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quarta-feira, 10 de abril de 2013

Afinal, como funciona o mercado de gibis nos EUA?

Reproduzo aqui matéria veiculada no site Judão - Livros e HQ. Curtam!


De tempos em tempos surgem notícias aqui no JUDÃO falando sobre o mercado de histórias em quadrinhos nos EUA. Basicamente, são informações sobre quem vendeu mais, quem vendeu menos, quem lucrou, quem está perto de ser cancelado… Ou seja, fatos importantes, que podem levar a novos direcionamentos para os nossos heróis favoritos no (ainda) importante mercado estadunidense.
Fatos que, com toda a certeza, serão sentidos depois pelos leitores de editoras como DC, Marvel eImage no Brasil
Só que há uma coisa que, talvez, você não saiba. O mercado de gibis lá na Terra do Tio Sam é COMPLETAMENTE diferente do nosso. Praticamente não existe venda nas bancas. São as comic shops que ditam o sucesso (e o fracasso) de qualquer coisa por lá.
Um pouco de história
Nem sempre foi assim, claro. A venda de gibis nos Estados Unidos já foi, um dia, tal qual como é até hoje aqui no Brasil. A distribuição era feita para as bancas, que funcionavam como intermediários. Sim, o jornaleiro da sua esquina é apenas um intermediário. Ele não compra nada. As editoras cedem revistas e jornais para ele, que fica responsável pela venda. Caso hajam compradores, ele ganha uma porcentagem. O que ficar — chamado encalhe — é retirado pela distribuidora e devolvido com a editora.
Se a tiragem for muito maior que a demanda, é quase certo que esse encalhe se tornará prejuízo para o editor. Por isso, trata-se de um formato de negócio bem complicado.
Acontece que tudo isso começou a mudar nos EUA durante os anos 70. As duas décadas anteriores tinham visto um boom dos quadrinhos, mas as vendas em banca começaram a diminuir no começo dos anos 70. Na mesma época, começaram a surgir lojas especializadas na venda de revistas em quadrinhos. Eram os comic shops.
Phil Seuling, que era dono de comic shop e organizador de convenções, foi o primeiro a perceber que era mais interessante comprar diretamente das editoras. Afinal, ele tinha um controle da demanda dos clientes. Assim, ele poderia pedir as quantidades exatas de cada revistas e aumentar a margem de lucro (pois não havia a figura do “distribuidor”). Por outro lado, o cara teria que se organizar: no caso de comprar mais do que o necessário, os gibis ficariam encalhados na loja dele, o que poderia representar um prejuízo.
Assim surgia o chamado “mercado direto”. Na época, o “direto” significava que não haveriam mais as distribuidoras, um conceito que acabou se perdendo — afinal, elas ainda são necessárias.
Uma antiga comic shop
Com o tempo, as vendas no mercado direto foram crescendo. Só que foi apenas no começo dos anos 80 que a Marvel finalmente viu o real potencial desse mercado. Foi a partir daí que a Casa das Ideias passou a lançar revistas diretamente para as comic shops e que não sairiam mais nas bancas.
A jogada se provou um sucesso. Tudo porque os quadrinhos não precisavam mais disputar espaço com outras publicações. Eles tinham uma loja só para eles, que poderia ser preenchida com um número cada vez maior de gibis. E apesar da editora ter uma margem menor em cada venda, não existia o risco da editora morrer com um monte de revistas na mão — o que permitia apostar em personagens e séries feitas para vender menos, como as graphic novels adultas. Sandman e o selo adulto Vertigo são filhos diretos dessa mudança.
Não demorou para inúmeros distribuidoras surgirem nos EUA, se especializando em receber as solicitações das lojas (que informavam quais títulos queria vender) para as editoras (que enviavam por meio da distribuidora as publicações). Não demorou muito para as vendas em banca morrerem e acontecer um verdadeiro boom de comic shops.
