domingo, 6 de janeiro de 2013

Nova lei para internação de adolescentes completa um ano com poucos avanços


Nova lei para internação de adolescentes completa um ano com poucos avanços
O Sinase determina, entre outras coisas, que as unidades de cumprimento de medidas socioeducativas tenham estrutura de escola, não de prisão. (Foto: Glaucio Dettmar/Agência CNJ)
São Paulo –  O Sistema Nacional de Atendimento Socioeducativo (Sinase), sancionado em janeiro de 2012 e em vigor desde abril, demora a ser implementado nos estados e municípios. O Plano Nacional Socioeducativo, bem como os estaduais e municipais, que estabelecem as suas diretrizes, ainda estão sendo debatidos e muitas medidas que já poderiam estar em prática, como número reduzido de adolescentes em cada unidade, ainda são aplicadas parcialmente. 

A socióloga Miriam Maria José dos Santos, vice-presidenta do Conselho Nacional dos Direitos da Criança e do Adolescente (Conanda), disse que uma comissão intersetorial, coordenada pela Secretaria de Direitos Humanos para monitorar a implementação do Sinase, mostra que as ações ainda são incipientes, com avanços em alguns estados e atrasos em outros. "Neste primeiro ano, os trabalhos consistiram mais na perspectiva do planejamento, de organização para a execução, na elaboração dos planos Nacional, estaduais e municipais. No primeiro ano era mais uma perspectiva de planejamento", disse.
Segundo ela, até março de 2013 os gestores já teriam de elaborar planos com a participação de atores da promoção e defesa dos direitos, gestores, representantes do Ministério Público, defensoria pública. "Os planos já deveriam estar na reta final, mas como o socioeducativo não é prioridade, estão todos atrasados. Precisamos de uma atuação mais forte, seguir o que manda a Constituição e priorizar a criança e o adolescente".
Para Esequias Marcelino da Silva Filho, presidente do Conselho Estadual dos Direitos da Criança e do Adolescente de São Paulo, estados e municípios dependem das diretrizes traçadas pelo Plano Nacional Socioeducativo. "É a partir do Nacional que os outros serão feitos. E todos precisam da orientação dos planos para colocar o Sinase em prática", disse. Até agora, segundo ele, uma comissão tem se reunido para debater o tema, como num seminário recente para o planejar as atividades para 2013.
Segundo o conselheiro, alguns pontos determinados pelo Sinase já estão sendo implementados no estado de São Paulo, como unidades de pequeno porte e cumprimento de medida em regime de liberdade assistida, por exemplo. No entanto, as novas regras se restringem a algumas unidades, conforme decisão do gestor. "A maioria continua no passado porque o novo incomoda", disse. Procurada pela reportagem da RBA, a Fundação Casa não se manifestou para explicar como o Sinase está sendo implementado nas suas unidades.

Articulação de Direitos

Arrojado, o Sinase pretende priorizar e articular educação, saúde, assistência social, lazer, cultura, esporte e profissionalização em medidas realmente socioeducativas. O objetivo é proporcionar condições para que o adolescente autor de ato infracional saia das unidades com acesso aos direitos básico que nunca teve, com melhores oportunidades e projetos de vida como qualquer cidadão. Em outras palavras, que saia da medida socioeducativa melhor do que antes de entrar. Outra inovação do Sinase é obrigar os gestores a priorizarem, no planejamento orçamentário, recursos para a socioeducação, responsabilizando aqueles que não cumprirem tal obrigação (leia destaque).  
Segundo dados do Conselho Nacional de Justiça, cerca de 17 mil jovens cumprem medidas de privação de liberdade. Das 318 unidades de internação existentes no país, apenas 41 estão adequadas aos padrões arquitetônicos estabelecidos pelo Sinase. Dos 5.564 municípios brasileiros, apenas 11,4% (636 cidades) já municipalizaram seu atendimento ou estão em fase de implementação. 
Outro levantamento, feito pela Subsecretaria de Promoção dos Direitos da Criança e do Adolescente, mostrou que em 2007 o número total de jovens que cumpriam medida socioeducativa era de aproximadamente 60 mil. Desses, 26,6% recebiam atendimento em meio fechado, sendo que a maior parte, 71%, era de jovens em regime de internação. 
Para Sandra Amorim, professora de Psicologia da Universidade Federal do Mato Grosso do Sul, em Campo Grande, e conselheira do Conselho Federal de Psicologia (CFP), a demora no avanço da implementação do Sinase reflete a resistência e o descaso que envolvem a questão do adolescente em conflito com a lei. "A maioria das pessoas valoriza excessivamente os atos desses adolescentes e acredita que eles são irrecuperáveis, um caso perdido", disse. 
Ela lembra que quase 90% da população brasileira quer a redução da maioridade penal para os 16 anos. "Como se isso fosse resolver o problema. A gente sabe que nossas cadeias não trazem nenhum tipo de benefício para a recuperação dos adultos, muito menos para os jovens”, disse Sandra. 
Para completar, segundo ela, a sociedade oferece ao adolescente modelos de identificação que, do ponto de vista da Psicologia, são mais fortes por colocarem os 'fora da lei' como heróis de sucesso. "Na nossa cultura, pessoas que desrespeitam as regras sociais, éticas, morais, são as que se dão bem, têm mais êxito. Essas figuras de identificação na adolescência são extremamente perigosas porque, para  ganhar visibilidade, o adolescente vai copiar esses modelos."

