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sábado, 17 de novembro de 2018

A FILOSOFIA EM UM MUNDO EM CRISE


sábado, 27 de janeiro de 2018

A Alemanha Pós-Guerra - Completo (partes 1 e 2 - Dublado em HD)

A postagem de hoje diz respeito a este excelente documentário, que traz uma visão contundente do período pós Segunda Guerra mundial e nos mostra, a partir da visão de uma Alemanha derrotada, como a Europa, destruída e com graves problemas sociais, econômicos e humanitários, em meio ao jogo de poder entre vencedores e vencidos, teve seu mapa reconfigurado e viu surgir novos perigos: o fantasma da ameaça de uma 3ª guerra mundial, a criação do antagonismo de blocos entre leste e oeste e o crescimento do poder totalitário da União Soviética de Josef Stalin.

O documentário "A Alemanha pós-guerra" (Título original: 'After Hitler') é uma produção da CINETEVE (Fabienne Servan Schreiber e Lucie Pastor), com a participação da France Televisions, em um filme de David Korn-Brzoza (diretor) e Olivier Wieviorka.

domingo, 19 de maio de 2013

PARTIDO ALEMÃO ADMITE SAÍDA DE PORTUGAL DO EURO


O líder do partido alemão minoritário de eurocépticos defendeu hoje a expulsão da zona euro dos países em crise no Sul da Europa "para o seu bem" e a reintrodução das moedas nacionais na Grécia e em Portugal, refere o "Diário de Notícias". O partido Alternativa para a Alemanha (AfD) sublinha que a reintrodução das moedas nacionais pressuporia um acordo relativo ao perdão da dívida soberana dos países que abandonassem a zona euro. 

Bernd Lucke  afirma que os países em crise teriam "a oportunidade" de recuperar a competitividade económica ao regressar à sua própria moeda. No entanto, defende que a Alemanha deve conservar o euro. Estas declarações foram prestadas durante uma entrevista ao jornal alemão 'Frankfurter Allgemeinen Sonntagszeitung', que será publicada na íntegra no domingo, o presidente do novo partido Alternativa para a Alemanha (AfD), Bernd Lucke, sublinha que a Alemanha deve conservar o euro, ao contrário do cepticismo inicial a esse respeito, "mas os países do sul da Europa não".

O AfD frisa que a reintrodução das moedas nacionais pressuporia um acordo relativo ao perdão da dívida soberana dos países que abandonassem a zona euro, apontando a Grécia como um deles, e "quiça" Portugal.

"A saída do euro ajudaria o sector privado a recuperar a competitividade perdida", destaca Bernd Lucke.

O processo poderia ser realizado com a introdução através de uma "transição suave" de "uma moeda paralela ao euro" até ser "possível material e economicamente" colocar em circulação as antigas moedas nacionais, conclui.

sábado, 18 de agosto de 2012

E SE NÃO HOUVER SAÍDA ALGUMA?




Immanuel Wallerstein especula sobre as raízes da “crise estrutural do capitalismo” – e a dura disputa pelas alternativas

Immanuel Wallerstein - Tradução: Antonio Martins - Outras Palavras

A maior parte dos políticos e dos “especialistas” tem um costume arraigado de prometer tempos melhores à frente, desde que suas políticas sejam adotadas. As dificuldades econômicas globais que vivemos não são exceção, neste quesito. Seja nas discussões sobre o desemprego nos Estados Unidos, os custos alarmantes de financiamento da dívida pública na Europa ou os índices de crescimento subitamente em declínio, na Índia, China e Brasil, expressões de otimismo a médio prazo permanecem na ordem do dia.

Mas e se não houver motivos para elas? De vez em quando, emerge um pouco de honestidade. Em 7/8, Andrew Ross Sorkin publicou um artigo no New York Times em que oferecia “uma explicação mais direta sobre por que os investidores deixaram as bolsas de valores: elas tornaram-se uma aposta perdedora. Há toda uma geração de investidores que nunca ganhou muito”. Três dias depois, James Mackintosh escreveu algo semelhante no Financial Times: os economistas estão começando a admitir que a Grande Recessão atingiu permanentemente o crescimento… Os investidores estão mais pessimistas”. E, ainda mais importante, o New York Times publicou, em 14/8, reportagem sobre o custo crescente de negociações mais rápidas. Em meio ao artigo, podia-se ler: “[Os investidores] estão desconcertados por um mercado que não ofereceu quase retorno algum na última década, devido às bolhas especulativas e à instabilidade da economia global.