Nos anos 90 sobraram apenas três distribuidoras: Diamond, Capital City e a Heroes World. A última foi comprada pela Marvel em 1994, já que a editora acreditava que ter uma distribuidora própria poderia ajudar nas vendas e nos lucros. Não deu muito certo. Na segunda metade da década, tantos as grandes quanto as menores editoras assinaram contrato de exclusividade com a Diamond, que passou a ser a única a operar no mercado direto.
Como funciona o mercado direto hoje
Uma capa da revista Previews
Depois desse processo, o mercado direto de HQs começou a operar em um formato bem consolidado. As editoras (incluindo DC, Marvel e Image) informam para a Diamond quais revistas vão vender em cada mês, os títulos, sinopses e alguns previews (ou seja, revelam algumas páginas das publicações). Essas informações são divulgadas em grandes listas cerca de três meses antes da distribuição, além de serem veiculadas em uma revista da Diamond chamada simplesmente de Previews, que é lida pelos donos das comic shops.
Normalmente, são essas solicitações que acabam virando notícia aqui no JUDÃO. É que elas podem revelar mudanças na equipe criativa, capas bombásticas, sinopses misteriosas ou até o cancelamento do título.
A partir da revista Previews, os donos das comic shops selecionam quais revistas querem — e a quantidade que esperam vender. Dessa forma, são os lojistas que efetivamente COMPRAM as publicações, esperando vendê-las para os leitores.
Nesse sentido, quem dita o sucesso ou fracasso de uma publicação são os comic shops. Se eles não apostam em um gibi, o gibi tem poucas solicitações — e, depois, poucos exemplares à venda. Se os números não sobem, provavelmente a publicação será cancelada. Muitas vezes pode ser até uma história interessante, que teria público. Mas esse público nem fica sabendo…
É claro que existem inúmeras nuances nisso tudo. As editoras tentam desesperadamente impulsionar as vendas no período das solicitações, principalmente por meio de notícias, entrevistas e comunicados para a imprensa. Os previews propriamente ditos também ajudam bastante nisso.
Claro, três meses de antecedência é um tempo muito longo, no qual muita coisa pode acontecer. Por isso existem as chamadas “re-solicitations”, período mais próximo da publicação no qual o lojista pode pedir mais exemplares das revistas. Isso acontece muito, por exemplo, quando há uma publicação bombástica recente, que infla as vendas das revistas relacionadas que virão a seguir.
Há ainda outras “manhas” das editoras. Em casos bem específicos, Marvel e DC (que tem mais bala na agulha) oferecem a oportunidade das comic shops devolverem um potencial encalhe. Tal jogada acontece bastante em grandes crossovers. Sem o risco de perder dinheiro, os lojistas encomendam mais exemplares e a editora tem certeza que todos os leitores vão encontrar o título à venda.
E sim, muitas vezes é difícil encontrar os gibis mais populares. Tudo porque os donos das comic shops são muito conservadores nas solicitações e porque eles, claro, criaram outras formas de potencializar as vendas. Além de estimular o boca-a-boca para emplacar os lançamentos, eles reservam as séries mais procuradas para os clientes que pedem. Dessa forma, tem muito gibi que está esgotado antes mesmo de chegar à loja.
A parceria entre editoras e comic shops não para por aí. Há toda uma agenda de eventos anuais entre eles, apresentando os futuros planos das editoras — na San Diego Comic Con, por exemplo, há painéis exclusivos para revendedores pela manhã. Também existem eventos especiais. Avengers vs. X-Men, por exemplo, contou com festas nas principais comic shops dos EUA, que abriram na noite da véspera do lançamento oficial do crossover apenas para adiantar as vendas.
Uma típica comic shop atual
New comic book day
Outra sacada importante do mercado direto é a consolidação do “new comic book day”. Na realidade, a Diamond distribui os gibis na terça-feira para serem comercializados no dia seguinte, transformando a quarta no dia para comprar HQs. Isso dita o andamento de todo o mercado e dos leitores, que criam uma rotina baseada nesse dia. Produções como Big Bang Theory mostrando isso com bastante clareza.
