sexta-feira, 3 de janeiro de 2014

A divina tragédia de Belchior

Procurado pela polícia e hospedado de favor na casa de fãs, o compositor de clássicos como “Divina comédia humana” protagoniza uma história de amor e decadência

Por Marcelo Bortoloti
Capítulo 1
“No trevo, a 100 por hora”
Edna Prometheu é o pseudônimo da produtora cultural Edna Assunção de Araújo, de 46 anos. Morena, de cabelos encaracolados e baixa estatura, não é uma mulher de beleza estonteante. Militante de organizações de extrema-esquerda, é definida por seus amigos como “idealista utópica”. No começo de 2005, ela estava em São Paulo, no ateliê do artista plástico cearense Aldemir Martins, já morto, quando entrou pela porta o músico Belchior. O cantor de “Paralelas” também pinta quadros e frequenta o ambiente artístico. Edna queria organizar uma exposição de Aldemir no Ceará. Belchior disse que tinha amigos por lá, poderia ajudar. Trocaram telefones.

Os dois acabaram organizando juntos a exposição em Fortaleza, naquele mesmo ano. Na volta, Edna ligou para um amigo e contou a novidade: “Estamos namorando”. A partir daí, a vida plácida de Belchior derrapou no trevo a 100 por hora, como diz a letra de “Paralelas”. Para ficar com Edna, ele abandonou a então mulher, Ângela, com quem estava casado havia 35 anos, mãe de dois dos quatro filhos que tem. Afastou-se dos amigos e foi gradativamente deixando de fazer shows, até sumir sem dar explicações, em 2009. “Essa figura nefasta está fazendo uma lavagem cerebral nele”, afirma Jackson Martins, ex-empresário de Belchior. “Depois dela, sua vida só andou para trás”, diz o artista plástico cearense Tota, amigo de Belchior.

A FELICIDADE É UMA ARMA QUENTE Belchior com a mulher, a produtora cultural Edna Prometheu. “Eles juntaram suas utopias”, diz o amigo José Roberto Aguilar (Foto: Bruno Alencastro/Ag. RBS)
O desaparecimento de Belchior, há cinco anos, surpreendeu a todos, família e amigos. Ninguém poderia esperar tal atitude. Ele deixou para trás a agenda de shows e todo o patrimônio, incluindo roupas, documentos, quadros, automóveis e apartamento. O sumiço transformou Belchior  em figura cult. A pergunta “onde está Belchior?” ecoou na internet e teve até repercussão internacional. Surgiram blogs sobre o tema. Campanhas nas redes sociais pediram  a volta do músico. E apareceram montagens cômicas – “memes” – em que Belchior aparece em locais inusitados como a ilha do seriado Lost. Suas músicas no YouTube, que antes tinham 5 mil acessos diários, hoje batem 500 mil.

O sucesso no mundo virtual não trouxe nenhum benefício para o Belchior de carne e osso. Aos 67 anos, ele vive escondido com Edna em Porto Alegre. Não pode sair em público, pois é procurado pela polícia. Pesam contra Belchior dois mandados de prisão pelo não pagamento de pensões alimentícias. Uma devida à ex-mulher Ângela, com quem tem dois filhos já maiores de idade, e outra à mãe de uma filha de 19 anos que teve fora do casamento. Além das pensões, Belchior abandonou todos os demais compromissos e é cobrado na Justiça em processos que correm à revelia. O ex-secretário particular de Belchior, Célio Silva, ganhou um processo trabalhista contra ele no valor de R$ 1 milhão. Não há mais como recorrer. As contas de Belchior estão bloqueadas, e os imóveis que tinha comprometidos. Sem dinheiro, ele já se abrigou numa instituição de caridade no Rio Grande do Sul e morou de favor na casa de fãs que nem conhecia.

O mais intrigante na espantosa história de Belchior é que ele aparentemente não agiu movido por depressão, dívidas ou golpe publicitário, como se pensou no princípio. A influência da mulher é apontada pela maioria dos amigos como o motivo do seu comportamento. Ainda assim, não há unanimidade. “Edna não conseguiria sozinha virar a cabeça de alguém inteligente como Belchior. São dois sonhadores, juntaram suas utopias. Deixaram de acreditar neste mundo materialista, objetivo e mesquinho e partiram para um caminho de desapego”, diz o artista plástico José Roberto Aguilar, de 72 anos, amigo do casal.


Belchior nasceu numa família simples no interior do Ceará. Foi o mais bem-sucedido entre 23 irmãos. Estudou medicina na capital. Abandonou o curso depois de quatro anos, para ingressar na carreira artística. Estourou nos festivais na década de 1970 e compôs músicas com letras poderosas, como “A palo seco”. Seus sucessos foram gravados por Elis Regina, Jair Rodrigues e Roberto Carlos. Belchior é um artista com vasta cultura, domina cinco idiomas, conhece filosofia e gosta de física quântica. Até os anos 2000, lançava em média um disco por ano. “Ele era uma máquina, chegava a fazer três shows por noite. Era uma pessoa completamente dedicada à carreira”, diz o parceiro e ex-sócio Jorge Mello.

Tudo isso ficou para trás. O sumiço de Belchior lembra o caso do escritor russo Liev Tolstói. Aos 82 anos, ele abandonou tudo para viver como camponês. Tolstói teve um fim trágico – morreu de pneumonia depois de viajar na terceira classe de um trem durante o inverno soviético. Belchior, quanto mais se afasta da vida em sociedade, mais se afunda em dificuldades mundanas.

Capítulo 2
“Onde nada é eterno”
Depois que conheceu Edna, Belchior percorreu uma trajetória descendente em que, aos poucos, se despojou de todos os bens e obrigações. No final de 2006, ainda com a carreira aquecida, pediu que o empresário Jackson Martins parasse de agendar novos shows. Pretendia passar um tempo se dedicando à pintura e à tradução do poema Divina comédia, de Dante Alighieri, para uma linguagem popular. No início do ano seguinte, deixou o apartamento em que vivia com Ângela, mas continuou morando em São Paulo com Edna, num flat alugado. Desde então, a família diz não ter mais notícias dele. Belchior não era um marido muito presente, ficava até dois meses sem aparecer em casa. Teve duas filhas fora do casamento. Uma delas com uma fã que morava em São Carlos, no interior de São Paulo, com quem saiu uma única vez. A outra era fruto de um caso com uma estudante de psicologia no Ceará. Belchior pagava pensão alimentícia para a primeira. A família da segunda menina, hoje com 16 anos, não o acionou na Justiça.