Quando se constata que muito poucos concentraram montanhas incríveis de dinheiro, pergunta-se: como o mercado de ações pode ter se tornado “perdedor”? Durante muito tempo, o pensamento básico sobre os investimentos afirmava que, a longo prazo, o ganho com ações, corrigido pela inflação, era alto – em especial, mais alto que o dos papéis do Estado (bônus). Esta era a recompensa pelos riscos derivados da grande volatilidade, a curto e médio prazo, das ações. Os cálculos variam, mas em geral admite-se que, no século passado, o retorno das ações foi bem mais alto que o dos bônus, desde, é claro, que a aplicação fosse mantida.

Não se leva tanto em conta que, no mesmo período de um século, os lucros das ações corresponderam mais ou menos a duas vezes o aumento do PIB – algo que levou alguns analistas a falar num “efeito Ponzi”. Ocorre que os maravilhosos ganhos com ações ocorreram, em grande parte, no período a partir do início dos anos 1970, a era do que é chamado de globalização, neoliberalismo e ou financeirização.

Mas o que ocorreu de fato, neste período? Deveríamos notar, de início, que o período pós-1970 seguiu-se à época de maior crescimento (por larga margem) na produção, produtividade e mais-valia global, na história do economia-mundo capitalista. É por isso que os franceses chamam este período de trente glorieuses – os trinta anos (1943-1973) gloriosos. Em minha linguagem analítica, foi uma fase A do ciclo Kondratieff. Quem possuía ações neste período deu-se, de fato, muito bem. Assim como os empresários em geral, os trabalhadores assalariados e os governos, no que diz respeito às receitas. Parecia que o capitalismo, como sistema-mundo, teria um poderoso impulso, após a Grande Depressão e as destruições maciças da II Guerra Mundial.

Porém, tempos tão bons não duraram para sempre, nem poderiam. Por um motivo: a expansão da economia-mundo baseou-se em alguns quase-monopólios, nas chamadas indústrias-líderes. Duraram até serem solapados por competidores que conseguiram, finalmente, entrar no mercado mundial. Competição mais acirrada reduziu os preços (sua virtude), mas também a lucratividade (seu vício). A economia-mundo mergulhou numa longa estaganção nos trina ou quarenta anos inglórios seguintes (1970s – 2012 e além). Este período foi marcado por endividamento crescente (de quase todo mundo), desemprego global em alta e retirada de muitos investidores (talvez a maior parte) para os títulos do Tesouro dos Estados Unidos.

Tais papéis são seguros, ou pelo menos mais seguros, mas não muito lucrativos, exceto para um grupo cada vez menor de bancos e hedge funds que manipularam as operações financeiras em todo o mundo – sem produzir valor algum. Isso nos trouxe aonde estamos: um mundo incrivelmente polarizado, com os salários reais muito abaixo de seus picos nos anos 1970 (mas ainda acima de seus pisos, nos 1940) e as receitas estatais significativamente rebaixadas, também. Uma sequência de “crises da dívida” empobreceu uma sequência de zonas do sistema-mundo. Como resultado, o que chamamos de demanda efetiva contraiu-se em toda parte. É ao que Sorkin se referia, quando afirmou que o mercado de ações já não é atrativo, como fonte de lucros para acumular capital.

O núcleo do dilema tem a ver com as contraiços centrais do sistema. O que maximiza os ganhos, a curto prazo, para os produtores mais eficientes (margens de lucro ampliadas), oprime os compradores, a longo prazo. À medida em que mais populações e zonas integram-se completamente à economia-mundo, há cada vez menos margem para “ajustes” ou “renovações” – e cada vez mais escolhas impossíveis para investidores, consumidores e governos.

Lembremos que a taxa de retorno, no século passado, foi o dobro do aumento do PIB. Isso poderia se repetir? É difícil de imaginar – tanto para mim, quanto para a maior parte dos investidores potenciais no mercado. Isso gera as restrições com que nos deparamos todos os dias nos Estados Unidos, Europa e, breve, nas “economias emergentes”. O endividamento é alto demais para se sustentar.

