Programa sobre o livro que já foi considerado o melhor de todos os tempos por uma comissão de escritores. A professora Maria Augusta da Costa Vieira, do Departamento de Letras Modernas da Faculdade de Filosofia Letras e Ciências Humanas da Universidade de São Paulo, especialista no livro Dom Quixote, fala sobre Miguel de Cervantes Saavedra e a obra prima dele, que influenciou definitivamente o romance moderno.
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sábado, 13 de abril de 2013
Literatura Universal - Dom Quixote de La Mancha (programa UNIVESP)
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Rogério Rocha
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terça-feira, 29 de janeiro de 2013
Uma nova mitologia
J. R. R. Tolkien |
A época é o começo da década de 1930; o lugar, o escritório de uma casa modesta em Oxford, na Inglaterra. O sujeito sentado na escrivaninha, um professor universitário de meia-idade, está de língua de fora depois de corrigir centenas de provas de uma espécie de Enem britânico daquela época - trabalho braçal e chato, mas indispensável por causa da grana extra que trazia, em especial para alguém com quatro filhos para sustentar. O professor fica até emocionado quando vê que um dos estudantes deixou uma folha inteirinha em branco, permitindo que ele descansasse um pouco. Sabe-se lá o porquê, ele se vê tomado por um impulso irresistível de escrever naquela página uma frase enigmática: "Numa toca no chão, vivia um hobbit".
O resto é história. Na tentativa de "descobrir" que diabos era o tal hobbit, nosso professor, John Ronald Reuel (ou simplesmente J.R.R.) Tolkien, acabaria consolidando um dos universos de ficção mais amados (e lucrativos) da história. Seus livros venderiam centenas de milhões de exemplares no mundo todo, sem falar nos bilhões de dólares abocanhados pelas adaptações de sua obra-prima, O Senhor dos Anéis, para o cinema. E tudo indica que mais bilhões virão por aí com a versão cinematográfica em três partes do livro que surgiu a partir da frase misteriosa, O Hobbit - o primeiro filme chega neste mês.
Até aí, nada que J.K. Rowling (Harry Potter), ou até George R.R. Martin (A Guerra dos Tronos) também não tenham conseguido fazer, certo? De fato, mas é difícil negar que, cifras à parte, Tolkien ocupe uma categoria só dele. E não só pelo fato de ele ter criado, praticamente sozinho, o gênero da fantasia épica (ou a mania de autores desse gênero de usar iniciais para assinar seus livros). Tolkien é único porque nenhum autor, antes ou depois dele, conseguiu reproduzir com tamanha precisão a maneira como funcionam as mitologias "de verdade" (como a grega ou a escandinava).
Em certo sentido, Tolkien era o cara perfeito para a tarefa por causa de sua formação peculiar. Como professor na Universidade de Oxford, sua especialidade era a filologia, uma espécie de arqueologia linguística e literária.
Uma das tarefas dos filólogos é entender como as línguas evoluem - explicar, por exemplo, todas as modificações de sons e significados que fizeram uma palavrinha em latim, como tripalium, nome dado a um instrumento de tortura, virar "trabalho" em português.
Como esse exemplo indica, trata-se de um exercício que, além de ajudar muito na hora de criar dicionários e gramáticas, tem relevância direta para entender como as palavras expressam as ideias, as lendas e a história de um povo (no caso, deixa claro como os falantes das línguas latinas tinham sérias reservas quanto a esse negócio de trabalhar...). As descobertas da filologia "não trazem informações apenas sobre palavras, mas, principalmente, sobre as pessoas que as falavam", resume o filólogo britânico Tom Shippey, um dos principais estudiosos da obra de Tolkien, hoje aposentado depois de lecionar em Oxford e nos EUA.
As pesquisas filológicas, que ganharam enorme impulso ao longo do século 19, também permitiram outro tipo de arqueologia: a compreensão cada vez mais precisa de línguas e literaturas muito antigas ou praticamente "perdidas". E aí é que o bicho pegou para Tolkien. Explica-se: graças às técnicas filológicas, que incluem, por exemplo, a comparação de palavras em vários idiomas aparentados e a compreensão de como os sons das palavras tendem a mudar, textos antes difíceis, obscuros ou mesmo ilegíveis passaram a ficar mais claros. Isso lançou luz sobre narrativas antigas que contêm passagens quase impenetráveis para olhos modernos: a Bíblia, os épicos de Homero e - o mais crucial para Tolkien- a literatura medieval do norte da Europa. Ele descobriu esses textos - escritos em línguas como finlandês, islandês antigo, inglês antigo, galês e gótico - entre o fim do que hoje chamaríamos de ensino médio e o começo da faculdade. Acabou levando nota baixa nas disciplinas que cursava originalmente em Oxford (seu objetivo inicial era se especializar em latim e grego) por causa de seu fascínio por essas histórias estreladas por guerreiros orgulhosos, mulheres "belas como elfas", anões vingativos e, de vez em quando, algum dragão e seu tesouro.
Parece familiar, não é? A questão é que a principal característica dessas narrativas medievais que inspiraram Tolkien é o fato de pouquíssimas delas terem sobrevivido, para começo de conversa. No caso da Inglaterra do começo da Idade Média, a história é particularmente séria. Há um único grande poema épico que chegou até nós - Beowulf, a saga de um guerreiro que enfrenta ogros assassinos e um dragão. E só. Enquanto na Islândia algumas histórias ainda falavam sobre deuses (como Odin e Thor) e criaturas sobrenaturais, nada disso ficou preservado em inglês antigo.
Isso acabou deixando em Tolkien uma sensação terrível de vazio cultural, como ele explicou numa carta que enviou a um editor para tentar emplacar um de seus livros. "Desde meus primeiros dias, eu me entristecia com a pobreza de meu próprio e adorado país: ele não tinha histórias suas (ligadas à sua língua e ao seu solo), não da qualidade que eu buscava e achava (como um ingrediente) em lendas de outras terras. Havia lendas gregas e célticas, latinas, germânicas, escandinavas e finlandesas; mas nada inglês, exceto coisas empobrecidas de livros de segunda mão", escreveu ele.
