A todos indico a leitura do artigo abaixo, de autoria do meu caro amigo, Professor Jorge Leão.
A indústria cultural vende seus modelos, impondo seus estigmas. Embalada pela utilidade do corpo em seu aspecto aparente, a mídia noticia o ritmo do Maranhão sob a imagem de um beija-flor...
A indústria cultural vende seus modelos, impondo seus estigmas. Embalada pela utilidade do corpo em seu aspecto aparente, a mídia noticia o ritmo do Maranhão sob a imagem de um beija-flor...
A
homenagem da cidade de São Luís na cidade “maravilhosa” retrata o
sucesso da propaganda eleitoreira, que visa manter no poder o mesmo
sistema-do-mirante, agora em ritmo de samba e bumba-boi.
A
marca deste investimento milionário será mostrar uma casca, uma imagem
aparente e fictícia do Maranhão, que vê os seus brincantes na passarela
sendo títeres do fracasso social, político e cultural de nossa cidade e
nosso empobrecido estado, enquanto nas arquibancadas a platéia assiste
aturdida o desfile de um carro iluminado na passarela de um carro
abre-alas que nunca foi nosso.
Aqueles
que possuem um pouco de percepção logo observarão que este carnaval é
para poucos, pois ele se alimenta do comércio da cultura e do
analfabetismo político de milhões de maranhenses que vão olhar
extasiados o desfile da escola, sem entender por que no estado mais
pobre do Brasil o povo é tão “feliz”, mesmo sendo tão excluído...
Não
se faz imagem de cultura de um povo sem a garantia de que o mesmo possa
usufruir de justiça social, de uma política de renda equitativa, da
extinção do latifúndio (o Maranhão é o estado que possui mais mortes no
campo em todo o país por conflitos de terra), da erradicação do trabalho
escravo (milhares de maranhenses trabalhando dentro e fora do estado
sem as mínimas condições de saúde e dignidade), do fim do analfabetismo
funcional (que assola cerca de 1.300.000 maranhenses), e da eliminação
da mortalidade infantil (uma das mais altas do mundo).
Esses
são pontos chave para compreendermos o porquê de tanta festa,
patrocinada pelo governo do estado. O sistema-do-mirante aqui nestas
terras se alimenta da falência social, econômica, cultural e política da
maior parte dos maranhenses, que se encontram aplaudindo o continuísmo
de um império oligárquico que sempre expõe seus tentáculos sobre a farsa
folclórica de um povo que continua a esquentar seus pandeirões na
fogueira da miséria e da falência na educação, e no sistema de saúde
vergonhoso a que se encontra padecendo grande parte de nossa população.
Mesmo
passada a ditadura militar no Brasil, vive-se no Maranhão a ditadura da
politicagem, que exclui a população pobre do campo, pois se encontra
vendida pelos coronéis do latifúndio e do agronegócio. Soma-se a isso o
feitiço do boi, que agora não morre mais, pois presta serviços caros ao
dono da fazenda.
Com
este cenário, surge, ao lado da fome e da miséria, a propaganda de que
‘é bom demais viver no Maranhão’. Este é o setor onde a indústria do pão
e circo explora com maior eficiência, utilizando-se do controle
midiático para falsear a realidade, dizendo a todo o Brasil que o povo
maranhense sabe fazer festa...
O
objetivo único deste sistema-do-mirante é a manutenção de uma massa de
vacas de presépio, sempre dispostas a acatar incontestavelmente, ao
comando dos pandeirões, matracas e tamborins, o traço infeliz de um povo
que sorri de sua miséria, ainda tendo que ver um falso beija-flor
pousar em um jardim de flores artificiais.
Jorge Leão
Professor de Filosofia do Instituto Federal do Maranhão
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