Em fase de acabamento

Segundo a psicóloga, um ponto importante que a sociedade ignora ou finge ignorar é que o adolescente não é um ser humano acabado, e sim em processo de desenvolvimento. "É óbvio que muitos desses jovens passaram por muitos processos de violência e por isso é impossível homogeneizar. Do mesmo modo, é impossível afirmar taxativamente que eles são criminosos sem chances de recuperação – que é o discurso recorrente." 
Para ela, como preconiza o Sinase, a alternativa é a oferta de mais educação – é clara a falta de vínculo desses jovens com a escola – e de todos os direitos que lhe foram negados, daí o fato de muitos profissionais entenderem que é a lei é que está em conflito com eles, e não o contrário. Embora haja experiências exitosas, em geral os adolescentes que passam por medidas socioeducativas são discriminados nas escolas, quando a educação significa a chance de uma trajetória diferenciada, de reagir. A questão, para a conselheira do CFP, torna-se mais grave quando se compara esses jovens com os de classe média, média alta, que também cometem infracionais mas que sequer chegam ao sistema. "São protegidos pela condição econômica, que restringe o ato infracional aos pobres e em especial os negros, repetindo o padrão do modelo socioeducativo ao que se vê nos presídios. Infelizmente o Brasil ainda é muito preconceituoso nas suas práticas embora as leis sejam muito avançadas".
Sandra lembra dados do Ministério da Saúde que mostram que o adolescente morre muito mais do que mata, embora a mídia tradicional divulgue apenas situações nas quais o adolescente é autor de ato infracional grave. Outro dado importante: dos adolescentes em regime de internação, menos de 10% cometeu algum delito considerado grave. “Só que eles estão lá misturados a outros que cometeram esses delitos e, no atual sistema, acabam não tendo a chance de ser fortalecidos quando, pela legislação, deveriam ser  inseridos na escola, no atendimento à saúde e outros serviços para de fato se tornarem cidadãos”, diz.
O número de delitos é muito pequeno no geral. Há casos graves, assustadores, mas esses são exceções. Dos 10% considerados mais graves, 3% são muito graves. Os outros 97% a gente tem de assistir de forma mais humanizada porque senão a gente faz a inversão: os que estão de alguma forma mais avançados na criminalidade acabam se tornando professores de adolescentes que estão ali porque cometeram delitos mais leves. E aí a gente perde o espaço de intervenção. Se a gente conseguir avançar na operacionalização, na garantia dos direitos jurídicos desses jovens que têm direito a um defensor, a maioria não tem. Muitas vezes fica lá quando a medida deles já terminou – como acontece com adultos no sistema prisional. E como não tem defensor, ele acaba ficando sem nenhum tipo de assistência jurídica – que é uma coisa importante. O acompanhamento do processo dele tem de dar direito a defesa.
Na sua avaliação, o Sinase avança também ao estabelecer um plano individualizado de atendimento, construído por uma equipe, com participação do adolescente inclusive, na perspectiva da sua responsabilização pelo seu ato infracional e, principalmente, do seu projeto de vida dali para a frente. Assim, o modelo socioeducativo mantém o caráter de responsabilização, mas incorpora o de construção do acesso a que esse adolescente não tem acesso, inclusive o apoio familiar por falta de orientação. "As famílias em geral estão desamparadas e desorientadas sobre como lidar com um filho autor de ato infracional", disse.
Outra exigência do Sinase é tirar o adolescente dessa intervenção do estado e colocá-lo no lugar de um sujeito de direitos. "Ele e sua família têm de ser responsáveis, inclusive ter a responsabilidade pelas consequências do seus atos. Mas têm o direito de serem acompanhados, instruídos, fortalecidos para isso".
Segundo ela, muitas vezes a família fica refém. Como em casos em que o adolescente está mais afinado com o traficante do que com os familiares. É uma situação difícil mas a perda desse poder tem de ser restituída. "Para isso, há que se respaldar a família que passa por dificuldade. Inclui-la em projetos sociais governamentais, numa rede de garantias. E a escola deve estar esperando por esse  esse adolescente". Não dá para culpar a a família quando muitas vezes não têm condições. A intervenção junto à família é fundamental, inclusive acionando outras parcerias da rede (Cras, Creas, saúde) quando o adolescente tem problemas com drogas – embora a maioria não seja dependente químico como se pensa. É dar o atendimento integral que ele não teve até então para que ele restaure e passe a viver. 
Novidades trazidas pelo Sinase

Criado pela Lei 12.594, sancionada pela presidenta Dilma Rousseff, o sistema é complementar a uma resolução do Conselho Nacional dos Direitos da Criança e do Adolescente (Conanda). O Sinase estabelece normas para padronizar os procedimentos jurídicos envolvendo menores de idade, desde a apuração do ato infracional até a aplicação das medidas socioeducativas. 

Entre as mudanças trazidas está o limite de 90 adolescentes para cada unidade de atendimento em regime fechado (com privação de liberdade). Os quartos devem ser ocupados por apenas três jovens; a arquitetura desses prédios deverá ser semelhante à de escolas, e não de presídios, contemplando espaços para atividades físicas;
são detalhadas as responsabilidades dos governos federal, estadual e municipal em relação à aplicação das medidas e à reinserção social dos adolescentes;

Os Conselhos dos Direitos da Criança e do Adolescente das três esferas administrativas passam a ser obrigados a definir o percentual dos Fundos da Infância e da Adolescência (FIA), que será direcionado sistema de atendimento socioeducatico; 
a formação da equipe técnica responsável pelo atendimento dos adolescentes no município – que é um dos gargalos do sistema;  cria o Sistema Nacional de Informações sobre Atendimento Socioeducativo e o Sistema Nacional de Avaliação e Acompanhamento do SINASE; define os direitos individuais dos adolescentes em conflito com a lei; pontua que a medida deve ser aplicada pelo princípio da legalidade e, por isso, o adolescente não pode receber tratamento mais grave do que o conferido ao adulto; 
define a prioridade, sempre que possível, de práticas e medidas restaurativas, bem como o fortalecimento dos vínculos familiares e comunitários e a não discriminação do adolescente. 

Outra exigência é que os municípios com mais de 100 mil habitantes elaborem e coloquem em prática planos para o cumprimento de medidas socioeducativas em meio aberto, como a prestação de serviços comunitários. Municípios de menor porte poderão se organizar em consórcios e elaborar planos regionais.

Fonte: Rede Brasil Atual

sábado, 5 de janeiro de 2013

eReader Kobo Touch (by Livraria Cultura)

Uma boa opção para os amantes da leitura. Já pensou em ter o seu?

Árbitro profissional dá dicas para quem deseja ingressar na profissão



José Pelissari (Foto: Divulgação)
José Pelissari, árbitro profissional de basquete
(Foto: Divulgação)
Vida de árbitro não é fácil. É preciso ter bom condicionamento físico, conhecer a regra na ponta da língua e, em muitos casos, ter preparo mental para aguentar a pressão da torcida e dos jogadores. Para quem deseja seguir nessa profissão, José Pelissari, que atua como árbitro de basquete há mais de 30 anos, é enfático ao dizer que é preciso, acima de tudo, ter disponibilidade, principalmente aos finais de semana, período em que acontece grande parte dos jogos.