Por isso, temos, por um lado, um apelo político poderoso à “austeridade”. Ela significa, na prática, eliminar direitos (como aposentadorias, qualidade da assistência médica, gastos com educação) e reduzir o papel dos governos na garantia de tais direitos. Porém, se a maioria das pessoas tiver menos, elas gastarão obviamente menos – e quem vende encontrará menos compradores – ou seja, menor demanda efetiva. Portanto, a produção será ainda menos lucrativa (reduzindo os ganhos com ações); e os governos, ainda mais pobres.

É um círculo vicioso e não há saída fácil aceitável. Pode significar que não há saída alguma. É algo que alguns de nós chamamos crise estrutural da economia-mundo capitalista. Produz flutuações caóticas (e selvagens) quando o sistema chega a encruzilhadas, e surgem lutas duríssimas sobre que sistema deveria substituir aquele sob o qual vivemos.

Os políticos e “especialistas” preferem não enfrentar esta realidade e as escolhas que ela impõe. Mesmo um realista, como Sorkin, termina sua análise expressando a esperança que que a economia terá “um impulso”; e a sociedade, “fé a longo prazo”. Se você pensa que será suficiente, posso me oferecer para vender-lhe a Ponte de Brooklin.

Fonte: Página Global

domingo, 15 de julho de 2012

CRISE ABALA FÉ NO CAPITALISMO, MAS NÃO ENTRE OS BRASILEIROS





José Antonio Lima – Carta Capital - foto Yasuioshi Chiba / AFP

Uma pesquisa do Centro de Pesquisas Pew, dos Estados Unidos, mostra como a crise econômica mundial tem abalado a crença de que o capitalismo é o melhor sistema para se viver. O levantamento do Pew, feito com 26 mil pessoas em 21 países entre março e abril, revelou que no mundo desenvolvido, mais afetado pela crise, o apoio ao capitalismo vem ruindo. Ao mesmo tempo, os brasileiros despontam como um dos principais entusiastas do sistema.

O Pew mede o apoio ao capitalismo questionando os entrevistados em que medida eles concordam com a frase “as pessoas estão bem numa economia livre mercado, mesmo que existam alguns pobres e alguns ricos”. Em 13 dos 21 países, 50% ou mais das pessoas responderam favoravelmente. Entre os oito onde a maioria “rejeita” o capitalismo estão a Espanha (47% apoiam) e a Grécia (44%), duas das nações mais afetadas pela crise.

As piores margens de apoio estão no Japão (38%) e no México (34%). Dos 21 países, 16 já haviam sido pesquisados pelo Pew anteriormente. Em nove desses 16 país o apoio ao capitalismo vem caindo. O maior declínio foi verificado na Itália (23 pontos percentuais) e na Espanha (20 pontos).

No Brasil, entretanto, as coisas são diferentes. Três em cada quatro pessoas entrevistadas no País disseram concordar com a frase “as pessoas estão bem numa economia livre mercado, mesmo que existam alguns pobres e alguns ricos”. O resultado chama a atenção, uma vez que, em 2002 e 2006, ao eleger Luiz Inácio Lula da Silva, e em 2010, ao escolher Dilma Rousseff, os brasileiros colocaram no poder governantes que tinham no combate à desigualdade social uma de suas prioridades.

Trabalho duro implica em sucesso?

No Brasil também é alto o número de pessoas que creem na força do trabalho para explicar o sucesso. Dos entrevistados, 69% disseram acreditar que “é possível obter sucesso se a pessoa estiver disposta a trabalhar duro”. A margem de visões favoráveis a respeito desta frase só foi maior no Paquistão (81%), nos Estados Unidos (77%) e na Tunísia (73%).

Segundo o Pew, pessoas com sucesso econômico na vida tendem a crer que é o o trabalho que leva ao sucesso. Isso foi verificado nos levantamentos feitos no Reino Unido, na Rússia e no Egito, mas não no Brasil. Não houve, segundo o instituto, diferença significativa entre as respostas de ricos e pobres brasileiros a esta questão.

Tudo azul para os brasileiros

A pesquisa também detectou o otimismo do brasileiro com a economia, uma tendência que se repete em outras nações emergentes pouco afetadas pela crise, como China, Índia e Turquia. No Brasil, 65% disseram que a situação econômica do país é boa; 72%, que estão financeiramente melhor do que há cinco anos; 81%, que têm um padrão de vida melhor que de seus pais na mesma idade; e 84%, que o cenário econômico vai melhorar nos próximos 12 meses.

