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sexta-feira, 4 de março de 2022

A poesia é (d)ele: 41 anos de carreira de Luis Augusto Cassas

 


Por Rogério Rocha
 
 

Luís Augusto Cassas [São Luís – MA, 02 de março de 1953] começou a destacar-se no cenário de nossa literatura com a geração dos anos 70 do século passado. Ao seu lado estavam nomes como Cunha Santos, Chagas Val e Alex Brasil. Uma época que presenciou o aparecimento do movimento Antroponáutico e da nova poesia do Maranhão, trazendo nomes como Viriato Gaspar, Valdelino Cécio, Morano Portela e, posteriormente, Rossini Corrêa e Laura Amélia Damous.

A figura de Augusto Cassas ajudou a consolidar o modernismo na literatura maranhense, preparando, então, terreno para as mudanças que implicariam na recepção dos novos referenciais da linguagem que teriam lugar na poesia pós-moderna do século XXI.

Trata-se, na verdade, de um daqueles autores que cresceram ao ponto de não mais caber nos parcos limites de sua própria cidade. O abandono da vida provinciana (que em nossa terra teima em persistir) foi, quem sabe, a declaração de independência que ajudou a fazer de sua obra um monumento de requintada arquitetura, alçando seu nome ao âmbito nacional.

Com o êxito alcançado em face do reconhecimento – vindo tanto da parte dos críticos quanto de seus pares - afirmou-se como um escritor de DNA contemporâneo. Traço que, aliás, é elemento constitutivo de sua vasta produção, alinhada com o mundo, suas novidades e tendências, arriscando-se nos experimentos que entendeu necessários sem, contudo, perder a força das características de estilo, já demonstradas em seu “República dos becos” (1981, Civilização Brasileira).

Enquanto Cassas promovia a busca poética da essência do humano e o estabelecimento de um equilíbrio entre imanência e transcendência, sagrado e profano, carnal e espiritual, vimos surgir, por exemplo, trabalhos como “Rosebud”, “Liturgia da Paixão”, “Ópera Barroca”, “O Shopping de Deus & a Alma do Negócio”, “Deus Mix: Salmos Energético de Açaí c/ Guaraná e Cassis” e “Evangelho dos Peixes para a Ceia de Aquário”.

Poeta com mais de 24 livros publicados, cuja escrita apresenta efeitos ora psicoterapêuticos, ora cinematográficos, é astro de primeira grandeza, traçando, “a serviço da luz e do verso”, nas entranhas do seu mundo, a órbita de um lirismo que a si mesmo coube instituir. Eis aí Luís Augusto Cassas, numa definição que dá conta, não só, da importância de sua bibliografia e do seu percurso literário, mas também de sua filosofia de vida.

O escritor, que aniversaria este mês, traz na bagagem, além da existência – que, ao longo do tempo, tem-lhe deixado “mais leve e mais livre” – todo um conjunto de símbolos, imagens, eus, espaços, vivências, sentimentos e ideias.

Por fim, e para mostrar que a tarefa do autor está bem longe do seu encerramento, ao ponto de, inclusive, ainda render bons frutos, merecem destaque as obras “Paralelo 17” e a novíssima “Quatrocentona: Código de Posturas & Imposturas Líricas da cidade de São Luís do Maranhão”, lançada no ano de 2021 pela Arribaçã Editora.

São 41 anos de carreira dedicados ao ofício de compreender o mundo através da poesia (esse alimento de toda alma inquieta), em busca de verdades essenciais e da possibilidade imprevisível de um reencantamento do olhar, cuja via parece encontrar-se na simbiose homem-verso.

sábado, 28 de novembro de 2015

Homenagem ao poeta Nauro Machado em face de sua morte (por Rogerio Rocha)

Minha homenagem ao poeta maranhense Nauro Machado, falecido esta madrugada. Escrito no ano de 2003, imaginava um dia oferecer-lhe como presente ou ler esse poema para ele. Não foi possível. Ainda assim, ficará, desde já, eternizado junto ao seu nome.


