quinta-feira, 4 de dezembro de 2014

Rodando por ruas de Londres

Um passeio na London Eye

domingo, 30 de novembro de 2014

If leaving me is easy - Phil Collins

A arte de conversar

Les Plaisirs du bal, Jean-Antoine Watteau
Alcir Pécora

A ideia da conversação como uma parte decisiva da vida civil foi desenvolvida por três importantes autores italianos do século 16: Baldassare Castiglione (1478-1529); Giovanni Della Casa (1503-1556) e Stefano Guazzo (1530-1593). Em pouco tempo, tais considerações avançaram pelas principais cortes europeias, delas recebendo diferentes traduções e emulações.

Nos salões parisienses, em pleno período de rebelião dos grandes senhores contra a política de centralização monárquica levada a cabo pelos cardeais Richelieu e Mazarino, tais ideias foram aclimatadas de maneira interessante. Sob o reinado de Luís XIV, dois nomes, pouco conhecidos atualmente fora da França, destacaram-se nesse processo.

O primeiro deles é o de Antoine Gombaud, Chevalier de Méré (1607-1684). No De la conversation, de 1677, define a conversação como qualquer diálogo entre pessoas que se encontram casualmente ou não, com o propósito principal de diversão. Portanto, opõe conversa a conselho ou conferência, isto é, reuniões de negócios, onde não cabem gracejos e brincadeiras. Uma boa conversa deve ser distinta; agradar aos que escutam, pois apenas se estima o que contribui para a felicidade própria; suscitar movimentos moderados da alma, sem tristeza ou riso excessivos; usar argumentos de fácil inteligência; ter maneiras diversificadas; dar-se em boa companhia; possuir uma eloquência própria, mais próxima de pequenos retratos sem relação entre si, do que de grandes quadros.

Além disso, para Gombaud, a boa conversa supõe elocução fluente, sem grande ornamentação; supõe também simplicidade, que apenas existe no ar nobre e natural, oposto ao excesso de estudo, e ainda conformidade, isto é, uma acomodação do discurso às pessoas que se deseja conquistar. Convém sempre um humor afável e complacente com os amigos, além de um emprego comedido de provérbios, equívocos e agudezas, pois perdem a graça quando repetidos ou traduzidos para estrangeiros e visitantes.

Gombaud aconselha adotar um ritmo de “pressa lenta” na conversa, que nunca demonstre afã de impressionar; com esse mesmo propósito, também cabe evitar o tom sentencioso, de gosto vulgar. Realça ainda o papel da desenvoltura, para que não pareça que apenas se consegue falar bem mediante muito esforço, e a importância de evitar o didatismo livresco nas conversas. Outro aviso importante é do de temperar os elogios para que a fala não ganhe ares de adulação.

Para o autor, a regra mais decisiva da conversação é a de perceber o que cai ou assenta melhor na conversa, o que implica ser capaz de intuir sentimentos e pensamentos dos que escutam, de modo a jamais embaraçá-los. Ou seja, um conversador hábil deve saber o que a matéria e ocasião pedem, o que talvez se possa traduzir pelo critério mais geral de “senso de conveniência”.

O segundo nome que gostaria de mencionar é o de Madeleine de Scudéry (1607-1701), cujas séries de Conversations, escritas entre 1680 e 1688, recebem grande atenção de seus contemporâneos. Para ela, a utilidade e o prazer da conversação residem no estabelecimento de laços entre os homens. A isso se opõem vários maus hábitos correntes, como conversar sobre cuidados domésticos, sobre criados ou filhos, e ainda mais sobre roupas e o quanto elas custaram. Tampouco julga adequado falar cifradamente de intrigas; discutir genealogia e bens de família; falar da própria profissão, que em geral é maçante e só interessa aos que fazem o mesmo; e, de modo geral, entrar em assuntos graves, nos quais não cabe jovialidade. Também desaconselha reunião exclusiva de mulheres, sem a presença de ao menos um homem, mesmo que seja tolo, pois, a sós, tendem a esfriar o ambiente com bagatelas.

Madame de Scudéry ainda condena risos excessivos; narrações de casos funestos bem como de histórias do passado para gente que não o tenha vivido; empregar-se a falar de novidades locais, sem interesse para o visitante; falar baixinho, como se fosse segredo, o que geralmente não vai além de segredar falsas novidades. Tampouco julga adequado fantasiar grandes novidades ou falar de tudo seguidamente, para demonstrar espírito. É péssimo o hábito de falar aprofundadamente de um só assunto, que nunca se deixa mudar.

