Mostrando postagens com marcador empresas. Mostrar todas as postagens
Mostrando postagens com marcador empresas. Mostrar todas as postagens

domingo, 14 de setembro de 2014

Drones para Delivery

Corporações como Google e Amazon e até uma empresa brasileira aceleram o desenvolvimento de aeronaves não tripuladas capazes de realizar uma atividade ao mesmo tempo trivial e bilionária: a entrega de encomendas

Luisa Purchio (luisapurchio@istoe.com.br)
Algumas das grandes invenções que mudaram o mundo – computadores, internet, forno de microondas, GPS, laser e câmeras digitais, para ficar apenas nos exemplos mais marcantes – surgiram nas fileiras militares. A próxima revolução tecnológica criada pela turma de farda ainda não transformou a vida das pessoas, mas isso é apenas uma questão de tempo. Desenvolvidos pelo Exército americano, os drones, aqueles aviões não tripulados comandados por sistemas de comunicação mantidos em terra firme, ganharam fama de máquinas assassinas graças aos ataques dos Estados Unidos em países como Iraque e Afeganistão, mas agora começam a encontrar sua verdadeira vocação: servir ao cidadão comum e gerar oportunidades de negócios para grandes empresas. Duas das corporações mais impetuosas do planeta, Google e Amazon aceleram o desenvolvimento de drones capazes de realizar uma atividade ao mesmo tempo trivial e bilionária: a entrega de encomendas, o famoso delivery. A ideia é que os pequenos aviões transportem produtos de todo tipo (pizzas, livros, roupas, aparelhos eletrônicos, celulares) e os deixem na porta da casa dos consumidores. Parece irrealizável. Não é.
Abre.jpg
FUTURO
Jeff Bezos, presidente da Amazon, com o drone testado pela
empresa (acima); a padaria Pão to Go também experimentou
seu veículo (abaixo), assim como a pizzaria Domino's, com o
DomiCopter (abaixo, à dir.) e o Project Wing, do Google
01.jpg
Em parceria com o Instituto de Tecnologia de Massachusetts (MIT), o Google desenvolve há dois anos robôs voadores capazes de entregar mercadorias em áreas urbanas. Recentemente, o gigante da internet testou na Austrália, cuja legislação não coíbe experimentos desse tipo, um protótipo de asa única, com 1,5 metros de extensão e 76 centímetros de altura, impulsionado por quatro propulsores que permitem que se movimente em todas as direções. O aparelho transportou e entregou com sucesso vacinas para gado, água, rádios e doces. Na Amazon, o homem por trás de projeto parecido é o próprio Jeff Bezos, que fundou a empresa e a transformou numa das maiores corporações de comércio virtual do mundo. A ideia de Bezos é que os drones transportem pacotes de no máximo 2,3 kg, peso que representa 86% dos pedidos atuais da Amazon.
03.jpg
Apesar dos avanços recentes, há uma série de obstáculos antes da utilização comercial dos drones. A questão de segurança é a que mais preocupa. “Precisamos desenvolver um modelo que detecte casas, árvores e postes, mas ainda existem limitações de sensores”, diz Anderson Harayashiki Moreira, professor do Instituto Mauá de Tecnologia. Para os drones funcionarem por mais tempo, seria necessário também aumentar o tamanho das baterias, o que deixaria o veículo mais pesado e diminuiria a sua capacidade de carga. Outro entrave diz respeito aos possíveis desvios de mercadorias e roubos dos equipamentos.
Na maioria dos países as aeronaves remotamente pilotadas ainda não são permitidas. Nos Estados Unidos, o Google contratou um dos mais respeitados escritórios de advocacia do país para fazer lobby junto às autoridades pela liberação dos drones. No Brasil, a Agência Nacional de Aviação Civil (Anac) afirma que a proposta de regulamentação deve ser submetida à audiência pública até o final de 2014. Enquanto isso não acontece, algumas aeronaves são certificadas para voos experimentais sem fins lucrativos e fora de áreas urbanas. 
02.jpg
Recentemente, uma experiência inusitada foi realizada em São Carlos, no interior de São Paulo. A rede de padarias Pão to Go, que possui mais de cem endereços no País e no exterior, entregou, com um drone, pães, manteiga e biscoitos em um condomínio residencial a cerca de 1 km da unidade. Todos os testes foram bem-sucedidos e a empresa aguarda a autorização da Anac para levar o projeto adiante. Os principais benefícios seriam a diminuição dos gastos com entregas, que seriam feitas sem a necessidade de um motoboy, e a agilidade que só um objeto aéreo é capaz de proporcionar. “Assim que conseguirmos a licença, vamos comprar drones para todas as franquias”, diz Tom Ricetti, fundador e dono da rede. O equipamento que ele testou custou R$ 6 mil e a bateria suporta de quatro a cinco entregas de curtas distâncias. Não vai demorar para você receber pão quentinho – e muitos outros produtos – vindo dos céus.
Fotos: Patrick Fallon/Getty Images; Divulgação
Fonte: ISTOÉ ONLINE