No Brasil, o Pew entrevistou 800 pessoas, e a margem de erro é de 5,1% pontos percentuais para mais ou para menos. No site do Pew é possível acessar a pesquisa completa, em inglês.

Fonte: Página Global

domingo, 24 de junho de 2012

Alemanha e França parecem conduzir "diálogo de surdos" diante da crise

  • Michael Sohn/AP
    Chanceler alemã, Angela Merkel, cumprimenta o presidente da França, François Hollande, depois de uma cerimônia militar de boas-vindas em Berlim, Alemanha Chanceler alemã, Angela Merkel, cumprimenta o presidente da França, François Hollande, depois de uma cerimônia militar de boas-vindas em Berlim, Alemanha


    • Le Mond (por Daniel Cohen)
       
      A poucos dias do conselho europeu de 28 e 29 de junho, os debates entre França e Alemanha estão começando a parecer um diálogo de surdos. Os franceses querem reforçar a união econômica, enquanto os alemães querem um acordo prévio sobre a união política. Ninguém parece entender o que outro quer dizer. Os alemães ouvem as propostas francesas como uma nova edição do slogan "A Alemanha vai pagar", que marcou a vida política francesa após a Primeira Guerra Mundial. Os franceses interpretam a integração política à maneira alemã como um direito de vigilância e ingerência sobre seu sistema de proteção social.

      Essa dificuldade em se entenderem, na verdade, é o sintoma do problema que deve ser resolvido. O euro é a moeda de uma união não identificada, e ele tem sofrido, de acordo com o raciocínio constantemente lembrado pelos economistas americanos, por não estar apoiado em um Estado federal. Nos Estados Unidos, um Estado que seja atingido por uma recessão automaticamente paga menos impostos ao Estado central, sem que isso tenha influência sobre as despesas federais. Esse mecanismo cria uma importante proteção automática, que permite compensar em 30% a 40% o custo da recessão.

      Já no caso dos Estados europeus, a atual crise os tem paralisado, uma vez que eles não podem recorrer a um nível superior de responsabilidade para amortecer seu impacto. Além disso, como um desempregado grego ou espanhol não pode ir para a Baviera encontrar um emprego, as fronteiras nacionais se tornam de fato uma prisão para os países em dificuldades.

      A crise bancária é um exemplo essencial dos problemas que têm surgido. Quando o Estado californiano se encontra em crise, os correntistas do banco nacional Wells Fargo não são ameaçados, pois são protegidos por garantias federais indivisíveis. Muitos pedem hoje por uma união bancária europeia, que faça voltar para o nível federal a dupla tarefa de supervisionar e recapitalizar os bancos em apuros.

      Mas há dois problemas. Primeiro, não se compra uma apólice de seguros depois que o incêndio já aconteceu, quando foram revelados os beneficiários do mecanismo. Vista a partir da Alemanha, a proposta de uma união bancária equivale a pedir que os contribuintes alemães recapitalizem os bancos espanhóis. Segundo – o obstáculo maior - , não se sabe o que é o "nível federal" dentro da zona do euro. O Tribunal Constitucional de Karlsruhe proíbe que se tire o poder orçamentário do Bundestag em prol de instituições "não democráticas". Qual é o sentido exato do conceito?

      De acordo com recentes decisões desse Tribunal Constitucional, seria considerada como democrática uma instância eleita segundo o princípio de que um voto tem o mesmo peso que o outro. O Parlamento Europeu, segundo essa definição, não é, pois os representantes atuam de acordo com circunscrições nacionais que não respeitam a equivalência entre demografia e representação. Além disso, o Parlamento Europeu não é dedicado à zona do euro, mas à Europa dos 27 Estados-membros. Em suma, não existe uma instância de controle democrático que possa vigiar o poder concedido a um organismo encarregado, por exemplo, de recapitalizar um banco em dificuldades.

      A imensidão da tarefa parece desanimadora, mas nenhum desses problemas é insuperável.

      Só para ficar no exemplo da união bancária, pode-se primeiramente decidir sobre o fato de que um dia ela será criada, uma vez que os bancos nacionais tenham sido devidamente recapitalizados. Isso resolve o primeiro problema, o do reconhecimento; primeiro se faz a faxina, depois se passa para o nível federal, para voltar a dar coerência sistêmica ao projeto europeu. A respeito do controle democrático, é preciso ter uma instância própria da zona do euro. Os alemães têm considerado uma nova Câmara, constituída de parlamentares nacionais.

