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Gabriel García Márquez, o "Gabo" (*1927 +2014) |
Morreu nesta quinta-feira, na Cidade do México, aos 87 anos, o escritor
colombiano Gabriel García Márquez, vencedor do prêmio Nobel de
Literatura em 1982 e um dos criadores da corrente literária conhecida
como realismo mágico. Considerado um dos mais importantes autores do
século XX, Márquez estava com a saúde debilitada e estaria com câncer em fase de metástase
no pulmão, gânglios e fígado. A idade avançada e a condição frágil do
autor levaram a família a abrir mão de um tratamento oncológico para
optar por cuidados paliativos em casa. Casado há 56 anos com Mercedes
Barcha, o escritor deixa dois filhos, Rodrigo e Gonzalo.
Márquez nasceu em 6 de março de 1927, no pequeno município de Aracataca, na Colômbia. Autor de obras aclamadas como Cem Anos de Solidão e O Amor nos Tempos do Cólera, Gabo, como é chamado por amigos e fãs, diz que começou a escrever a força. No livro Eu Não Vim Fazer Um Discurso,
de 2010, publicado no Brasil pela editora Record, o autor relembra que,
ainda estudante, viu um texto desafiador do jornalista Eduardo Zalamea
Borda, no suplemento El Espectador, de Bogotá. Segundo Borda, o
futuro literário estaria em perigo, já que não conhecia nenhum bom
jovem escritor. Márquez, que ainda não tinha certeza de suas aptidões,
nem qual caminho seguiria profissionalmente, topou o desafio em um
sentimento de “solidariedade com os companheiros de geração”. Escreveu
um conto e mandou para o jornal. Para sua surpresa, no domingo seguinte,
o texto estava publicado juntamente com um pedido de desculpas de
Borda, que, enfim, retomou sua fé em talentos da juventude.
Família - O mais velho entre onze irmãos, Márquez é
criado pelos avós, enquanto seus pais, Luisa Santiaga Márquez e Gabriel
Eligio García, se mudam para a cidade de Barranquilha para administrar
uma farmácia. Os esforços do pai em economizar para investir na educação
do filho, sonhando com um futuro advogado, são frustrados. Em 1949, aos
22 anos, Gabo deixa a faculdade de direito após cursar seis semestres. A
atitude faz com que o pai corte relações com ele por um tempo.
“Havia desertado da universidade, com a ilusão temerária de viver do
jornalismo e da literatura sem necessidade de aprendê-los, animado por
uma frase que creio ter lido em Bernard Shaw: ‘Desde pequeno tive que
interromper minha educação para ir à escola’”, diz Márquez em um trecho
do livro Viver para Contar (Editora Record), em que o escritor
narra o período da saída da Universidade até o início do seu fazer
literário, permeado por lembranças da infância e da adolescência.
A ilusão da vida de jornalista faz com que Márquez viva,
inicialmente, no limiar da pobreza. Endividado, ele tem poucos
pertences, contrapostos às suas muitas aspirações. Uma viagem com sua
mãe até Aracataca, narrada no início de Viver para Contar, em 1950, é destacada por ele como o marco que o fez entender que, sim, seria um escritor e como escreveria.
O retorno ao cenário da infância lhe revela que seus esforços
literários deveriam ser calcados “em uma verdade poética”, fagulha que
inicia o movimento realismo mágico, em que a realidade se funde com
elementos fabulosos. A viagem também é uma influência para o nascimento
de um dos povoados mais famosos da ficção: Macondo. A aldeia descrita em
Cem Anos de Solidão e seus integrantes apresentam elementos autobiográficos e fazem uma referência direta a Aracataca.
Primeiros livros - Em 1955, Márquez publica seu primeiro livro, A Revoada - O Enterro do Diabo (Editora
Record), que, apesar da pouca visibilidade, recebe boas críticas.
Alguns anos depois, vai para a Europa trabalhar como correspondente
internacional. Na época, chega a pensar em ficar por definitivo no velho
continente, não fosse sua grande paixão da adolescência, Mercedes
Barcha, com quem se casa em 1958 e permanece até o final da vida. Um
ano após o casamento, nasce seu primeiro filho, Rodrigo.
No início dos anos 1960, Márquez vai para Nova York trabalhar como
correspondente nos Estados Unidos. Contudo, sua amizade com o ditador
Fidel Castro, de Cuba, o torna persona non grata no país. De lá, parte
para o México, onde publica o livro Ninguém Escreve ao Coronel, em 1961. Três anos depois, nasce seu segundo filho, Gonzalo.
Obra-prima - É também neste período que a
necessidade de escrever sobre suas origens volta a incomodar o escritor.
Em 1968, sua obra-prima, o livro Cem Anos de Solidão. Márquez
diz que a obra demorou dezenove anos para ser feita, entre o idealizar
da história e sua concretização. Para se dedicar inteiramente à ideia, o
escritor empenhou seu carro, esperando que o dinheiro durasse seis
meses, período calculado por ele para escrever o livro. No fim, ele
demorou um ano e meio escrevendo. Enquanto isso, sua esposa segurou as
pontas das finanças na família e se encarregava até mesmo de trazer com
frequência as folhas de papel em que o marido trabalhava.
Segundo a biografia Gabriel García Márquez: Uma Vida, de
Gerald Martin, publicada no Brasil pela Ediouro, o casal foi até o
correio com o calhamaço de 490 páginas datilografadas, porém a taxa de
envio ficava acima do valor que possuíam. Por isso, começaram a tirar
páginas do pacote, até atingir o peso que eles poderiam pagar. Acabaram
mandando só metade. Depois, penhoraram alguns objetos domésticos, e
enviaram o restante. "Ei, Gabo, tudo o que nos falta agora é o livro
fracassar", diz Mercedes após o esforço.
O livro não fracassa. Pelo contrário, se torna um dos maiores
sucessos da literatura latina-americana e rende ao seu autor status de
grande escritor. Em 1982, ele ganha o prêmio de Nobel de Literatura pelo
conjunto de sua obra.
Fonte: Veja Online