As complicações começaram a aparecer em 2008. Ângela cobrava na Justiça uma pensão mensal de R$ 7 mil. Belchior se recusou a pagar. Na época, deixou de pagar também a outra pensão. Seus amigos notaram uma diferença de comportamento. “Ele parecia estranho. Me ligou perguntando sobre amigos que não vemos há 30 anos, num tom de voz que não era o seu”, diz Jorge Mello. Em outubro daquele ano, abandonou um carro no estacionamento do aeroporto de Congonhas, em São Paulo.

Belchior continuou em São Paulo até março de 2009, quando deixou o flat sem quitar os últimos meses de aluguel. Na garagem, ele largou um segundo carro, e em seu apartamento ficaram roupas, rascunhos de música, cartões de crédito e o passaporte. Belchior também abandonou tudo na casa alugada onde funcionava seu escritório: coleção de quadros, discos, documentos e o computador onde estava parte da tradução da Divina comédia, projeto que lhe consumira três anos. Seu secretário, Célio Silva, continuou abrindo o escritório, na esperança de que retornasse.

RASTROS Acima, a instituição  em Cachoeirinha, Rio Grande do Sul, que abrigou Belchior. Abaixo, o quarto no sítio  do advogado Jorge Cabral onde ele ficou hospedado (Foto: Ricardo Jaeger/ÉPOCA)
Belchior viajara com Edna para o Uruguai, onde descansava num vilarejo. Foi processado por Célio e por todos os credores que ficaram em São Paulo. Não se defendeu. Foi representado por defensores públicos até nos processos de pensão alimentícia. Como consequência, suas contas foram bloqueadas, e apareceram dois mandados de prisão contra ele, já que não pagar pensão é um crime passível de cadeia. “Como não tive contato com ele, a defesa ficou restrita a questões formais”, diz a defensora Claudia Tannuri, escolhida para defendê-lo no processo movido pela ex-mulher Ângela. Belchior nem sequer se importou com o destino de seus pertences. As roupas que estavam no flat foram doadas à caridade. A filha mais velha recolheu os documentos. Os carros foram levados para depósitos públicos. A dívida com os estacionamentos já ultrapassava seu valor. O proprietário do imóvel onde funcionava o escritório lacrou o lugar e recolheu os pertences. Seus quadros se perderam com a umidade.

Como na música “Divina comédia humana”, “em que nada é eterno”, Belchior e Edna perambularam durante todo esse período de hotel em hotel – várias vezes, sem pagar a conta. Amigos culpam Edna pela iniciativa. O primeiro hotel em que isso aconteceu foi o Gran Marquise, em Fortaleza. Os dois ficaram hospedados ali ainda em 2006. Saíram sem pagar dois meses de estadia, no valor de R$ 8 mil. Depois, repetiram a prática em pelo menos quatro locais. No Icaraí Praia Hotel, em Niterói, deixaram uma conta de R$ 4 mil. “Alguns funcionários tiveram de arcar com parte da dívida, já que permitiram que ele ficasse hospedado mais de uma semana sem pagar a conta”, diz o atual gerente, Germano Lopes. No Royal Jardins Boutique, em São Paulo, a conta pendurada foi de R$ 12 mil. “Eles deixaram um cheque caução, mas não tinha fundos”, diz Elly Shimasaki, gerente na ocasião.

O caso mais recente foi no hotel Cassino, na cidade de Artigas, no Uruguai, onde o casal se hospedou entre julho de 2011 e novembro de 2012. Os últimos meses ficaram sem pagamento, restando uma dívida de R$ 35 mil. Lá, Belchior deixou para trás roupas e um laptop. 

“É uma lástima que um artista brasileiro dessa importância tenha agido assim”, diz o gerente uruguaio Ricardo Rodrigues. O hotel entrou com uma queixa criminal contra o casal.

Capítulo 3
“Sou apenas um rapaz latino-americano sem dinheiro no banco”

Nos últimos anos, Belchior se manteve à distância de qualquer atividade remunerada. Em 2009, quando o desaparecimento ganhou repercussão nacional, a montadora General Motors ofereceu um cachê milionário para ele aparecer num comercial. Belchior deveria dizer que, com o novo carro da GM, até ele voltava. Belchior recusou o convite e ficou bastante chateado com o teor da proposta. O empresário Jackson Martins diz que recebe constantes pedidos para shows, mas não consegue localizá-lo desde 2007. “Pago as dívidas dele se ele voltar”, diz. Outro empresário que trabalhou com Belchior por quase 30 anos, Hélio Rodrigues, diz que o desaparecimento fez aumentar o interesse do público. “Depois do escândalo, ele consegue lotar qualquer casa de espetáculo. Com dois shows em São Paulo, eliminaria as dívidas”, diz.

Hoje, a maior pendência de Belchior é o processo trabalhista ganho pelo secretário Célio, no valor de R$ 1 milhão. A causa está julgada. Um apartamento de propriedade do músico em São Paulo está em execução. A dívida da pensão para a ex-mulher Ângela soma cerca de R$ 300 mil. Mas cresce a cada dia, já que Belchior continua obrigado a pagar R$ 7 mil por mês. “O sumiço só agravou a situação dele. Se não tem dinheiro, deveria enfrentar juridicamente o processo, argumentando que não pode pagar”, diz Paulo Sato, advogado de Ângela. A pensão atrasada da filha que mora em São Carlos gira em torno de R$ 90 mil. As dívidas com hotéis cobradas na Justiça somam R$ 47 mil. Não são impagáveis, desde que Belchior volte a se apresentar.

A derradeira fonte de renda de Belchior eram os direitos autorais de suas músicas. Segundo o Escritório Central de Arrecadação e Distribuição (Ecad), nos últimos cinco anos foram depositados R$ 367 mil referentes à execução pública de suas obras. Parte do dinheiro ficou retida quando as contas bancárias foram bloqueadas. Desde então, Belchior não contou com nenhum outro tipo de renda.

Capítulo 4
“Saia do meu caminho, eu prefiro andar sozinho”

Em janeiro deste ano, Edna e Belchior procuraram a Defensoria Pública em Porto Alegre. A história ganhou ingredientes ainda mais estranhos. Os dois alegavam que o bloqueio das contas e os mandados de prisão impediam que ele trabalhasse e voltasse a ganhar dinheiro para pagar as dívidas. Belchior aparentemente estava disposto a voltar. Mas o comportamento do casal era confuso. Edna falava desbragadamente, enquanto Belchior ficava quase sempre calado. “Durante um mês, me informei sobre os processos que tramitam em São Paulo. Fizemos um pedido judicial para a suspensão da execução, até que ele conseguisse se restabelecer. Nesse meio-tempo, Belchior sumiu”, diz a defensora pública Luciana Kern, que o atendeu.