E, cara, é realmente necessário ir até a comic shop na quarta-feira. Por conta do conservadorismo das lojas e das reservas prévias, fica difícil encontrar as revistas mais procuradas no PRÓPRIO new comic book day. Ano passado, quando visitei a famosa comic shops Meltdown (que fica em Los Angeles), passei por isso: era quarta-feira, mas os principais lançamentos da semana já tinha esgotado. Foi frustrante.
Para os mais perdidos (que descobriram que precisavam daquele gibi depois do amigo comentar ou depois de ver algo na internet), há uma segunda chance. Quando um gibi esgota nas comic shops e ainda há demanda por meio de pedidos e reservas, os revendedores pedem novas tiragens para as editoras, que aproveitam a oportunidade para agregar outras capas variantes. Assim, os atrasados garantem um exemplar, enquanto os mais fanáticos compram novamente só por causa da nova capa.
Sucesso ou fracasso
Com tanto controle, as editoras sabem previamente se um título vai virar ou se está indo para o buraco. Dessa forma, ajustes podem ser feitos no meio do caminho, incluindo mudanças na HQ, uma maior divulgação nas comic shops ou com novas notícias na internet. Nesses tempos de Twitter e Facebook, vale até um comentário dos quadrinistas envolvidos. Dan Slott, atual roteirista do Homem-Aranha, já tuitou diversas vezes que “haviam poucas solicitações” de uma edição específica.
Logo quando o mês acaba, a Diamond divulga o ranking dos mais vendidos e das editoras. Não são abertos números, mas sim índices. Dessa forma, dá pra saber, por exemplo, que Guardians of the Galaxy #1 foi o mais vendido de março e que a Marvel dominou o mês.
Além disso, a Diamond separa os resultados de duas formas. Na primeira sabemos quem vendeu o maior número de exemplares, enquanto o outro o ranking é por dólares. Isso acontece porque algumas revistas mensais custam US$ 2,99, enquanto outras são US$ 3,99, levando a resultados diferentes. Há também edições mais caras (Amazing Spider-Man #700 custou US$ 7,99), encadernados e graphic novels (que têm preços diferenciados).
A Diamond também distribui action figures e colecionáveis criados pelas editoras e outras empresas relacionadas. É por aí que os bonecos da DC Direct vão para as comic shops, por exemplo. Também há um ranking específico para isso.
Apesar da distribuidora não revelar números absolutos, é possível estimá-los a partir do índice que é divulgado. O ComiChron faz um ótimo trabalho desse sentido. Por isso, dá pra saber que a mesma Guardians of the Galaxy #1 vendeu mais de 211 mil exemplares apenas em março.
E, quando se fala “vendeu”, lembre-se: para as comic shops. Se encalhar algo na loja, não é mais uma preocupação da editora ou da distribuidora. Por isso as vezes surgem informações de quem uma revista teve mais de 100 mil exemplares vendidos, mas que são encontrados com facilidade nas lojas…
E as bancas?
Basicamente, a venda de quadrinhos nas bancas morreu nos Estados Unidos.
Uma banca cheia de gibis. Só que isso é de 1975...
Há, claro, alguns exemplares ou publicações que aparecem nelas. Podem ser edições especiais, ou ainda gibis direcionadas a um público mais infantil (que não vai tanto nas comic shops). Porém, o grosso disso tudo fica restrito ao mercado direto. O que é, por um lado, é bem ruim.
As bancas possuem um público muito mais amplo. A pessoa poderia ir lá comprar o USA Today, aTime, o que for, e ver uma publicação do Batman, gostar da capa e levar pra casa. No formato de hoje, fica difícil trazer esse cara que, por impulso, compraria um gibi e poderia se tornar um novo leitor.
As comic shops acabam sendo dominadas por um público muito específico. Claro, o balconista pode sugerir uma revista nova, um personagem novo. Só que isso acontecerá para o mesmo cara de sempre. Fica difícil ter a compra por impulso por parte de um novo leitor em potencial.