Talvez você esteja se perguntando: e as histórias do rei Arthur e da Távola Redonda, não contam? "Sua naturalização [como lendas inglesas] é imperfeita", argumentou Tolkien. De fato, as lendas arturianas provavelmente tiveram seus começos entre populações celtas, que falavam galês, e que celebravam justamente a luta desses moradores nativos da Grã-Bretanha contra os anglo-saxões - invasores vindos do norte da Alemanha que, na vida real, conquistaram a Grã Bretanha e se tornaram os ancestrais dos ingleses modernos.
Pior ainda, quem realmente popularizou as histórias do rei Arthur foram escritores medievais franceses. E, ao que tudo indica, foi justamente a influência cultural da França que acabou soterrando as lendas e a literatura dos anglo-saxões depois do ano de 1066, quando Guilherme, o Conquistador - duque da Normandia, no norte da França - invadiu e subjugou a Inglaterra. Durante os 300 anos seguintes, a língua e a cultura da elite do país ficaram totalmente afrancesadas, e a memória da cultura anglo-saxã desapareceu - a ponto de até pouco tempo atrás haver dúvidas sobre se houve mesmo uma culturaanglo-saxã na ilha.
Mas Tolkien e outros filólogos da época tinham convicção de que, sim, ela existiu um dia, até porque Beowulf e os outros poucos poemas anteriores a 1066 continham breves alusões a personagens e histórias que apareciam em textos da Alemanha e da Escandinávia. Em seu livro The Road to Middle-earth ("A Estrada para a Terra-média", sem versão em português), Tom Shippey argumenta que a ficção de Tolkien é, em grande medida, uma tentativa de reconstruir esses cacos num conjunto bem organizado, que fizesse sentido e contasse uma grande história mitológica. De fato, é o que o filólogo-escritor parece ter feito, começando com a criação do mundo, no conjunto de textos publicado com o título de O Silmarillion após a morte dele. O perfeccionista Tolkien nunca conseguiu concluí-lo da maneira que desejaria em vida, mas não há dúvidas sobre as intenções do autor para a obra. A principal característica do majestoso mito da criação que inicia o livro é a tentativa de casar figuras parecidas com deuses pagãos com a ideia de que existiria um único Deus com D maiúsculo.
Esse Deus, Eru Ilúvatar, teria criado primeiramente um grupo de seres semelhantes aos anjos bíblicos, mas com um papel bem mais ativo: seriam os responsáveis por colocar em prática o plano divino para o Universo e por governar a Terra em nome do Criador. É claro que o poder acabaria subindo à cabeça de um desses "vices" cósmicos, que se rebela contra Deus. Trata-se de Melkor, a versão tolkieniana do Diabo. Essa figura satânica foi o mestre de Sauron, o vilão de O Senhor dos Anéis. A partir dessa cena inicial, o escopo grandioso da obra se mantém. Um dos motivos pelos quais a saga supera em complexidade todas as demais mitologias é justamente a maneira como autor arquitetou todo o processo de transmissão dessas histórias de uma geração para outra.
O primeiro truque que o filólogo empregou para isso parece loucura: fingir que ele não escreveu os livros, só os traduziu a partir de manuscritos antigos. O Senhor dos Anéis e O Hobbit seriam, pela lógica tolkieniana, apenas a tradução do "Livro Vermelho do Marco Ocidental", manuscrito que reuniria as memórias dos hobbits Bilbo, Frodo e Sam - J.R.R. realmente afirma isso nos prólogos e apêndices dos livros. E a coisa vai mais longe.
Tolkien sabia muito bem como os manuscritos medievais do mundo real englobam várias versões diferentes do mesmo livro, incluindo coisas como erros de ortografia, modificações feitas de propósito pelos escribas, anotações feitas nas margens etc. O escritor tirou partido desses detalhes para resolver uma pequena inconsistência entre O Hobbit, publicado em 1937, e O Senhor dos Anéis, cujo volume 1 saiu em 1954. É que, na primeira edição de O Hobbit, o personagem Gollum - aquele que chama o Anel de "meu Preciosssso" - até que era um sujeito gente fina. Quando propõe ao hobbit Bilbo um duelo de adivinhações, Gollum não só aposta de bom grado o Anel como prêmio pela vitória na disputa como, ao ser derrotado, aceita sem problemas. E até pede desculpas a Bilbo por não poder dar ao hobbit o Anel prometido (Gollum não sabe que, num lance de sorte, Bilbo já tinha pegado o objeto). "Nem sei quantas vezes Gollum implorou o perdão de Bilbo", escreve o narrador do livro. "Ele não parava de dizer: `Sssentimosss muito; nóss não queríamosss trapacear, queríamosss dar a ele nosssso único presente, se ele ganhasssse a competição¿. Ele até se ofereceu para pegar para Bilbo uns peixes suculentos como consolação."
Parece uma maluquice perto do Gollum sombrio dos filmes. É que, nessa versão da história, o Anel era só um artefato mágico - Tolkien ainda não havia decidido que o objeto era o "Um Anel" todo-poderoso do demoníaco Sauron. As edições posteriores de O Hobbit retratam um Gollum torturado pela posse do Anel.
Mas como conciliar as duas versões da história? Fácil: no prólogo de O Senhor dos Anéis, Tolkien diz que havia variantes do manuscrito escrito por Bilbo. Algumas cópias preservavam a versão "boazinha" da história - que o hobbit, já influenciado pelo Anel, inventou para afirmar que Gollum teria lhe dado o artefato de livre vontade. É o tipo de manipulação ideológica responsável, no mundo real, por versões alteradas de textos da Bíblia, por exemplo.
Outro fator importantíssimo para a ilusão de que os textos da Terra-média são uma mitologia "de verdade", com milhares de anos, e não a criação de um autor único ao longo de algumas décadas, é a maneira cuidadosa como Tolkien reciclava as próprias histórias. O que acontece é que as narrativas mais importantes de sua mitologia possuíam inúmeras versões: algumas mais curtas, outras mais longas, às vezes em prosa, outras vezes na forma de poesia (com centenas de versos). É um processo comum no caso de mitos reais, que eram transmitidos de geração em geração pela tradição oral e acabavam assumindo as formas mais diversas.
