989, 1994 e 1998 tendo Lula como candidato. Em 2002, ampliou alianças para viabilizar a vitória. Porém, tal objetivo não seria alcançado sem que o PT abdicasse da defesa irrestrita de bandeiras históricas, como o rompimento com o FMI e a taxação de fortunas. A candidatura de Lula, enfim, atraiu um grande empresário, o então senador José de Alencar, do Partido Liberal, de bandeiras opostas. A formação do governo também surpreendeu, a exemplo da nomeação do tucano Henrique Meirelles (hoje no PMDB) para presidir o Banco Central.

Quem traiu quem? Os dissidentes, que fundaram um novo ou migraram para outros partidos, ou o PT, que assumiu a impossibilidade de vencer e administrar sem fazer acordos? Em nome da governabilidade, Lula atraiu antigos "inimigos", como os ex-presidentes José Sarney e Fernando Collor. Mas o uso do termo traição acerca do momento vivido pelo PT não foi reivindicado só por dissidentes. Em 12/8/2005, o presidente Lula foi à TV falar sobre o mensalão: "Eu me sinto traído por práticas inaceitáveis. Indignado pelas revelações que chocam o país, e sobre as quais eu não tinha qualquer conhecimento". É inegável que, ao buscar novas alianças, Lula teria de abrir mão de certos princípios. O pragmatistmo rendeu vitórias em 2002 e 2006, mas o presidencialismo brasileiro não permite, salvo raras situações, que o eleito consiga maioria suficiente para garantir governabilidade apenas com o resultado das urnas. Desse modo, não resta alternativa senão compor o governo com forças que estavam na oposição, o que requer acordos que geralmente passam por ceder espaços na máquina pública. O grupo que adere deveria fazê-lo por objetivos programáticos comuns, mas isso, concretamente, não ocorre. No Congresso, a barganha acontece principalmente com o pagamento de emendas parlamentares. Ambas as práticas não são exclusivas do atual mandatário.

Agora, se Lula sentiu-se traído por companheiros no auge da crise do mensalão e indicou que, para governar, precisa se unir a supostos adversários, não seria exagero dizer que muitos petistas ou ex-petistas experimentam a mesma sensação ao verificar os mecanismos para obter a governabilidade na gestão Lula.

A grande questão que fica é: poderia ter sido diferente? Teria razão Maquiavel ao afirmar que a política tem uma lógica própria?

*Marco Antônio Carvalho Teixeira Cientista político, é professor e pesquisador da Fundação Getúlio Vargas - SP 

Cientistas americanos encontram provas de que a ‘partícula de Deus’ existe


Fermilab vê indícios promissores da existência do Bóson de Higgs, enquanto comunidade científica aguarda o anúncio de quarta-feira do Cern, na Suíça

 CERN
Imagem mostra candidato a bóson de Higgs contendo dois fótons de alta energia (representados por torres em vermelho). As linhas amarelas são as trajetórias de outra colisão
Físicos do Laboratório Nacional Acelerador Fermi, vinculado ao Departamento de Energia dos Estados Unidos, anunciaram nesta segunda-feira (2) que encontraram a mais forte evidência até agora da existência de um corpo subatômico conhecido como "partícula de Deus", ou bóson de Higgs.
A evidência surgiu com subprodutos da colisão de partículas no acelerador americano Tevatrondisseram os cientistas. "Nossas informações apontam fortemente para a existência do bóson de Higgs, mas precisamos dos resultados dos experimentos do Grande Colisor de Hádrons (LHC ou acelerador de partículas) na Europa para confirmar uma descoberta", declarou Rob Roser, porta-voz do laboratório nacional americano Fermilab (Fermi National Accelerator Laboratory), no estado de Illinois (norte). Os resultados do LHC serão anunciados na quarta-feira (4).
Os resultados do Tevatron indicam que a partícula de Higgs, se é que existe, tem uma massa entre 115 e 135 gigaeletronvolts (GeV/c2), em torno de 130 vezes a massa do próton.
Baseado em dois experimentos, conhecidos como CDF e DZero, a equipe de especialistas descobriu que há apenas uma chance em 550 de que o sinal encontrado seja meramente um acaso estatístico.
No entanto, a importância estatística do sinal, de 2,9 sigmas, não é suficientemente forte para atingir o limiar requerido de cinco sigmas para afirmar que uma partícula foi descoberta.
"Demos um passo crucial na busca pelo bóson de Higgs", declarou Dmitri Denisov, porta-voz do DZero e físico do Fermilab.
"Ninguém esperava que o Tevatron conseguisse isso quando foi construído na década de 1980".