Isso acaba estimulando as grandes sagas, mortes e tudo mais que vemos atualmente. Vingadores vs. X-Men, por exemplo, atrai uma atenção nova, já que são duas franquias de sucesso juntas. É algo que pode fazer um não-leitor sair de casa, ir até uma loja (que nem sempre é perto) para comprar uma revista. A morte de alguém importante também funciona da mesma forma.
Esse foi um dos motivos do reboot da DC em 2011. A editora queria pegar esse cara que não vai até as comic shops nas quartas-feiras e mostrar pra ele que, a partir daquele momento, existia um fato novo, uma janela que o permitiria finalmente ler Superman, Batman, Mulher-Maravilha e por aí vai. Era o momento ideal para começar uma nova rotina.
Isso tudo tem surtido efeito. Depois de alguns anos de marasmo, o mercado de quadrinhos está crescendo. Só para ficar no exemplo de março, o ComicChron informa que as vendas foram 20% melhores que há um ano, 29% maiores que há dez anos e 1% maiores que há 15, quando as editoras estavam em um grande crescimento. Nos três primeiros meses de 2013, foram vendidos 17% mais gibis que no mesmo período do ano passado.
Os números consideram apenas as revistas mensais. Nos encadernados, o crescimento é ainda maior.
Comic shops assim são poucas, mesmo nos EUA
Ainda assim, as editoras estão buscando novas alternativas. A DC, por exemplo, lançou a linhaEarth One, com encadernados que possuem as livrarias como principal foco. Não deixa de ser uma oportunidade de conquistar um público que nunca pensou em ler HQs.
Venda digital
Outro caminho que está surgindo é a internet. Nos últimos anos cresceu bastante a venda de gibis digitais para tablets, smartphones e e-readers. O ComiXology se consolidou como a principal força desse mercado. Além de ter o próprio aplicativo (que traz as principais editoras), a empresa fornece tecnologia para Marvel, DC e Image, que possuem aplicativos e sites próprios para venda.
Se por um lado os leitores sentem falta do físico, as editoras só têm elogios. Sem o custo da impressão e da distribuição, as margens de lucro são maiores. Também não existe a limitação da tiragem, é possível vender uma revista para todo o mundo no dia do lançamento e facilita na venda de edições antigas, já que basta que elas sejam digitalizadas.
Hoje, as edições digitais saem no mesmo dia que as revistas físicas são lançadas. Apesar disso tudo, não dá para acreditar, ainda, no fim da venda física, mas sim numa consolidação do digital.
Até porque é bom lembrar: as editoras PRECISAM das comic shops e seus funcionários. São principalmente eles que convencem os leitores a apostarem em novas publicações e/ou heróis.
E no Brasil?
Por aqui ainda vivemos no bom e velho tempo da banca. O que não é ruim.
Existem algumas comic shops, mas elas são insuficientes para sustentar todo um mercado editorial — que também é pequeno, aliás. As bancas, por outro lado, estão em cada esquina, além de facilitar a atração de novos leitores.
Em todas estas décadas, o Brasil se adaptou da forma que deu. Se não há espaço para dezenas de gibis mensais em bancas e comic shops, as editoras criaram as chamadas “revistas mix”, que mesclam em apenas um título várias publicações estadunidenses. Isso torna possível emplacar HQs que, apesar de boas, não teriam sucesso sozinhas.
Recentemente a Panini até que tentou apostar na criação do mercado direto. Foram lançados quatro gibis exclusivos de Os Novos 52 (o reboot da DC) para as comic shops. Apesar do sucesso das publicações de banca, as do mercado direto não tiveram sucesso e foram canceladas.
Bom, ao menos as seguidas tentativas de impulsionar o mercado direto nos EUA também surtiram efeito no Brasil. Para você ter uma ideia, a DC tem hoje NOVE revistas mensais por aqui, fora os especiais. É algo inédito na história da editora.
E é assim que se vende gibi nos EUA — e no Brasil. ;)