      É possível também imaginar outras fórmulas. Os eurodeputados da zona do euro poderiam ser eleitos em chapas transnacionais, ao passo que os outros países escolheriam seus representantes de acordo com as circunscrições nacionais habituais. Um parlamento da zona do euro poderia então se reunir o tanto que fosse necessário, para designar as comissões dedicadas aos temas que dizem respeito à zona e votar neles. O processo seria longo e complexo. Não bastará fechar um acordo com a Alemanha sobre uma nova estrutura institucional, será preciso também encontrar um consenso sobre os princípios constitucionais fundadores que orientarão as políticas comuns.

      Pode-se ter o luxo de se embarcar nessa nova iniciativa, num momento em que a crise exige que se tomem decisões rápidas? Ela evidentemente não substituirá as decisões de curto prazo que deverão ser tomadas, a respeito da dívida e da condução da política orçamentária. Mas o anúncio de que uma iniciativa ambiciosa foi tomada, com um cronograma preciso, teria um efeito considerável. Isso porque o paradoxo dos mercados financeiros é que eles podem entrar em uma espiral quando são abandonados, mas que eles também são perfeitamente capazes de se antecipar a um cronograma distante, contanto que ele seja plausível. É possível ainda sair da crise por cima, se mostrarem que entenderam a causa.

      Tradutor: Lana Lim

      segunda-feira, 7 de maio de 2012

      A terceira crise do capitalismo


       Por Frei Betto - do Rio de Janeiro

      capitalismo
      Nos países ricos se acentuam o déficit fiscal, o desemprego (24,3 milhões de desempregados na União Europeia), o endividamento dos Estados
      A atual crise econômica do capitalismo manifestou seus primeiros sinais nos EUA em 2007 e já faz despontar no Brasil sinais de incertezas.
      O sistema é um gato de sete fôlegos. No século passado, enfrentou duas grandes crises. A primeira, no início do século XX, nos primórdios do imperialismo, ao passar do laissez-faire (liberalismo econômico) à concentração do capital por parte dos monopólios. A guerra econômica por conquista de mercados ensejou a bélica: a Primeira Guerra Mundial. Resultou numa “saída” à esquerda: a Revolução Russa de 1917.
      Em 1929, nova crise, a Grande Depressão. Da noite para o dia milhares de pessoas perderam seus empregos, a Bolsa de Nova York quebrou, a recessão se estendeu por longo período, com reflexos em todo o mundo. Desta vez a “saída” veio pela direita: o nazismo. E, em consequência, a Segunda Guerra Mundial.
      E agora, José?
      Essa terceira crise difere das anteriores. E surpreende em alguns aspectos: os países que antes compunham a periferia do sistema (Brasil, China, Índia, Indonésia), por enquanto estão melhor que os metropolitanos. Neste ano, o crescimento dos países latino-americanos deve superar o dos EUA e da Europa. Deste lado do mundo são melhores as condições para o crescimento da economia: salários em elevação, desemprego em queda, crédito farto e redução das taxas de juros.
      Nos países ricos se acentuam o déficit fiscal, o desemprego (24,3 milhões de desempregados na União Europeia), o endividamento dos Estados. E, na Europa, parece que a história –para quem já viu este filme na América Latina– está sendo rebobinada: o FMI passa a administrar as finanças dos países, intervém na Grécia e na Itália e, em breve, em Portugal, e a Alemanha consegue, como credora, o que Hitler tentou pelas armas – impor aos países da zona do euro as regras do jogo.
      Até agora não há saída para esta terceira crise. Todas as medidas tomadas pelos EUA são paliativas e a Europa não vê luz no fim do túnel. E tudo pode se agravar com a já anunciada desaceleração do crescimento de China e consequente redução de suas importações. Para a economia brasileira será drástico.
      O comércio mundial já despencou 20%. Há progressiva desindustrialização da economia, que já afeta o Brasil. O que sustenta, por enquanto, o lucro das empresas é que elas operam, hoje, tanto na produção quanto na especulação. E, via bancos, promovem a financeirização do consumo. Haja crédito! Até que a bolha estoure e a inadimplência se propague como peste.
      A “saída” dessa terceira crise será pela esquerda ou pela direita? Temo que a humanidade esteja sob dois graves riscos. O primeiro, já é óbvio: as mudanças climáticas. Produzidas inclusive pela perda do valor de uso dos alimentos, agora sujeitos ao valor de compra estabelecido pelo mercado financeiro.
      Há uma crescente reprimarização das economias dos chamados emergentes. Países, como o Brasil, regridem no tempo e voltam a depender das exportações de commodities (produtos agrícolas, petróleo e minério de ferro, cujos preços são determinados pelas transnacionais e pelo mercado financeiro).
      Neste esquema global, diante do poder das gigantescas corporações transnacionais, que controlam das sementes transgênicas aos venenos agrícolas, o latifúndio brasileiro passa a ser o elo mais fraco.
      O segundo risco é a guerra nuclear. As duas crises anteriores tiveram nas grandes guerras suas válvulas de escape. Diante do desemprego massivo, nada como a indústria bélica para empregar trabalhadores desocupados. Hoje, milhares de artefatos nucleares estão estocados mundo afora. E há inclusive minibombas nucleares, com precisão para destruições localizadas, como em Hiroshima e Nagasaki.
      É hora de rejeitar a antecipação do apocalipse e reagir. Buscar uma saída ao sistema capitalista, intrinsecamente perverso, a ponto de destinar trilhões para salvar o mercado financeiro e dar as costas aos bilhões de serem humanos que padecem entre a pobreza e a miséria.
      Resta, pois, organizar a esperança e criar, a partir de ampla mobilização, alternativas viáveis que conduzam a humanidade, como se reza na celebração eucarística, “a repartir os bens da Terra e os frutos do trabalho humano”.
      Frei Betto é escritor, autor, em parceria com Marcelo Gleiser, de “Conversa sobre a fé e a ciência” (Agir), entre outros livros. www.freibetto.org – Twitter:@freibetto.
      Fonte: Correio do Brasil