Enquanto isso, em Genebra...
No entanto, após décadas de pesquisa e bilhões de dólares investidos, pesquisadores do Cern, responsável pelo LHC, ainda não estão prontos para dizer que descobriram de fato a partícula.  Especialistas familiarizados com a pesquisa do Cern dizem que os dados obtidos vão mostrar vestígios do bóson de Higgs, provando que ele existe, mas não permitindo afirmar que ele foi efetivamente visto.
O LHC mostrou uma possível faixa do bóson de Higgs entre 115 e 127 gigaeletronvolts (GeV).
O GeV é a medida padrão para a massa das partículas subatômicas. Um GeV é equivalente a massa aproximada de um próton.
Os experimentos realizados nos Estados Unidos se aproveitaram desses resultados, ainda que analisando uma faixa um pouco maior.
Cientistas sêniores do Cern afirmam que as duas equipes que planejam apresentar os resultados do trabalho nesta quarta-feira (4) estão tão fechadas que é impossível saber de alguma coisa sobre a descoberta.
“Eu concordo que qualquer observador de fora diria que ‘isto parece como uma descoberta’”, disse à AP o físico teórico John Ellis, professor da King's College London, que tem trabalha no Cern desde 1970. “Nós descobrimos alguma coisa que é consistente para ser o bóson de Higgs”.
A partícula de Higgs recebeu este nome após o físico Peter Higgs, que, entre outros físicos na década de 1960, ajudou a desenvolver o modelo teórico que explica por que algumas partículas têm massa e outras não, uma etapa importante para entender a origem do Universo. Para físicos de partículas, encontrar o bóson de Higgs seria essencial para confirmar este modelo teórico, e e, consequentemente, como o universo foi formado.

Equipes em busca do bóson de Higgs 
Apenas grandes colisores de partículas como o Tevatron do Fermilab - que teve as atividades encerradas em setembro de 2011 – e o LHC têm a chance de produzir a partícula de Higgs. Cada uma das duas equipes conhecidas como ATLAS e CMS envolve milhares de pessoas que trabalham de forma independente para garantir a precisão.
Rob Roser, que lidera as pesquisas sobre o bóson de Higgs no Fermilab, em Chicago, afirmou que os físicos de partículas têm um padrão muito alto para o que é preciso e para o que é considerado uma descoberta.
Roser compara a os resultados que os cientistas vão anunciar na quarta à descoberta de marcas fossilizadas de um dinossauro. “Você vê as pegadas e as sombras do objeto, mas não o vê de fato”, disse à AP.
Cientistas com acesso para os novos dados do CERN dizem que eles mostram um alto grau de certeza de que o bóson de Higgs já pode ter sido vislumbrado e que, oficialmente, combinando os resultados separados de ATLAS e CMS, pode-se argumentar que uma descoberta efetiva está muito próxima.

"É um verdadeiro suspense", afirmou o porta-voz do DZero, Gregorio Bernardi, físico do Laboratório de Física Nuclear e de Alta Energia da Universidade de Paris VI e VII. "Estamos muito empolgados com isso" 
(Com informações da AP, AFP e Reuters)

CD traz poemas de Ferreira Gullar


Gravado pela “Luz da Cidade”, CD reúne poemas do poeta Ferreira Gullar.
Com repertório escolhido pelo próprio escritor, grande parte da seleção dos 29 poemas recitados por Gullar pertencem ao livro “Em alguma parte alguma” (Editora Olympo, 2010), eleito “O Livro do Ano” de ficção, em 2011, na 53ª Edição do Prêmio Jabuti.
O álbum tem apresentação do poeta Antônio Cícero e projeto gráfico de Pedro Drummond, neto de Carlos Drummond de Andrade.
Considerado um dos fundadores do neoconcretismo, Ferreira Gullar, além de escritor, também é biógrafo, ensaísta e crítico de arte.
Fonte: revistacult.uol.com.br

domingo, 1 de julho de 2012

Jovens mexicanos se mobilizam por basta aos candidatos 'escolhidos pela TV'


Trânsito, buzinas, gente caminhando apressada. Parecia uma manhã normal na movimentada praça Ángel de la Independencia, na Cidade do México, na última quarta.