Um dos pontos importantes para o árbitro é sua condição psicológica. Pilissari, que já apitou em grandes eventos esportivos, dentre eles as Olimpíadas de Atlanta, em 1996, destaca que a preparação psicológica deve ser constante. “Não existe um jogo igual a outro. Muitas vezes visualizamos exemplos de jogos passados, em que o fator psicológico não foi bem trabalhado. Somos preparados para situações de pressão, seja dentro, ou fora da quadra. Ainda assim, momentos antes da partida, fazemos uma reflexão sobre as situações extras que poderão ocorrer durante o jogo”, conta o árbitro.

Mas que instituição procurar para se tornar um árbitro? Pelissari lembra que se o candidato pretende atuar nos campeonatos de federação, deve procurar o departamento de arbitragem da federação relativa à modalidade em que deseja trabalhar. Caso a opção seja por atuar em campeonatos não federados, como os universitários, escolares e ligas, por exemplo, deve-se procurar as entidades que administram esse tipo de jogos.

"Para se tornar um árbitro, é preciso, inicialmente, fazer um curso de formação na modalidade escolhida e ser aprovado. No caso do basquete, dependendo da função do árbitro, existe, ainda, o teste físico. Basicamente, em todas as modalidades, o árbitro vai conquistando gradativamente promoções por meio de cursos, avaliações e reciclagens. No basquete, o profissional começa a carreira como árbitro iniciante, também chamado de ‘regional’, busca sua promoção à categoria ‘nacional’ e, finalmente, ‘internacional’”, lista Pelissari, que também é formado em Educação Física. Além disso, ele fez cursos de especialização em arbitragem de basquete na Secretaria de Esporte e Turismo de São Paulo e na Federação Paulista de Basquete.

Em geral, nos cursos para a formação de árbitro, aprende-se desde as regras do jogo a outros idiomas, incluindo noções de preparação física, redação de súmulas e relatórios, e psicologia do esporte, dentre outras disciplinas. “O curso de formação dura, aproximadamente, seis meses e o candidato terá aulas sobre as regras do jogo, funções de quadra e mesa, mecânica de arbitragem, sinalização e comportamento, dentre outras coisas. Se aprovado no curso, o candidato recebe o título de ‘árbitro estagiário’ e, conforme seu desempenho, poderá, em menos de dois anos, ser promovido a árbitro ‘de primeira categoria, ou regional’. Essa nomenclatura varia conforme cada federação, ou estado”, explica.

Com relação à preparação física, ele destaca que, geralmente, os árbitros fazem duas vezes ao ano uma avaliação física, sendo o principal foco a verificação de sua resistência e o desenvolvimento muscular, incluindo a flexibilidade. “A grande maioria dos jogos é decidida nos instantes finais, em que a fadiga física ou psicológica não pode atrapalhar o posicionamento e o reflexo para tomar decisões corretas”, alerta o árbitro.


Fonte: Globo Universidade

Cultivo hidropônico é opção de renda para famílias do semiárido brasileiro


Sistema hidropônico (Foto: Divulgação)Hortas formadas por sistemas hidropônicos em Sítio Baixas, no estado de Alagoas (Foto: Divulgação)









É possível para uma planta terrestre se desenvolver sem a necessidade do solo? À primeira vista, imaginar esse tipo de situação pode parecer estranho, mas ao contrário do método tradicional de semear em solo fértil, no cultivo hidropônico a terra é deixada de lado. A técnica usa basicamente água, nutrientes sintéticos e substratos para o cultivo de diversos tipos de vegetais, sendo uma solução viável para locais nos quais o terreno e o clima se tornam inviáveis para o plantio, como no caso exibido pelo Globo Universidade desta semana, em Cabo Verde, ou no semiárido brasileiro.
No ano de 2004, o povoado do Sítio Baixas, no município de São José da Tapera, região do semiárido de Alagoas, viu na hidroponia a oportunidade de gerar renda para famílias que vivem na linha da pobreza. A iniciativa partiu da ONG Ecoengenho, que criou um sistema baseado em garrafas PET que utiliza água de poço para o cultivo de pimenta. A primeira horta a utilizar o método da hidroponia contou com cerca de 650 garrafas. Hoje, depois de oito anos, são seis hortas hidropônicas, totalizando 4 mil mudas de pimenta.
Cultivo de pimenta (Foto: Divulgação)
Venda de pimenta em compota é opção de renda
para o povoado de Sítio Baixas (Foto: Divulgação)
Como explica o engenheiro José Roberto Fonseca, diretor do Ecoengenho, pelo fato do método hidropônico poder ser adotado em praticamente qualquer situação, a técnica foi muito bem sucedida na região. “Nossa proposta foi gerar riqueza para cerca de 30 famílias de Sítio Baixas que viviam na linha da pobreza. Agora, essas pessoas podem ter uma renda graças à venda de pimenta em conserva, cultivada pela técnica da hidroponia”, lembra José Roberto.
A localidade de São José da Tapera é marcada pela forte escassez de água. Para resolver esse problema, foram utilizadas bombas movidas à energia solar para retirar água do poço. Além disso, um destilador, também à energia solar, foi empregado para dessalinizar cerca de 200 litros de água por dia. “Em 2004, criamos um canteiro hidropônico, de dez metros quadrados. A proposta de cultivar pimentas se deu pelo fato de ela ser pouco perecível e de consumo baixo entre a população do povoado, sendo direcionada exclusivamente para o comércio”, explica.
O sistema hidropônico
José Roberto (Foto: Divulgação)
José Roberto Fonseca, diretor do Ecoengenho

(Foto: Divulgação)
Em um sistema hidropônico, a água não é desperdiçada. No modelo adotado no povoado de Sítio Baixas, as garrafas PET, utilizadas para comportar as mudas das plantas, foram conectadas umas as outras. Ou seja, o bocal de uma garrafa se encaixa no fundo da subsequente. Segundo José Roberto, para criar um sistema hidropônico serão precisos dois recipientes para armazenamento da água, sendo um na parte inferior e outro na superior. Na caixa inferior, são colocados os sais (composto formado por nitratos de cálcio e de potássio; e sulfatos de magnésio, de cobre, de manganês e de zinco, geralmente encontrado em lojas de produtos agrícolas) que servirão para nutrir as plantas.
Nesse recipiente inferior deverá haver uma bomba para fluir a água para a caixa superior, que a distribuirá, graças à força da gravidade, e o líquido com os sais para as garrafas PET, que possuem um substrato formado por pedrinhas, cascalho, ou qualquer outro tipo de material que fixe as raízes das plantas. Como as garrafas estão conectadas, a água passará de uma para outra e chegará novamente à caixa inferior, repetindo, assim, o processo.
Vantagens e desvantagens da hidroponia

Para o engenheiro José Roberto, as principais vantagens desse modo de cultivo estão no fato de que ele pode ser implantado em qualquer lugar do mundo. Além disso, ele elenca como outros fatores positivos o baixo consumo de água, que se perde pouco pela evaporação. “No sistema hidropônico, temos plantas mais fortes e bem mais resistentes, já que são alimentadas como se estivessem em um hospital, recebendo soro com os nutrientes na quantidade certa. Pelo fato de não ficarem em contato com o solo, essas plantas também ficam livres de pragas e outras ameaças”, explica.