Nesse mesmo período, Edna ligou para o jornalista gaúcho Juremir Machado, que não conhecia. Disse que Belchior estava escondido na cidade e precisava de ajuda. Ela queria que Juremir os levasse à sede regional da TV Record para fazer uma denúncia delirante. Juremir notou algo de incomum no casal. Eles se escondiam atrás de pilastras e ficavam olhando a movimentação nas ruas antes de entrar em algum lugar, como se fossem seguidos. Na retransmissora da TV, Edna afirmou ter um dossiê contra a TV Globo. O programa Fantásticonoticiara o desaparecimento de Belchior em 2009 e a fuga do hotel uruguaio, em 2012. “Ela dizia que Belchior era difamado pela Globo e queria justiça. Falou até que havia uma tentativa de matá-lo”, diz a jornalista Vânia Lain, que recebeu os dois. Eles disseram que voltariam na semana seguinte trazendo os documentos, mas desapareceram.

CANTOR EM FUGA 1. Com o advogado Jorge Cabral, que hospedou Belchior em seu sítio em Guaíba, Rio Grande do Sul 2. Na União Brasileira de Compositores  3. Num hotel no Uruguai, de onde saiu sem pagar a conta (Foto: Reprodução e arq. pessoal )
Em Porto Alegre, Belchior e Edna ficaram inicialmente hospedados num hotel simples no centro, pago com ajuda dos funcionários do Tribunal de Justiça, primeira porta em que o casal bateu quando chegou à capital gaúcha. Depois, foram abrigados no Centro Infantojuvenil Luiz Itamar, instituição de caridade na região metropolitana. Dali, foram levados ao advogado Aramis Nacif, ex-desembargador do Estado, que poderia ajudar Belchior com os processos. “Ele dizia que um agente apareceria, mas nunca apareceu”, diz Nacif. Durante um mês, o casal ficou abrigado na casa de praia do filho dele. “Eles não tinham dinheiro algum. Edna apresentava um sentimento de perseguição muito grande, parecia ter algum distúrbio psicológico”, diz. Foi nesse momento que Belchior conheceu o advogado Jorge Cabral, na casa de quem se hospedou por quatro meses.

Cabral tomou um susto ao perceber que um músico importante como Belchior estava ali. E os convidou para ir a um sítio de sua propriedade, em Guaíba, local mais agradável. Belchior e Edna continuavam sem dinheiro. Nesse período, o advogado levou mantimentos, roupas, itens de higiene pessoal e até tintura para Belchior pintar os bigodes de preto.

No sítio de Cabral, Belchior não bebia nem comia carne vermelha. Passava os dias tomando chá, caminhando e cuidando das ovelhas. Fazia muitas anotações em papéis, que escondia numa pasta. Durante esse período, gastou duas canetas inteiras. Leu cerca de 40 livros. Não apresentava sinais de depressão. Parecia, segundo Cabral, alheio aos problemas que o cercavam. “Eu imaginava que ele era apenas um compositor nordestino, mas encontrei um artista plástico, um pensador, um filósofo”, diz Cabral. Ele pretende escrever um livro sobre a experiência.

Belchior só não gostava de falar sobre sua situação. Recusava-se a tocar violão e cantar. Edna impedia que ele fosse fotografado. O casal também não tomava nenhuma providência para resolver os problemas jurídicos. “A gente esperava que a situação se resolvesse, mas não acontecia nada. E aquilo não condizia com um homem lúcido, com memória fantástica, que fala várias línguas e tem uma quantidade enorme de músicas gravadas”, diz Jorge Cabral.

“Esse tempo que ele falou que daria na carreira já está longo demais. Só queremos notícias dele”, diz a irmã, Ângela Belchior. Belchior não apareceu nem no enterro da mãe, que morreu em 2011. Por telefone, a ex-mulher Ângela soa reticente. Não gosta de falar sobre um assunto tão delicado com a imprensa. Ela conta que, desde 2007, Belchior não entra em contato nem com os filhos. “Não entendo. Os empresários dele não entendem”, diz.


Em julho deste ano, Cabral pediu que o casal saísse, dado que Belchior e Edna não davam sinal de acabar com aquela situação de total dependência. Ele os deixou na porta da sede regional da União Brasileira de Compositores, com R$ 50 no bolso. Na União, Belchior tentou desbloquear o pagamento de seus direitos autorais, comprometido pelos processos na Justiça. Não conseguiu.

Belchior foi visto pela última vez na entrada do prédio, um edifício moderno num bairro de classe média de Porto Alegre, em frente a uma avenida bastante movimentada. Carregava uma pequena mala nas mãos e material de pintura debaixo do braço. Belchior – na belíssima letra de “Comentário a respeito de John”, ele cantava “eu prefiro andar sozinho” – estava, como sempre, ao lado de Edna.  

Fonte: Revista Época Online

Menor bom é menor preso?



Marcelo Cipis
Maioridade
O que explica tanto clamor pelo encarceramento dos adolescentes infratores?
Nove em cada dez brasileiros são favoráveis à redução da maioridade penal, a despeito da oposição do governo federal, de juristas, da Igreja Católica e de organizações de direitos humanos
No início de abril, o universitário Victor Hugo Deppman, de 19 anos, foi abordado por um rapaz armado na porta de casa, em São Paulo. Mesmo após entregar o celular, sem esboçar qualquer reação, acabou executado com um tiro na cabeça. A morte brutal logo ganhou destaque na mídia e reacendeu um debate que se arrasta há mais de duas décadas no Brasil, sempre de volta à baila quando a classe média se vê vítima de novo ato de barbárie: a redução da maioridade penal. O assassino, soube-se mais tarde, era um adolescente infrator reincidente. Ele assumiu a autoria do crime, ocorrido três dias antes de completar 18 anos. Como não havia atingido a idade para a responsabilização criminal, voltou a cumprir medida socioeducativa na Fundação Casa. Antes dos 21 anos, deve estar solto, como determina o Estatuto da Criança e do Adolescente.
Diante da repercussão na mídia e em meio aos protestos convocados por amigos e familiares, o instituto Datafolha saiu às ruas para aferir a opinião da população quanto à possibilidade da redução da maioridade penal, prevista em mais de 50 projetos em tramitação no Congresso. O resultado: 93% dos paulistanos mostraram-se favoráveis à responsabilização criminal de jovens a partir dos 16 anos, e não mais aos 18, como determina a atual legislação. A adesão maciça à ideia poderia ser influenciada pelo calor dos acontecimentos. Mas, passados dois meses, o Vox Populi voltou às ruas com a mesma pergunta, dessa vez em uma pesquisa de abrangência nacional. A conclusão foi estarrecedora: 89% dos entrevistados acham necessário encarcerar os adolescentes infratores.
Um consenso popular que desafia as políticas públicas em voga na sociedade. O resultado das pesquisas contraria a posição defendida pelos governos Lula e Dilma, a opinião de juristas que enxergam na proposta um “populismo penal”, o entendimento da Igreja Católica e de incontáveis organizações de defesa dos direitos da criança e do adolescente, a vislumbrar na redução da maioridade penal mais malefícios que benefícios. Curiosamente, nenhum outro tema polêmico da agenda nacional mobiliza tamanha concordância da população. Segundo diferentes pesquisas, proposições como pena de morte e casamento gay, por exemplo, costumam dividir a população ao meio. Ao menos um quarto defende a legalização da maconha ou a descriminalização do usuário de drogas. O que explicaria, então, o aparente paradoxo lógico? Por que boa parte da população que se mostra liberal em temas igualmente polêmicos é tão taxativa quando se trata de prender adolescentes como bandidos comuns?
“Não se pode dizer que todos os que apoiam a redução da maioridade penal são conservadores ou reacionários. Dentro de um universo tão amplo, há seguramente cidadãos com posições progressistas em relação a direitos civis e individuais, mas que se sentem acuados pela violência e seduzidos por soluções mágicas”, avalia o cientista político Marcos Coimbra, diretor do Vox Populi. “No mundo todo, há uma predisposição da opinião pública a acreditar que a violência só vai reduzir com mais repressão, mais prisões e penas mais duras. E não há uma defesa enfática do argumento contrário. Com a espetacularização dos crimes cometidos por menores na televisão, quem se dispõe a dizer abertamente que a prisão para os adolescentes não é justa?”
Especialistas, ONGs de direitos humanos e organismos internacionais bem que tentam demonstrar as falácias da proposta. “Os adolescentes são mais vítimas que autores de violência. Em 2011, eles foram responsáveis por, aproximadamente, 1,8 mil homicídios, 8,4% do total. No mesmo ano, 4,3 mil jovens entre 12 e 18 anos incompletos foram assassinados. Mas quando um garoto negro é morto na periferia poucos dão atenção. A mídia costuma dar destaque apenas quando cidadãos de classe média ou alta são as vítimas”, critica Mário Volpi, coordenador do programa de Cidadania dos Adolescentes do Unicef, ligado às Nações Unidas. “Em 2011, os homicídios cometidos por menores representaram 3,7% do total de casos no Brasil. Nos EUA, onde diversos estados tratam adolescentes como adultos, inclusive na eventual aplicação de pena de morte ou prisão perpétua, eles foram responsáveis por 11% dos assassinatos.”

