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segunda-feira, 25 de fevereiro de 2013

Os primórdios dos debates de Einstein com Niels Bohr

Foto © Museum Boerhaave, NL
Por George Musser 
Os pensamentos de Albert Einstein permanecem relevantes para físicos que tentam entender a mecânica quântica. “Esse homem foi quem percebeu mais rápida e profundamente os problemas que nos afligem atualmente”, contou-me um físico quântico. O último volume de “Collected Papers of Albert Einstein” [Textos Selecionados de Albert Einstein, em tradução aproximada] que contém as publicações, rascunhos, cartas e rabiscos de Einstein, de janeiro de 1922 a março de 1923, mostra que suas profundas preocupações com o quantum antecederam seus famosos duelos com Niels Bohr e tiveram um importante papel na formação da nova teoria. Muitos desses textos ainda não tinham sido publicados. Convidei Tilman Sauer do Caltech, editor sênior doEinstein Papers Project, para descrever algumas das novidades que apareceram. – George Musser

Albert Einstein e Niels Bohr tiveram um famoso embate no final da década de 20 e início da década de 30 sobre a interpretação da mecânica quântica e o fenômeno que atualmente chamamos de emaranhamento quântico.

Einstein, porém, já estava investigando a mecânica quântica há muitos anos, tanto teórica quanto experimentalmente. Propôs não apenas experimentos mentais, mas também experimentos reais que, quando conduzidos, foram cruciais para moldar a compreensão de físicos sobre a nova teoria. Detalhes das ideias de Einstein e novas observações sobre seu envolvimento com a teoria quântica vieram à luz durante o curso de nosso trabalho com seus textos.

Bohr havia postulado que elétrons se movem ao redor de núcleos atômicos apenas em órbitas estacionárias, e que só liberam radiação quando vão de uma dessas órbitas para uma de energia mais baixa. Equalizando a energia da luz emitida com a diferença energética das duas órbitas, ele conseguiu explicar o espectro do hidrogênio. Foi um avanço espetacular. Mas apesar de seu sucesso empírico, os postulados de Bohr desafiavam princípios básicos da eletrodinâmica clássica. Todos ficaram confusos. Bohr abrira a porta para um mundo de mistério e surpresa.

Einstein também foi desafiado e provocado pela ousada teoria de Bohr. Ele mesmo um dos fundadores da teoria quântica inicial e autor da hipótese do quantum de luz, Einstein sentiu que havia um problema que não poderia ser reconciliado com conceitos clássicos e que imperativamente exigia novas ideias e abordagens. 

No final de 1921, Einstein divisou o que acreditava ser um experimento crucial para determinar a natureza do processo de emissão de luz. Quando elétrons se movem de uma órbita para a seguinte, será que a luz é emitida por átomos ejetados instantaneamente, como um quantum, ou gradualmente, como uma onda contínua?

Ele propôs estudar o processo usando os chamados raios canais, que são partículas aceleradas por uma voltagem em um tubo de vidro; elas fluem por poros (“canais”) no cátodo do tubo. Depois de passar através dos cátodos, elas podem ou não se neutralizar, mas em qualquer caso nós podemos emitir luz (pelo mecanismo de Bohr, de elétrons saltando para uma órbita de energia mais baixa). A luz sofre uma mudança de frequência devido ao efeito Doppler, indicando que as partículas emissoras de luz estão se movendo rapidamente. 

Einstein previu que se alguém enviar luz produzida dessa maneira através de um meio dispersivo, as frentes de ondas deveriam ser defletidas se o processo de emissão fosse clássico.

Quando Hans Geiger e Walther Bothe conduziram o experimento, usando gás de dissulfeto de carbono como meio, não viram essa deflexão. Einstein tomou isso como evidência de que a luz é emitida como partícula em vez de onda.

O novo volume de Einstein’s Collected Papers deixa claro que Einstein havia cometido um erro. Como lhe apontou seu amigo Paul Ehrenfest (mostrado na foto acima com seu filho e Einstein), sua análise era falha. Ele não havia distinguido corretamente entre velocidade de grupo e velocidade de fase. Quando essa correção era aplicada, nenhuma das duas alternativas teóricas resultava em uma deflexão.