Para ela, a regra mais geral a adotar-se para uma conversação é a de falar livre e diversamente, segundo a ocasião, os lugares onde se está e as pessoas com quem se fala. O corolário dessa regra de ouro é que um grande conversador, dotado de espírito de polidez, reúne em si três talentos principais: o de desviar a direção usual das conversas; um espírito alegre e um sentido de conveniência sem apego a regras rígidas.

Salvo engano, portanto, a leitura dessas antigualhas ainda pode, senão instruir, divertir um bocado a quem se aventurar nelas.

Fonte: http://revistacult.uol.com.br/home/2014/11/a-arte-de-conversar/

Levantamento mostra que a televisão ainda é a campeã de audiência em todo o país


Por Ruy Martins Altenfelder Silva*




A Pesquisa Brasileira de Mídia, encomendada pela Secretaria de Comunicação Social da Presidência da República ao Ibope, traz algumas novidades, mas, basicamente, ajuda a con firmar e a dimensionar tendências já detectadas aqui e no exterior. Suas conclusões certamente poderão balizar a comunicação mais e ciente do governo com a população, especialmente nas chamadas mídias eletrônicas (rádio, TV e internet), já que tanto emissoras quanto programas e sites o ficiais são pouco lembrados e ainda menos assistidos. 

De acordo com o levantamento, a televisão é a campeã inconteste de audiência em todo o País, pois 65% dos brasileiros se postam diariamente, por mais de três horas, diante da telinha. Esse percentual sobe para 82%, quando considerados aqueles que a assistem cinco ou seis dias por semana. Surpresa, pelo menos para quem não está muito familiarizado com estudos sobre a mídia, é a forte preferência declarada dos telespectadores por noticiários e outros programas de cunho jornalístico, que chega a 80%, deixando em segundo lugar as novelas, com 48%.

O rádio vem em segundo lugar, mas com um dado que desmente sua penetração nos Estados com ocupação mais rarefeita. No Centro-Oeste, por exemplo, 52% da população nunca ouve rádio, o mesmo acontece com 51% dos moradores da região Norte. A maior audiência está no Rio Grande do Sul, com 72% dos gaúchos sintonizando suas emissoras preferidas pelo menos uma vez por semana. O último lugar fica com o Maranhão (9%). Não foi abordado na pesquisa o quesito programas mais ouvidos, o que daria mais clareza ao per fil dos ouvintes.

NOVAS E ANTIGAS MÍDIAS

O terceiro lugar do ranking já pertence à internet, embora 53% da população nacional ainda não acesse esse meio de comunicação, enquanto 26% ficam conectados à web durante a semana, com uma média diária de mais de três horas e meia. Nenhuma surpresa: a internet é a campeã entre os jovens menores de 25 anos (77%) e a menos cotada entre os maiores de 65 anos (3%). Com 68% das citações, as redes sociais aparecem como as mais acessadas, com prevalência do Facebook - uma tendência que estatísticas mais recentes sinalizam como já sendo abandonada pelos mais jovens. Aliás, o Facebook, com 38%, é o site mais procurado por quem está interessado em informação, seguido por portais essencialmente jornalísticos e ligados à mídia impressa, como Globo.com, G1 e UOL. Entre os entrevistados, em respostas de múltipla escolha, o acesso à internet por celular registra sensível avanço, com 40% das citações, contra os 80% dos computadores. Q uando se chega à mídia impressa, é sensível a queda da leitura de jornais e revistas entre os hábitos dos brasileiros: 70% e 85%, respectivamente, nunca abrem um jornal ou uma revista - fato que vem a confirmar as previsões de que esses meios de comunicação estão fadados ao desaparecimento. Já os mais otimistas alimentam a esperança de que com esses tradicionais veículos de comunicação aconteça o mesmo que ocorreu com o cinema, condenado à morte quando a televisão se popularizou. Ou seja, que jornais e revistas consigam sobreviver e até se fortalecer numa simbiose com os outros meios que ameaçam sua sobrevivência. Além disso, é bom não confundir o meio com a mensagem, pois o bom jornalismo pode ser exercido em outras mídias que não a impressa. E mais, como demonstra a preferência pelos programas noticiosos de TV, a fome pela informação não está desaparecendo entre as pessoas; ao contrário, ela só cresce.