Graças a essa gigantesca massa de textos, Tolkien conseguia realizar truques como a citação, em meio à narrativa em prosa de O Senhor dos Anéis, de um "antigo" poema da época de O Silmarillion. Com isso, o leitor acaba tendo a impressão, mesmo que inconscientemente, de que existe uma tradição cultural gigantesca por trás de tudo.
E, claro, nenhum outro autor foi tão longe na viagem mental de criar idiomas para seu mundo fictício. A originalidade dele nesse quesito envolveu, mais uma vez, o rigor da filologia. Em vez de simplesmente inventar o vocabulário e a gramática das cerca de dez línguas de seu mundo, ele começava com um idioma ancestral (o equivalente do latim para o português, o espanhol, o francês e o italiano, digamos) e ia derivando as diversas "línguas-filhas", seguindo regras de mudanças nos sons das palavras já conhecidas no caso de famílias linguísticas de verdade. Um trabalho hercúleo. E único, como define o professor de língua inglesa Michael Drout, do Centro de Estudos Medievais do Wheaton College, nos EUA: "Todas essas qualidades são ímpares, seja entre autores de fantasia, seja em qualquer outro tipo de literatura".
O HOBBIT (LANÇADO EM 1937)
Um grupo de 13 anões liderados por Thorin Escudo-de-Carvalho, herdeiro do reino anão da Montanha Solitária, está em busca de um especialista para invadir o interior da montanha, que fora dominada pelo dragão Smaug. Então convocam o hobbit Bilbo Bolseiro, um sujeito caseiro e nada aventuresco, que acaba sendo arrastado para um mundo de monstros, batalhas e um anel mágico.
A SOCIEDADE DO ANEL (1954)
Na primeira parte de O Senhor dos Anéis, Bilbo e seu herdeiro, Frodo, descobrem que o anel de O Hobbit na verdade é o "Um Anel", no qual foi depositada a maior parte do poder de Sauron, o segundo Senhor do Escuro. O herói Frodo forma a Sociedade do Anel, com seus amigos hobbits e o mago Gandalf, entre outros, para destruir o objeto.
AS DUAS TORRES (1954)
A Sociedade do Anel é atacada por orcs e se separa. Enquanto Frodo parte para tentar destruir o Anel, os outros hobbits do grupo são capturados. Gandalf, o humano Aragorn, o elfo Legolas e o anão Gimli precisam estimular a resistência contra as forças de Sauron. No caminho para os domínios do vilão, Frodo e Sam encontram Gollum, o antigo dono do Anel em O Hobbit, que quer recuperar o artefato.
O RETORNO DO REI (1955)
Na conclusão de O Senhor dos Anéis, os exércitos de Sauron lançam ataques contra as últimas fortalezas da Terra-média que ainda impedem o triunfo do vilão. Aragorn tenta desesperadamente deter a maré da guerra e ganhar tempo para que Frodo e Sam finalmente destruam o Um Anel e aniquilem o poder do Senhor do Escuro de uma vez por todas.
AS AVENTURAS DE TOM BOMBADIL (1962)
Coleção de poemas, alguns já publicados em O Senhor dos Anéis. Dois deles versam sobre Tom Bombadil, misterioso personagem imortal que ajudou os hobbits a sair de sérios apuros na Saga do Anel. Outros poemas falam de monstros míticos ou têm uma pegada existencial. Na introdução, Tolkienafirma que os textos representam uma espécie de cancioneiro popular dos hobbits, editado anos depois dos eventos de O Senhor dos Anéis.
O SILMARILLION (1977)
Conta a criação do mundo de Tolkien e as origens de criaturas como elfos, anões e humanos. A parte principal versa sobre as guerras entre os elfos e o primeiro Senhor do Escuro, Morgoth, na disputa pela posse das Silmarils, joias criadas pelo maior artesão élfico. Também fala sobre a ascensão e queda da ilha de Númenor, a Atlântida de Tolkien, e resume a trama da Saga do Anel sob a perspectiva dos elfos.
O PANTEÃO DE TOLKIEN
HOBBITS
No universo de Tolkien, são um ramo da "raça dos homens", mas com a metade da altura e pés peludos. Gostam da vida simples e bucólica, cultivando a terra e vivendo em tocas.
OS VALAR E OS MAIAR
São espíritos que assumiram forma semelhante à humana para governar o Universo em nome do Criador. Seu rei é Manwë, senhor dos ares.
ELFOS
São a mais antiga das duas raças de seres inteligentes. Imortais, belos e sábios, estão destinados a ceder lugar aos mortais ao longo da história da Terra-média.
HOMENS
Nessa mitologia, os humanos são os "irmãos mais novos" dos elfos. Sua mortalidade é considerada um presente do Criador, e não um castigo.
ANÕES
Criados por Aulë, o ferreiro dos Valar, eles foram "adotados" pelo Criador. Fascinados por pedras preciosas, são atarracados e barbudos (mesmo as mulheres).
ENTS
Os "Pastores das Árvores" são gigantes que guardam as florestas da Terra-média. Extremamente lentos e longevos, estão entre os seres mais antigos do mundo.
ÁGUIAS
Criaturas a serviço do rei dos Valar, Manwë, elas são inteligentes e acompanham do alto o que acontece na Terra-média. Em momentos cruciais, ajudam os bons.
MELKOR / MORGOTH
Originalmente o mais poderoso dos Valar, rebelou-se contra o Criador, consumido pelo desejo de dominar a Terra. Seu apelido, "Morgoth", quer dizer "o Inimigo Escuro".
SAURON
É o vilão de O Senhor dos Anéis. Originalmente um servo de Morgoth, acabou assumindo o papel de seu antigo mestre depois que ele foi derrotado.
DRAGÕES
São resultados de "experimentos" de Morgoth, que colocou espíritos sombrios em corpos de répteis, para servi-lo.