domingo, 23 de dezembro de 2012

Indústria não se preocupa em desenvolver remédios para o Terceiro Mundo, diz Prêmio Nobel


Ferid Murad critica a falta de investimento em tratamentos de doenças que matam muita gente em países pobres

por Julliane SilveirafonteTxt=Julliane Silveira
Editora Globo
(Fotos: Editora Globo)
Em todo o mundo, 1,5 milhão de crianças morrem anualmente por causa da diarreia, segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS). Em países em desenvolvimento, a OMS estima que cada criança tenha três episódios de diarreia por ano.

Esse problema faz parte das doenças comuns em países pobres, como a malária, a tuberculose, a doença de Chagas, entre outras. São patologias que recebem pouquíssima atenção das grandes empresas farmacêuticas – quando há pesquisadores que se interessam em estudá-las e descobrir novos tratamentos, é quase impossível obter financiamento, porque certamente não trarão grandes retornos financeiros. Por isso, são chamadas pela OMS de doenças negligenciadas.

Um desses pesquisadores é o farmacologista Ferid Murad que, além de uma cadeira na Universidade do Texas (EUA), tem no currículo o Prêmio Nobel de Medicina de 1998, recebido com dois outros colegas pela descoberta dos mecanismos que possibilitaram o desenvolvimento do Viagra.


Editora Globo
(Fotos: Editora Globo)

Murad sempre criticou ferozmente a falta de incentivos para pesquisa e desenvolvimento de tratamentos que pudesse conter doenças que ainda matam muita gente em países pobres. Agora, encontrou um parceiro para desenvolver um medicamento contra diarreia causada pelo Cólera e pela bactéria Escherichia coli. A Biolab, farmacêutica brasileira, fechou em outubro um acordo com o pesquisador para a criação de uma nova droga.

Pode parecer inusitado, mas o óxido nítrico, mesmo componente usado para criar o Viagra, deve ser aplicado no medicamento contra diarreia, como Murad conta nesta entrevista concedida a Galileu. O óxido nítrico atua no controle do sistema cardiovascular e, por isso, medicamentos à base dessa substância são usados também para tratar arterosclerose, hipertensão pulmonar, entre outras doenças.

E também pode controlar outras manifestações, como a diarreia. Mas nenhum almoço vem de graça: a expectativa é que a mesma droga possa tratar síndrome do intestino irritável, uma doença que também solta o intestino, causa fortes dores abdominais e atinge cerca de 15% da população dos EUA e da Europa, segundo a Organização Mundial de Gastroenterologia. 


GALILEU – Você sempre diz que é muito difícil para um grupo de pesquisa conseguir fundos para estudar doenças de países pobres. 
Ferid Murad – Muitas fundações não estão nem um pouco interessadas em patrocinar ou desenvolver remédios para o Terceiro Mundo, simplesmente porque não haverá lucros. Isso é muito ruim. 

Podemos ver um movimento de gente patrocinando pesquisas contra essas doenças. A Fundação Bill e Melinda Gates, por exemplo, a China, que é um país em grande crescimento. Você acha que temos um novo cenário? 
Sim, estamos melhorando. Sei que Gates está interessando em pesquisas sobre tuberculose, vacinas e diarreia também. Mas ele tem uma equipe muito pequena para ajudá-lo a direcionar corretamente os investimentos. Para você ter uma ideia: nos EUA, uma empresa pode ser livre de impostos se gastar 5% dos ganhos com ações filantrópicas. Como a companhia de Gates faz US$ 33 bilhões por ano, deve gastar US$ 1,5 bilhão. É muito dinheiro e eles não têm uma força cavalar para analisar tudo o que cai em suas mãos. Mas dar grandes quantias para qualquer projeto não é a melhor forma de financiar pesquisa e, por isso, eles precisam de ótimos revisores para avaliar quais pesquisas realmente merecem os fundos. 