SINAIS DOS TEMPO
Na análise das várias segmentações estatísticas apresentadas pela Pesquisa Brasileira de Mídia, aparece um forte sinal. O acesso aos meios de comunicação tem relação direta com dois indicadores sociais nos quais o Brasil não brilha, apesar de avanços recentes: a escolaridade e o nível de renda. Ou seja, quem tem mais anos de estudo e orçamento mais folgado, poderá ser um cidadão mais bem informado e com maior visão de mundo. Será, por exemplo, um eleitor mais consciente na escolha de seus representantes; um melhor pai ou um melhor professor para crianças e jovens; um indivíduo mais preparado para usufruir os direitos - e para cumprir os deveres - da cidadania; e assim por diante. Por tudo isso, para quem se interessa pelo tema, é sempre importante lembrar-se de aliar as pesquisas de mídia à qualidade do conteúdo que elas transmitem.


VANTAGEM

 Num importante quesito, entretanto, a mídia impressa leva nítida vantagem. Q uando está em jogo a credibilidade, ou a confiança na notícia recebida, 53% dos leitores acreditam no leem nos jornais, enquanto apenas 28% dos usuários põem fé nas informações postadas nas redes sociais. Outro ponto a observar na pesquisa é o peso da oferta de serviços de interesse da população. Por exemplo, no amplo sistema de emissoras, programas e sites mantido e alimentado pelo governo Federal, apenas dois sites receberam citações de acesso acima dos 10% e ambos com foco em assuntos de grande interesse: o do Ministério da Educação, com 12,6%; e o da Receita Federal, com 12,3%.

SECRETARIA DE COMUNICAÇÃO SOCIAL
Os meios de comunicação públicos ainda não são citados espontaneamente pela população. Os brasileiros não mencionam a TV Brasil nem a Rádio Nacional, por exemplo, quando perguntados sobre qual emissora de TV ou estação de rádio mais acessam. Os dados são da Pesquisa Brasileira de Mídia divulgada hoje pela Secretaria de Comunicação Social da Presidência da República (Secom-PR). De acordo com a publicação Hábitos de Consumo de Mídia pela População Brasileira, encomendada pela Secom e feita pelo Ibope Inteligência, programas da TV Brasil e emissoras de rádio da Empresa Brasil de Comunicação (EBC) apenas são lembrados pelos cidadãos brasileiros quando seus nomes são estimulados pelos entrevistadores.
*RUY MARTINS ALTENFELDER SILVA é presidente do Conselho Diretor do CIEE Nacional e da Academia Paulista de Letras Jurídicas.

Fonte: Portal Conhecimento Prático UOL - Revista Geografia

sexta-feira, 21 de novembro de 2014

O professor é o fator que mais influencia na educação das crianças

A família, a vizinhança e o esforço pessoal contam no resultado de cada aluno. Mas pesquisa após pesquisa mostra que um fator importa muito mais que os outros: o professor

CAMILA GUIMARÃES (ÉPOCA Online)


As irmãs americanas Beatriz e Elizabeth Vergara, de 15 e 16 anos, passam por uma experiência inusitada para adolescentes que frequentam o ensino médio público. Com mais sete alunos, elas processam o Estado da Califórnia, onde moram e estudam, por oferecer uma educação ruim. O processo correu entre janeiro e junho. Mais surpreendente foi o argumento usado: segundo os advogados das meninas, o Estado da Califórnia fere a Constituição dos Estados Unidos, ao manter a estabilidade de emprego e outras leis de proteção ao professor, porque isso dificulta a demissão de educadores ruins. A decisão do juiz Rolf True não tem precedentes. Ele concordou que a estabilidade de emprego mantém os maus professores em sala de aula. Na sentença, afirmou: ‘‘Os maus professores são determinantes para a educação das crianças. Além de chocar nossa consciência, isso viola o direito constitucional dos estudantes de ter oportunidade de uma educação básica de qualidade”. A causa das irmãs Vergara foi levada à Justiça pela ONG Students Matter (Estudantes Importam), de David Welch, um empresário do setor de fibras ópticas e ex-estudante de escola pública.
Um mau começo  (Foto: época)
Apesar de a decisão ser de primeira instância e de não criar jurisprudência, True fez barulho, na Califórnia e nos EUA. Precisa fazer barulho também no Brasil. Acabamos de passar por campanhas eleitorais, para presidente e governadores, fraquíssimas em propostas de mudanças na educação. Por aqui, o debate se concentra quase exclusivamente em quanto investir. Pouco se discute como investir de forma a melhorar o nível do professor.
Os EUA passam por profundas reformas na educação, regionais e nacionais, há décadas. Uma das maiores lutas dos reformistas é pela qualidade dos educadores. Isso passa pela avaliação do trabalho do professor. É preciso dar a ele oportunidade para melhorar e, se for o caso, dispensá-lo – medidas controversas, que contrariam leis antigas, o senso comum e os poderosos sindicatos de professores. A interpretação da lei feita pelo juiz True abalou as amarras dessas velhas regras. Desde junho, pelo menos mais três processos semelhantes ao das irmãs Vergara foram abertos em outros Estados americanos.
Um professor ruim ensina metade ou menos do que o aluno precisa aprender no ano
Reduzir a estabilidade de emprego dos professores é apenas uma das várias estratégias adotadas por países como EUA, Finlândia, Polônia e Chile. Todos já fizeram ou conduzem reformas educacionais, para chegar a um objetivo: melhorar a qualidade do professor e, dessa forma, melhorar o aprendizado do aluno.