      domingo, 8 de abril de 2012

      Agência de notação Egan-Jones diz que Portugal "irá cair" e poderá arrastar Espanha e Itália




      RTP - Lusa

      A agência de notação financeira norte-americana Egan-Jones acredita que a crise da dívida na Europa caminha para o ponto mais crítico e refere que "Portugal irá cair de certeza", podendo Espanha e Itália correr o mesmo risco.

      Numa entrevista hoje divulgada no jornal alemão "Frankfurter Allgemeine Sonntagszeitung", o presidente da agência de `rating`, Sean Egan, afirmou, referindo-se a Portugal, que "quando a economia de um país se retrai de forma tão significativa e, simultaneamente, os juros das obrigações a dez anos se situam próximo dos 10 por cento, é óbvio que a situação é insustentável".

      O analista assinalou que "o drama ainda não atingiu o seu ponto mais crítico" e manifestou-se convicto que, "de qualquer modo, Portugal será afetado".

      Para Egan, "a injeção massiva de liquidez do Banco Central Europeu (BCE) acalmou os ânimos nos mercados a curto prazo", mas tendo em conta a atual situação, "é uma tranquilidade enganosa".

      Considerou, por isso, que "o BCE só atenuou o colapso do sistema, mas não pode evitá-lo", uma vez que "não houve alteração do problema de fundo".

      "Em Espanha não há crescimento, o mesmo acontece em Itália. Quando a crise do euro voltar a agudizar-se um pouco mais, ambos os países cairão inevitavelmente na mesma situação que Portugal", referiu.

      Relativamente à Grécia, Egan assinalou que a atual reestruturação da dívida "não será, com toda a certeza, a última".

      "A desagradável realidade é que, apesar dos muitos pacotes de ajuda, a Grécia continuará sobre um monte de dívidas que, a longo prazo, não poderá saldar", disse, admitindo recear que "os credores [privados] tenham de aceitar perdas que poderão aproximar-se dos 95 por cento".

      Sobre a Alemanha, Egan comentou: "Que Estado tem a capacidade de se tornar responsável das perdas do Sul da Europa? Não acredito realmente que a Alemanha se safe. Serão os contribuintes alemães quem terá de pagar, disso tenho a certeza".