Existem boas ações? 
Sim, há muita gente estudando formas de combater tuberculose, esquistossomose, malaria, dermatoses. Há mudanças, mas o problema é que não há muita gente sendo tratada com elas. É preciso missionários e médicos para ir até essas pessoas, para informá-las. Temos um progresso enorme contra doenças cardiovasculares, que são as que mais matam gente no mundo. Falar de 2 milhões de pessoas mortas por diarreira é ínfimo. Mas existem pessoas que morrem disso e não deveriam! Não há médicos para tratá-las, não há água potável. E as pessoas não se importam. 

Mas isso seria mais um problema de saúde pública do que de desenvolvimento de um remédio, não? 
Sim, a questão é mais ampla. Mas é preciso mais pesquisa. A tuberculose, por exemplo, tem se manifestado em formas muito resistentes, porque as pessoas não usaram os antibióticos corretamente e as bactérias se tornaram resistentes. Há também o problema da qualidade da droga. Na África, por exemplo, em muitos casos as pessoas acreditam estar usando um bom medicamento, mas não estão. 

A parceira aqui no Brasil parece ser um passo importante nesse cenário. 
Sim, se pensarmos que 2 milhões de pessoas morrem de diarreia por ano, principalmente crianças e idosos. Temos um composto químico e estamos testando outros compostos também, onde a Biolab entra como parceira. Por enquanto, a pesquisa é feita em laboratório e, depois, será testada em animais. Em um ou dois anos começaremos os protocolos clínicos, em humanos.

O composto será específico para o público brasileiro?
Vamos fazer os testes aqui e desenvolveremos a droga aqui, com aprovação das autoridades brasileiras. Se falamos de diarreia, estamos pensando num mercado mais social. Mas se funcionar em síndrome do intestino irritável, estamos falando de um mercado bem mais abrangente e grande em termos de dinheiro. Acredito que muita gente pagaria mais para ter um remédio que realmente funcione. Então parece ser um caminho para fazer isso ser economicamente viável e acabar com a diarreia. Então a doença “de rico”, a síndrome do intestino irritável, é um caminho para driblar a dificuldade de ter fundos para tratar uma doença de pobre. Tenho certeza de que, se descobrirmos que o composto também funciona para a síndrome haverá muitas empresas interessadas em ajudar a gente. Mesmo porque líderes de muitas empresas têm essa doença. [risos] 

E como o remédio age? 
No caso da diarreia, as bactérias liberam toxinas no organismo. Descobrimos um remédio que bloqueia o mecanismo das células e interrompe o problema. Não matamos o micro-organismo, mas cessamos a ação do corpo. A droga funciona com E-Coli e Cólera.

É verdade que o mesmo componente do Viagra, o óxido nítrico, vai ser usado na nova droga? 
Sim. Para entender melhor, é preciso saber que as células do organismo produzem elementos o tempo todo, que são lançados nos vasos sanguíneos, o cérebro libera neurotransmissores... Enfim, existem centenas de mensageiros no corpo, procurando seu alvo. Eles encontrarão o alvo com a ajuda de receptores que ficam nas membranas das células. Esses primeiros “mensageiros” interagem com os receptores como uma chave e uma fechadura, mas não precisam entrar na célula. O contato intracelular é feito por meio de mecanismos bioquímicos, realizado por receptores internos, chamados de segundos mensageiros intracelulares. Existem centenas de primeiros mensageiros, mas só sete ou oito mensageiros intracelulares – entre eles, o óxido nítrico. Se o óxido nítrico é um dos sete, posso dizer que ele regula 14% do nosso corpo.