Nauro (poema extra)

Nauro, poeta ‘extraordináurio’...
Eu o vejo descendo a pé
A sempre velha Rua de Nazaré...
Os velhos prédios, as velhas pedras
Acenam pra ele no passar infindo.
Leva à mão direita
Um guarda-chuva negro, grande
E pontudo...
Na mão esquerda uma pasta
(que ao poeta nada basta).
Na mão direita seu guarda-chuva
(guarda-preces, guarda-dores, guarda-escárnios),
tal qual bengala, margeia a beira,
feia, fria e dura beira de calçada,
como se escrevesse, como se traçasse,
nela e com ela, uma outra linha,
paralela, imaginária...
ponteando o seu passar.

Nauro desce a Praia Grande.
Seu corpo é um grande copo,
Corpo translúcido, brilhante,
Cabendo no fluxo de um líquido
Profuso que cai no vazio vazante
Do continente, conteúdo que espuma
Da cabeça aos pés e se banha no rio
Do temporário, que o espera sobre
As mesmas mesas dos mesmos bares,
Refúgio presente, pleno sacrário
De tudo que sorve a dor e proclama
Suas relíquias no objeto incendiário.

Nauro, poeta ‘extraordináurio’...
Vejo daqui, desta sacada,
Bem de cima, bem do alto,
Tua cabeça descampada.
Vejo da sacada deste velho casarão.
Tua cabeça é como um vão.
A tua sombra perene,
teus versos enchendo a rua,
subindo aos ares, lambendo o chão,
onde correm passos que varrem
a paisagem, paisagem solene
das pedras que dormem nuas.
Silêncio, silêncio meu poeta!
Estou afeito a curtir pensamentos
Que escrevem mãos caladas.
Vago também pelos vales e valas,
Pelas vagas onde ecoam os berros
De tua voz grave e trágica.
Ecoa no espaço azul do sereno,
Vige ainda no tempo o teu dito.
Oh! poeta, que me ofusca!

Oh! tu, poeta, és quase adivinho,
És quase profeta na encruzilhada.

Tua fala, teu andar desconcertante,
Teu acuro com a essência da palavra,
Prisão ferrenha, destino amargo
e porto incandescente.
Em teu ombro carregas, cansado,
o altar de Apolo.
Mesmo assim, celebras Dionísio.

Oh! tu, amena criatura! Solitário ser
Que transita nossas ruas escuras,
Confiscando as posses desse sítio falido,
Confundindo-se à fauna efêmera
Das desvanecidas multidões,
Que, pouco a pouco, sucumbem
à dilaceração furiosa do teu logos,
semente negra que se espalha
sob os restos de tudo que jaz,
perfumando com ácido aroma
nossa triste e perpétua mortalha.

Dentro de ti, de tua pasta,
Não sei o que carregas.
(Talvez carregue mágoas!)
Talvez nela guardes poemas novos,
poemas velhos, poesias enjauladas...
Na tua pasta (ó, meu poeta!) só cabe a tua alma.
Há pouco espaço para o ser que não és.

Assim vai, descendo o poeta, sempre a pé,
A mais que velha Rua de Nazaré.

Poeta nefasto, poeta nefando...
Música trágica tocando ao fundo,
Qual trilha sonora do meu desencanto.
Uma criatura qualquer, filha das ruas,
Passante sem rumo, o saúda com palavras
Que, à distância, não as ouço dizer,

Vai, rua abaixo, o poeta... sismo ambulante.

Dele saem gotas frias de suor,
Banhando sua carne inquieta,
Sua magnitude metafísica.
Poeta mal-visto, mas poeta que se guarda.
Poeta sem lugar, posto que abarca
O tudo e o nada.

São Luís é pequena... São Luís é parca...
A ilha é pequena, é pouca, esquálida...
Não preenche o vazio de sua estrada,
Pois fenece antes, apodrece em suas mãos,
Sem chegar ao profundo, sem abrir as portas
E adentrar as salas desertas que afloram
no além-palavra.