Pode parecer óbvia, mas a ligação entre a qualidade do professor e o que se aprende em sala de aula só foi estudada e comprovada nos últimos anos. As pesquisas mais recentes mostram que não há fator mais importante para o sucesso do aluno na escola e na vida adulta. É mais decisivo que o tamanho das redes de ensino, em que região do mundo estão, as diferenças socioeconômicas entre os estudantes, os gastos com a educação de cada país, se a escola tem ou não computador, se a família ajuda na lição de casa. Por isso, para elevar o nível da educação, deve-se colocar o professor sob o microscópio. “Ninguém precisa reinventar a roda para melhorar a educação brasileira. Se a escola é o lugar onde alunos ganham conhecimento, então o professor é chave para um aprendizado de sucesso”, afirma João Batista de Oliveira, doutor em pesquisa educacional e autor do livro Repensando a educação brasileira.
>> A importância da participação dos pais na educação escolar

As pesquisas se preocuparam em medir a influência do professor entre crianças com o mesmo nível socioeconômico, na mesma escola e até na mesma série. Pesquisadores da Faculdade de Educação da Universidade Stanford descobriram que, enquanto o estudante com professor fraco aprende metade ou menos do que deveria no ano, aquele que tem bons professores aprende o equivalente a um ano a mais, e o que tem professores considerados excelentes, um ano e meio a mais. A mais recente pesquisa sobre o assunto, da Universidade Harvard, analisou duas décadas de desempenho de alunos e professores.  Chegou à conclusão de que os alunos de classes com  melhores professores ganham, ao longo da vida adulta, US$ 250 mil a mais.

Como construir um bom professor  (Foto: Época)
Para além da academia, a vida real também mostra os efeitos positivos do bom professor. “O professor é o segredo das reformas bem-sucedidas de potências educacionais, como Finlândia, Polônia e Coreia”, afirma Amanda Ripley, autora do livro As crianças mais inteligentes do mundo. Ela viajou e acompanhou estudantes em cada um desses países para compreender o que fizeram. “São diferentes países, com diferentes culturas e tamanhos, com poucas coisas em comum. Uma delas é levar mais a sério a preparação dos professores para a sala de aula”, afirma.
Como tornar os professores melhores? Por onde começar? Há um consenso entre estudiosos e educadores: um bom começo é mudar a forma como recrutamos e formamos os futuros educadores. No Brasil, alunos do grupo dos melhores e mais brilhantes no ensino médio dificilmente seguem para o curso de pedagogia. A maioria dos jovens que prestam vestibular para esse curso está entre os 20% piores resultados do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem). “Os melhores seguirão carreiras mais atraentes, como medicina e engenharia”, afirma Barbara Bruns, economista que chefia os estudos de educação do Banco Mundial para a América Latina. Em novembro, será publicado no Brasil um livro com os resultados de uma ampla pesquisa liderada por ela, sobre a qualidade dos professores da região. Ela afirma que, na Universidade de São Paulo (USP), onde os ingressantes estão entre os melhores alunos do Brasil, pedagogia é o único curso que aceita candidatos com pontuação inferior à metade da prova do vestibular. Cerca de 90% dos professores do Brasil se formam em faculdades de baixa qualidade.