Matematicamente faz sentido. Mas como um mesmo químico resolve problemas de ereção, doenças vasculares e diarreia? 
O sistema cardiovascular tem seus mensageiros. Se tiver o receptor certo para o primeiro mensageiro, a mensagem chegará para dentro das células e a função ocorrerá: dilatação dos vasos, coração baterá mais forte etc. Para questões vasculares, precisamos de altos níveis do composto, para diarreia, acredito que precisaremos de baixos níveis. É como a aspirina: as pessoas usam para tratar dor de cabeça e prevenir ataques cardíacos e câncer colorretal.

Já se sabe qual será o veículo remédio? Injeção, cápsula? 
Não ainda. Temos que ver como ele vai funcionar. Espero que seja por via oral, porque poderíamos até colocar em pirulitos para crianças. Estimo que em três anos possamos ter o produto no mercado.

Fonte: Revista Galileu Online

quinta-feira, 9 de agosto de 2012

VOCÊ SABE QUANTO CUSTARAM OS LOGOS DA COCA-COLA, GOOGLE E NIKE?


A criação de um logotipo é uma tarefa muito séria, afinal, é a partir dele que as pessoas reconhecerão determinada marca. Muitas dessas representações gráficas surgiram depois de muitas horas de dedicação e trabalho, enquanto tantas outras surgiram por mero acaso.
Mas você sabe dizer quanto custaram alguns dos logotipos mais conhecidos do mundo? O pessoal do site BuzzFeed decidiu averiguar, e você pode conferir abaixo quanto dinheiro foi investido na criação de algumas das marcas mais famosas do planeta:

Coca-Cola – US$ 0,00

 
(Fonte da imagem: Reprodução/Wikipedia)
Isso mesmo! O logo de uma das bebidas mais consumidas do mundo não custou absolutamente nada. Ele foi criado em 1885 por Frank Mason Robinson, contador de John Pemberton — o farmacêutico que desenvolveu o refresco —, que inventou o nome para a bebida e o escreveu com sua própria caligrafia.

Pepsi – US$ 1 milhão

 
(Fonte da imagem: Reprodução/Wikipedia)
Ao contrário do logo da Coca-Cola, que passou apenas por pequenas alterações ao longo dos anos, a reformulação da representação gráfica da eterna concorrente Pepsi custou bem mais caro. Desenvolvido em 2008 pela Arnell Group, o logo custou aproximadamente R$ 2 milhões.

Google – US$ 0,00

 
(Fonte da imagem: Reprodução/Wikipedia)
O logo da Google é mais uma representação gráfica superfamosa que não custou um único centavo sequer para ser criada. O modelo original surgiu em 1998, desenvolvido por Sergey Brin, um dos fundadores da empresa. Embora tenha passado por alguns ajustes aqui e ali, a marca continua mantendo a mesma essência da original.

Nike – US$ 35

 
(Fonte da imagem: Reprodução/Wikipedia )
Desenvolvido em 1975 por Carolyn Davidson, o logo da Nike custou apenas US$ 35 (aproximadamente R$ 70). O desenho também passou por algumas modificações, mas o conceito original sempre se manteve o mesmo.

Jogos Olímpicos de Londres 2012 – US$ 625 mil

 
(Fonte da imagem: Reprodução/Wikipedia)
Normalmente, a escolha do logo que marcará os Jogos Olímpicos sempre envolve algum tipo de competição ou votação por parte do público. No caso dos Jogos de Londres, a versão escolhida foi desenvolvida por Wolff Ollins em 2007, custando aproximadamente R$ 1.260 milhão.

NeXT – US$ 100 mil

 
(Fonte da imagem: Reprodução/Wikipedia)
Quando Steve Jobs deixou a Apple em meados da década de 80 e montou a NeXT, a criação do logo ficou por conta de Paul Rand, que cobrou aproximadamente R$ 200 mil pelo projeto. A Apple acabou comprando o sistema operacional desenvolvido pela empresa de Jobs alguns anos depois, fazendo-o voltar para a empresa da Maçã e reassumindo sua posição como CEO.
Fonte: BuzzFeed


sábado, 7 de abril de 2012

ITÁLIA: CRISE MATA OS PEQUENOS PATRÕES



Leonardo Bianchi  - Linkiesta, Milão - Presseurope

Desde que a crise começou, em 2008, pelo menos cinquenta artesãos e donos de pequenas e médias empresas (PME) cometeram suicídio, na região que foi o motor do milagre económico da década de 1990. Aqueles que não foram capazes de se adaptar às novas circunstâncias assistem ao colapso do modelo que proporcionou uma prosperidade que pensaram ser inesgotável.