São Luís, 29/03/03.

sábado, 22 de dezembro de 2012

A história por trás da música: All My Love (Led Zeppelin)



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Veja a foto acima, um pai se divertindo ao ar livre com seus filhos. Este pai é Robert Plant, vocalista da banda inglesa Led Zeppelin, e o garoto sendo jogado ao alto é Karac Pendragon Plant, junto de sua irmã Carmen.
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Quando o jovem Karac tinha 6 anos, em julho de 1977, o Led Zeppelin embarcou em uma grande turnê norte-americana. Em meio a esta turnê, Plant recebeu um telefonema de sua esposa, Maureen Wilson Plant, avisando que Karac estava seriamente doente, com uma infecção viral não identificada. Duas horas depois, ela ligou novamente, dessa vez para informar que o menino havia morrido.

Robert Plant, John Bonham (baterista da banda) e Richard Cole (empresário), pegaram o primeiro voo de volta para a Inglaterra e a turnê foi cancelada imediatamente. Bonham e Cole foram os únicos membros do círculo íntimo do Led Zeppelin que assistiram ao funeral de Karac em Birmingham, o que teria deixado Robert Plant magoado com os outros membros da banda. Segundo Cole, Plant teria dito: “Talvez eles não tenham tanto respeito por mim como eu tenho por eles. Talvez eles não sejam os amigos que eu pensei que fossem.”

Foi uma perda devastadora para a família. Plant sofreu um colapso e retirou-se para sua casa em Midlands. Meses depois, questionou seu futuro e pensou em abandonar a banda. Foi John Bonham que o convenceu a continuar.

Dois anos após a morte de Karac, o Led Zeppelin lançou seu oitavo álbum de estúdio, “In Through the Out Door”, que trazia a canção “All My Love”. A canção foi escrita, em homenagem ao jovem garoto, por Robert Plant e John Paul Jones.
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Em 1980, Robert Plant sofreria outra perda. John Bonham, que tanto o apoiou na ocasião da morte de Karac, foi encontrado morto, asfixiado pelo próprio vômito, em um quarto da mansão de Jimmy Page, guitarrista do Led Zeppelin. Sua morte poria um ponto final na carreira do grupo, que, em um comunicado à imprensa em 4 de dezembro de 1980, anunciou sua dissolução.
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All My Love (Todo Meu Amor)

Should I fall out of love, my fire in the light? 
Deveria eu me perder do amor, meu fogo na luz?
To chase a feather in the wind 
Para perseguir uma pena ao vento
Within the glow that weaves a cloak of delight 
Pela intensidade que costura um manto de delicias
There moves a thread that has no end 
Deixando um fio que não tem fim
For many hours and days that passes ever soon 
Por tantas horas e dias que passam tão rápido
The tides have caused the flame to dim 
As marés fizeram a chama diminuir
At last the arm is straight, the hand to the loom 
Por fim o braço está estendido, a mão no tear
Is this to end or just begin? 
Será isso o fim ou apenas o começo?
All of my love, all of my love 
De todo o meu amor, de todo meu amor
Oh all of my love to you now 
Oh, de todo o meu amor
All of my love, all of my love 
De todo meu amor, todo meu amor
Oh all of my love to you now 
Oh, de todo meu amor para você, agora
The cup is raised, the toast is made yet again 
A taça está erguida, o brinde está feito mais uma vez
One voice is clear above the din 
Uma voz é clara acima do barulho
Proud Aryan one word, my will to sustain 
Orgulhoso ariano, uma palavra, minha vontade de apoiar
For me, the cloth once more to spin 
Para mim, o tecido mais uma vez a girar
All of my love, all of my love 
De todo meu amor, todo meu amor
Oh all of my love to you now 
Oh de todo meu amor para você, agora
All of my love, all of my love 
De todo meu amor, de todo meu amor
Yeah all of my love to you child 
Sim, de todo meu amor para você, criança
Yours is the cloth, mine is the hand that sews time 
Seu é o tecido, minha é a mão que costura o tempo
His is the force that lies within 
Dele é a força que repousa por dentro
Ours is the fire, all the warmth we can find 
Nosso é o fogo, todo o calor que podemos encontrar
He is a feather in the wind 
Ele é uma pena no vento
All of my love, all of my love 
De todo meu amor, de todo meu amor
Oh all of my love to you now 
Oh, de todo meu amor para você, agora
All of my love, oh love yes 
De todo meu amor, de todo meu amor, sim
All of my love to you now 
De todo meu amor para você, agora
All of my love, all of my love 
De todo meu amor, de todo meu amor
All of my love, love 
De todo meu amor, amor, amor
Sometimes, sometimes 
Às vezes, às vezes
Sometimes, sometimes 
Às vezes, às vezes
Hey, hey, hey, hey
Hey, hey, hey, hey
Oh yeah, it’s all, all, all of my love 
Oh sim, é de todo todo todo o meu amor
All of my love, all of my love to you now 
Todo meu amor, todo meu amor para você, agora.
All of my love, all of my love 
Todo meu amor, todo meu amor
All of my love, to, to you and you, and you and yeah 
Todo meu amor para você, para para você e você e você e sim!
I get a bit lonely, just standing up 
E fico um tanto solitário, apenas permaneço de pé
Just standing up 
Apenas permaneço de pé
Just standing up lonely  
ermaneço em pé sozinho
Just I get a bit lonely 
Só fico um pouco solitário