Todos os países que investiram para tornar a carreira mais atraente também tinham estratégias para melhorar a qualidade de quem já estava no sistema. No caso do Brasil, são 2 milhões de professores da educação básica. Um caminho comum é fazer uma avaliação periódica do professor, descobrir suas falhas e ajudá-lo a melhorar. A avaliação de professores, com a redução da estabilidade de emprego, enfrenta resistências, especialmente se o propósito for premiar os melhores. Os defensores da meritocracia afirmam que tratar professores bons e ruins da mesma forma espanta os jovens talentosos e desprestigia a carreira. Quem é contra menciona programas de bonificação sem efeito nenhum no resultado do aprendizado, como em alguns Estados americanos. “Sou contra avaliar professor para premiar os melhores”, diz Maria Izabel de Noronha, presidente do Sindicato dos Professores do Estado de São Paulo, o maior da América Latina. “Para valorizar a carreira docente e avançar na qualidade do ensino, é preciso pagar salários maiores e melhorar as condições de trabalho do professor.”
As discordâncias são muitas, mas é possível chegar a um acordo. Isso ocorreu no Chile, país latino-americano mais bem colocado nas avaliações internacionais de educação. Em 2003, os chilenos adotaram a avaliação de professores. Seus critérios foram elaborados em conjunto pelo Ministério da Educação, pelo sindicato dos professores, pelos administradores municipais e por técnicos da área. Ficou definido ali como o professor deve organizar uma aula e como deve elaborar uma prova para avaliar o aprendizado. A prova para os professores se tornou obrigatória. Eles são avaliados por pares e suas aulas são filmadas por observadores externos. “Avaliamos se ele tem domínio do conteúdo e da turma, como ele interage com os alunos, como organiza a aula”, diz Sergio Martinic, pesquisador da Universidade Católica do Chile. Se, após cinco avaliações, o professor ainda tiver desempenho insuficiente, é demitido. Ao mesmo tempo, os cursos de pedagogia chilenos modernizaram o currículo. Orientam-se mais para práticas em sala de aula que para disciplinas teóricas. O governo passou a financiar os estudos dos candidatos que tirarem mais de 60% da nota do vestibular.

Mexer na formação e na carreira dos professores envolve tomar medidas impopulares e esperar resultados no longo prazo. Mas não é impossível. A Finlândia começou fechando todas as faculdades de pedagogia. A Coreia leva a meritocracia a extremos e paga salários milionários aos professores-astro. É preciso ir além das políticas de inclusão na escola e estabelecer um debate sobre qualidade de ensino e dos professores. Falta só começar.

Fonte: ÉPOCA ONLINE

Mundo tem 35,8 milhões de escravos

Brasil tem cerca de 155.000 pessoas submetidas à servidão, diz ONG

Criança em campo de refugiados no sudoeste da Mauritânia. País tem a maior proporção de escravos no mundo
Criança em campo de refugiados no sudoeste da Mauritânia. País tem a maior proporção de escravos no mundo (VEJA)
Um novo levantamento mostra que 35,8 milhões vivem como escravos no mundo. O total chega a 0,5% da população mundial, segundo a fundação Walk Free, que analisou dados em 167 países.

Escravos

Os países com a maior proporção de escravos em relação à população
Mauritânia: 4%
Uzbequistão: 3.97%
Haiti: 2.3%
Qatar: 1.36% 
Índia: 1.14%

Os países com o maior número de escravos 
Índia: 14.29 milhões
China 3,24 milhões
Paquistão: 2,06 milhões
Uzbequistão: 1,2 milhão
Rússia: 1,05 milhão


De acordo com o levantamento, o país com o maior número de escravos, proporcionalmente, é a Mauritânia, no noroeste da África, com 4% de sua população de 3,9 milhões submetida à servidão. Em números absolutos, a Índia aparece na frente, com 14 milhões de escravos. Tanto a Ásia quanto a África apresentam os números mais preocupantes, segundo a organização. A prática é menos prevalecente na Europa, mas a Rússia aparece em quinto lugar em números absolutos, com 1,05 milhão de escravos. Juntos os cinco países com mais escravos no mundo respondem por 61% dos números de pessoas submetidas à prática. 
O número total revelado no relatório deste ano é 20% mais alto do que o apurado em 2013. Segundo a Walk Free, a explicação é a mudança na metodologia, e não um aumento geral da prática.
Embora ainda existam cativos à moda das antigas sociedades escravagistas, a pesquisa mapeia principalmente o que se convencionou chamar de trabalho escravo contemporâneo ou moderno. São pessoas vítimas de trabalho forçado - por violência ou por dívida -, tráfico humano, exploração sexual e casamentos forçados. Outros levantamentos, como da Organização Internacional do Trabalho, estimam que 21 milhões de pessoas vivem como escravos. 
O Brasil tem 155.300 escravos, segundo o levantamento, ou 0,0775% de sua população, aparecendo em 143° lugar entre os países analisados. O número total é mais baixo do que o dado apurado no ano passado, 220.000. O relatório aponta alguns pontos preocupantes no Brasil, como a alta incidência de adolescentes trabalhando em serviços domésticos, mas faz elogios ao Brasil no combate à escravidão, citando o Pacto Nacional pela Erradicação do Trabalho Escravo, que foi assinado por mais de 300 empresas até o ano passado.
Nas conclusões, a Walk Free pede mais esforços da comunidade internacional para combater a escravidão e aumentar as punições por tráfico humano e para as empresas que fazem uso da prática. 
Fonte: Veja Online