Com relação às desvantagens, o diretor lembra que existem alguns ecologistas mais conservadores que consideram a prática da hidroponia nociva por utilizar produtos químicos. “Segundo essa linha de pensamento, os sais utilizados para nutrir as plantas deixariam resíduos de nitrato em vegetais folhosos, que poderiam levar ao surgimento de câncer. Entretanto, na pimenta esse tipo de concentração não existe”, destaca.
Fonte: Globo Universidade

The Outfield - "Your Love" [Legendado - PT/BR]

Reservatórios do Nordeste caem abaixo do nível crítico e acendem sinal de alerta


Nível das represas das hidrelétricas está em 32,2%, quando o limite é de 34%; no Sudeste, nível está só 0,8 ponto acima da curva de risco
Os reservatórios do Nordeste terminaram o ano de 2012 abaixo do limite de segurança para o abastecimento do mercado – um mecanismo criado pelo governo federal após o racionamento de 2001 para alertar sobre o nível das represas. De acordo com relatórios do Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS), a capacidade de armazenamento das usinas da região fechou o mês de dezembro em 32,2%. O limite mínimo estabelecido era de 34%.
No sistema Sudeste/Centro-Oeste, a situação não é muito diferente. As hidrelétricas encerraram o ano com uma reserva média de água de 28,8% - apenas 0,8 ponto porcentual acima da curva de aversão ao risco. O nível de armazenamento é semelhante ao de 2000 (28,52%), antes de o governo federal ser obrigado a decretar o racionamento de 2001.
Apesar da condição preocupante, os reservatórios devem começar o ano acima do nível de segurança. Isso porque o ONS recalculou as curvas de aversão ao risco para 2013. Na prática, porém, a situação das usinas continuará bastante delicada. O alívio será apenas no papel.
Ao contrário do que a presidente Dilma Rousseff afirmou na semana passada, de que é ridículo falar de risco de racionamento, se não chover o país poderá ter dificuldades de abastecimento. Isso porque o ONS já lançou mão de todos os recursos disponíveis para poupar água nos reservatórios.
Desde o final de outubro, todas as térmicas existentes no país (sejam a óleo combustível, diesel, carvão ou gás) estão em operação. Hoje elas estão produzindo algo em torno de 10,5 mil MW – 22% da produção nacional. Isso representa uma conta de mais R$ 600 milhões por mês para o consumidor brasileiro.
O ONS também tem reforçado o intercâmbio de energia entre os sistemas. As regiões Norte e Sul, cujos reservatórios estão com melhores níveis de armazenamento estão mandando mais energia para o Sudeste/Centro-Oeste e para o Nordeste, que juntos representam 90% do sistema nacional. Norte e Sul significam 5% cada.
Um trunfo que o ONS deve ter a partir de meados deste mês é a entrada em operação da Termoelétrica de Uruguaiana. A usina, de 639 MW, instalada no Sul do país, está parada por falta de combustível. Em caráter emergencial, o Ministério de Minas e Energia autorizou a reativação da usina, que vai funcionar com gás natural liquefeito (GNL) importado pela Petrobras.
'De qualquer forma, temos de rezar para chover', afirmou Marcelo Parodi, da comercializadora de energia Compass. Segundo ele, o quadro não é favorável. As chuvas estão abaixo das previsões e o consumo de eletricidade em alta por causa das elevadas temperaturas. De acordo com a Empresa de Pesquisa Energética (EPE), em novembro, o consumo ficou 6,3% acima do verificado em igual período de 2011. Foi a maior taxa registrada no ano. 'A ocorrência de temperaturas elevadas impulsionou o consumo dos setores de comércio e serviços e também das residências', explicou a EPE. Vale destacar que o crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) ficou abaixo das expectativas – em torno de 1%. Se o crescimento fosse maior, o país teria problemas.
Nas demais áreas do Brasil, não há uma tendência forte definida. Em dezembro, o volume de chuvas que chegou nos principais reservatórios do país ficou em apenas 64% da média histórica.
(Estadão Online)
ONS participará de vistorias no setor elétrico
O Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS) informou que, sob a coordenação do Ministério de Minas e Energia (MME), participa de um grupo governamental envolvido na realização de vistorias nas unidades de empresas que atuam no setor elétrico do país.
De acordo com o ONS, os resultados desse trabalho deverão ser apresentados em fevereiro. O objetivo é avaliar a qualidade dos sistemas de geração e transmissão de energia. Também é verificada a eficiência dos trabalhos de manutenção dos equipamentos.
Além do MME e do ONS, a Agência Nacional de Energia Elétrica participa das vistorias. A determinação de realizar as vistorias partiu da Presidência da República, em dezembro passado, depois que começaram a ocorrer apagões em estados de todas as regiões brasileiras.
O cronograma de atuação da equipe do governo federal incumbida das vistorias prevê a visita, em uma primeira fase, a pelo menos 40 subestações de empresas transmissoras de energia elétrica. As geradoras também deverão ser vistoriadas posteriormente.
As subestações na rota do governo são aquelas consideradas mais importantes para que o sistema elétrico se mantenha estável. Também estarão sendo visitadas as subestações com mais tempo de uso, para a verificação das condições da aparelhagem e seus processos de manutenção.
(Estadão Online)
Fonte: Jornal Pequeno

Usuários de ônibus realizam "amigo invisível" em confraternização dentro do coletivo


Usuários de ônibus da linha Bequimão-Ipase, no horário das 6h20 fazem confraternização com direito à bolo, refrigerante e presentes.