Fonte: Minilua

quinta-feira, 4 de outubro de 2012

Homenagem ao dia do poeta


Hoje é dia do poeta. 

Poeta! Sim! Poeta.  Que escreve PO - E - SIA. 

Sim, o poeta! Aquele ser humano que verte lágrimas em forma de palavras, cria serpentes em forma de repentes, descreve planetas com os rabisco da caneta, decora os dias com tintas fugidias... 

Dia do poeta. Sim! Daquele que faz versos. Que brinca com o tempo e o espaço. Que habita o fundo de um abismo de onde brota, em silêncio, uma flor amanhecida... 

O poeta. Sim, o poeta. Aquele que caminha sobre a métrica, que passeia em noites tétricas, que espera o amor que vingue (mesmo que não vingue). O construtor de montes, castelos e deusas sem nome. Insano? Insensato? Sonhador? Solitário?  Nada disso! O poeta é um cultor do imaginário, um apaixonado incendiário, um profeta dos semanários.

sábado, 8 de setembro de 2012

SÃO LUÍS É...


Dona Teté (folclorista)


César Teixeira (músico)



Nauro Machado (poeta)



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Boi da Maioba 



Cachorro Quente do Sousa



Movimento Reggae


Carnaval de Rua na Madre Deus


Blocos Tradicionais


Antonio Vieira (músico, cantor, compositor)


Feirinha do Reviver (Mercado das Tulhas)


Nomes Estranhos de  Becos e Ruas


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Tiquira (cachaça artesanal da região)



Avenida Beira Mar


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Bar do Leo (bar cult na feirinha do Vinhais)


A foto é em preto e branco, mas a vida e a festa são coloridas
Zé Maria Medeiros e seu "A vida é uma festa"


Celso Borges (poeta performático)


Zeca Baleiro (cantor e compositor)

Cena Heavy Metal


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Praça Gonçalves Dias (Largo dos Amores)

VAMOS REINVENTAR SÃO LUÍS!



Por Rogério Henrique Castro Rocha



Tenho uma ideia! Proponho reinventar São Luís!

Reinventemos, a partir desta data, a ilha em que vivemos!

Vamos todos refundá-la! Seu renascimento deverá, contudo, seguir determinados princípios, pautar-se por certos critérios!

Comecemos por riscar das páginas dos livros os falsos herois, os líderes de fachada, os usurpadores. Deixemos a eles apenas a memória daquilo que devamos saber para, assim, termos em mente o que não mais deverá ser repetido.

