sexta-feira, 6 de maio de 2011

Traços poéticos - Semente


Semente




A semente ao chão, cansada de luta, não brota mais em meio ao vácuo.
Semente antiga, semente eterna e cansada, não quer mais brotar no nada.
Chora a terra, a mãe serpente, a ígnea infância, rompendo camadas, vem.
Um dia vem de novo a vida, a solidão correndo com força inclemente.
Todos sonham com a partida que sorri, seus lábios dóceis versejam mel, 
Na virada de um ano atroz, em que meninos livres dançaram ao vento. 
Surgem na aurora os lírios abstratos, resvalam sobre a fina pele molhada, 
Adornando corpos imberbes, futuros entes celestes, ardentes lembranças.
A semente amorosa roda em seu ciclo indefinido, latente o germe bendito
Em sua força motriz, servindo a seu próprio destino um limite aparente, 
Mas em nada estreito... mergulham suas cenas na perfeita consumação.


No fruto a nova semente aparece. Regenera-se na virtude da volta.
Um ciclo que se fecha no absoluto, cravando a ferida na cura,
a morte na vida.
A semente cansada, no eterno se esparrama.
Deitada sob o solo faz sua cama.
Não espera o espanto. Não canta a sua espera.
Germina minha morte na estrada esquecida.
Semeia o adeus nos escombros de uma quimera.




Rogério Rocha

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