Por Annyere Pereira

 (GILSON TEIXEIRA/OIMP/D.A PRESS)
Pelo fato de se encontrarem há pelo menos 10 anos todos os dias da semana sempre às 6h20 da manhã no transporte público que faz linha Bequimão-Ipase, em São Luís, é que um grupo de 15 pessoas com idades variadas resolveu fortificar ainda mais um laço de amizade e desde 2011 tiveram a ideia de realizar um amigo oculto dentro do próprio ônibus. Saem de casa em direção do trabalho de cada um, essa ocasião para eles é bastante oportuna, pois é uma forma de começarem o dia com disposição, além de se conhecerem mais, brincarem e se descontraírem, mesmo que em movimento. Depois de discursos, da troca de presentes, o grupo passa a se deliciar com bolo e refrigerante, que também são distribuídos a motoristas, cobradores e os outros passageiros. 
Por volta das 6h da manhã de ontem, a reportagem do jornal O Imparcial acompanhou a forma diferente e um tanto engraçada dessas pessoas celebrarem a amizade, o Natal, o Ano Novo e o mais importante: o bom humor dentro dos coletivos. O ato no ano passado foi celebrado no dia 20 de dezembro e a data de comemoração vai continuar, mas esse ano foi celebrado somente ontem pelo fato da mãe de uma das participantes ter falecido naquele período. O grupo composto por Idalina, Roberto, Adilson, Aurileide, Lia, Angelita, Marileide, Eliane, Dalva, Maria do Bom Parto e outros é bastante alegre e está disposto a levar a ideia adiante, e por muito tempo. Nem todos se fizeram presentes na troca de presentes ontem, pois muitos estão de recesso e aproveitaram para viajar. Mas os oito que foram fizeram a maior bagunça, no bom sentido, dentro do ônibus Bequimão-Ipase. 

Motoristas, cobradores e passageiros se divertiram também com o grupo de amigos que ali faziam aquela 'festança'. Além de terem mostrado sorriso no rosto naquela hora da manhã, ainda foram presenteados com bolo e refrigerante. "Nos divertimos e ainda divertimos as outras pessoas também; isso é legal. Os funcionários dos ônibus já nos conhecem, mas de alguns ainda não conseguimos tirar sequer um sorriso e são difíceis até de responder um bom dia. Mas, o ser humano é assim mesmo", contou dona Maria Angelita Rodrigues Alves, de 54 anos, sorridente e disposta com a brincadeira. Apesar de estar de férias do serviço saiu de casa cedo ao encontro dos amigos. 

O horário do encontro é tão cedo que ainda é possível encontrar o ônibus sem muitos passageiros e com lugares vazios para seguirem viagem, devidamente sentados. Mas mesmo assim, os que ali se encontravam naquele momento também se divertiram e muitas das vezes pedem para também participar do grupo. "Nós nos damos bem com todos que no ônibus estão, desde motorista, cobrador e passageiros. Eles já nos conhecem, nos tratam bem e isso é supergratificante, o nosso dia já começa em outro estilo", esse é o relato da merendeira Angelita e uma das pessoas que participam do amigo oculto. 

Fonte: O Imparcial

segunda-feira, 31 de dezembro de 2012

Feliz Ano Novo!!!

A todas as pessoas que nos prestigiaram, lendo, comentando, divulgando e acompanhando os conteúdos editados em nossa home page durante o ano que agora termina, meus sinceros agradecimentos.

Espero continuar oferecendo, também no ano de 2013, conteúdo de relevância e qualidade, aperfeiçoando cada vez mais nossas publicações, a fim de levar informação e conhecimento a mais e mais pessoas ao redor do mundo.

Um Feliz Ano Novo é o que desejo a vocês!

Rogério Rocha

domingo, 30 de dezembro de 2012

Johnny Depp: um ator complexo e fascinante



Excelente ator, bad boy, descolado, rebelde, outsider de Holywood, ídolo teen, camaleônico, galã às avessas, ovelha negra. Eis alguns dos muitos adjetivos usados para definir Johnny Depp. Em 20 anos de carreira John Christopher Depp II, ou simplesmente Johnny Depp, se tornou um dos melhores atores de sua geração. Em seu currículo uma gama de ecléticos personagens: desajustados, outsiders sensíveis e excêntricos renegados. Desde sua marcante atuação em Edward Mãos de Tesoura (Edward Scissorhands - 1990) até o enorme sucesso comercial como o cínico capitão Jack Sparrow em Piratas do Caribe: a maldição do Pérola Negra (2003), Depp escolheu personagens que deixaram tanto críticos quanto fãs abismados e maravilhados. Ao longo da carreira, Johnny Depp sempre priorizou a integridade artística em detrimento do mero atrativo comercial. Ficou marcado por ter recusado determinados papéis em filmes que posteriormente se tornaram estrondosos sucessos de bilheteria: Velocidade Máxima (1994), Titanic (1997), Entrevista com o vampiro (1994) e Proposta Indecente (1993), só para citar alguns. Em vez dos grandes blockbusters, Depp preferiu atuar em produções independentes, com diretores nem tão consagrados, filmando obras como Um sonho americano (1993), Dead Man (1995) e Benny & Joon: corações em conflito (1993).


O fascínio pelos personagens desajustados explica-se em parte pelo fato de ter se tornado um ídolo adolescente quando estrelou com destaque especial a série de tv 21 Jump Street (1987-1991) – no Brasil exibida com o nome de Anjos da Lei. Incentivado pelo diretor Tim Burton, que para muitos é seu verdadeiro alter ego, Depp decidiu abandonar o programa. De presente recebeu de Burton o papel principal em seu primeiro grande êxito cinematográfico, Edward Mãos de Tesoura. Seguindo sua intuição para escolha de papeis com os quais se identificasse fez depois: Gilbert Grape: aprendiz de sonhador (1993), onde atuou ao lado de um Leonardo de Caprio ainda jovem e promissor, Ed Wood (1994) e Medo e delírio (1998).


Mesmo optando por trilhar o caminho peculiar dos papeis não convencionais, Depp há muito está sob a mira dos holofotes. Enquanto integrava o elenco de Anjos da Lei (21 Jump Street), falava abertamente sobre sua adolescência selvagem, quando tocou em bandas, experimentou drogas e abandonou a escola, criando assim um mito de si próprio que levou a imprensa especializada considerá-lo, à época, uma espécie de novo James Dean. Mais tarde, após casar-se e divorciar-se ainda jovem, e de namorar as atrizes Sherilyn Fenn e Jennifer Grey, Depp envolveu-se com a atriz Winona Ryder enquanto se tornava uma celebridade crescente.