Tiremos do diário recluso do esquecimento as histórias e estórias dos perseguidos, dos banidos, dos mortos, dos massacrados. Ergamos monumentos àqueles que, solidária e solitariamente, contribuíram para a construção de nossa história.

Redesenhemos o nosso espaço, traçando novos caminhos, novas rotas, outras vias, mais simples e singulares, para que saibamos de fato de onde partimos e onde queremos chegar.

Vamos, todos, reconstruir os corroídos monumentos, levantar dos destroços as nossas velhas casas, tingir de novas cores as imagens de desgastados retratos. Tenhamos coragem, gana e garra, para destruir alguns inúteis ornamentos, trazer abaixo os palacetes fantasmagóricos, que nos contam coisas que não queremos mais ouvir. Somente assim, sem medo, sem peias, teremos a chance de moldar o novo.

Enriqueçamos, com multicultural felicidade, o nosso código genético, forjando os neoludovicenses, somando os sangues e as peles, recompondo fenótipos, para forjarmos o povo de amanhã.

Celebremos com aqueles que, vindos de todos os cantos do país, de vários recantos do mundo, escolheram morar nessas plagas, começar uma nova vida, empreender projetos de crescimento pessoal e social.

Tenhamos claro, de hoje em diante, que não é preciso apenas, como alguém já disse, “amar a cidade”. É necessário, é urgente, inadiável, agir pela cidade, intervir pela cidade, fazer acontecer aquilo que queremos que seja a cidade.

Convoco, portanto, a todos os irmãos e irmãs desta ilha, aos que a ela estão inexoravelmente ligados, a refundá-la. A recontar seus mitos originários, interpretando-os sob uma nova perspectiva. Para que, então, sucumba, de uma vez por todas, a serpente imaginária. E para que a ilha sobreviva. Para que a ilha permaneça. Para que a ilha enfim seja o doce lugar do nosso futuro.

BREVIÁRIO DOS 400 ANOS


Por Manoel Barros Rabelo Neto*



Ando sem rumo pela cidade antiga, passos inexatos, pelas ruas tortuosas e estreitas. A noção de tempo e espaço deixados para trás, caminho com passos vacilantes, incertos, desconexos... lembranças de um tempo que já passou, dos sobrados que murmuram lamentos, das pedras de cantaria que sentiram os pés dos negros sofridos com os açoites inclementes, os mirantes que observavam os contrabandos, os pontais de pombos açorianos que queriam voltar para a terra-mãe, as sacadas que tanto presenciaram os namoros de gargarejo, os frades de pedra que representavam a virilidade dos patrícios, ouço um tropel que de longe se anuncia, de cavalos pretos que soltavam fogo pelas ventas, um séquito de esqueletos, a carruagem de Nha Jansa. Os tambores ecoam no ar da ilha, afinados a fogo, tocados a murro, dançados a coice e chão. Envelheço na cidade que minha vida contém. Somos um, somos o todo, de todos os rostos que nela vagam, dos luminares do sol poente na Beira-mar, dos pregoeiros a gritar suas rimas de vendedores, dos amores havidos e desfeitos no largo do Carmo, da voz poderosa dos amos dos bois que enaltecem tua história em suas toadas. Terra das encantarias, ilha da magia, dos amores, dos azulejos, dos poetas e bardos que se encontravam em tuas vielas e se perdiam na boemia de tuas noites estreladas... vivo e sofro contigo, das dores que tu padeces de gente que não te ama e te engana, que deixa teus sobrados desabarem, tuas ruas sangrarem e tua beleza macular. 400 anos e muitos dos teus filhos ainda não aprenderam a te amar. Te acho sempre bela. Tua beleza se impõe ao escárnio e ao malfeito, meu coração sempre a ti pertenceu, meus sonhos se realizam ante tuas vistas, a tua história embalou versos de romances, de alegrias, de tristezas, de despedidas. Na medida exata tu me encantas, me abraças, me faz sorrir. Quero sempre voltar a ti, minha querida São Luís, te exaltar em cantos e versos e quando não mais aqui eu estiver, que minha posteridade renove esse amor, finque raízes profundas, receba tuas dádivas e ofereça uma prece de agradecimento a Deus pelo teu acolhimento sempre gentil. Ouvi guerreiros Timbiras, meu canto de vida, meu canto de vida, guerreiros ouvi, corram livres as lágrimas que choro, estas lágrimas, sim, que não desonram, são lágrimas de felicidade de alguém que sempre te ama, que clama por bênçãos que caiam sobre ti.


