Deixarei ficar pousado, junto ao cálice,
Sobre a pesada mesa (altar da vida breve),
O sussurro que ecoa em meus ouvidos,
No mais longínquo recanto,
No mais soturno regato,
No mais contido recato,
Como prece advinda do infinito,
Qual pedra, escuro e denso monolito,
Atirado contra o vidro delicado,
Cristal despedaçado onde antes houvera uma face.
Deixarei bicar teus restos, detendo-se sobre o busto intocado,
A triste ave de rapina, negra e sinistra, avisada pelo vento morno
Que sobe as colinas carregando o cheiro do teu corpo sobre a terra.
É tudo o que posso neste momento.
Sou prisioneiro do ontem. Agora, não mais.
Só o passado. Memórias abreviadas pelo pó
Espesso que encobre a mobília.
Um apego que não me deserda,
sequer quando escorro entre as frestas,
diminuindo-me aos pálidos vultos.
Preciso sair! Preciso passar!
Corro o risco de ser tua rotina.
Mas não consigo. Eis a certeza!
Vita brevis. Vita brevis.
Rogério Rocha.
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