Sob pressão constante da mídia e uma fama global, Depp passou a abusar da bebida, culminando essa fase com um escândalo num hotel de Nova York, quando quebrou tudo numa suíte que ocupava. Como se não bastasse, sua amizade com encrenqueiros famosos como Keith Richards, Hunter Thompsom, Shane MacGowan, Iggy Pop, Sean Penn e o astro Marlon Brando, ajudou a consolidar sua reputação de rebelde de Holywood.


Com o tempo e o amadurecimento tudo isso mudou, e já em 2006 Jhonny se encontrava pessoalmente realizado e no auge da carreira. Na onda do estrelato com Piratas do Caribe: o baú da morte (sequência do não menos aclamado Piratas do Caribe: a maldição do Pérola Negra), seu primeiro sucesso verdadeiramente estrondoso, Depp tem Holywood a seus pés. Numa síntese fenomenal, ele conseguira reunir em sua pessoa tanto as virtudes de um ator sério quanto a de um ídolo do cinema comercial – tornou-se o 6º ator mais bem pago de Holywood em 2012. Tudo isso sem deixar de imprimir sua marca pessoal e continuar dando dignidade aos personagens que interpreta.


Muitos atribuem a boa fase e o sucesso do momento à felicidade que lhe trouxe a vida familiar. Num relacionamento estável desde 1998 com a atriz, cantora e modelo francesa Vanessa Paradis, Depp divide seu tempo entre a casa em Paris, Los Angeles e uma ilha nas Bahamas. As outras razões para seu novo momento são seus dois filhos: Lily-Rose Melody Depp e Jack John Christopher III. Recentemente revelou: “Antes de meus filhos nascerem, eu não sabia que uma família é a coisa mais maravilhosa e motivadora do mundo. Vanessa Lily-Rose e Jack me trouxeram uma felicidade enorme, eles são a chave do sucesso”.

Para assistir e gostar de Johnny Depp (filmes que recomendo):

- Edward Mãos-de-tesoura (Edward Scissorhands - 1990)
- Gilbert Grape: aprendiz de sonhador (What's Eating Gilbert Grape - 1993)
- Ed Wood (1994)
- Tempo Esgotado (Nick of time - 1995)
- Don Juan DeMarco (1995)
- A lenda do cavaleiro sem cabeça (Sleepy Hollow - 1999)
- Do Inferno: a verdadeira história de Jack, o Estripador (From Hell - 2001)
- O Libertino (The Libertine - 2004)
- A janela secreta (Secret Window - 2004)
- Em busca da Terra do Nunca (Finding Neverland - 2004)
- A fantástica fábrica de chocolate (Charlie and the chocolate factory - 2005)
- Inimigos Públicos (Public Enemies - 2009)
- Alice no país da maravilhas (Alice in Wonderland - 2010)
- Sombras da noite (Dark Shadows - 2012)

Caçada a Lobato

A polêmica começou com uma denúncia apresentada pela Secretaria de Políticas de Promoção da Igualdade Racial, do Ministério da Educação, pelo Instituto de Advocacia Racial e Ambiental (Iara) e pelo técnico em gestão de educação, Antonio Gomes da Costa Neto. A ação judicial defende que a obra não deve ser comprada pelo governo nacional para ser distribuída às escolas públicas como integrante do Programa Nacional Biblioteca na Escola (PNBE) porque, segundo as regras do próprio programa, as obras selecionadas não devem apresentar “moralismos, preconceitos, estereótipos ou discriminação de qualquer ordem”.

Apesar do parecer inicial favorável, o então ministro da Educação e hoje prefeito eleito de São Paulo, Fernando Haddad, decidiu não aplicar a medida, talvez por ser polêmica em época de eleições municipais. “É uma pena que o Conselho Nacional de Educação (CNE) tenha se submetido à vontade eleitoral do Haddad”, comenta Humberto Adami, advogado e diretor do Iara. Em resposta ao descaso, a ação foi elevada ao Supremo Tribunal Federal. Em setembro, foi realizada uma audiência de conciliação entre as partes, sem sucesso. Agora, o processo aguarda o fim do julgamento do mensalão para entrar na agenda do ministro Luiz Fux. Por ironia, o julgamento será presidido pelo ministro negro Joaquim Barbosa.

A ação judicial trouxe à tona um traço menos conhecido de Lobato e desagradável para seus fãs: sua firme defesa da eugenia, a ciência que supostamente estuda as qualidades raciais. Em cartas trocadas com o amigo Godofredo Rangel, em 1908, o escritor chegou a lamentar a não existência da Ku Klux Klan no Brasil, utiliza o termo “pretalhada inextinguível” e, entre outras coisas, afirma que a escrita “é um processo indireto de fazer eugenia, e os processos indiretos, no Brasil, funcionam muito mais eficientemente”.

“Na época a eugenia era um debate científico. É importante entender Lobato no seu contexto. A crítica atual é extemporânea e burra”, argumenta Vladimir Sacchetta, produtor cultural e biógrafo do escritor. É bom lembrar ainda que, se a Constituição de 1988 passou a considerar racismo um crime inafiançável e imprescritível, as versões da Lei Magna nacional de 1934 e de 1937 apresentavam propostas para a educação relacionadas aos ideais eugênicos, tais como a obrigatoriedade da educação física.

Os comentários racistas do escritor foram publicados na primeira edição do livro A Barca de Gleyre, em 1944. “Mas, graças à sua capacidade de rever posições e pontos de vista, na edição seguinte do mesmo livro Lobato cortou esse trecho. Ele se revia e se editava o tempo todo. Assim como tinha coragem de declarar suas posições, tinha coragem de revê-las”, defende Sacchetta.

Outro exemplo emblemático, aponta o biógrafo, são os três momentos distintos da construção de outro personagem famoso do autor, o Jeca Tatu. Primeiro, o escritor define o caboclo brasileiro como “preguiçoso por determinação genética”; depois de estudar pesquisas na área de saúde, se desculpa com o personagem e lamenta o efeito da esquistossomose sobre a população rural; mais tarde, em fase de namoro com o Partido Comunista Brasileiro, o Jeca Tatu se torna um sem-terra, vítima do latifúndio.

Mal-entendido subentendido

O debate acirrado entre defensores e críticos de Lobato ganhou um viés de combate à censura politicamente correta. Humberto Adami garante que não é essa a intenção da sua iniciativa, apesar de o Iara já ter começado a investir contra outro livro do autor, Negrinha, também integrante da lista do PNBE. “Não queremos censura nem banimento. Queremos que se faça valer a lei do programa; que o livro ganhe uma nota explicativa sobre a incorreção dos termos e a capacitação dos professores. Para nós, a obra pode continuar sendo usada nas escolas, como forma até de se desconstruir o racismo”.