* Bacharel em Geografia (UFMA), servidor público, sindicalista.

terça-feira, 21 de agosto de 2012

Raul Seixas Eternamente

Minha singela homenagem ao músico, compositor, cantor, roqueiro, poeta, filósofo que fez, com as ideias e o comportamento, com que a nossa música nunca mais fosse a mesma. Saudades eternas do nosso "Maluco Beleza".


















"Coragem, coragem, se o que você quer é aquilo que pensa e faz
Coragem, coragem, eu sei que você pode mais." (Raul Seixas)


quarta-feira, 11 de julho de 2012

Homenagem a Jessé - "Estrela de Papel" (Festival OTI - 1983)


Apresento aqui uma postagem em tom memorial e, ao mesmo tempo, de homenagem ao saudoso e inesquecível cantor e compositor brasileiro Jessé.

Nascido Jessé Florentino Santos, em Niterói, no Estado do Rio de Janeiro, Jessé, na década de 70 do século passado, fez parte de grupos como o Corrente de Força e Placa Luminosa, tendo, posteriormente, em sua carreira solo, gravado canções cantando em inglês, com o pseudônimo de Tony Stevens.

No ano de 1980, lançou-se ao público nacional com grande destaque no Festival MPB Shell, da Rede Globo de televisão, interpretando a música "Porto Solidão", seu maior sucesso, e com a qual ganhou o prêmio de melhor intérprete.

Em 1983, o cantor brasileiro venceu o XII Festival da Canção Organização (Televisão Ibero-Americana), OTI, realizado na cidade americana de Washington, com os prêmios de melhor intérprete, melhor canção e melhor arranjo para a canção "Estrela de Papel" (composta por Jessé e Elifas Andreato).

 Dono de uma voz potente e possuidor de grande extensão vocal, Jessé encantou os amantes da boa música com marcantes interpretações e indiscutível qualidade de repertório. Morto aos 41 anos de idade, em março de 1993, após um acidente automobilístico, o talentoso cantor deixou um legado musical brilhante à música brasileira, em sua meteórica existência, bem como uma saudade enorme por parte de seus fãs.

No vídeo que irão assistir, temos a música que ele defendeu no referido festival internacional de canções. Em uma apresentação memorável, Jessé deu prova inequívoca de seu talento, da excelência de sua música e do primor da sua voz. Uma cantor intenso e sem igual que o Brasil perdeu.


"Estrela de Papel"

Nas imagens de um gibi
  Vive o meu herói
Tem num rosto que sorri
Olhos de sonhar

  Faz bandidos e cowboys
Nesse carrossel
  Põe estrelas fora do lugar
  Brilha num painel
  Lá do céu

Meu herói tem um chapéu
Tem um cão leal e um vagabundo
  Faz o riso imortal
E não se cansa de amar

Essa história, no final,
Perde o seu herói

E eu vi num filme o meu herói
  Fazendo um ditador cruel
  E vi num outro que passou
Estrelas num cenário de papel


quarta-feira, 21 de março de 2012

Ao Dia Mundial da Poesia

Hoje comemora-se o Dia Mundial da Poesia, por isso, nada melhor do que relembrar os versos famosos de um dos seus grandes mestres.