      Fonte; Página Global

      sábado, 7 de abril de 2012

      ITÁLIA: CRISE MATA OS PEQUENOS PATRÕES



      Leonardo Bianchi  - Linkiesta, Milão - Presseurope

      Desde que a crise começou, em 2008, pelo menos cinquenta artesãos e donos de pequenas e médias empresas (PME) cometeram suicídio, na região que foi o motor do milagre económico da década de 1990. Aqueles que não foram capazes de se adaptar às novas circunstâncias assistem ao colapso do modelo que proporcionou uma prosperidade que pensaram ser inesgotável.

      Os olhos de Laura Tamiozzo estão colados ao ecrã de um computador portátil e a sua voz, suave mas determinada, ressoa no salão paroquial do centro de San Sebastiano, em Vigonza, uma aldeia perto de Pádua. Por trás dela, está afixado um cartaz do sindicato Filca-CISL da região do Véneto, que organizou esta reunião pública.

      Mostra vários túmulos alinhados e os nomes de 25 empresas, há muito tempo implantadas, que fecharam as suas portas no meio da indiferença geral. "Querida Flavia, não me foi fácil escrever esta carta, mas não queria deixar de te dizer que o drama que atingiu a tua família é o mesmo que atingiu a minha."

      Laura Tiamozzo lê a carta que enviou a 22 de janeiro a Flavia Schiavon, de 35 anos, que está sentada ao seu lado. A Grande Crise levou-lhes os pais. Ambos eram empreiteiros e ambos se suicidaram.

      Giovanni Schiavon deu um tiro na cabeça, em 12 de dezembro passado, no escritório. O caso deu brado, porque Schiavon estava realmente endividado, mas o Estado devia-lhe 250 mil euros. Antonio Tamiozzo, por seu lado, enforcou-se na noite de 1 de janeiro, num armazém da sua empresa, que empregava mais trinta pessoas.

      Daniele Marini, diretor da Fundação Nordeste, explica que, embora seja "difícil estabelecer um perfil típico destes empresários", é possível identificar algumas características comuns.

      O primeiro é a pequena dimensão, por vezes mínima, dos seus negócios, que operam principalmente em setores já consolidados, como a construção civil ou o pequeno artesanato, entre outros. Há também o facto de uma PME do Nordeste lidar em média com 274 fornecedores, os quais realizam geralmente cerca de 80% do produto acabado, pelo que todas as PME estão intimamente relacionadas entre si.

      Ter de declarar falência é considerado uma vergonha

      Segundo dados da CGIA [o sindicato das PME e dos artesãos] de Mestre, desde o início da crise, pelo menos 50 pequenos empreiteiros ou artesãos do Véneto puseram termo aos seus dias. "A partilha do trabalho torna-se partilha da vida", explica o escritor e jornalista Ferdinando Camon. "Quando a empresa entra em crise, o patrão sofre terrivelmente por não ser capaz de pagar aos empregados e por vê-los apertar os cintos. É essa a razão para muitos destes suicídios: ter de demitir colaboradores, fechar portas e declarar falência é considerado, na cultura das comunidades laboriosas do Nordeste, uma vergonha, uma violação das responsabilidades sociais do patrão da empresa."

      Não é de excluir, afirma Camon, que alguns casos de suicídio "expressem uma vontade mais ou menos consciente de designar o devedor, ou seja, o Estado, como um assassino, como responsável por essas mortes”.

      Aumenta a raiva e a relação com o mundo político parece irremediavelmente degradada. Depois do Tangentopoli [grande investigação anticorrupção que varreu a classe política nos anos 1990], a economia e a sociedade de Véneto acharam que cresceriam muito melhor sem o freio das "instituições".

      A desconfiança em relação ao Estado é perfeitamente recíproca: "O Nordeste é uma selva misteriosa. Roma não penetra ali. Ou se o faz, não o entende."

      Sozinhos, isolados, incompreendidos

      Uma das poucas certezas é que esses empresários da região do Véneto se sentem sozinhos, isolados, abandonados, incompreendidos. Da reunião de Vigonza, nasceu a proposta de criar uma Associação das Famílias das Vítimas da Crise. Quanto às várias associações profissionais, esforçam-se por responder às necessidades mais urgentes. No final de fevereiro, a Confartigianato (associação dos artesãos) de Asolo e Montebelluna inaugurou o Life Auxilium, um serviço de apoio aos empresários em dificuldades, dotado de um número de telefone gratuito (que recebe em média uma chamada por dia) e um centro de atendimento.