A música eletrônica do Brasil conquistou o mundo

A produção de música eletrônica no país cresceu, ganhou fama e arrebatou fãs na Europa e nos EUA. O Brasil do bate-estaca agora rivaliza com o país da bossa nova

POR JÚLIA KORTE E NINA FINCO (Época Online)
INOVADORA A balada D-Edge,  em São Paulo, foi o primeiro endereço visitado pelos DJs estrangeiros que levaram a música eletrônica brasileira para o exterior (Foto: Divulgação)

Nos anos 1960, a música brasileira chamou a atenção do mundo. A bossa nova de Tom Jobim e João Gilberto ganhou tamanha projeção no exterior que, até hoje, “Garota de Ipanema” ostenta o posto de segunda canção mais executada no planeta, atrás apenas de “Yesterday”, dos Beatles. Mais de seis décadas depois, a invenção musical brasileira volta a surpreender  os ouvidos estrangeiros, desta vez com um estilo bem diferente, o eletrônico. Nas pistas do mundo inteiro, o público se empolga ao som do batidão único, animado e cheio de personalidade do eletrônico brasileiro. Ele virou item de exportação da cultura musical. Nomes de DJs brasileiros como Felguk, Renato Ratier e Gui Boratto se tornaram familiares no exterior. Regularmente, tocam para multidões de até 200 mil pessoas e arrancam elogios dos maiores nomes da indústria musical. O remix autorizado de artistas consagrados, como Madonna, é feito por brasileiros, em outra demonstração de prestígio. Recentemente, o jornal inglês The Financial Times colocou o DJ Renato Cohen entre os 25 brasileiros mais influentes do mundo, ao lado de Neymar, Gisele Bündchen e Joaquim Barbosa, ex-presidente do Supremo Tribunal Federal. Hardwell, o DJ mais celebrado do mundo, vira e mexe apresenta sucessos brasileiros para as multidões.
Agora, num movimento paralelo, os estrangeiros começam a descobrir que o Brasil também é um bom lugar para curtir esse tipo de música. A revista americana Forbes disse que o país é a nova “meca da música eletrônica”. A fama, confirmada pela britânica The Economist, se traduz em números animadores. No ano passado, mais de 27 milhões de pessoas participaram de eventos ligados à música eletrônica no Brasil. DJs famosos não vêm ao Brasil apenas para tocar. Fazem pesquisa musical, se alimentam do estilo brasileiro, incorporam músicas criadas pelos DJs nacionais a suas apresentações e criam batidas inspiradas por eles. O produtor americano Diplo, um dos grandes nomes da cena eletrônica, é fã declarado do “baile funk”,  gênero baseado na batida carioca. O DJ britânico Fatboy Slim, frequentemente visto pelos camarotes no Carnaval, tem um amor documentado pelo Brasil. Seu mais novo álbum chama-se Bem Brasil. Annie Mac, uma DJ britânica, afirmou neste ano: “No Brasil, você pode sentir a música das festas das cidades ecoar nas montanhas”.
“Evoluímos muito nos últimos três anos”, afirma Claudia Assef, jornalista que escreve sobre música eletrônica há 21 anos e publicou o livro Todo DJ já sambou (Conrad, 264 páginas, R$ 46). “Sempre houve DJs tocando, mas as músicas brasileiras  não eram necessariamente de alta qualidade, como hoje”, diz Claudia. Os disc jockeys surgiram no país no tempo das discotecas, nos anos 1980. Só agora começam a ser valorizados. “O Brasil é famoso por ter os melhores DJs, que não são reconhecidos aqui”, diz Cohen, há 20 anos no mercado. Paulistano, tornou-se  mundialmente conhecido em 2002, com o lançamento da música “Pontapé”. Passou a se apresentar nos mais importantes festivais do mundo, do Japão à Alemanha. Desde então, é apontado como o nome que contribuiu para consolidar estilos como tecno e house, que antes não tinham tanta aceitação nas pistas. “Antes me perguntavam se eu fazia samba. Diziam que, por tocar eletrônico, eu era exótico. Agora é de igual para igual”, diz ele.
Cohen foi exceção no mercado.  Poucos DJs nacionais conseguiram fama internacional antes de 2012. Foi só com a expansão do estilo comercial EDM, ou electronic dance music, que a música eletrônica se tornou um gênero universal e abriu portas ao talento brasileiro. Existe hoje um estilo claramente definido de música eletrônica brasileira? “Não há  uma escola de música brasileira em que todos tenham a mesma cara”, diz Cohen. “A habilidade do brasileiro é pegar tudo, de todos os lugares. Todos falamos a mesma coisa, mas de jeitos diferentes. A identificação vem da junção de ideias.” 
 