Se for mesmo adotada, a nota explicativa deverá entrar ao lado de outra nota que trata da atual proibição e punição da caça às onças – o leit motiv de uma das histórias do livro Caçadas de Pedrinho. “Chamou a nossa atenção o fato de que a editora tenha feito uma menção sobre a pertinência da questão ambiental sem precisar de ações judiciais. Quando se trata do negro, encontramos resistência.”

Para Paulo Vinicius B. Silva, um dos professores responsáveis pelo Núcleo de Estudos Afro-brasileiros (Neab) da Universidade Federal do Paraná (UFPR), o politicamente correto, nesse caso, importa menos. A questão mais grave seria a falta de valorização do personagem negro. Um estudo da Universidade do Sul de Santa Catarina, que será divulgado em 2013, mostra o impacto do racismo implícito na autoestima das crianças. “A equipe da Unisul percebeu que os pequenos ficam marcados ao ver imagens dos negros sempre em situação de inferioridade, mesmo nos livros didáticos, como, por exemplo, sendo açoitados”, adianta. Para Silva, a ação na Justiça alvoroçou a opinião pública porque a sociedade brasileira está acostumada à ilusão de se autoconsiderar antirracista. “As questões que expõem como somos uma sociedade racista incomodam muito.”

Já J. Roberto Whitaker Penteado, diretor da Escola Superior de Propaganda e Marketing de São Paulo (ESPM), autor do livro Os Filhos de Lobato, considera que a herança deixada pelo escritor não passa por aí. Baseado em estudos desenvolvidos em sua tese de mestrado, Penteado afirma que Lobato transmitiu valores mais importantes, como o inconformismo com as ideias dominantes e com os poderes constituídos, o espírito crítico e a importância da iniciativa individual, assim como o valor das escolhas pessoais e da liberdade de expressão, em sentido mais amplo.

“Além disso, ele defendeu, em todas as ocasiões, a inteligência contra a burrice e a abertura intelectual contra a intolerância. Os valores preconizados por Lobato continuarão a ter um imenso valor, depois que nós tivermos morrido, assim como todos os burocratas do MEC e de outras instituições governamentais”, desabafa.

Pontos polémicos

Em Caçadas de Pedrinho, há dois trechos principais que fundamentam a ação judicial. O primeiro é o momento em que a tia Nastácia quer fugir dos animais da floresta: “...esquecida de seus numerosos reumatismos, trepou na árvore que nem uma macaca de carvão”, compara o autor. A espécie a que o autor faz referência aqui responde oficialmente pelo nome monocarvoeiro ou muriqui (Brachyteles arachnoides). O maior primata do Brasil, originário da Mata Atlântica, é, realmente, muito ágil. Curiosamente, seu pêlo corporal é claro, mas ficou famoso porque os índios acreditavam que pintava a cara com carvão.

uma página do conflito de gerações e de mentalidades entre Tia Nastácia e a boneca Emília.

O segundo trecho é um comentário de Emília sobre o perigo da onça feroz solta pelo Sítio: “Não vai escapar ninguém, nem Tia Nastácia, que tem carne preta.” Emília, em outro momento, ainda chama a cozinheira de “negra beiçuda”. A insolência parte de uma boneca caracterizada pela língua solta. A personagem sempre foi conhecida por ser o alter ego do autor. Era uma espécie de porta-voz de todas as coisas que ele tinha vontade de dizer.

Apesar das má-criações da boneca de pano, Tia Nastácia era amada pelas crianças do Sítio do Picapau Amarelo e é protagonista do livro de Lobato, Histórias de Tia Nastácia. “Ela, o Tio Barnabé e o Saci Pererê eram propagadores da cultura e da sabedoria popular brasileiras, numa época em que se lia nas escolas coisas como Porque Me Ufano do Meu País e outras patriotadas”, nota Penteado.

O ponto de vista não é simpático para os olhos de Adami. Para o militante do Iara, faz parte do “racismo cordial brasileiro” o princípio “afetuoso” de que somos todos iguais, contanto que os negros fiquem sempre em lugar subalterno: na cozinha.

Na última história do livro, Tia Nastácia levanta a bandeira da igualdade. Quando quer andar no carrinho puxado pelo rinoceronte Quindim, recém-incorporado à turma do Sítio, a cozinheira diz a Dona Benta: “Agora chegou a minha vez. Negro também é gente, sinhá.” Esse trecho, entretanto, não é citado pela acusação.


Capítulo à parte

Na tentativa de acalmar os ânimos, Ziraldo tomou partido de Monteiro Lobato e, em Fevereiro de 2012, ilustrou a camiseta do bloco carnavalesco Que Merda é Essa? com o escritor abraçado a uma mulata, o que só aumentou as reações contrariadas da comunidade negra. A escritora Ana Maria Gonçalves dirigiu ao artista uma longa carta aberta esmiuçando a posição racista declarada de Lobato e o racismo implícito na comunidade brasileira. No final, assinou “negra, escritora, autora de Um Defeito de Cor”.

A carta, aparentemente, funcionou. Ziraldo pediu desculpas em público e confessou que desconhecia o fato de que Lobato apoiava a eugenia. “Foi uma mudança profunda da postura do Ziraldo. Lobato era um racista confesso. Esse viés do autor não costuma aparecer nem em biografias, mas isso não desmerece a obra dele como um todo”, afirma Adami.

Mais do que questões legais, a polêmica relacionada ao escritor parece ter a ver com a sua aceitação. O pai da literatura infantojuvenil brasileira não era só um vanguardista defensor de ideias profundas como a brasilidade, a natureza e o petróleo nacional. Também ajudou a formar e a educar crianças que antes eram “bichinhos calados”, diz Sacchetta. Deu voz, direito de pensar e senso crítico aos pequenos. Mas não era perfeito. Se as crianças, hoje idosos, adultos ou adolescentes, aprenderam bem terão discernimento para resolver a questão e crescer com o debate.