      Estes suicídios são, pois, a consequência macabra do esgotamento de um "modelo"? Não necessariamente. Na realidade, a "locomotiva da Itália" – uma região cheia de energia, palco de uma explosão selvagem e espontânea de empresas de todos os tipos – tinha começado a abrandar no início da década de 2000.

      Foi então que "o desenvolvimento do Nordeste, tal como o conhecemos, começou a descarrilar, porque os fatores subjacentes a esse enorme dinamismo tinham chegado ao seu limite", lê-se emInnovatori di confine. I percorsi del nuovo Nord Est ["Inovadores dos confins. Os caminhos do novo Nordeste "] (publicado por edições Marsilio, 2012), um livro coletivo dirigido por Daniele Marini.

      "A grande disponibilidade de mão de obra deu lugar à estagnação demográfica, à falta de trabalhadores locais; estas empresas de gestão familiar antiga depararam-se em seguida com as dificuldades da sua transmissão às gerações mais novas; e os campos da região, em vias de urbanização, mas ainda com espaços livres, foram ficando gradualmente saturados, tanto em termos de área disponível como de infraestruturas. Todos esses fatores, que haviam impulsionado favoravelmente a economia do Nordeste rumo à prosperidade, atingiram os seus limites."

      Stefano Zanatta, presidente da Confartigianato Asolo-Montebelluna, tem o mesmo entendimento: "A crise trouxe à superfície as fraquezas do sistema. Este continua muito fragmentado, formado por pequenas e microempresas. Isso começou por ser uma vantagem, enquanto a máquina funcionou, e gerou riqueza e pleno emprego. Mas agora, com uma crise que já dura há quatro anos, não somos capazes de lidar com um sistema que é mais forte que nós."

      O trabalho é tudo

      Se atentarmos nos dados da Movimprese [estatísticas empresariais italianas] para o período de 2006-2010, percebe-se que o equilíbrio entre os novos inscritos e as cessações de atividade no Nordeste é negativa: desapareceram 6023 PME. Para Daniele Marini, uma pequena empresa não tem necessariamente de fechar portas ou ser marginalizada pelo mercado.

      Claro que é necessário conseguir dar um "salto evolutivo", em termos de inovação tecnológica, de organização da produção e dos serviços, e conseguir estabelecer "relações de produção e comerciais com empresas maiores, que se internacionalizaram".

      Apesar das grandes transformações dos últimos vinte anos, as empresas do Nordeste continuam a ser fortemente "trabalhistas", em que todos – patrões e trabalhadores –, independentemente da origem social, da geração ou dos grupos de pertença, se identificam com o trabalho. E o trabalho é também a principal preocupação da população – sobretudo neste período.

      Em 1996, o sociólogo Ilvo Diamanti [especialista no Nordeste] alertava: "o trabalho tornou-se a nova religião. [...] Temo que nos traga grandes problemas no futuro, e não apenas económicos. Porque se o trabalho é tudo, se for o sucesso económico a produzir satisfação, no dia em que o desenvolvimento abrande, o impacto não será apenas económico, mas também psicológico."

      "A cultura e a felicidade não contam para nada. Os patacos – ‘schei’, como dizem aqui – são tudo", explica Ferdinando Camon: "o pequeno empresário endividado não vive uma crise económica – mergulha numa crise total. Nervosa, moral, mental. É por isso que se suicida. Porque os ‘schei’ são o único valor que reconhece e, se a sua vida for deficitária desse ponto de vista, considera que deixa de ser digna de ser vivida. Os ‘schei’ são um valor absoluto."

      Contexto
      Vaga de suicídios entre artesãos e empreendedores

      A vaga de suicídios provocada pela crise não atinge apenas o Nordeste: nestes últimos dias, dois empreendedores romenos suicidaram-se e um artesão de Bolonha imolou-se pelo fogo. Na Itália, entre 2008 e 2010, os suicídios por motivos económicos aumentaram 24,6% (de 150 para 187),explica La Repubblica, que cita fontes sindicais e denuncia um eventual “efeito de imitação”. Depois dos últimos episódios, os sindicatos profissionais dos empreendedores e dos artesãos pediram ao Governo que crie fundos de emergência para ajudar os que não conseguem pagar as suas dívidas.


      Fonte: Página Global

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