sábado, 9 de fevereiro de 2013

Liga da Justiça em problemas? História será inteiramente reescrita


O projeto, ainda sem diretor ou elenco definido, acabou de ter seu roteiro rejeitado.
por Bruno Carmelo


O projeto de Liga da Justiça está passando por dificuldades no momento. Ainda sem diretor ou elenco definidos, ele só vai começar a ser produzido após os resultados de bilheteria de O Homem de Aço, nova aventura do Superman. A apreensão do estúdio é compreensível, já que o filme O Lanterna Verde foi um fracasso, e a bem-sucedida trilogia do Cavaleiro das Trevas pode ser recente demais para que o público aceite outro ator no papel de Batman.

Para complicar a situação, nenhum novo vídeo de O Homem de Aço foi apresentado durante o Super Bowl, onde quase todas as superproduções marcaram presença. Por que tanto mistério em torno deste filme? O clima de tensão se acentuou quando o executivo Mark Millar, consultor da Fox para os filmes da Marvel, descreveu Liga da Justiça como "uma ótima maneira de desperdiçar 200 milhões de dólares", falando que os personagens estão "fora de moda". Os super-heróis em questão são a Mulher Maravilha, o Superman, Batman, Flash e o Lanterna Verde.

A Warner parece concordar com esta versão, já que decidiu recomeçar do zero a construção do roteiro. A história original foi escrita por Will Beall, autor de Caça aos Gângsteres, que não agradou nem ao público, nem aos produtores. Por isso, outros roteiristas devem ser contratados, e a nova trama deve ser criada o quanto antes. Mas os estúdios ainda estão otimistas: apesar de todos os problemas, o lançamento de Liga da Justiça continua previsto para 2015.