Na avaliação do advogado Rafael Custódio, da ONG Conectas, o que está em jogo é a política penal que o Brasil pretende adotar. Se o foco é punitivo, o País tende a seguir o exemplo americano de encarceramento em massa. Trata-se de uma abordagem distinta do direito restitutivo, que preconiza a recuperação dos infratores para a futura reinserção social. “É impossível de isso ser feito num presídio comum, ainda mais com a atual superlotação. Hoje, a população carcerária brasileira é superior a 550 mil detentos, e há um déficit de 200 mil vagas. O Estado não garante a segurança dos presos, eles são alvo de extorsões do crime organizado. Para sobreviver nesse ambiente hostil, muitos se associam a facções criminosas.”

De fato, não parece fazer sentido jogar os 60 mil jovens que cumprem medidas socioeducativas em presídios convencionais se o objetivo é tirá-los do crime. Ainda que 43,3% deles sejam infratores reincidentes, no encarceramento adulto a média é ainda pior. Sete em cada dez presos que deixam o sistema penitenciário voltam ao crime, uma das maiores taxas de reincidência do mundo. Mas não deixa de ser legítima a preocupação da população com sua própria segurança, afirma Renato Janine Ribeiro, professor de Ética e Filosofia da Universidade de São Paulo. “Se a redução da maioridade penal não é boa, qual é a melhor opção? Deixar tudo como está? Estamos perdendo tempo com esse sim ou não para a mesma proposta, e os chamados ‘setores progressistas’ não apresentam alternativas.”

O filósofo teme que a solução simplista de reduzir a idade penal apenas sirva para antecipar a prática delituosa entre os adolescentes. Caso a maioridade passe a valer a partir dos 16 anos, por exemplo, o que garantiria que o tráfico não passasse a aliciar jovens de 13 ou 14 anos, por exemplo? De toda forma, propõe uma alternativa: “Quando um adulto alicia um menor para praticar um roubo e o adolescente mata uma pessoa, o adulto deveria ser responsabilizado pelo homicídio. O mesmo deveria valer para qualquer outro crime”.

A busca por opções também levou o vereador paulistano Ari Friedenbach (PPS) a propor outra inovação. Em 2003, ele sofreu com o brutal assassinato de sua filha Liana, de 16 anos, caso em que houve a participação de um adolescente. Defensor ardoroso da redução da maioridade penal, mudou de opinião. “É ineficaz, pois estimula os criminosos a recrutar adolescentes ainda mais novos”, pondera. “Mas não posso conceber que um estuprador ou um homicida de 16 anos cumpra no máximo três anos de internação. Por isso, acho que para cinco crimes de maior potencial ofensivo (homicídio, latrocínio, estupro, roubo à mão armada e sequestro) o adolescente deve, sim, ser julgado e condenado. Permanece numa instituição como a Fundação Casa até completar 18 anos e depois termina de cumprir a sentença num presídio comum.”

A proposta livraria da cadeia adolescentes envolvidos com pequenos furtos ou com tráfico de drogas, por exemplo. Estes continuariam a cumprir medidas socioeducativas nos moldes atuais. Mas o texto proposto pelo vereador ainda espera alguém disposto a apresentá-lo no Congresso. E os mais conservadores insistem na punição ampla e irrestrita. “Criança é quem toma mamadeira, faz xixi no colo da mãe e dorme no berço. Quem rouba, mata e estupra é bandido e ponto”, esbraveja o senador Magno Malta, autor de um projeto que prevê a responsabilização criminal de qualquer cidadão, independentemente da idade. Da Assembleia Legislativa de São Paulo, o deputado estadual Campos Machado puxa um abaixo-assinado para tentar emplacar um plebiscito sobre o tema. “É uma forma de furar a blindagem do governo federal, que impede a discussão do tema no Congresso. Vamos deixar o povo decidir.”

Se a disputa política assemelha-se a uma briga de foice, no meio jurídico o cenário não é tão distinto. Ministros do Supremo Tribunal Federal, como Gilmar Mendes e Marco Aurélio Mello, já se manifestaram contra a alteração das regras. Mesma opinião tem o presidente da Associação dos Magistrados Brasileiros (AMB), Nelson Calandra. “O sistema carcerário está superlotado, não é possível botar mais gente.” Mas uma pesquisa feita pela entidade em 2006, com mais de 3 mil entrevistados, revelou que 61% dos juízes brasileiros são favoráveis à proposta. Entre os promotores, a divergência também é grande. “Jogá-los na cadeia não resolverá nada, precisamos recuperar esses jovens”, opina o promotor paulista Fernando Henrique de Moraes Araujo, com 14 anos de experiência na Vara de Infância e Juventude. “É chocante a legislação permitir a impunidade dos adolescentes enquanto a violência está grassando na sociedade”, rebate o colega Oswaldo Monteiro da Silva Netto.