Recolhendo seu manuscrito original, Einstein graciosamente publicou uma análise de propagação de ondas clássicas em meios dispersivos, para que outros não caíssem na mesma armadilha.

Einstein, no entanto, não desistiu. Ele divisou vários experimentos projetados para esclarecer sobre a escolha entre conceitos quânticos e clássicos. Algumas ideias tinham vida curta, outras estavam sendo postas a prova.

Ehrenfest ficou fascinado. Ele sonhavaem trancar Einsteine Bohr em uma sala para que os dois brigassem sobre o assunto, assim antecipando os famosos debates entre eles sobre a interpretação de Copenhague alguns anos mais tarde, na conferência de Solvay de 1927.

De fato, no início da década de 20, Einstein examinou a maioria dos problemas sob a perspectiva quântica. Poucos fizeram investigações tão profundas quanto ele.

Tome a supercondutividade, por exemplo. A misteriosa perda completa e repentina de resistividade elétrica a temperaturas de hélio líquido só foi observada pela primeira vez 10 anos antes, em Leyden, para o caso do mercúrio, e até 1923 era apenas em Leyden que Kamerlingh Onnes tinha instalações adequadas para produzir o fenômeno.

Einstein levantou a hipótese de que corrente de carga em supercondutores era produzida por elétrons se movendo em correntes de órbitas de Bohr sem emitir radiação. Em metais supercondutores, átomos ficariam alinhados de maneira que suas órbitas se osculassem tangencialmente, assim permitindo que elétrons passassem suavemente da órbita de um átomo para a seguinte.

Se isso fosse verdade, deduziu ele, as interfaces entre metais diferentes não deveriam ser supercondutoras. Era uma ideia inteligente. Mas quando Onnes executou o experimento e encontrou supercondutividade em um anel consistindo de pedaços alternados de chumbo e estanho, Einstein suspirou: “E mais um vislumbre de esperança para a compreensão é abandonado”.

Em Frankfurt, ao mesmo tempo, Otto Stern e Walther Gerlach estavam enviando átomos de prata através de um campo magnético forte, não-homogêneo, para verificar se carregavam momento magnético e, se fosse o caso, se esse momento era quantizado no espaço, como postulava a teoria quântica.

Eles descobriram que o feixe de átomos de prata se dividia em dois raios, correspondendo a duas possibilidades diferentes de alinhar seu momento magnético no campo magnético. Quando Einstein e Ehrenfest discutiram o experimento durante uma das visitas de Einstein a Leyden, eles imediatamente perceberam que o experimento Stern-Gerlach não podia ser explicado classicamente.

Fizeram alguns cálculos estimando quanto tempo levaria para um átomo de prata se alinhar em um campo magnético por emissão clássica de radiação por rotação Larmor. Descobriram que isso levaria 100 anos, se comparado aos poucos microssegundos que os átomos tinham à disposição durante seu tempo de voo.

Confrontados com o primeiro exemplo de um processo genuíno de medição quântica, Einstein e Ehrenfest imediatamente perceberam o problema fundamental do que mais tarde se tornou o exemplo clássico do colapso da função de onda.

Einstein Papers Project visa tornar acessíveis os textos e correspondência de Einstein em uma edição acadêmica cuidadosamente anotada. O projeto editorial se baseia nos Albert Einstein Archives, uma coleção de arquivos de seus textos publicados e não-publicados, e de sua extensa correspondência depositada na Universidade Hebraica de Jerusalém.

Um catálogo da coleção está acessível em uma base de dados com mais de 80 mil registros e muitos fac-símiles. O projeto editorial está organizado cronologicamente. Com o último volume, a série publicada agora cobre a vida e o trabalho de Einstein até seu 44º aniversário. Quem sabe que outras pepitas de sabedoria aparecerão nos próximos volumes?