Fonte: Adoro Cinema - Screen Rant

terça-feira, 16 de outubro de 2012

Marvel versus DC: os crossovers não oficiais


Muito além das parcerias que renderam grandes encontros entre seus personagens, as editoras Marvel e DC estrelaram crossovers involuntários dentro e fora de seus domínios editoriais
Por Marcus Ramone
O Mágico de Oz
Em 1975, quando se reuniram para produzir uma adaptação do clássico O Mágico de OzMarvel e DC Comics abriram um precedente e criaram a expectativa da iminente realização de um sonho que povoava a mente de qualquer leitor de gibis de super-herói. Naquela época, ver os personagens das duas grandes editoras, juntos em uma mesma HQ, parecia uma realidade impossível.
Curiosamente, anos antes, alguns quadrinhistas trataram de oferecer um aperitivo daquilo que se tornaria corriqueiro no linguajar dos fãs de quadrinhos: os crossovers. Em março de 1971, na última página da revista Aquaman # 56 (DC), o herói da Liga da Justiça criou, inadvertidamente, um grotesco monstro aquático. Foi a derradeira edição daquele gibi e o plot ficou perdido.
Entretanto, em 1974, o argumentista Steve Skeates, que havia escrito aquela história, estava trabalhando na Marvel e usou a antiga ideia em Sub-Mariner # 72, repetindo as últimas sequências dos quadrinhos de Aquaman # 56.
Thor # 207
Assim, os leitores mais atentos (e que acompanhavam as aventuras dos dois heróis) puderam identificar a mão do outro soberano dos mares na história de Namor, apertando com um dedo o botão de um dispositivo que deu vida ao monstro.
As revistas Justice League of America # 103 (DC, 1972), Amazing Adventures # 16 (Marvel, 1973) e Thor # 207 (Marvel,1973) também apresentaram um vislumbre do que poderia ser um crossover entre os personagens daquelas editoras.
Graças a Steve Englehart, Gerry Conway e Len Wein, que, depois de assistir a uma parada anual de Halloween na cidade de Rutland, nos Estados Unidos, decidiram escrever nos respectivos gibis em que trabalhavam uma aventura envolvendo os heróis fantasiados da editora concorrente.
As participações se limitaram a personagens figurantes vestidos de super-heróis em desfiles de carro aberto. Mas, em Justice League of America # 103, a ousadia foi mais longe. O vilão Félix Fausto dominou a mente dos fantasiados e lhes concedeu superpoderes. O resultado foi "Capitão América", "Homem-Aranha", "Hulk" e outros heróis da Marvel enfrentando a Liga da Justiça.
Inferior # 5
Até então, o mais próximo de um confronto desse porte tinha acontecido em outubro de 1968, na capa de Inferior # 5, gibi satírico da DC, que mostrou Homem-Aranha, Namor, Coisa, Tocha Humana e Senhor Fantástico tombados aos pés do Superman e de uma equipe de super-heróis desengonçados.
Mas foi somente em 1975 que os crossovers entre Marvel e DC começaram a ganhar forma, quando o agente literário e escritor David Obst resolveu levar a sério o que parecia apenas um desejo maluco de leitores ou brincadeira de quadrinhistas.
Depois de procurar Stan Lee e Carmine Infantino, respectivamente editores-chefes da Marvel e da DC, Obst os convenceu a apostar numa ideia que batizou de "a batalha do século": Super-Homem contra Homem-Aranha, o primeiro encontro oficial entre os personagens das duas maiores editoras de quadrinhos do planeta.
Um ano depois, a HQ Superman vs. The Amazing Spiderman foi lançada nos Estados Unidos, em formato gigante, começando a construir um currículo repleto de confrontos que marcaram época e resultaram em algumas das mais empolgantes histórias em quadrinhos de super-heróis de todos os tempos.
Stan Lee apartando a briga
Essa trajetória de superencontros inclui a inusitada heroína Mantis, que estreou numa edição de Avengers, em 1973, e saiu da "Casa das Ideias" para fazer parte da DC, em 1977, com outro nome. Ela voltou para a Marvel poucos anos depois.
E como seria de se esperar, feito uma linha do tempo paralela, desgarrada do fluxo cronológico original, Marvel e DC também protagonizaram crossovers fora de seus domínios, realizados em outros universos editoriais.
Isso aconteceu muitas vezes e continua sendo uma prática comum em gibis de diversos personagens, no Brasil e em outros países.
D'oh!
The Simpsons/Futurama Crossover Crisis II # 2
Foi uma rápida aparição. Mas pode ser considerada uma das mais divertidas cenas protagonizadas pelas criações das duas editoras.
Em The Simpsons/Futurama Crossover Crisis II # 2 (Bongo Comics, 2005), o traquina Bart Simpson contracena com Batman, Superman, Mulher-Maravilha, Homem-Aranha, Wolverine, Capitão América e Thor.
Os heróis embarcaram no clichê de brigar no primeiro encontro, não sem antes serem indagados pelo pequeno Bart sobre o fato de estarem com os rostos sempre escondidos na penumbra. A resposta foi dada pelo escalador de paredes: "Proteção dos direitos autorais".
Até que um roteirista os separe
DC fez uma discreta participação na cultuada minissérieMarvels, escrita por Kurt Busiek, desenhada por Alex Ross e lançada em 1994.
Na sequência que mostrava o casamento entre Reed Richards e Sue Storm, do Quarteto Fantástico, estavam na igreja, entre os convidados, muitas celebridades que gozavam de popularidade em 1965 - ano em que, na cronologia da série, aconteceu o enlace matrimonial do casal de super-heróis.