É um equívoco dizer que os menores infratores estão impunes. Se o cumprimento das medidas socioeducativas não está surtindo o efeito esperado, devemos reavaliar o trabalho feito com os jovens, e não jogá-los numa cela”, avalia a defensora pública paulistana Juliana Ribeiro. “As instituições que abrigam os infratores não funcionam adequadamente. Os monitores portam-se como carcereiros.

A escola reúne em uma mesma sala adolescentes de diferentes níveis de aprendizado. Os psicólogos e assistentes sociais estão sempre sobrecarregados. E são corriqueiras as denúncias de agressão contra os internos. Cansei de ver garotos com sinais de espancamento, cabeça rachada... É esse tratamento que precisa ser revisto, e não a legislação.”
*Matéria originalmente publicada na Carta Capital online

segunda-feira, 25 de novembro de 2013

Metallica Playing The Ecstasy Of Gold (Live) HD

The good, the bad and the ugly - Ecstasy of Gold (final scene)

O ativismo online realmente pode mudar o mundo?

Com 30 milhões de filiados, a Avaaz é uma organização que pretende salvar a todos nós por meio da tecnologia. Conheça seu fundador, Ricken Patel
Por Carole Cadwalladr Divulgação / Avaaz
Avaaz
O Avaaz acredita no poder do ativismo digital
Existem muitas causas. Esta me foi apresentada forçosamente diante do Parlamento em Londres em um dia de julho de 2013, quando eu tentava localizar a manifestação "Não deixe que a Birmânia se torne a próxima Ruanda". Afinal a encontro – há um quadro vivo de lápides e algumas pessoas vestidas como o presidente de Burma, Thein Sein, e o primeiro-ministro David Cameron com cabeças gigantes de papier-mâché –, mas sou distraída das histórias de potencial genocídio pelas atividades da organização GLS Stonewall e do Coro Gay de Londres, que também estão protestando a poucos metros de distância. É um dia crucial para a votação do casamento gay, e enquanto os manifestantes pró-Burma portam cartazes e entoam slogans, é um páreo duro: o Coro de Homens Gays de Londres lança uma versão a capela de I Need a Hero e Peter Tatchell apareceu e começou a dançar.
Mas então é esta a realidade do protesto no século XXI: um desfile de beleza. Uma competição pela coisa que todos parecemos ter menos: atenção. As câmeras de TV aparecem, porém, e uma jovem da minoria muçulmana rohingya da Birmânia dá entrevistas comoventes para jornalistas sobre os terríveis abusos aos direitos humanos que sua família sofreu. E cerca de uma dúzia de jovens aparecem para oferecer apoio. O protesto foi organizado pela Avaaz, uma organização ativista da internet, e esses são "avaazistas". Eles podem ter acabado de assinar uma petição online, ou "curtido" uma causa no Facebook, ou doado para uma campanha – para salvar as abelhas da Europa de pesticidas, defender os direitos à terra dos massai na Tanzânia ou "apoiar" Edward Snowden. E, dependendo de em quem você acredita, ou eles estão inventando um novo tipo de protesto do século XXI ou são um bando de desocupados com tanta probabilidade de iniciar uma revolução quanto de renunciar a seus iPhones e abandonar o Facebook.
Em apenas seis anos, a Avaaz – que significa "voz" em várias línguas – tornou-se um grupo de pressão global de destaque. É um novo tipo de ativismo que não é voltado para um tema, é conduzido por temas. São os abusos aos direitos humanos em Burma, ou a guerra civil na Síria, ou as ameaças contra a Grande Barreira de Corais ou a homofobia na Costa Rica. É o que quer que seus seguidores, guiados pela equipe da Avaaz, decidam clicar mais este mês. E se você ainda não ouviu falar na Avaaz é provavelmente apenas uma questão de tempo.
Em julho, quando fui à manifestação pela Birmânia, escrevi em meu notebook que ela tinha 23 milhões de "filiados". Em setembro, entrevistei seu fundador, o tranquilo canadense Ricken Patel, e notei na transcrição que agora tinha 26 milhões. Quando realmente me sento para escrever isto, em outubro, verifico o site e vejo que tem 27.865.177. E quando este artigo for impresso, em novembro, o número estará por volta de 30 milhões. Se é um pouco vergonhoso que 5 milhões de pessoas tenham aderido a uma causa no tempo que levei para pôr a mão no teclado, o contador no alto de sua página, Avaaz.org, mostra que no tempo que levei para escrever esta sentença mais 172 pessoas se inscreveram.
Mas ser um "filiado" da Avaaz não é como integrar o Greenpeace. Você pode ter assinado uma petição ou feito a inscrição para um e-mail. Você talvez não se lembre de ter feito nada. E talvez ainda faça parte do que se tornou um fenômeno global: a ascensão do protesto online – também conhecido como "clicativismo". E enquanto seus críticos discutem o que a Avaaz realmente conquistou – muitos dos que ela considera seus maiores sucessos foram em áreas em que outras organizações trabalham há anos –, não há dúvida de que se tornou um ator de enorme influência no cenário mundial. "Apesar de toda a sua bravata, e há muita bravata, é incrivelmente grande", disse-me um ex-funcionário da organização. "E os chefes de Estado prestam atenção, posso lhe afirmar. Existe muita disputa e ciúme por parte de organizações tradicionais como a Oxfam, mas ela levanta grandes questões sobre o futuro do ativismo liberal."
O crescimento explosivo da Avaaz é apenas uma parte do que a torna totalmente diferente das organizações beneficentes ou de campanhas tradicionais. Marque seu avanço em um gráfico e parece um foguete decolando. Mas é o produto de uma era em rede, e sua evolução foi mais parecida com a de um vídeo no YouTube do que com os primeiros anos da Anistia. O plano de negócios original – alcançar 5 milhões de seguidores em cinco anos – teve de ser abandonado depois de 18 meses. Seu crescimento é exponencial. Eles passaram de nove funcionários no primeiro ano para cem hoje (seu escritório principal fica em Nova York, mas há funcionários espalhados por toda parte). Quando pergunto em quantos países, Patel não sabe realmente.
"Todo mundo está em todo lugar e todo mundo está se movendo o tempo todo. Provavelmente temos pessoal em 30 a 40 países." E pelo que vejo no escritório em Londres, onde um computador de mesa mofa em um canto como uma relíquia de outra era, eles geralmente são jovens modernos, que realizam suas reuniões pelo Skype e provavelmente estão colaborando em um documento do Google com um colega no Brasil para uma campanha em Portugal, assim como trabalham em uma questão do Reino Unido com a pessoa sentada a seu lado.
A Avaaz é ao mesmo tempo global e globalizada, e sua abordagem é menos liberal rasgada do que pragmática cabeça-dura. Ela não lança uma campanha – para evitar a chacina das baleias do Atlântico, para libertar trabalhadores migrantes em Bahrein ou levar a paz à Palestina – porque Patel ou a equipe acreditam nela apaixonadamente (embora possam acreditar). Eles lançam uma campanha que acham que vai dar certo. É experimentada com uma amostra de membros, e então eles avaliam a reação. Patel diz que é uma maneira de garantir que os membros têm o poder definitivo, que eles são o patrão, e não ele mesmo.
E economiza tempo: a Avaaz não apoia causas sem esperança. Se ela lança uma campanha, aplica seus recursos nela – e uma parte de seu orçamento anual de 12 milhões de dólares, doados por indivíduos – e há uma boa probabilidade de que tenha um impacto. (Em 2011, quando as notícias não saíam, ela armou a oposição síria com modems e telefones com câmeras via satélite; este ano, uma campanha de e-mail e anúncios, pesquisas de opinião e abordagens pessoais ao presidente conseguiram reverter a sentença de uma jovem vítima de estupro nas Maldivas, que tinha sido condenada a ser chicoteada (embora ainda não tenham alcançado a paz na Palestina).
O que a Avaaz está fazendo é tentar desbloquear os segredos da Internet – do que faz o vídeo de um gato bonitinho caindo se tornar viral, mas não outro – e levar essas técnicas a tratar não apenas da carreira de Justin Bieber ou as vendas de discos de Lady Gaga, mas de um genocídio, estupro ou extinção de espécies potenciais.
"Somos como um laboratório de viralidade. Para cada campanha, testamos cerca de 20 versões diferentes do que vemos que as pessoas querem." Ela mexe e remexe, mudando as palavras, as imagens, o apelo à ação, e só então a libera para divulgação. O diretor de imprensa da Avaaz me mostra as versões anteriores de seu e-mail sobre a campanha de Burma. "Mudar o meme no alto, ou a fotografia, afeta maciçamente o número de cliques. Dezoito versões foram testadas. As pessoas acham que nós apenas colocamos qualquer coisa lá, mas existe uma enorme quantidade de dados sofisticados em como criamos as campanhas." E, assim como a Amazon e a Google tentam prever nosso comportamento e adaptam suas ofertas com base em nossas preferências anteriores, o mesmo faz a Avaaz. Ela usa algoritmos para detectar coisas que talvez não saibamos sobre nós mesmos.