Acesso ao catálogo: http://www.alberteinstein.info/


Fonte: http://www2.uol.com.br/sciam/noticias/os_primordios_dos_debates_de_einstein_com_niels_bohr.html

sexta-feira, 26 de outubro de 2012

sábado, 21 de abril de 2012

Campanha eleitoral francesa fica marcada por debates rasos e discursos populistas


El Yamine Soum, especial para o Opera Mundi - Paris

Candidatos não conseguiram realizar debate profundo sobre temas nacionais e internacionais

A percepção compartilhada por muitos franceses é de que os temas verdadeiramente importantes de discussão não foram abordados na atual campanha presidencial, em especial as questões sociais. Ao perceber-se parte dos candidatos se aventurando em discursos banais, repetindo fórmulas batidas ou ainda demonstrando agressividade, essa disputa deixa um grande sentimento de amargura.
Para outros eleitores, trata-se de uma campanha complicada que não foi capaz de abordar os projetos e as visões de cada sobre a sociedade.

Em 2007, na campanha anterior, foi o contrário. Ela realizou-se de forma passional, dominada pelo ideal de mudança nascido com o fim da desgastada era Jacques Chirac. Esse sentimento de ruptura não está mais presente.

Uma das razões é que, agora, com a utilização de novas mídias, em plena era da sociedade do espetáculo, não houve tempo viável para explicar as propostas. Ocorreu um caso emblemático, em que alguns jornalistas pediram a alguns candidatos para que relatassem suas estratégias na área de Relações Exteriores em apenas...dez segundos!

Além da questão da falta de sincronia entre o tempo político e o midiático, ainda pesou para esse quadro medíocre a falta de profundidade dos programas de governo apresentados pelos candidatos.

Bode-expiatório

Para a extrema-direita, assim como para a UMP (União por um Movimento Popular), partido de Nicolas Sarkozy, o eterno bode-expiatório continua sendo o “estrangeiro”, ou o muçulmano. A perseguição começou particularmente depois da forte repercussão de uma reportagem da televisão francesa sobre o rito do halal (modo de abate animal islâmico).

A candidata da extrema-direita, Marine Le Pen, da Frente Nacional, começou a dizer que os franceses comiam carne com abate halal sem saberem. O presidente- candidato quis aproveitar-se da polêmica chegando ao cúmulo de dizer que “o tema que mais preocupava os franceses era a carne halal”, sendo que dias depois, após ser duramente criticado pela comunidade islâmica no país, dizer que o assunto estava encerrado…

Mas Marine foi além. Em seus comícios afirmou em alto e bom som que “entre (as doutrinas) comunitaristas mais poderosas de hoje está o fundamentalismo islâmico, que é encorajado pelas elites. O objetivo dele é aplicar a sharia na França..Sob pressão dos islâmicos, os comerciantes acabam só oferecendo carne por abate halal aos seus clientes”.

A mesma Marine faz questão de lembrar constantemente “as origens cristãs da França”, esquecendo que a laicidade francesa consiste justamente na defesa da ideia pela qual a República não reconhece, financia nem subvenciona qualquer tipo de culto.

Um dos cartazes publicitários do partido de ultra-direita ainda na campanha regional de 2010 de seu pai (Jean-Marie, fundador do partido) tinha como slogan “Não ao Islamismo” e uma bandeira argelina colada ao mapa da França, demonstrando clara e explicitamente a vontade de atacar os muçulmanos e de lhes estigmatizar.
Medo x desesperança

Progressivamente, outros dois temas que ser viram de bodes-expiatórios na campanha foram a crise econômica e a União Europeia.

O presidente-candidato também continuou a abusar de sua retórica do medo – sobretudo depois que passou a chamar ainda mais atenção dos holofotes durante a conclusão dos atentados de Toulouse . Ele apostou pesadamente em sua pretensa imagem de protetor dos franceses face à crise econômica e tomou muito cuidado para interpretar esse papel.

Em relação à Europa, Sarkozy se declara favorável a uma revisão do acordo sobre a livre circulação de pessoas e o retorno às fronteiras nacionais. Por sua vez, Marine Le Pen defende a saída da zona euro.