 




O corvo - Edgar Allan Poe (tradução de Machado de Assis)


Em certo dia, à hora 
Da meia-noite que apavora, 
Eu, caindo de sono e exausto de fadiga, 
Ao pé de muita lauda antiga, 
De uma velha doutrina agora morta, 
Ia pensando, quando ouvi à porta 
Do meu quarto um soar devagarinho, 
E disse estas palavras tais: 
"É alguém que me bate à porta de mansinho; 
Há de ser isso e nada mais". 
Ah! bem me lembro! bem me lembro! 
Era no glacial dezembro; 
Cada brasa do lar sobre o colchão refletia 
A sua última agonia. 
Eu ansioso pelo Sol, buscava 
Sacar daqueles livros que estudava 
Repouso (em vão!) à dor esmagadora 
Destas saudades imortais 
Pela que ora nos céus anjos chamam Lenora, 
E que ninguém chamará mais. 


E o rumor triste, vago, brando 
Das cortinas ia acordando 
Dentro em meu coração um rumor não sabido, 
Nunca por ele padecido. 
Enfim, por aplacá-lo aqui, no peito, 
Levantei-me de pronto, e "Com efeito, 
(Disse), é visita amiga e retardada 
"Que bate a estas horas tais. 
"É visita que pede à minha porta entrada: 
"Há de ser isso e nada mais". 


Minh'alma então sentiu-se forte; 
Não mais vacilo, e desta sorte 
Falo: "Imploro de vós - ou senhor ou senhora, 
Me desculpeis tanta demora. 
"Mas como eu, precisando de descanso 
"Já cochilava, e tão de manso e manso, 
"Batestes, não fui logo, prestemente, 
"Certificar-me que aí estais". 
Disse; a porta escancar, acho a noite somente, 
somente a noite, e nada mais. 


Com longo olhar escruto a sombra 
Que me amedronta, que me assombra. 
E sonho o que nenhum mortal há já sonhado, 
Mas o silêncio amplo e calado, 
Calado fica; a quietação quieta; 
Só tu, palavra única e dileta, 
Lenora, tu, com um suspiro escasso, 
Da minha triste boca sais; 
E o eco, que te ouviu, murmurou-te no espaço; 
Foi isso apenas, nada mais. 


Entro co'a alma incendiada. 
Logo depois outra pancada 
Soa um pouco mais forte; eu, voltando-me a ela: 
"Seguramente, há na janela 
Älguma coisa que sussurra. Abramos, 
"Eia, fora o temor, eia, vejamos 
"A explicação do caso misterioso 
Dessas duas pancadas tais, 
"Devolvamos a paz ao coração medroso, 
"Obra do vento, e nada mais". 


Abro a janela, e de repente, 
Vejo tumultuosamente 
Um nobre corvo entrar, digno de antigos dias. 
Não despendeu em cortesias 
Um minuto, um instante. Tinha o aspecto 
de um lord ou de uma lady. E pronto e reto, 
Movendo no ar as suas negras alas, 
Acima voa dos portais, 
Trepa, no alto da porta em um busto de Palas: 
Trepado fica, e nada mais. 


Diante da ave feia e escura, 
Naquela rígida postura, 
Com o gosto severo, - o triste pensamento 
Sorriu-me ali por um momento, 
E eu disse: "Ó tu que das noturnas plagas 
"Vens, embora a cabeça nua tragas, 
"Sem topete, não és ave medrosa, 
"Dize os teus nomes senhoriais; 
"Como te chamas tu na grande noite umbrosa?" 
E o corvo disse: "Nunca mais". 


Vendo que o pássaro entendia 
A pergunta que eu lhe fazia, 
Fico atônito, embora a resposta que dera 
Dificilmente lha entendera. 
Na verdade, jamais homem há visto 
Coisa na terra semelhante a isto: 
Uma ave negra, friamente posta 
Num busto, acima dos portais, 
Ouvir uma pergunta a dizer em resposta 
Que este é seu nome: "Nunca mais". 


No entanto, o corvo solitário 
Não teve outro vocabulário. 
Como se essa palavra escassa que ali disse 
Toda sua alma resumisse, 
Nenhuma outra proferiu, nenhuma. 
Não chegou a mecher uma só pluma, 
Até que eu murmurei: "Perdi outrora 
"Tantos amigos tão leais! 
"Perderei também este em regressando a aurora". 
E o corvo disse: "Nunca mais!" 