"É uma ciência em tremenda evolução, o envolvimento na Internet", diz Patel. "Mas nós desenvolvemos uma imagem de alguém a partir de seus envolvimentos anteriores conosco. Por exemplo, podemos ver que um certo conjunto de pessoas, com base em seu comportamento anterior, poderia se interessar por começar uma campanha, e outro conjunto não, mas pode estar interessado em subscrever alguma coisa. Nós podemos adaptá-la ao gosto do indivíduo."
Tudo é viral hoje, diz Patel, "desde as crises financeiras às epidemias de saúde e às ideias". E aprender as lições disso e como atrair a atenção de algumas das pessoas com maior déficit de atenção no planeta – jovens com equipamentos eletrônicos – foi o golpe de mestre da Avaaz.
Mas para alguns é demais. É exatamente o tipo de "ativismo preguiçoso" que causa desespero nos críticos do chamado "tecno-utopismo". Por que Malcolm Gladwell afirmou que "a revolução não será tuitada" em um artigo altamente discutido na revista New Yorker em que ele declarou: "Cinquenta anos depois de um dos mais extraordinários episódios de rebelião social da história norte-americana, parecemos ter esquecido o que é o ativismo". Evgeny Morozov colocou a coisa de maneira ainda mais clara em seu último livro, To Save Everything Click Here [Para salvar tudo, clique aqui]. O subtítulo? "A loucura do solucionismo tecnológico".
É uma loucura? "Curtir" uma página no Facebook não vai salvar o mundo. Mas na Grã-Bretanha há cinco vezes mais pessoas associadas à Avaaz do que membros do Partido Trabalhista. E 30 mil pessoas doam dinheiro para ela todos os meses. Dinheiro que foi gasto em anúncios e atos, e no que Patel alega serem "alguns dos melhores e mais tarimbados defensores no setor público hoje. Assessores do presidente Obama, os presidentes Lula e Dilma e o primeiro-ministro do Japão. Há organizações de petições online bastante simplistas por aí, especialmente sites comerciais que têm experiência zero e compreensão da política zero, mas não somos nós".
Os truques visuais – como as caricaturas em Papier-mâché de Thein Sein e David Cameron – são uma marca da Avaaz. Assim como sua ideia do que Patel chama de "Toc". O quê? "Uma teoria da mudança [nas iniciais em inglês]. Como você chega de A a B com credibilidade? Como alguém clicar ou dar um telefonema para um líder realmente vai mudar o mundo? Se for fraco, as pessoas não se interessam, não se envolvem. Nós sempre temos uma teoria da mudança muito bem desenvolvida."
E tudo é quantificado. Esta é a ciência da construção de movimento. "Temos até uma fórmula para escrever nossos e-mails. Sempre estamos ligados ao imediatismo. Dizemos 'daqui a três dias'. Então as pessoas podem dizer: 'Está bem, preciso fazer isso nos próximos três dias'. E então descrevemos uma 'crisetunidade'."
É outro termo próprio da Avaaz. "Mas acho que originalmente o pegamos dos Simpsons", diz Patel. "É uma mistura de crise com oportunidade. Estamos neste momento extraordinário na história. Temos o poder de eliminar nossa espécie. Mas ao mesmo tempo fizemos um tremendo progresso nos últimos 30 anos. Reduzimos mais que pela metade a pobreza global. Aumentamos radicalmente o status das mulheres. Existem motivos tremendos para esperança e otimismo."
Existe algo muito avaaziano sobre a crisetunidade, venho a pensar, em que ela emprestou alguma coisa escorregadia e inteligente da cultura popular e a remanejou para algo que costumava ser chamado de o Bem Maior. E então lhe acrescentou uma grossa dose de sinceridade.
Patel é sincero, mas não do tipo "ei cara vamos salvar o planeta". Ou do "eu sinto a dor das pessoas" de um político que quer se reeleger. Ele é pensativo, reflexivo e tem um currículo impressionante – trabalhou como analista de conflitos para organizações como a ONU e a Fundação Gates em lugares como Libéria e Afeganistão. E não é um estudante de olhos arregalados. Entretanto, ele quer mudar o mundo e acredita que pode.
Irritar-se não é uma coisa muito típica de Ricken Patel, mas ele quase o faz quando lhe pergunto se é um otimista por natureza. "Eu realmente não acho que sou! Já fiz essa pergunta a mim mesmo. Não tenho respeito pelo ativismo ingênuo. Nós assumimos posições firmes. Quando eu trabalhava como analista de conflito, recomendava a ação militar quando achava que era adequada. Honestamente, acho que tenho uma visão muito clara e que o fatalismo que vejo no mundo é preguiçoso e sem base. As pessoas assumem que o cinismo encerra uma espécie de perícia, e eu nunca acreditei nisso."
Foram os ideais elevados e a natureza não burocrática da Avaaz que atraíram para ela muitos funcionários cansados das restrições de trabalhar para grandes agências de ajuda tradicionais. "Muitas pessoas que trabalham lá a acham incrivelmente libertadora”, disse um ex-avaazista. "Você poderia dizer 'Isto é uma confusão' na segunda-feira e fazer algo a respeito na quarta." Mas "existe uma espécie de culto sobre ela. Há muitos homens trabalhando lá que pensam que a tecnologia vai salvar o mundo".
Ela também já teve sua parcela de críticas. Participou ativamente do contrabando de jornalistas para dentro e fora da Síria, mas foi atacada por exagerar seu papel na ajuda ao fotógrafo Paul Conroy (que viajava com Marie Colvin, do Sunday Times, quando ela foi morta), para que ele escapasse. Outros acreditam que há apenas uma quantidade limitada de empatia para suas ações, e que seu sucesso custou a queda de receitas das ONGs tradicionais.
Provavelmente não é coincidência o fato de a Avaaz ser uma organização global com ambições globais. Patel foi criado na zona rural do Canadá, perto de Edmonton, "ou Deadmonton, como deveria se chamar", filho de pai indiano-queniano e de mãe inglesa de ascendência judaica-russa, e foi à escola em uma reserva indígena. E ele me diz que foi "uma criança precoce". Quem foram seus heróis?, pergunto. Ele não hesita: "Dag Hammarskjöld". Dag quem?
"Foi o segundo secretário-geral da ONU. Li seu diário particular, e simplesmente acho que é uma figura muito sincera, de espírito público, que enfrentou um tempo difícil."
Nesta era da personalidade, eu esperaria outra coisa de Patel, ou, Ricken, como ele é chamado por sua equipe e seus seguidores. A revista People o incluiu em um artigo sobre os mais "quentes humanitários" do mundo. E quando a Economist o colocou na capa de sua revista Intelligent Life, seu queixo com barba curta definido por uma iluminação climática, havia nele mais que um toque de sonho hollywoodiano. Até Al Gore, o ativista dos ativistas, elogiou a Avaaz como "inspiradora". Quando entrevisto uma ex-avaazista, ela me pergunta: "Ele continua solteiro? Quando trabalhei para ele, devia ser o homem mais perseguido de Nova York. Acabo de ler o último livro de Dave Egger, no qual há um personagem que é um deus-nerd utópico que tenta salvar o mundo, e é basicamente Ricken".
Mas, uma vez um canadense tranquilo, ao que parece, sempre um canadense tranquilo, mesmo que ele tenha seguido a mesma estrada para a vida pública que pessoas como Ed Balls e Yvette Cooper – fez filosofia, política e economia em Oxford (onde organizou um protesto universitário contra as mensalidades) e depois a Escola de Governança de Harvard (onde foi um dos líderes de uma campanha por salários dignos). Porque, com toda a sua conversa sobre "viagens", o fato de ele pensar que os direitos das mulheres mudaram o mundo e de acreditar que seu senso de dever público é porque sua própria mãe lhe deu "uma quantidade tremenda de amor, uma enxurrada de amor incondicional", ele é uma espécie de animal raro: um homem na vida pública que não tem medo de emoções. No entanto, sua conquista mais marcante para a Avaaz não foi salvar as baleias, bebês ou vítimas de estupro, foi denunciar Rupert Murdoch.
A Avaaz liderou uma campanha contra a aquisição da BSkyB por ele, e durante o Inquérito Leveson e-mails usados em julgamento mostraram que "a preocupação básica de Jeremy Hunt era a campanha da Avaaz. Sabíamos que ele tinha medo da análise judicial. Então contratamos advogados de alto nível e lhe prometemos uma análise judicial. Isso o tornou mais cuidadoso, então fizemos nossos integrantes enviarem 35 mil declarações legalmente admissíveis. Ele teve de contratar uma equipe para examiná-las. Nós sabíamos que o escândalo [de grampo telefônico] viria muito antes de ele ter surgido, por isso nossa estratégia foi retardar a decisão de Hunt até que ele surgisse. E isso se desenrolou maravilhosamente. Não acho que acabamos vencendo Murdoch. Ele está em uma posição muito boa agora. Mas aquilo teria expandido seu império em 50%, e me orgulho de termos ajudado a detê-lo."
Você esperava uma grande reportagem de primeira página contra você? "Ainda estou esperando. Acho que Murdoch virá... Todo mundo nos disse para não fazê-lo. Eles vão linchar vocês. É suicídio." Patel encolhe os ombros. Talvez o ativismo preguiçoso tenha suas vantagens. Talvez a Avaaz e seus filiados estejam menos constrangidos, menos temerosos. Talvez você possa salvar as baleias e Edward Snowden e levar a paz à Palestina também. E no tempo que você levou para ler este artigo outras 500 pessoas aproximadamente aderiram à Avaaz. 
Leia mais em guardian.co.uk
Matéria extraída de http://www.cartacapital.com.br/tecnologia/o-ativismo-online-realmente-pode-mudar-o-mundo-6736.html/view