Por fim, tanto à direita como à extrema-direita, a estratégia é continuar a estigmatizar os muçulmanos,mesmo que uma grande parte dos franceses saiba que isto não passa de uma estratégia de distração, muito comum de ser utilizada em períodos de crise econômica.
Mobilização popular à esquerda da esquerda

Na esquerda, o fenômeno mais importante e emblemático resulta da campanha de Jean-Luc Mélenchon, o candidato da Frente de Esquerda, coalizão entre comunistas e outros partidos da extrema-esquerda. No início de sua campanha, há poucos meses, o candidato apresentava índices de preferência baixos (em torno de 3 %), e que agora permeiam os 15%.

Mélenchon desafiou Marine Le Pen em um debate televisionado, mas ela se recusou a contra-argumentar. Resta aos dois candidatos, no entanto, a disputa pelo terceiro lugar. Ex-membro do PS, Mélenchon conseguiu seduzir não somente uma parcela do eleitorado jovem, mas também de muitos que pensavam em se abster. E o radicalismo proposto em termos de ruptura do atual modelo de sociedade ganhou a simpatia de muitos franceses.

Ao se declarar inimigo dos banqueiros e do sistema financeiro, esse candidato suscitou uma mobilização popular impressionante em diversos comícios ao ar livre, ressuscitando a memória de antigos líderes comunistas. Em Marselha, aproximadamente 100 mil pessoas se reuniram no último fim de semana. O que representa o equivalente aos comícios de Nicolas Sarkozy e François Hollande realizados em Paris.

Utilizando-se de slogans emprestados do presidente equatoriano Rafael Correa, como "Revolução Cidadã" ou "insurreição cívica", Mélenchon obrigou o candidato socialista François Hollande a se direcionar mais à esquerda. Ele se torna importante, afinal, não apenas por seu desempenho nas pesquisas, que pode evoluir ainda mais, mas também pela influência que ele poderá ter sobre Hollande no caso de vitória do Partido Socialista na eleição presidencial.

Já o terceiro colocado na disputa de 2007, o centrista François Bayrou (Movimento Democrata), tem encontrado dificuldades em emplacar algum discurso de destaque nesta campanha.

Por fim, a candidata ecologista, a franco-norueguesa Eva Joly (Europa Ecologia – Os Verdes), teve muitas dificuldades para colocar em pauta sua agenda ambiental. Além de sua clara falta de carisma, outro fato que contribuiu o fraco desempenho demonstrado até agora foi que os verdes concluíram acordos políticos para negociar as candidaturas à Câmara de Deputados. Isso desmobilizou uma parte da militância e tirou credibilidade da candidatura.

Abstenção e voto anti-Sarkozy

Pelo lado do Partido Socialista, é esperada uma vitória sem necessidade de fazer campanha. O candidato François Hollande, frequentemente atacado por sua postura tímida, não ousa ultrapassar as linhas do consenso e joga em uma posição de equilibrista.

Por um lado, ele defende uma série de propostas que aparecem, para uma parcela do eleitorado, mais voltadas a uma política centrista ou social-democrata. Como, por exemplo, se posicionar contrariamente à entrada da Turquia na União Europeia.

A mobilização do eleitorado para a candidatura de centro-esquerda parece ocorrer mais em razão de uma rejeição a Sarkozy do que por uma franca e sincera adesão às proposições do Partido Socialista.

Outro risco deste escrutínio é a abstenção. Segundo o CSA, “a França se caracteriza por um nível muito fraco de confiança interpessoal como também em torno das instituições, como, por exemplo, a justiça, o Parlamento ou ainda os sindicatos”.

Ora, ao fim do mandato de Sarkozy contamos com um milhão de desempregados a mais entre 2007 e 2012, ligada à perda da nota “Triplo A” pelas agências de risco, reforçando ainda mais o sentimento de pessimismo.

É por essas razões que esse pleito se arrisca a presenciar uma grande desmobilização dos eleitores. E, para alguns eleitores, uma grande tentação de não votar nos dois candidatos favoritos. Há a possibilidade de que cinco candidatos superem a margem dos 10% de votos.

El Yamine Soum é um sociólogo francês, especialista em temas como imigração e diversidade. Co-autor de livros como La France que nous voulons, Islamophobie au Monde Moderne e Discriminer pour miex régner.

Fonte: Página Global

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