Estremeço. A resposta ouvida 
É tão exata! é tão cabida! 
"Certamente, digo eu, essa é toda a ciência 
"Que ele trouxe da convivência 
"De algum mestre infeliz e acabrunhado 
"Que o implacável destino há castigado 
"Tão tenaz, tão sem pausa, nem fadiga, 
"Que dos seus cantos usuais 
"Só lhe ficou, na amarga e última cantiga, 
"Esse estribilho: "Nunca mais". 


Segunda vez nesse momento 
Sorriu-me o triste pensamento; 
Vou sentar-me defronte ao corvo magro e rudo; 
E, mergulhando no veludo 
Da poltrona que eu mesmo ali trouxera, 
Achar procuro a lúgubre quimera, 
A alma, o sentido, o pávido segredo 
Daquelas sílabas fatais, 
Entender o que quis dizer a ave do medo 
Grasnando a frase: "Nunca mais". 


Assim pôsto, devaneando, 
Meditando, conjeturando, 
Não lhe falava mais; mas, se lhe não falava, 
Sentia o olhar que me abrasava. 
Conjeturando fui, tranqüilo, a gosto, 
Com a cabeça no macio encosto 
Onde os raios da Lâmpada caíam, 
Onde as tranças angelicais 
De outra cabeça outrora ali se desparziam 
E agora não se esparzem mais. 


Supus então que o ar, mais denso, 
Todo se enchia de um incenso, 
Obra de serafins que, pelo chão roçando 
Do quarto, estavam meneando 
Um ligeiro turíbulo invisível: 
E eu exclamei então: "Um Deus sensível 
"Manda repouso à dor que te devora 
"Destas saudades imortais. 
"Eia, esquece, eia, olvida essa extinta Lenora". 
E o corvo disse: "Nunca mais". 


"Profeta, ou o que quer que sejas! 
"Ave ou demônio que negrejas! 
"Profeta sempre, escuta: Ou venhas tu do inferno 
"Onde reside o mal eterno, 
"Ou simplesmente náufrago escapado 
"Venhas do temporal que te há lançado 
"Nesta casa onde o Horror, o Horror profundo 
"Tem os seus lares triunfais, 
"Dize-me: existe acaso um bálsamo no mundo?" 
E o corvo disse: "Nunca mais". 


"Profeta, ou o que quer que sejas! 
"Ave ou demônio que negrejas! 
"Profeta sempre, escuta, atende, escuta, atende! 
"Por esse céu que além se estende, 
"Pelo Deus que ambos adoramos, fala, 
"Dize a esta alma se é dado inda escutá-la 
"No Éden celeste a virgem que ela chora 
"Nestes retiros sepulcrais, 
"Essa que ora nos céus anjos chamam Lenora!" 
E o corvo disse: "Nunca mais!" 


"Ave ou demônio que negrejas! 
"Profeta, ou o que quer que sejas! 
"Cessa, ai, cessa! (clamei, levantando-me) cessa! 
"Regressando ao temporal, regressa 
"À tua noite, deixa-me comigo... 
"Vai-te, não fique no meu casto abrigo 
"Pluma que lembre essa mentira tua. 
"Tira-me ao peito essas fatais 
"Garras que abrindo vão a minha dor já crua" 
E o corvo disse: "Nunca mais". 


E o corvo aí fica; ei-lo trepado 
No branco mármore lavrado 
Da antiga Palas; ei-lo imutável, ferrenho. 
Parece, ao ver-lhe o duro cenho, 
Um demônio sonhando. A luz caída 
Do lampião sobre a ave aborrecida 
No chão espraia a triste sombra; e fora 
Daquelas linhas funerais 
Que flutuam no chão, a minha alma que chora 
Não sai mais, nunca, nunca mais!

Edgar Allan Poe

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