Os olhos de Laura Tamiozzo estão colados ao ecrã de um computador portátil e a sua voz, suave mas determinada, ressoa no salão paroquial do centro de San Sebastiano, em Vigonza, uma aldeia perto de Pádua. Por trás dela, está afixado um cartaz do sindicato Filca-CISL da região do Véneto, que organizou esta reunião pública.

Mostra vários túmulos alinhados e os nomes de 25 empresas, há muito tempo implantadas, que fecharam as suas portas no meio da indiferença geral. "Querida Flavia, não me foi fácil escrever esta carta, mas não queria deixar de te dizer que o drama que atingiu a tua família é o mesmo que atingiu a minha."

Laura Tiamozzo lê a carta que enviou a 22 de janeiro a Flavia Schiavon, de 35 anos, que está sentada ao seu lado. A Grande Crise levou-lhes os pais. Ambos eram empreiteiros e ambos se suicidaram.

Giovanni Schiavon deu um tiro na cabeça, em 12 de dezembro passado, no escritório. O caso deu brado, porque Schiavon estava realmente endividado, mas o Estado devia-lhe 250 mil euros. Antonio Tamiozzo, por seu lado, enforcou-se na noite de 1 de janeiro, num armazém da sua empresa, que empregava mais trinta pessoas.

Daniele Marini, diretor da Fundação Nordeste, explica que, embora seja "difícil estabelecer um perfil típico destes empresários", é possível identificar algumas características comuns.

O primeiro é a pequena dimensão, por vezes mínima, dos seus negócios, que operam principalmente em setores já consolidados, como a construção civil ou o pequeno artesanato, entre outros. Há também o facto de uma PME do Nordeste lidar em média com 274 fornecedores, os quais realizam geralmente cerca de 80% do produto acabado, pelo que todas as PME estão intimamente relacionadas entre si.

Ter de declarar falência é considerado uma vergonha

Segundo dados da CGIA [o sindicato das PME e dos artesãos] de Mestre, desde o início da crise, pelo menos 50 pequenos empreiteiros ou artesãos do Véneto puseram termo aos seus dias. "A partilha do trabalho torna-se partilha da vida", explica o escritor e jornalista Ferdinando Camon. "Quando a empresa entra em crise, o patrão sofre terrivelmente por não ser capaz de pagar aos empregados e por vê-los apertar os cintos. É essa a razão para muitos destes suicídios: ter de demitir colaboradores, fechar portas e declarar falência é considerado, na cultura das comunidades laboriosas do Nordeste, uma vergonha, uma violação das responsabilidades sociais do patrão da empresa."

Não é de excluir, afirma Camon, que alguns casos de suicídio "expressem uma vontade mais ou menos consciente de designar o devedor, ou seja, o Estado, como um assassino, como responsável por essas mortes”.

Aumenta a raiva e a relação com o mundo político parece irremediavelmente degradada. Depois do Tangentopoli [grande investigação anticorrupção que varreu a classe política nos anos 1990], a economia e a sociedade de Véneto acharam que cresceriam muito melhor sem o freio das "instituições".

A desconfiança em relação ao Estado é perfeitamente recíproca: "O Nordeste é uma selva misteriosa. Roma não penetra ali. Ou se o faz, não o entende."

Sozinhos, isolados, incompreendidos

Uma das poucas certezas é que esses empresários da região do Véneto se sentem sozinhos, isolados, abandonados, incompreendidos. Da reunião de Vigonza, nasceu a proposta de criar uma Associação das Famílias das Vítimas da Crise. Quanto às várias associações profissionais, esforçam-se por responder às necessidades mais urgentes. No final de fevereiro, a Confartigianato (associação dos artesãos) de Asolo e Montebelluna inaugurou o Life Auxilium, um serviço de apoio aos empresários em dificuldades, dotado de um número de telefone gratuito (que recebe em média uma chamada por dia) e um centro de atendimento.