BALROGS
São servos de Morgoth que assumiram formas demoníacas, tornando-se um dos monstros mais temíveis do séquito do Senhor do Escuro.
TROLLS
Foram criados a partir de rochas por Morgoth. Os primeiros trolls eram lentos, estúpidos, mas extremamente ferozes e destrutivos.
ORCS
Essas criaturas horrendas, usadas como soldados de Morgoth e Sauron, surgiram a partir de elfos torturados e desfigurados nos primórdios da Terra-média.
Para saber mais
Languages, Myths and History
Elizabeth Solopova, North Landing Books, 2009
Fonte: Revista Superinteressante, dez./2012
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Rogério Rocha
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sexta-feira, 26 de outubro de 2012
Viver para contar. E combater.
Graciliano Ramos (1892-1953) era um homem de poucas intimidades. Fechado, sisudo e desconfiado, o autor de Vidas Secas concedeu poucas, raras entrevistas sobre sua vida
e sua obra. Dizia não ter nada de interessante a dizer. E reservava
suas impressões quase sempre amargas sobre o mundo em artigos e livros
como Infância e Memórias do Cárcere, obras de referência na prosa brasileira.
“Homem de poucas palavras, Graciliano é um problema para o repórter
que se propõe a biografá-lo. O autor de São Bernardo nada tem de
expansivo. Ainda que amabilíssimo, escolhe-se todo diante do jornalista.
Tem medo, penso eu, de parecer herói a fornecer dados para a
posteridade”, escreveu o jornalista Francisco de Assis Barbosa em seu
livro Achados ao Vento. Barbosa foi um dos poucos repórteres a
quebrar a resistência de Graciliano, numa entrevista arrancada em 1942
em que o autor, então com 50 anos, aceitou falar sobre o processo de
criação literária.
Essa resistência seria quebrada outras (raras) vezes graças na base
da teimosia e da insistência por nomes como Joel Silveira, Newton
Rodrigues e Homero Senna. Analisadas hoje, as reportagens se
transformaram em documentos históricos que jogam luz sobre a
personalidade de uma das mais refratárias figuras da literatura
nacional. A importância desses encontros levou o jornalista e escritor Dênis de Moraes a introduzir essas raras entrevistas na nova edição de O Velho Graça (Boitempo
Editorial), a principal biografia sobre o autor que é relançada na
esteira das comemorações pelos 120 anos do nascimento
de Graciliano Ramos.
Nessas entrevistas Graciliano analisa os chamados romances sociais, o papel do escritor na sociedade, a relação entre arte e ideologia, fala sobre sua vida no Nordeste e sobre a sua vida política. E se queixava da repercussão de seus livros, como fez a Newton Rodrigues em 1944: “Acho que as massas, as camadas populares, não foram atingidas e que nossos escritores só alcançaram o pequeno-burguês. Por quê? Porque a massa é muito nebulosa, é difícil interpretá-la, saber do que ela gosta. Os escritores, se não são classe, estão em uma classe que não é, evidentemente, a operária”.
Mal sabia o autor que, 120 anos após seu nascimento, se tornaria leitura obrigatória em qualquer escola de qualquer cidade do País.
Para o biógrafo, a introdução dessas entrevistas no texto original,
publicado pela primeira vez em 1992, ajudou a clarear ainda um lado
pouco conhecido do escritor, menos sisudo e mais amigável, como é
descrito por familiares e amigos que conviveram com ele até o fim da
vida, quando trabalhava em três turnos para sobreviver: de manhã,
escrevendo livros e artigos, à tarde, como inspetor federal de ensino no
Rio de Janeiro, e, à noite, como redator do jornal Correio da Manhã.
“No fim da vida, Graciliano havia se tornado uma referência
importante para os jovens jornalistas. Ele conversava muito com os
jovens, deixava suas impressões sobre os textos, e isso produzia um
encantamento naquela geração. Esse lado do Graciliano aparecia ainda de
forma tímida na descrição de um homem quase sempre avesso e
desconfiado”.
Quebrar esta imagem de sertanejo retraído e avançar nas memórias
legadas pelo autor, afirma Dênis de Moraes, foi um duplo desafio. Parte
desse resgate aconteceu graças às entrevistas feita à época com amigos,
filhos e a viúva, dona Heloísa, a quem a quarta edição é dedicada. Hoje a
maioria das fontes
está morta. E o relançamento da obra, diz o autor, ajuda a tirar o
livro do confinamento, já que estava esgotado havia anos (a última
edição é de 2003) e era encontrado praticamente apenas em bibliotecas.
É a chance de os novos e futuros leitores conhecerem mais de perto
uma história tão grandiosa quanto a própria obra. Graciliano, hoje tema
de celebrações pelo País – inclusive da próxima Flip, a Feira Literária
de Paraty, quando são lembrados os 60 anos de sua morte – deixou não
apenas livros de referência, mas um histórico de conduta e coerência
admirável para os padrões atuais. No livro, por exemplo, sabe-se que,
enquanto os escritores da primeira geração modernista colhiam os louros
da Semana de 1922, Graciliano ajudava os moradores de sua cidade,
Palmeira dos Índios, a combater o temido bando de Lampião. Como figura
pública, Graciliano legaria também lições que não cabiam nos livros,
como quando foi eleito prefeito (após o assassinato do antecessor),
enquadrou os coronéis locais, deu fim a regalias e promoveu um mutirão
para limpar as ruas das cidades, tomadas por animais criados ao ar
livre. As medidas atingiram até mesmo seu pai, Sebastião, o temido
negociante descrito em Infância que o açoitara num dia em que
não encontrara um cinturão – e que, ao pedir clemência, ouviu: “O senhor
me desculpe, mas prefeito não tem pai”.
Os relatórios sobre sua gestão na prefeitura, sempre escritos em
linguagem coloquial e tomados por ironias, eram objeto de admiração por
Alagoas, ressoaram no Rio de Janeiro e chegaram às mãos de um certo
Augusto Frederico Schmidt, famoso poeta e editor, que se apresentara em
carta ao então prefeito perguntando se o autor daqueles relatórios não
teria na gaveta algum romance que valesse ser publicado. Graciliano
tinha: Caetés, livro que seria renegado pelo autor até o fim de
sua vida. “Esta desgraça das Alagoas”, era como se referia, nas
dedicatórias, ao romance de estreia.