Djs (Foto: Julia Rodrigues/ÉPOCA e divulgação (4))
É pela internet que a maioria dos artistas brasileiros chega ao mercado estrangeiro. A música eletrônica não circula na TV, como um clipe de pop ou rock. Os DJs brasileiros publicam e  divulgam sua música em sites especializados – o maior deles é o Beatport. Esperam que um nome consagrado resolva tocá-la numa festa importante. É assim que o sucesso acontece. Foi pela internet que o paulistano Felipe Tampa, ou FTampa, de 30 anos, tornou-se conhecido. Depois de cinco faculdades incompletas e uma banda de rock que não decolou, em 2013 ele fez uma música chamada “Kick it hard” (sua versão de “Pontapé”) e publicou-a num site de música eletrônica. As rádios do festival belga Tomorrowland, considerado o maior do mundo, tocaram sua música. Ele estourou lá fora. “Essa é a forma normal de ficar conhecido”, diz FTampa. “A música é sempre renovada pela internet. O jovem que faz a moda abraçou o eletrônico. Estamos com uma força absurda.”
As casas noturnas também serviram como trampolim para muitos DJs. “Espaços como a D-Edge, em São Paulo, foram um chamariz para os DJs internacionais chegarem aqui e conhecerem o cenário brasileiro”, diz Cláudia. Atualmente, algumas pistas no Brasil desbancam até a famosa Ilha de Ibiza, na Espanha, conhecida pelas festas que recebem grandes nomes do eletrônico. O Balneário Camboriú, em Santa Catarina, é o lar de diversas casas noturnas internacionalmente reconhecidas pela música eletrônica, incluindo algumas de Ibiza, como Pacha e Space. Em 2013, os leitores da britânica DJ Magazine elegeram a catarinense Green Valley como a melhor pista de música eletrônica do mundo. Outras seis casas brasileiras apareceram na lista das 100 mais.
Com toda essa celebração, a música eletrônica virou um grande negócio. O megafestival Tomorrowland terá sua primeira edição no Brasil em maio de 2015, em Itu, interior de São Paulo. Anunciado pelo DJ David Guetta em julho deste ano, o evento esgotou seus 180 mil ingressos em menos de três horas. Em 2009, a indústria mundial de música eletrônica movimentava algo em torno de R$ 3 bilhões. Atual­mente, passa dos R$ 20 bilhões – e os brasileiros sonham com uma fatia maior do negócio.

O coordenador do curso de produção de música eletrônica da Faculdade Anhembi Morumbi, de São Paulo,  Leonardo Vergueiro, vê com reservas o título de “meca da música eletrônica” atribuído ao Brasil. “Ainda não chegamos a esse ponto”, diz ele. Houve aumento da produção e do consumo, mas muitos continuam  dançando sem saber o que estão ouvindo. “Caminhamos para um cenário em que quem faz a música é tão importante quanto o DJ que a toca”, diz ele. Quando esse momento chegar, as músicas eletrônicas brasileiras serão tão identificáveis e tão famosas quanto “Garota de Ipanema”.

Fonte: ÉPOCA Online

quinta-feira, 13 de novembro de 2014

Nauro Machado - a essência do poeta maranhense


Tive a honra de participar - em meados dos anos 2000 - de um encontro (na verdade um sarau) com jovens poetas maranhenses, ocasião em que esteve presente o poeta Nauro Machado e onde pude ler uma de minhas poesias para ele. À época, e nunca me esquecerei, esse grande mestre da poesia me honrou com sua generosidade ao elogiar um de meus escritos. 