EU MAIOR (Higher Self)

Um filme sobre autoconhecimento e busca da felicidade. Assista aqui em nosso blog. Bom filme. Boa reflexão.

Fúria Louca - Fatuous Fire (Official Music Video) (+playlist)

Pra quem curte rock, o som da excelente Fúria Louca, banda de Hard Rock/Heavy Metal de São Luís - MA. Fiquem com o clip do mais novo trabalho dos caras. Som de qualidade. 

terça-feira, 19 de novembro de 2013

Bandeira do Brasil - Curiosidades e Significados Ocultos

    
    Algumas curiosidades cercam a composição e a confecção da bandeira nacional. Muitas delas, certamente, boa parte de nós, brasileiros, sequer imaginamos. Vejamos algumas delas.:

1) A Bandeira Nacional, adotada pelo Decreto n° 4, de 19 de novembro de 1889, com as modificações da Lei n° 5.443, de 28 de maio de 1968, deve ser atualizada sempre que ocorrer a criação ou a extinção de Estados

Assim sendo, caso no Brasil venham a ser criados novos estados da federação, ou mesmo extintos alguns (por fusão ou incorporação, por exemplo), nosso pavilhão deverá sofrer alterações, retirando-se uma das estrelas brancas constantes dentro do círculo azul em seu centro.