Para Dênis de Moraes, este lado do escritor, que gostava de causar
choque no interlocutor, era apenas “tipo”. Um tipo capaz de dizer que
Machado de Assis era apenas um autor menor “metido a inglês” e, na frase
seguinte, se render ao autor de Dom Casmurro. Ou de dizer em
carta a um amigo, sem meias palavras, que os filhos andavam bem, o mais
velho até já lia manchetes de jornais, mas que o mais novo era de uma
“ignorância assustadora”. Ou quando, já consagrado, repreendia o filho
Ricardo simplesmente por pinçar num texto a palavra “algo”, “um crime
confesso de imprecisão”, nos termos do autor.
Este humor amargo acompanharia Graciliano até o fim da vida,
inclusive nas passagens mais dolorosas, quando nos anos 1930 é vítima de
uma verdadeira caça aos comunistas promovida por Getúlio Vergas – isso
antes mesmo do Estado Novo e muito antes de o autor entrar,
oficialmente, para o Partido Comunista Brasileiro. Os motivos da
traumática prisão, com passagem pela desumana Ilha Grande, no Rio de
Janeiro, são até hoje um dos mistérios a envolver a biografia do autor.
Na nova edição, Dênis de Moraes introduziu duas referências a Getúlio
Vargas que ajudam a entender o período histórico ainda mal digerido. Uma
delas é uma carta ao ditador escrita em 1938 por Graciliano e jamais
entregue ao seu algoz. Nela, ele faz uma espécie de acerto de contas:
“Ignoro as razões por que me tornei indesejável na minha terra. Acho,
porém, que lá cometi um erro: encontrei 20 mil crianças nas escolas e em
três anos coloquei nelas 50 mil, o que produziu celeuma. Os professores
ficaram descontentes, creio eu. E o pior é que se matricularam nos
grupos da capital muitos negrinhos. Não sei bem se pratiquei outras
iniquidades. É possível.”
Era uma referência ao curto período em que atuou como Diretor de
Instrução Pública em Alagoas, espécie de Secretaria da Educação na
época. O Graciliano homem público descrito por Moraes é um sujeito
combativo, inconformado com a situação encontrada em seu estado, como
quando visita uma escola em Maceió e descobre que lá não havia alunos.
Os motivos: não era possível frequentar as aulas com fome, sem uniforme
nem sapatos. “Ele manda comprar a merenda, vai na loja de tecido, sem
dinheiro e sem orçamento, compra os metros do tecido, corta (porque ele
trabalhava com comércio e sabia como cortar), e manda as costureiras
fazer o uniforme para os alunos. E depois vai para a sapataria e
encomenda os pares de sapato, manda entregar ao colégio e o colégio
reabre”, relembra Moraes.
O outro acerto de contas é o encontro entre Graciliano e Getúlio
Vargas descrito ao biógrafo pelo jornalista e escritor Antonio Carlos
Vilaça, introduzido agora na nova edição. Segundo o relato, Graciliano
se encontrou com o ditador durante um passeio noturno pela praia do
Flamengo. Diferentemente de Fabiano, o sertanejo de Vidas Secas
que reencontra o Soldado Amarelo e perde a chance de se vingar por ter
sido, pouco antes, trapaceado no jogo, o escritor é cumprimentado pelo
presidente e dá, ao seu jeito, a sua resposta. Graciliano se nega a
devolver o cumprimento. Para Dênis de Moraes, a passagem ajuda a quebra
uma certa animosidade sobre o autor que, ao fim da vida, era criticado
por ter trabalhado como inspetor federal do governo Vargas – cargo para o
qual foi indicado pelo amigo Carlos Drummond de Andrade e que exerceu
com dignidade até o fim da vida, segundo o autor – e por ter colaborado
com a revista Cultura Política, produzida pelo Estado Novo, mesmo após a
sua prisão. “Se ele fosse um homem de certezas fúteis, ele teria se
aproveitado do encontro pra se aproximar de Getúlio. Mas passa
direto. Esse episódio, como atesta Villaça, é prova da dignidade e
coerência dele”, diz Moraes.
Coerência que seria observada também em outra faceta de Graciliano,
quando ele passa a militar no Partido Comunista. O livro descreve
Graciliano como um admirador contido, obediente mas crítico da
experiência soviética (ele morreria antes de conhecer o relatório
Kruschev, quando são descritos os crimes da ditadura Stálin). No
partido, Graciliano sofreria pressões para fazer da literatura um
panfleto, algo que sempre recusou. E causou constrangimento durante uma
viagem com correligionários à União Soviética, quando não mediu palavras
para contestar a ausência de Tolstói na galeria dos grandes escritores
russos.
Observada hoje, essa coerência, somada à postura combativa, serve
como guia a quem quiser atravessar um período histórico sem abrir mão
das convicções, seja como homem público, como militante, como
intelectual engajado ou pretenso literato. Nada disso seria necessário
para que o Graciliano autor fosse alçado à prateleira dos grandes nomes
nacionais. Sua obra bastaria. Mas não para ele. Porque, para escrever
era preciso fazer como as lavadeiras de Alagoas, “que começam com uma
primeira lavada, molham a roupa suja na beira da lagoa ou do riacho,
torcer o pano, molham-no novamente, voltam a torcer, colocam o anil,
ensaboam e torcem uma, duas vezes”. “Depois enxáguam, dão mais uma
molhada, agora jogando a água com a mão. Batem o pano na laje ou na
pedra limpa, e dão mais uma torcida e mais outra, torcem até pingar não
pingar do pano uma só gota. (…) Pois quem se mete a escrever devia fazer
a mesma coisa. A palavra não foi feita para enfeitar. A palavra foi
feita para dizer”. Para Graciliano, “dizer” ou viver não eram escolhas,
mas partes de uma mesma ação: a ação transformadora de seu tempo. Num
país em que pensar é quase uma provocação, nada poderia ser mais
subversivo.