Até que, debaixo da grande estátua, três jovens tiraram o casaco e mostraram camisetas que diziam: "#Yo Soy 132" (eu sou 132). Depois, começava a acontecer o mesmo em outros pontos.
Duas meninas chegaram de moto. Debaixo das jaquetas, traziam os mesmos dizeres.

"Estamos chegando disfarçados para desviar das passeatas dos outros grupos. Somos apartidários", disse à Folha Alejandra Gonzalez, 23, estudante de direito da Universidade Nacional Autônoma do México.
O movimento começou há pouco menos de dois meses, quando um grupo de estudantes realizou um protesto contra Enrique Peña Nieto.
Mario Guzman-10.jun.2012/Efe
Estudantes usam máscaras do líder de pesquisas Peña Nieto em protesto contra o candidato favorito à Presidência do México
Estudantes usam máscaras do líder de pesquisas Peña Nieto em protesto na Cidade do México

O candidato reagiu, dizendo que não se tratava de estudantes verdadeiros. Eles, então, responderam gravando um vídeo em que apareciam 131 deles mostrando suas credenciais de universitários e convocando a quem quisesse ser o "número 132".
Entre suas bandeiras principais, estão o repúdio à volta do PRI ao poder e a demanda pela democratização dos meios de comunicação. Têm na Televisa o maior inimigo.

Edgard Garrido - 14.jun.12/Reuters






Peña Nieto (à dir.), candidato do opositor PRI (Partido Revolucionário Institucional), cumprimenta ex-chefe da Polícia Nacional da Colômbia Oscar Naranjo na Cidade do México
"Basta de dominação e de ter os presidentes que a TV escolhe por nós", diz Sandino Bucio, 22, estudante de filosofia e cinema.
"Por muito tempo se disse que a juventude mexicana tinha se americanizado. Essa nova geração mostra que não é assim, que o espírito do México crítico e revolucionário segue vivo", afirma o sociólogo John Ackerman.
Em suas manifestações, os jovens evocam o passado de lutas do país, a Revolução Mexicana de 1910 e movimentos sociais como o villismo e o zapatismo.

Fonte: www1.folha.uol.com.br


A ascensão do popularismo virtual e a falta de líderes reais


  • Reprodução
    Dilma volta ao Twitter
    Dilma volta ao Twitter
Por Thomas Friedman
Viajando pela Europa na semana passada, parecia que quase toda conversa terminava com alguma modalidade desta pergunta: por que existe a sensação de que poucos são os líderes capazes de inspirar as pessoas a fazer frente aos desafios na nossa era? Existem diversas explicações para esse déficit de liderança global, mas eu vou me concentrar em dois: uma é de natureza geracional e a outra de natureza tecnológica.
Comecemos pela explicação de natureza tecnológica. Em 1965, Gordon Moore, cofundador da Intel, propôs a chamada Lei de Moore, segundo a qual o poder de processamento capaz de ser inserido em um único microchip dobraria a cada período de 18 a 24 meses. Isso tem de fato ocorrido sistematicamente desde àquela época. Ao ver as lideranças europeias, árabes e norte-americanas às voltas com as suas respectivas crises, eu me pergunto se não existiria um corolário político da Lei de Moore: a qualidade da liderança política diminuiria com o surgimento de cada conjunto de 100 milhões de novos usuários do Facebook e do Twitter.
A conexão mundial por meio da mídia social e de telefones celulares dotados de recursos para navegação pela web está modificando a natureza da conversa entre líderes e liderados em todas as regiões. Nós estamos passando de uma estrutura baseada fundamentalmente em conversas unilaterais – de cima para baixo – para discussões que ocorrem preponderantemente nos dois sentidos – de cima para baixo e de baixo para cima. Isso tem várias consequências: mais participação, inovação e transparência. Mas seria possível que houvesse algo como um excesso de participação? Ou seja, que os líderes passassem a escutar uma quantidade de vozes tão grande e a acompanhar um número tão excessivo de tendências que eles acabassem vendo-se prisioneiros dessas vozes e tendências?
Esta sentença estava na edição da última quarta-feira do jornal "The Politico": "As campanhas de Obama e de Romney passam o dia inteiro atacando-se mutuamente no Twitter, e ao mesmo criticam a falta de ideias sérias para uma época séria. Mas na maioria das vezes em que tiveram a oportunidade de pensar grande, elas preferiram pensar e agir com pequenez".
De fato, eu escutei uma nova palavra em Londres na semana passada: “Popularismo”. Essa é a ideologia predominante da nossa época. Ler as pesquisas, acompanhar os blogues, contar as mensagens no Twitter e no Facebook e ir precisamente para onde as pessoas se encontram, e não para onde elas precisariam ir. Se todo mundo está “seguindo”, quem está liderando?
E há também o fator exposição. Atualmente todo indivíduo que tem um telefone celular é um paparazzi; todos os que possuem uma conta no Twitter são repórteres; e todos os que dispõem de acesso ao YouTube são cineastas. Mas quando qualquer um é um paparazzi, repórter e cineasta, todos os demais são figuras públicas.

