Corporações como Google e Amazon e até uma empresa brasileira aceleram o desenvolvimento de aeronaves não tripuladas capazes de realizar uma atividade ao mesmo tempo trivial e bilionária: a entrega de encomendas
Luisa Purchio (luisapurchio@istoe.com.br)
Algumas das
grandes invenções que mudaram o mundo – computadores, internet, forno de
microondas, GPS, laser e câmeras digitais, para ficar apenas nos
exemplos mais marcantes – surgiram nas fileiras militares. A próxima
revolução tecnológica criada pela turma de farda ainda não transformou a
vida das pessoas, mas isso é apenas uma questão de tempo. Desenvolvidos
pelo Exército americano, os drones, aqueles aviões não tripulados
comandados por sistemas de comunicação mantidos em terra firme, ganharam
fama de máquinas assassinas graças aos ataques dos Estados Unidos em
países como Iraque e Afeganistão, mas agora começam a encontrar sua
verdadeira vocação: servir ao cidadão comum e gerar oportunidades de
negócios para grandes empresas. Duas das corporações mais impetuosas do
planeta, Google e Amazon aceleram o desenvolvimento de drones capazes de
realizar uma atividade ao mesmo tempo trivial e bilionária: a entrega
de encomendas, o famoso delivery. A ideia é que os pequenos aviões
transportem produtos de todo tipo (pizzas, livros, roupas, aparelhos
eletrônicos, celulares) e os deixem na porta da casa dos consumidores.
Parece irrealizável. Não é.
FUTURO
Jeff Bezos, presidente da Amazon, com o drone testado pela
empresa (acima); a padaria Pão to Go também experimentou
seu veículo (abaixo), assim como a pizzaria Domino's, com o
DomiCopter (abaixo, à dir.) e o Project Wing, do Google
Em parceria com o Instituto de Tecnologia
de Massachusetts (MIT), o Google desenvolve há dois anos robôs voadores
capazes de entregar mercadorias em áreas urbanas. Recentemente, o
gigante da internet testou na Austrália, cuja legislação não coíbe
experimentos desse tipo, um protótipo de asa única, com 1,5 metros de
extensão e 76 centímetros de altura, impulsionado por quatro propulsores
que permitem que se movimente em todas as direções. O aparelho
transportou e entregou com sucesso vacinas para gado, água, rádios e
doces. Na Amazon, o homem por trás de projeto parecido é o próprio Jeff
Bezos, que fundou a empresa e a transformou numa das maiores corporações
de comércio virtual do mundo. A ideia de Bezos é que os drones
transportem pacotes de no máximo 2,3 kg, peso que representa 86% dos
pedidos atuais da Amazon.
Apesar dos avanços recentes, há uma série
de obstáculos antes da utilização comercial dos drones. A questão de
segurança é a que mais preocupa. “Precisamos desenvolver um modelo que
detecte casas, árvores e postes, mas ainda existem limitações de
sensores”, diz Anderson Harayashiki Moreira, professor do Instituto Mauá
de Tecnologia. Para os drones funcionarem por mais tempo, seria
necessário também aumentar o tamanho das baterias, o que deixaria o
veículo mais pesado e diminuiria a sua capacidade de carga. Outro
entrave diz respeito aos possíveis desvios de mercadorias e roubos dos
equipamentos.
Na maioria dos países as aeronaves
remotamente pilotadas ainda não são permitidas. Nos Estados Unidos, o
Google contratou um dos mais respeitados escritórios de advocacia do
país para fazer lobby junto às autoridades pela liberação dos drones. No
Brasil, a Agência Nacional de Aviação Civil (Anac) afirma que a
proposta de regulamentação deve ser submetida à audiência pública até o
final de 2014. Enquanto isso não acontece, algumas aeronaves são
certificadas para voos experimentais sem fins lucrativos e fora de áreas
urbanas.
Recentemente, uma experiência inusitada foi
realizada em São Carlos, no interior de São Paulo. A rede de padarias
Pão to Go, que possui mais de cem endereços no País e no exterior,
entregou, com um drone, pães, manteiga e biscoitos em um condomínio
residencial a cerca de 1 km da unidade. Todos os testes foram
bem-sucedidos e a empresa aguarda a autorização da Anac para levar o
projeto adiante. Os principais benefícios seriam a diminuição dos gastos
com entregas, que seriam feitas sem a necessidade de um motoboy, e a
agilidade que só um objeto aéreo é capaz de proporcionar. “Assim que
conseguirmos a licença, vamos comprar drones para todas as franquias”,
diz Tom Ricetti, fundador e dono da rede. O equipamento que ele testou
custou R$ 6 mil e a bateria suporta de quatro a cinco entregas de curtas
distâncias. Não vai demorar para você receber pão quentinho – e muitos
outros produtos – vindo dos céus.
Fotos: Patrick Fallon/Getty Images; Divulgação
Fonte: ISTOÉ ONLINE