Serviço:
O velho Graça - uma biografia de Graciliano Ramos
Autor: Dênis de Moraes
Orelha: Alfredo Bosi
Quarta capa: Wander Melo Miranda
Páginas: 360
ISBN: 978-85-7559-292-2
Preço: R$ 52,00
Fonte: Carta Capital
Postado por
Rogério Rocha
às
17:05
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segunda-feira, 3 de setembro de 2012
A máquina de escrever
Com uma equipe de coautores, James Patterson publica 14 livros por ano e se tornou o escritor mais bem pago do mundo
DANILO VENTICINQUE
Tornar-se um escritor bem-sucedido era uma ambição distante para o americano James Patterson em 1976, quando lançou seu primeiro romance. Aos 29 anos, ele trabalhava como redator publicitário e escrevia histórias de suspense nas horas vagas. Os 10 mil exemplares vendidos em sua estreia não foram o bastante para torná-lo um best-seller, mas o animaram a continuar investindo no passatempo literário, sem grandes pretensões. Nos 15 anos seguintes, publicou seis livros com relativo sucesso. Uma marca respeitável para um amador, mas longe de chamar a atenção do mercado literário. Foi só aos 43 anos, quando seu célebre detetive Alex Cross levou-o pela primeira vez às listas de mais vendidos, que Patterson decidiu se dedicar em tempo integral à literatura. Desde então, seu sucesso e sua produtividade têm assombrado o mundo das letras. Seus 102 livros venderam mais de 220 milhões de exemplares e o levaram 63 vezes à respeitada lista de mais vendidos do The New York Times – um recorde na história do jornal. Em 2011, Patterson bateu sua marca pessoal de produtividade ao publicar 14 livros. Foi o bastante para torná-lo o escritor mais bem pago do mundo, de acordo com a lista publicada pela revista americana Forbes. Com um acréscimo de US$ 94 milhões a sua fortuna apenas neste ano, ele aparece bem à frente de nomes como Stephen King, John Grisham e J.K. Rowling.
Enquanto a maioria dos autores de sucesso constrói sua fortuna com um punhado de grandes sucessos, atribuídos à sorte ou à inspiração sobre-humana, Patterson transformou a escrita numa atividade quase industrial. “Escrever best-sellers deixou de ser um desafio para mim”, disse ele a ÉPOCA, num dos intervalos de sua pesada rotina de trabalho. Aos 65 anos, ele dedica mais de dez horas por dia a seus textos. Ao contrário do francês Honoré de Balzac (1799-1850), cuja produtividade costuma ser explicada pelo consumo de inúmeras xícaras de café que o ajudavam a suportar longas madrugadas de trabalho, Patterson prefere as manhãs. A rotina de sua casa em Palm Beach, na Flórida, é conhecida por todos os vizinhos: ele acorda todos os dias às 5 horas e escreve até as 7h30. Joga golfe por uma hora, volta a escrever e interrompe o trabalho ao meio-dia, para almoçar com sua mulher. Dorme por meia hora e em seguida volta ao escritório, de onde só sai às 19 horas. “Aproveito a noite para brincar com meu filho (Jack, de 13 anos). Todos vamos dormir cedo, e na manhã seguinte estou de pé às 5 horas de novo”, diz.
Mesmo essa dura rotina de trabalho não explica como ele é capaz de publicar mais de um livro por mês. Para chegar a esse recorde, como um dos autores mais prolíficos de sua geração, Patterson recorreu ao célebre método do francês Alexandre Dumas (1802-1870), autor de mais de 100 mil páginas em sua carreira literária. O segredo? Mais que um autor, Dumas era o líder de uma equipe de escritores que produziam histórias sob sua supervisão. Patterson é um dos poucos autores de best-sellers que admitem trabalhar com coautores, embora suspeite-se que a prática seja mais difundida. (A americana Nora Roberts, de 61 anos, é um dos alvos mais frequentes da acusação. Ela afirma ter escrito cada palavra de seus 218 livros.) Em vez de negar a terceirização criativa, Patterson a defende. “Sou um grande fã do trabalho em equipe. A maioria dos roteiros para televisão e cinema é escrita por equipes. As pessoas pensam que isso é incomum, mas boa parte da ficção que consomem é feita por dois ou mais autores”, afirma.
Patterson diz não saber exatamente quantos coautores o auxiliam atualmente – “Seis ou sete, eu acho”. Ele costuma recrutar publicitários que se dedicam à literatura nas horas vagas ou aspirantes a escritor que não tiveram sua sorte. Todos trabalham seguindo a mesma rotina. Depois de discutir a ideia do livro com o coautor, Patterson escreve uma sinopse detalhada, que pode ter de 50 a 80 páginas. Com a sinopse em mãos, cabe ao funcionário a tarefa de escrever a primeira versão da história. O rascunho é entregue de volta a Patterson, que reescreve alguns trechos e encaminha o texto a um de seus editores. O processo todo leva de oito a dez meses. Para manter o ritmo intenso de lançamentos, Patterson e sua equipe chegam a trabalhar em 20 romances simultaneamente.
Embora seu método de trabalho seja alvo frequente de ataques de acadêmicos e de outros escritores zelosos das tradições do ofício – eles o acusam de transformar a criação literária em processo industrial –, Patterson diz não se incomodar com as críticas. “Não poderia me importar menos com o que dizem sobre mim. Só me preocupo em escrever minhas histórias. Há milhões de pessoas esperando por elas”, afirma. Segundo ele, a ajuda de outros escritores melhora seu estilo, em vez de descaracterizá-lo. “Sou um bom contador de histórias, e meus co-autores costumam ter um texto literário mais refinado. Juntos, conseguimos entregar um livro melhor para nossos leitores.”