E, se o indivíduo é de fato uma figura pública – um político – o escrutínio poder tornar-se tão desagradável que a vida pública passa a ser algo a ser evitado a todo custo.
Alexander Downer, ex-ministro das Relações Exteriores da Austrália, me disse recentemente: “Vários líderes estão agora, mais do que nunca, sendo alvo de um escrutínio maciço. Isso não desencoraja os melhores deles, mas o ridículo e a interação constante por parte do público estão fazendo com que seja cada vez mais difícil para eles tomar decisões sensíveis e corajosas”.
Quanto à mudança geracional, nós passamos de uma Grande Geração que acreditava na poupança e no investimento no futuro para uma geração Baby Boomer que acreditava em contrair dívidas e gastar diariamente. Basta comparar George W. Bush com o pai dele, George H.W. Bush. O pai apresentou-se como voluntário para lutar na Segunda Guerra Mundial imediatamente após o ataque a Pearl Harbor, desenvolveu a sua liderança durante a Guerra Fria – uma época séria, na qual os políticos não podiam simplesmente seguir as pesquisas – e, como presidente, elevou impostos quando a prudência fiscal recomendava esta medida. Já o seu filho da geração Baby Boomer evitou o serviço militar e tornou-se o primeiro presidente da história dos Estados Unidos a reduzir impostos em meio a não apenas uma, mas a duas guerras.
Praticamente todos os líderes atuais têm que pedir aos seus povos que façam sacrifícios, em vez de apenas oferecer-lhes benefícios, e que estudem mais e trabalhem com mais inteligência apenas para não sofrerem uma redução do padrão de vida. Isso exige uma liderança extraordinária que tem que começar pelo hábito de se falar ao povo a verdade.
Dov Seidman, autor do livro “How”, e cuja companhia, a LRN, presta assessoria sobre liderança a diretores executivos de empresas, há muito chama atenção para o fato de que “nada inspira mais as pessoas do que a verdade”. A maioria dos líderes acha que dizer a verdade ao povo os torna vulneráveis – tanto ao povo quanto aos seus oponentes. Mas eles estão equivocados.
“O mais importante em relação a dizer a verdade é que isto de fato gera vínculos positivos com o povo”, explica Seidman. “Isso porque, quando você demonstra confiança nas pessoas, dizendo a elas a verdade, elas passam a demonstrar uma confiança recíproca”. A falta de transparência por parte dos líderes faz apenas com que os cidadãos tenham um outro problema – mais opacidade – a atrapalhá-los.
“Demonstrar confiança nos outros dizendo-lhes a verdade é algo como proporcionar a eles um piso firme”, acrescenta Seidman. “Isso estimula a ação. Quem está ancorado em uma verdade compartilhada começa a resolver problemas de forma conjunta. E isso é o início do processo para que se possa encontrar uma solução melhor”.
Mas não é isso o que nós estamos vendo atualmente por parte dos líderes dos Estados Unidos, do mundo árabe ou da Europa. Se ao menos um deles, apenas um, aproveitasse a oportunidade para dizer ao verdade ao seu povo: em que patamar se encontra, do que é capaz, de que plano ele necessita para atingir os objetivos e que contribuição ele precisa dar para encontrar uma rota melhor. O líder que fizer isso contará com “seguidores” e “amigos” reais – ao contrário do que acontece no mundo virtual da Internet.
Tradutor: UOL

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