Fonte: Revista Planeta - Edição 483 - DEZ12/JAN13

DILÚVIO REVISITADO

O Livro do Gênesis da Bíblia descreve como Deus enviou o dilúvio para punir os homens por seus pecados. Avisado com antecedência, Noé – o único homem justo do mundo, em sua geração – construiu uma arca gigante para sua família e para um casal de cada espécie animal da Terra. Depois de 40 dias e 40 noites de chuvas, todos se salvaram e o planeta foi repovoado. Alguns cientistas pensam que realmente houve uma grande inundação no Mar Negro há milhares de anos, que poderia ter arrastado a arca de Noé para o topo do Monte Ararat, o mais alto da Turquia, onde se encontrariam vestígios do barco. As evidências científicas mostram, no entanto, que as águas nunca estiveram mais do que 20 metros abaixo do nível atual do Mar Mediterrâneo e que a maior enchente ocorreu pouco após a Idade do Gelo, milhares de anos antes do surgimento dos primeiros povoados e fazendas na região.

Duas hipóteses geológicas sugerem inundações na bacia do Mar Negro, ambas situando o evento numa época em que o mar era um lago sem comunicação com o Mediterrâneo. A primeira, elaborada pelo geógrafo russo Andrei L. Chepalyga, em 2007, localiza a enchente pouco depois da Idade do Gelo, entre 17 mil e 14 mil anos atrás, sem qualquer relação com a história bíblica. De acordo com Chepalyga, o salobro Mar Negro encheu-se rapidamente com o transbordamento do Mar Cáspio através do Vertedouro Manych – canal entre os dois corpos d’água –, logo depois do chamado Último Máximo Glacial (avanço das calotas polares), quando a cobertura de gelo estava derretendo rapidamente.

A segunda hipótese, ou “Dilúvio de Noé”, foi proposta pelo geólogo americano William Ryan e outros pesquisadores, em 2003. Eles afirmam que o clima se tornou mais seco logo depois do período de clima frio entre 12,7 mil e 11,5 mil anos atrás, conhecido como Dryas Recente. A evaporação resultante fez o Mar Negro baixar para 95 metros abaixo do nível atual. À medida que o clima aqueceu e a capa de gelo se derreteu na Europa, o nível do mar subiu no Mediterrâneo, causando um catastrófico fluxo de água salgada para o Mar Negro, 8,4 mil anos atrás.

O dilúvio segundo a concepção do artista francês Gustave Doré (1832-1883), ilustrador de várias edições da Bíblia.  
Concepção do dilúvio por Gustave Doré

Uma inundação de gigantescas proporções, como o dilúvio, deveria deixar um registro disso no Mar Negro. Um projeto do Programa Internacional de Geociências (IGCP, na sigla em inglês), iniciativa da União Internacional das Ciências Geológicas e da Unesco, procurou vestígios da ocorrência em sedimentos do fundo do mar, em fósseis, no relevo e pistas arqueológicas. A pesquisa fez parte de um projeto conjunto envolvendo o IGCP e a União Internacional para Pesquisa do Quaternário, que abordou a mudança do nível do mar e as estratégias adaptativas humanas no Corredor Cáspio-Negro-Mediterrâneo. Eles obtiveram algumas respostas, mas levantaram outras perguntas.

Quanto o Mar Negro baixou?

Ryan e sua equipe afirmam que as condições climáticas secas fizeram a água do Mar Negro evaporar e atingir 95 metros abaixo do nível atual. Mas sabemos, a partir de registros de pólen, que a plataforma exposta e as costas imediatamente adjacentes estavam cobertas por árvores de florestas que necessitam de umidade, tais como carvalho, tília, faia e olmo, juntamente com samambaias de sombra, plantas aquáticas e de pântano. Essas espécies vegetais indicam invernos cálidos e precipitação anual entre 600 mm e mil mm.
A última vez que o nível da Bacia do Mar Negro caiu para 95 metros abaixo do atual foi durante o Último Máximo Glacial. No início do período Holoceno, há 10 mil anos, o Mar Negro, então um lago, gradualmente passou de 40 metros para 20 metros abaixo do nível atual, em virtude da entrada de água originária do Mediterrâneo. Esse aumento relativamente insignificante poderia causar enchentes catastróficas?

O Mar Negro era um lago de água doce?
 
Se o Mar Negro continha água doce imprópria para consumo, como Ryan e equipe propõem, por que todos os fósseis descobertos nos sedimentos do lago pertencem a organismos que prosperaram em água salobra? Se a água do lago era potável, por que as pessoas escolheram instalar-se nos vales de pequenos rios, como inúmeros sítios arqueológicos sugerem? Não faz sentido.

Os assentamentos pré-históricos foram submersos pelo dilúvio?
 
Ryan e equipe alegam que, antes do dilúvio, as pessoas não habitavam somente a costa do Mar Negro, mas também parte do seu fundo (denominada plataforma), que era terra seca na época. Apesar de décadas de busca por habitações pré-históricas submersas na plataforma anteriormente exposta, nada se achou abaixo de dez metros de profundidade.

Havia agricultura na região do Mar Negro naquela época?
 
Havia na vizinhança. Os registros de pólen não revelam evidências de produção de grãos no Mar Negro antes de 5.718 anos atrás. Os traços encontrados na plataforma de partículas de carvão originárias de pastagens queimadas, e de esporos de fungos crescidos em esterco animal em recintos lotados, desacreditam a ideia de que a pecuária era praticada em plataforma extensiva. A hipótese contrasta com as evidências arqueológicas da prática da pecuária há 8 mil anos encontradas em Ilipinar, ao sul do vizinho Mar de Mármara.

As evidências apontam para o aumento gradual do nível do Mar Negro?
 
A hipótese de uma grande inundação no Mar Negro 8,4 mil anos atrás capturou a imaginação do público. Mas a mídia não noticiou que geólogos e arqueólogos do Canadá, da Ucrânia, da Rússia e de outros países não encontraram evidências de inundações catastróficas na região. Em vez disso, as evidências apontam para uma gradual reconexão com o Mar Mediterrâneo entre 9.5 mil e 8 mil anos atrás.

Na opinião de Andrei Chepalyga, a grande enchente ocorrida entre 17 mil e 14 mil anos atrás não é aquela descrita na Bíblia. Ele argumenta que inundações catastróficas teriam marcado a memória coletiva por milhares de anos, até serem registradas em antigas escrituras arianas, como o Rig Veda (hindu) e o Avesta (indo-iraniano). A história de um grande dilúvio também foi contada pelos antigos habitantes da Mesopotâmia.

Fonte: Revista Planeta - Edição 483  - DEZ12/JAN13

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