Para o romancista americano David Ellis, um dos mais novos membros da equipe de Patterson, a preocupação em satisfazer o leitor é o segredo do sucesso do patrão. “Mais do que um homem de negócios, James é um grande entusiasta dos livros”, escreveu Ellis em seu blog. “Os leitores gostam de entretenimento, e é isso que James oferece a eles. Quando o leitor abre um livro dele, sabe que verá faíscas.” A promessa costuma ser cumprida. Com capítulos curtos e cheios de diálogos, os livros de Patterson podem não impressionar pela qualidade literária, mas são repletos de reviravoltas e cenas sangrentas de ação. Cumprem com perfeição a meta de deixar o leitor ansioso pela próxima página – e pelo próximo livro, que não tarda a chegar.
Com a popularização dos e-books, algumas editoras passaram a pedir que seus autores escrevam ao menos um livro por ano, para cativar o público. “Minha editora nunca terá esse problema”, diz Patterson. “Gosto de escrever muito, e eles gostam de ganhar dinheiro.” Seu método de trabalho parece ter sido talhado para um tempo em que romances são produtos comprados por impulso. E sua consagração como escritor mais bem pago do mundo (ao menos neste ano) pode fazer com que outros o vejam como exemplo a imitar, não como banalizador da ficção.
Os campeões da produtividade
Quem são os escritores de sucesso que mais produziram livros por ano de vida
quarta-feira, 1 de agosto de 2012
Amigos e fãs velam o escritor Gore Vidal
Gore Vidal (* 3/10/1925 + 31/07/2012) |
Por Patricia Reaney e Alice Baghdjian
NOVA YORK/LONDRES, 1 Ago (Reuters) - Amigos e fãs do mundo todo homenagearam nesta quarta-feira o escritor Gore Vidal, gigante literário norte-americano morto aos 86 anos.
Em seus romances, peças e ensaios, Vidal foi um mordaz observador da política, do sexo e da cultura nos EUA, tornando-se um dos mais conhecidos autores da sua geração. Ele morreu na terça-feira em sua casa, em Los Angeles, por complicações de uma pneumonia.
"Gore Vidal foi o último gigante sobrevivente da safra de gigantes literários norte-americanos do pós-Guerra", disse Gerald Howard, diretor-executivo e vice-presidente da Doubleday, que foi por mais de uma década o editor de Gore.
"Ele também era um dos raros escritores norte-americanos que falavam não só com os seus compatriotas, mas com o mundo todo, que ouvia atentamente o que ele tinha a dizer. Ele não poderá ser substituído, e com certeza fará falta. O mundo acaba de se tornar um lugar mais burro."
Michael Coffey, codiretor editorial da revista setorial Publisher's Weekly, descreveu Vidal como um autor prolífico e um narrador divertido. "Apesar de toda a sua produtividade, ele foi capaz de entrar na arena pública e comentar sobre política e cultura de uma forma muito lúcida e divertida", afirmou Coffey em entrevista.
Graydon Carter, editor da Vanity Fair, disse que editar os textos de Gore foi uma das maiores alegrias da sua carreira. "Concorde-se ou não com ele, você sempre tinha de admitir que ele transmitia sua posição com a máxima elegância."
Para Jeffrey Richards, produtor da remontagem na Broadway da peça "The Best Man", de Vidal, o autor foi simplesmente "um original". "Ele escrevia romances, ensaios, peças, telepeças e filmes com graça, distinção, estilo, inteligência e sabedoria. Sem falar que era um mestre em contar histórias, um ator talentoso, um brilhante instigador e um imitador travessamente dotado. Por sua contribuição à cultura norte-americana, sempre seremos devedores dele."
O escritor Michael Kammen, escritor premiado com o Pulitzer e professor-emérito de História e Cultura Americana na Universidade Cornell, disse que Vidal era "um intelecto brilhante, um estilista soberbo, e um fofoqueiro fabuloso".
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terça-feira, 17 de julho de 2012
Na estrada com Jack Kerouac
Filme e livro sobre a obra do escritor americano lançam nova luz sobre o fundador do movimento beat e um dos autores mais influentes do século passado
Ivan ClaudioSEM DESTINO
Sam Riley e Garrett Hedlund em "Na Estrada": viagem aos
confins dos EUA como gesto de rebeldia e autoconhecimento
Essa é apenas uma das muitas lendas que envolvem a criação do livro “On the Road”, a bíblia da geração que colocou os pés na estrada a partir dos anos 1950, e de seu autor, o “rei dos beatniks” Jack Kerouac (1922-1969). Tendo à frente o romance finalmente publicado após uma década de visitas a editoras, o escritor senta-se diante da máquina de escrever e redige uma longa carta com a mesma velocidade com que datilografara os 36 metros de rolo de papel que originaram sua obra mítica. O destinatário: Marlon Brando. “Estou rezando para que você compre ‘On the Road’ e faça dele um filme. Eu visualizo os planos magníficos que poderiam ser feitos com a câmera no banco da frente do carro mostrando a estrada através do para-brisa enquanto Sal e Dean jogam conversa fora.” Sal é Sal Paradise, seu alter ego nesse enredo à deriva em que dois amigos viajam de carro pelos EUA numa aventura regada a jazz, sexo, drogas e busca do autoconhecimento. Dean é Dean Moriarty, o seu parceiro de estrada, inspirado no ex-ladrão de carros e vagabundo com pretensões literárias Neal Cassidy. A ideia de Kerouac era que Brando interpretasse Dean e ele próprio, Sal. “Vamos lá, Marlon, arregace as mangas e responda”, termina a carta. O ator nunca lhe respondeu e, desde 1957, ano da correspondência, tentava-se levar para as telas esse clássico da contracultura que ainda faz a cabeça de jovens de sucessivas gerações. Eis alguns nomes: Francis Ford Coppola, Jean-Luc Godard, Joe Schumacher, Gus Van Sant. Quem conseguiu o feito foi justamente um brasileiro, Walter Salles, que lança o filme no País no dia 13. Antes, já nessa semana, chega às livrarias “Na Estrada com Jack Kerouac”, número especial da revista “Select”, feita em parceria com a publicação francesa “Trois Couleurs”. O dossiê de 194 páginas reúne um vasto material sobre o escritor, a gênese de sua obra cultuada e a realização do filme, que consumiu oito anos.