Além dessa, por várias outras vezes encontrei-o a andar pela cidade, confundindo-se com suas ruas, praças, cantos e recantos. Ao saudá-lo, como de praxe, me aprazia ouvi-lo responder: "Meu príncipe!" ou o tradicional "Meu poeta!"

Nauro Machado é, para mim, o maior poeta maranhense de todos os tempos - e olha que temos outros tantos que brilhantemente escreveram seus nomes na história literária deste país - e, muito possivelmente um dos maiores, senão o maior (vivo), no Brasil. 

Afirmo isso porque há nele, e em sua pouco conhecida obra literária, algo de único, singular e essencial. Sua poesia alcançou um patamar de burilamento ontológico incomum. A construção de seus versos, a densidade, a intensidade, o peso dramático, existencial, profético, vivencial que transborda dos poemas de Nauro Machado traduzem uma identidade perfeita entre o autor, a vida e a estética do fazer poético. Por isso e muito mais é que esse homem que carrega a cidade dentro e fora de si  merece ser, por todos os que amam a poesia, eternamente reverenciado.

domingo, 9 de novembro de 2014

Journey - When You Love a Woman

"O mundo está à beira de uma nova Guerra Fria", afirma Gorbachev

Ao participar dos festejos dos 25 anos da queda do Muro de Berlim, ex-líder soviético critica políticas adotadas pelo Ocidente desde o fim do bloco comunista e fala em "quebra de confiança" com a Rússia.
Em visita a Berlim para participar das comemorações dos 25 anos da queda do Muro, o último líder da União Soviética, Mikhail Gorbachev, criticou duramente neste sábado (08/11) as políticas implementadas pelos países ocidentais desde o fim do bloco soviético.
"O mundo está à beira de uma nova Guerra Fria. Muitos dizem até que ela já começou", declarou Gorbachev, ao comentar a tensa situação atual envolvendo rebeldes pró-Rússia no leste da Ucrânia.
Ele acusa o Ocidente, especialmente os Estados Unidos, de não cumprir as promessas feitas desde os tempos da bipolarização mundial. Para ele, os países ocidentais simplesmente se declararam vencedores da Guerra Fria e tentaram obter vantagem do enfraquecimento da Rússia.
"Os acontecimentos dos últimos meses são consequência de políticas de visão limitada, ignorando os interesses dos parceiros", afirmou, destacando um "quebra na confiança" na relação entre os países. "E agora que a situação está dramática, não vemos o principal organismo internacional, o Conselho de Segurança da ONU, desempenhar nenhum papel ou tomar qualquer medida concreta", criticou.
Gorbachev disse que o Ocidente cometeu muitos erros que irritaram a Rússia, como a expansão da Otan e suas ações na Iugoslávia, no Iraque, na Líbia e, mais recentemente, na Síria, além dos planos de um sistema anti-aéreo de defesa.
Audioslideshow Helmut Kohl Michail Gorbatschow
Em 1990, o então chanceler federal alemão, Helmut Kohl (d), e o líder soviético, Mikhail Gorbachev (e), celebraram acordos
Herói do fim do bloco comunista
Ao participar de um evento no Portão de Brandenburgo, Gorbachev mostrou compreensão com a política adotada pelo Kremlin em relação ao recente conflito envolvendo a Ucrânia. O ex-líder soviético pediu ainda a suspensão das sanções da Europa e dos EUA contra a Rússia.
Para ele, a relação de confiança do Ocidente com a Rússia, que levou à revolução pacífica na Alemanha e nos países do leste europeu, começou a ruir já nos anos 1990. Ele defende que essa relação seja restabelecida, especialmente entre alemães e russos. "Precisamos lembrar que, sem a parceria russa-alemã, não há segurança na Europa", afirmou, ressaltando que, se isso ocorrer, o continente passará a ser irrelevante como força global.
As reformas promovidas na então União Soviética por Gorbatchev, hoje com 83 anos, ajudaram a pavimentar o caminho para a queda do Muro de Berlim, seguida pelo fim do regime comunista no leste europeu. Por isso, muitos alemães que viviam no lado oriental do muro e participaram de manifestações naquele ano de 1989 consideram o vencedor do Nobel da Paz, ainda hoje, um herói.
Fonte: www.dw.de

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