E nessa lista, seguramente fazendo seu papel de jornalistas cobrindo o concorrido evento, apareciam Clark Kent e Lois Lane - que, dois anos depois da publicação de Marvels, também se casariam.
Quando titãs colidem
O alter ego do Superman e sua então namorada fizeram outras aparições em títulos regulares da Marvel. Uma das mais lembradas, pela toada cômica, aconteceu em Thor # 341 (março de 1984), publicada no Brasil em Os maiores clássicos do Poderoso Thor # 1 (Panini, setembro de 2006).
Na HQ, Nick Fury encontra uma forma pitoresca de disfarçar o Deus do Trovão, que, naquela fase - escrita e desenhada por Walt Simonson -, não estava usando uma identidade secreta para viver entre os humanos. O comandante da S.H.I.E.L.D. entregou um par de óculos ao asgardiano, dizendo que aquilo servia, já que resolvia o mesmo problema do "outro cara".
Se a referência sutil não bastava, o "outro cara" (ou melhor, Clark Kent) e Lois Lane apareceram na página seguinte - com direito à jornalista chamando o namorado nominalmente.
Turma da Mônica
E foi então que, antecipando o que aconteceria muitos anos depois em LJA / Vingadores, os heróis se chocaram... literalmente: Superman foi derrubado por Thor quando, casualmente, os dois se esbarraram.
Supercoelhadas
Turma da Mônica pode se considerar privilegiada. Afinal, depois dos Estados Unidos, o Bairro do Limoeiro parece ser o lugar em que os super-heróis Marvel e DC mais dão as caras.
Eles são presença fácil nas histórias da baixinha dentuça, muitas vezes aparecendo juntos em inusitados crossovers, para ajudar a garotada contra grandes perigos - um rato que amedronta as meninas ou uma gota d'água prestes a atingir o Cascão -, ou mesmo apanhando da Mônica.
Dentre essas participações especiais, duas merecem destaque.
Uma delas pode ser vista em Mauricio Apresenta # 4 - Superparque (Panini, 2008), que trouxe somente aventuras com a participação dos super-heróis, incluindo uma em que os personagens da Marvel e da DC - à vezes formando dupla uns com os outros -, divertiam-se no Parque da Mônica.
E na HQ principal de Mônica # 54 (Panini, 2011), que comemorou a 500ª edição do gibi da personagem no Brasil, um ciumento Cebolinha não contém a indignação ao ver integrantes dos Vingadores e da Liga da Justiça rindo alto com um gibi da Mônica nas mãos.
Um tira da pesada
2000 AD
Ele é durão e não faz distinção de quem prende, julga e executa. Resta saber por que razão, em 1978, o Juiz Dredd aniquilou vários super-heróis Marvel e DC.
Tudo não passou de uma provocativa ilustração para uma publicidade institucional do clássico gibi britânico 2000 AD. Mas teve sucesso em chamar a atenção para a criação de John Wagner e Carlos Ezquerra, que havia estreado na revista no ano anterior.
Por Odin!
Em 2003, Garth Ennis e Glen Fabry criaram o viking zumbi e vilão cósmico Harald Jaekelsson, para a minissérie Thor - Vikings, da Marvel.
Passaram-se apenas alguns meses para que o mesmo personagem aparecesse em outra minissérie, dessa vez pela DC/WildStorm.
Não foi coincidência o fato de que Authority: More Kev também tinha sido produzida por Ennis e Fabry.
A luta continua?
O saudoso gibi Os Trapalhões, da Bloch Editores, acolhia os super-heróis Marvel e DC como poucos.
A Era dos Super-heróis
Superômi, Rúlki e Nega-Maravilha eram algumas das melhores paródias desses personagens, que costumavam se reunir em crossovers.
Num deles, no início dos anos 1980, a HQ foi censurada por motivos políticos (era época da ditadura militar no Brasil) e foi publicada com alterações. Na aventura, os heróis entraram em greve, reivindicando os mesmos direitos dos trabalhadores comuns.
Em 2012, a história original foi divulgada pelo seu desenhista, o cartunista Bira Dantas.
A Era dos Super-heróis
Quem foi criança em 1979 não se esquece de uma música que fez bastante sucesso no Brasil: A Era dos Super-heróis, faixa-título do LP da banda paulistana Lee Jackson.
Escrita pelo hoje autor best-seller Paulo Coelho, a letra da música unia os personagens Marvel e DC(como Capitão América e Lanterna Verde, dentre outros) em divertidas situações vexatórias.
Para completar, a capa do disco trazia uma ilustração em que os integrantes da banda faziam as vezes desses heróis.
Quem disse que só nos gibis é possível um crossover desse naipe?
Marvel e DC
Unidas por um título
No final dos anos 1990, a Editora Abril lançou o gibi bimestral Especial do Mês, com uma proposta singular: publicar HQs da Marvel e da DC no mesmo título.
A ideia deixou em polvorosa os fãs das duas editoras, que nem se deram ao trabalho de questionar a possibilidade de tamanha façanha, levando-se em conta que as publicadoras norte-americanas certamente não permitiriam uma iniciativa desse tipo.
Apesar de a intenção ter sido publicar uma editora por edição, Especial do Mês durou apenas quatro números (todos em 1998), somente com personagens da Marvel - X-Force, Tropa Alfa, Thunderbolts e Excalibur, respectivamente.
Não realizou o intento de fazer um crossover no mix do gibi, mas entrou para a história como um belo "quase" que atiçou milhares de leitores.
E se não há, no horizonte, nenhum vislumbre de mais um crossover inédito e oficial entre Marvel e DC, é certo que vai ter sempre um gibi de outra editora oferecendo esse presente aos leitores.
Fonte: Universo HQ

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