MITO
A obra de Kerouac é analisada sob diferentes
ângulos no livro "Na Estrada com Jack Kerouac"
Um dos raros documentos mostrados na revista é justamente a carta de Kerouac a Brando, descoberta em 2005. “Conseguimos muitos outros”, afirma Elisha Karmitz, editor-chefe da “Trois Couleurs” e filho de Marin Karmitz, produtor do filme “Na Estrada” em parceria com Roman Coppola. “Um dos nossos jornalistas teve acesso aos blocos de notas de Kerouac nos quais ele listava as garotas com quem teve contato e as estradas por que passou.” Os capítulos de making of são um luxo à parte, reproduzindo croquis dos cenários acompanhados das respectivas cenas, prova de como a realização do longa-metragem foi meticulosa. “Essa foi uma das partes mais difíceis dessa aventura”, afirma Walter Salles. “Os EUA tiveram sua geografia homogeneizada. Você roda 500 km e encontra o mesmo shopping, as mesmas lojas de fast-food. É desesperador. Isso nos obrigou a ir longe, cada vez mais longe, em busca daquela última fronteira americana que os personagens do livro tentam encontrar.” Enquanto procurava locações, Walter realizou o documentário “Em Busca de On the Road” totalizando 100 horas de gravação: “Queria entender melhor Kerouac, sua trajetória de filho de imigrantes, de escritor entre culturas, a geração que ele ajudou a fundar. E também as rotas do livro, os seus personagens.” Para isso, teve contato inclusive com as pessoas reais que inspiraram o autor, caso de Carolyn Cassidy, mulher de Neal Cassidy. Conheceu também o filho de Neal, John Cassidy. “Conversamos com ele durante seis horas, bebendo, tocando músicas juntos e rememorando histórias do passado.”
Depois de seis anos de pesquisa, o cineasta rodou o longa em 69 dias, reproduzindo, de certo modo, a própria criação do romance “On The Road”. Outra lenda em torno do livro diz que ele teria sido escrito num jorro criativo em três semanas, depois de “sete anos de estrada”. Esse período de gestação da obra, entremeado à formação do grupo beatnik (que incluía o poeta Allen Ginsberg e o romancista William Burroughs), reserva os melhores textos de “Na estrada com Jack Kerouac”. O Brasil é o primeiro país a lançar a publicação, que repercute a importância do filme de Salles. “O enfoque multidirecional resultou em um belo mapeamento das influências do livro sobre áreas tão diversas quanto a literatura, a música, as artes visuais, a moda, o turismo e o comportamento de várias gerações”, afirma Paula Alzugaray, diretora de redação da “Select”.
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sábado, 7 de julho de 2012
Gabriel Garcia Márquez: o outono de um gênio
Não o vi em Praga, quando ali encontrei, em dezembro de 1968, Carlos Fuentes e Julio Cortazar. Ele, naquela noite — que foi a do AI-5 no Brasil — era convidado especial de Milan Kundera. Eles, juntamente com Jean Paul Sartre, haviam sido convidados pelos intelectuais tchecos, para assistir à premiére de Les Mouches, a peça doescritor francês.
Leio, agora, em El Pais, que seu irmão mais moço, Jaime Garcia Márquez, que vive em Cartagena de Índias, conversa com o escritor, pelo telefone, quase todos os dias. A pedido de Gabriel, fala do passado que o irmão está perdendo. O escritor transita em seu labirinto, e o tênue fio de Ariadne é a voz do irmão. Não teremos mais notícias novas do mundo fabuloso que ele criou, tendo como centro a instigante Macondo.
Gabriel está com demência senil, um dos sinônimos da doença de Alzheimer. Com a memória, ele perdeu também as letras. Não escreverá mais — de acordo com a dolorosa conclusão do irmão. Mas ainda o teremos com vida: é o consolo que nos dá Jaime Garcia Márquez. Enquanto procurar o passado, Gabriel, de um mundo que se esvazia, estará voltando ao mundo que criou.
Em Roma, em 1987, José Saramago, outro que deixou o jornalismo pela literatura, me disse que gostaria de morrer quando estivesse buscando a frase ideal para colocar na boca de um personagem estúpido: “Quando não conseguir mais isso, estará na hora de morrer”. Mas Saramago era homem de uma Europa sempre angustiada. Gabriel é homem de nossa América, e, por isso, insiste em recuperar a vida que se esmaece, porque na vida, em nossa geografia humana, sempre habita a alegria da esperança.
Fonte: Jornal do Brasil
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quarta-feira, 30 de maio de 2012
Ariano Suassuna vai representar o Brasil na disputa pelo Prêmio Nobel de Literatura de 2012
Escritor paraibano teve a indicação aprovada pela Comissão de Relações Exteriores do Senado
Ariano Suassuna vai representar o Brasil na disputa pelo Prêmio Nobel de Literatura 2012 (Divulgação/Renato Rocha Miranda/TV Globo)
O escritor Ariano Suassuna vai ser o candidato brasileiro na disputa pelo Prêmio Nobel de Literatura de 2012. O autor paraibano de obras como O Auto da Compadecida e A Pedra do Reino teve a indicação aprovada pela Comissão de Relações Exteriores do Senado.
"A vida e a obra de Ariano Suassuna contêm expressão filosófica que transpõe as limitações temporais e de gerações, atingindo todos os públicos e transportando-se pelos mais diversos e modernos meios de comunicação”, disse o senador Cássio Cunha Lima (PSDB/PB), que sugeriu o nome de Suassuna à disputa pelo prêmio.
Entre os escritores brasileiros que já foram indicados à Academia Sueca estão Jorge Amado (1967), Guimarães Rosa (1966), o poeta Jorge de Lima (1958), que não pode entrar na competição por que morreu em 1953 e o Nobel só concede prêmio a personalidades em vida, Ferreira Gullar (2002) e João Ubaldo Ribeiro (2010). Nenhum brasileiro jamais foi laureado com o prêmio.
Fonte: veja.abril.com.br
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