2) As constelações que aparecem na Bandeira Nacional correspondem ao aspecto do céu, na cidade do Rio de Janeiro, às 8 horas e 30 minutos do dia 15 de novembro de 1889 (doze horas siderais) e devem ser consideradas como vistas por um observador situado fora da esfera celeste

Nesse ponto, um aspecto místico-esotérico (ou astronômico, para dizer o mínimo) se apresenta, pois os criadores da bandeira partiram do pressuposto, à época factualmente impensável, de que algo ou alguém "fora da esfera celeste" pudesse vislumbrar a configuração formada pelo posicionamento daquelas estrelas.

Para alguns estudiosos as formas geométricas constantes no símbolo máximo do país foram subtraídas de uma mandala, ou seja, a bandeira é uma concepção artística da imagem do mundo visto de fora para dentro.

3) Os novos estados da federação serão representados por estrelas que compõem o aspecto celeste, de modo a permitir-lhes a inclusão no círculo azul da Bandeira Nacional sem afetar a disposição estética original.

4) Há previsão legal para a execução de sete tipos (tamanhos) oficiais de pavilhão, podendo ser fabricados tipos extraordinários de dimensões maiores, menores ou intermediárias, conforme as condições de uso, mantidas, entretanto, as devidas proporções da bandeira (como originalmente criada).

5) As letras da legenda Ordem e Progresso (lema inspirado na filosofia positivista de Auguste Comte) serão escritas em cor verde e colocadas no meio da faixa branca, ficando, para cima e para baixo, um espaço igual em branco. A letra P ficará sobre o diâmetro vertical do círculo.

Os coautores intelectuais da atual bandeira eram membros da Igreja Positivista. Dentre eles estavam Raimundo Teixeira Mendes (presidente do apostolado positivista do Brasil), Miguel Lemos, Manuel Pereira Reis (catedrático de astronomia da Escola Politécnica do Rio de Janeiro). O disco azul foi obra do pintor Décio Vilares e o acréscimo da constelação do Cruzeiro do Sul invertida foi ideia de Benjamin Constant.

6) As estrelas serão de 5 (cinco) dimensões: de primeira, segunda, terceira, quarta e quinta grandezas. Devem ser traçadas dentro de círculos cujos diâmetros diferem, de grandeza para grandeza, até alcançarem a quinta. Ou seja, existem, como se pode facilmente observar, 5 tamanhos de estrelas na configuração das que aparecem no interior da esfera azul.

7) As duas faces devem ser exatamente iguais, com a faixa branca inclinada da esquerda para a direita (do observador que olha a faixa de frente), sendo vedado fazer uma face como avesso da outra.

Esotericamente, pode-se atribuir os seguintes significados às formas geométricas de nosso pavilhão:

- O retângulo verde simboliza o Templo do Universo;

- O losango traz a aplicação perfeita do cálculo geodésico dos limites e fronteiras do território do país;

- A cor amarela é a Seção Dourada e simboliza a prevalência da razão, do equilíbrio e da harmonia de proporções;

- O círculo azul representa o setor da esfera celeste entre a faixa do zodíaco e o seu polo sul;

- A faixa branca representa a linha de contorno da Via Láctea;

- A legenda Ordem e Progresso, como já observamos, traduz a síntese da ideia positivista de evolução da humanidade.


Abaixo, podemos ver, relacionados, os estados da federação em analogia às estrelas (corpos celestes) que respectivamente representam.



Estado - Constelação - Estrela:

Acre - Hidra Fêmea - Hya (gama)
Alagoas - Escorpião - Sargas (teta)
Amapá - Cão Maior - Mirzam (beta)
Amazonas - Cão Menor - Prócion (alfa)
Bahia - Cruzeiro do Sul - Gacrux (gama)
Distrito Federal - Oitante - (sigma)
Ceará - Escorpião - Wei (epsilon)
Espirito Santo - Cruzeiro do Sul - Intrometida (epsilon)
Goiás - Argus - Canopus (alfa)
Maranhão - Escorpião - Graffias (beta)
Mato Grosso - Cão Maior - Sirius (alfa)
Mato Grosso do Sul - Hidra Fêmea - Alphard (alfa)
Minas Gerais - Cruzeiro do Sul - Pálida (delta)
Pará - Virgem - Spica (alfa)
Paraíba - Escorpião - Girtab
Paraná - Triângulo Austral - (gama)
Pernambuco - Escorpião - (mu)
Piauí - Escorpião - Antares (alfa)
Rio de Janeiro - Cruzeiro do Sul - Mimosa (beta)
Rio Grande do Norte - Escorpião - Shaula (lambda)
Rio Grande do Sul - Triângulo Austral - Atria (alfa)
Rondônia - Cão Maior - Muliphem (gama)
Roraima - Cão Maior - Wezen (delta)
Santa Catarina - Triângulo Austral - (beta)
São Paulo - Cruzeiro do Sul - Acrux (alfa)
Sergipe - Escorpião - (iotá)
Tocantins - Cão Maior - Adhara (epsilon)

Fontes: Wikipedia e Estudos Rosacruzes

Dia da Bandeira - Homenagem ao Pavilhão Nacional


No Brasil, hoje é comemorado o dia da Bandeira, pois nessa mesma data, no ano de 1889, foi instituída a bandeira nacional republicana.

O atual pavilhão nacional foi adotado com a publicação do decreto nº 4, no dia 19 de novembro de 1889, na vigência do governo provisório, por Benjamin Constant.

Reza a tradição que ao meio-dia do Dia da Bandeira (19 de novembro), as bandeiras inservíveis (rasgadas, descoloridas, etc.) devem ser incineradas em cerimônia própria.


Hino à Bandeira do Brasil tem letra de Olavo Bilac (1865-1918) e música de Francisco Braga (1868-1945) e foi executado pela primeira vez no ano de 1906
Letra:
1
Salve lindo pendão da esperança!
Salve símbolo augusto da paz
Tua nobre presença à lembrança
A grandeza da Pátria nos traz.
Refrão
Recebe o afeto que se encerra
em nosso peito juvenil1 ,
Querido símbolo da terra,
Da amada terra do Brasil!
2
Em teu seio formoso retratas
Este céu de puríssimo azul,
A verdura sem par destas matas,
E o esplendor do Cruzeiro do Sul.
(Refrão)
3
Contemplando o teu vulto sagrado,
Compreendemos o nosso dever,
E o Brasil por seus filhos amado,
poderoso e feliz há de ser!
(Refrão)
4
Sobre a imensa nação brasileira,
Nos momentos de festa ou de dor,
Paira sempre sagrada bandeira,
Pavilhão da justiça e do amor!
(Refrão)

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