Estes suicídios são, pois, a consequência macabra do esgotamento de um "modelo"? Não necessariamente. Na realidade, a "locomotiva da Itália" – uma região cheia de energia, palco de uma explosão selvagem e espontânea de empresas de todos os tipos – tinha começado a abrandar no início da década de 2000.

Foi então que "o desenvolvimento do Nordeste, tal como o conhecemos, começou a descarrilar, porque os fatores subjacentes a esse enorme dinamismo tinham chegado ao seu limite", lê-se emInnovatori di confine. I percorsi del nuovo Nord Est ["Inovadores dos confins. Os caminhos do novo Nordeste "] (publicado por edições Marsilio, 2012), um livro coletivo dirigido por Daniele Marini.

"A grande disponibilidade de mão de obra deu lugar à estagnação demográfica, à falta de trabalhadores locais; estas empresas de gestão familiar antiga depararam-se em seguida com as dificuldades da sua transmissão às gerações mais novas; e os campos da região, em vias de urbanização, mas ainda com espaços livres, foram ficando gradualmente saturados, tanto em termos de área disponível como de infraestruturas. Todos esses fatores, que haviam impulsionado favoravelmente a economia do Nordeste rumo à prosperidade, atingiram os seus limites."

Stefano Zanatta, presidente da Confartigianato Asolo-Montebelluna, tem o mesmo entendimento: "A crise trouxe à superfície as fraquezas do sistema. Este continua muito fragmentado, formado por pequenas e microempresas. Isso começou por ser uma vantagem, enquanto a máquina funcionou, e gerou riqueza e pleno emprego. Mas agora, com uma crise que já dura há quatro anos, não somos capazes de lidar com um sistema que é mais forte que nós."

O trabalho é tudo

Se atentarmos nos dados da Movimprese [estatísticas empresariais italianas] para o período de 2006-2010, percebe-se que o equilíbrio entre os novos inscritos e as cessações de atividade no Nordeste é negativa: desapareceram 6023 PME. Para Daniele Marini, uma pequena empresa não tem necessariamente de fechar portas ou ser marginalizada pelo mercado.

Claro que é necessário conseguir dar um "salto evolutivo", em termos de inovação tecnológica, de organização da produção e dos serviços, e conseguir estabelecer "relações de produção e comerciais com empresas maiores, que se internacionalizaram".

Apesar das grandes transformações dos últimos vinte anos, as empresas do Nordeste continuam a ser fortemente "trabalhistas", em que todos – patrões e trabalhadores –, independentemente da origem social, da geração ou dos grupos de pertença, se identificam com o trabalho. E o trabalho é também a principal preocupação da população – sobretudo neste período.

Em 1996, o sociólogo Ilvo Diamanti [especialista no Nordeste] alertava: "o trabalho tornou-se a nova religião. [...] Temo que nos traga grandes problemas no futuro, e não apenas económicos. Porque se o trabalho é tudo, se for o sucesso económico a produzir satisfação, no dia em que o desenvolvimento abrande, o impacto não será apenas económico, mas também psicológico."

"A cultura e a felicidade não contam para nada. Os patacos – ‘schei’, como dizem aqui – são tudo", explica Ferdinando Camon: "o pequeno empresário endividado não vive uma crise económica – mergulha numa crise total. Nervosa, moral, mental. É por isso que se suicida. Porque os ‘schei’ são o único valor que reconhece e, se a sua vida for deficitária desse ponto de vista, considera que deixa de ser digna de ser vivida. Os ‘schei’ são um valor absoluto."

Contexto
Vaga de suicídios entre artesãos e empreendedores

A vaga de suicídios provocada pela crise não atinge apenas o Nordeste: nestes últimos dias, dois empreendedores romenos suicidaram-se e um artesão de Bolonha imolou-se pelo fogo. Na Itália, entre 2008 e 2010, os suicídios por motivos económicos aumentaram 24,6% (de 150 para 187),explica La Repubblica, que cita fontes sindicais e denuncia um eventual “efeito de imitação”. Depois dos últimos episódios, os sindicatos profissionais dos empreendedores e dos artesãos pediram ao Governo que crie fundos de emergência para ajudar os que não conseguem pagar as suas dívidas.


Fonte: Página Global

Postagens populares

Total de visualizações de página

Páginas