quinta-feira, 30 de abril de 2020
sábado, 25 de abril de 2020
quinta-feira, 23 de abril de 2020
domingo, 19 de abril de 2020
Vida de cão (As crônicas de Maurício)
Rogério Rocha (poeta, escritor, filósofo) |
No
condomínio mora muita gente. São quatro etapas com sete blocos cada.
Cada bloco com doze apartamentos, divididos em três andares. Neles,
muitas famílias: adultos, crianças, jovens, idosos e conflitos, como é
inevitável em lugares em que muitos residem.
Como não poderia deixar de ser, tem quem goste e odeie animais.
É
um lugar onde há muitos felinos, é bom dizer. Gatos, gatas e seus
filhotes criaram verdadeiras comunidades dentro da comunidade. Desse
modo, cada bloco tem lá seus dez a quinze gatos, quase plenamente
integrados ao cenário interior do conjunto.
Digo quase porque,
afora os que tem donos e vivem suas vidas mansas dentro dos
apartamentos, os que transitam no mundo exterior são alvos constantes de
moradores que os odeiam e aspiram um dia vê-los todos empalhados em
estantes, atropelados pelo carro da coleta de lixo, quem sabe até fritos
em espetinhos servidos em botecos ou simplesmente fora deste ambiente
social ocupado por humanos.
Existem, de outra parte, aqueles que
os defendem e lhes dão bom trato, cuidando de alimentá-los e
municiá-los com água potável e ração, com regularidade e em horários
britanicamente observados.
Há uns quatro anos, contudo, surgiu
por aqui um cachorro. Abandonado, adentrou a área dos blocos e passou a
dormir nos tapetes da porta de entrada de alguns prédios. A princípio
rechaçado, foi ficando, ficando... Hoje já faz parte da ambiência e
responde pelo nome de Maurício.
Foi adotado pela comunidade intramuros e alçou-se ao patamar de cão coletivo.
Não
me perguntem quem deu a ele este nome. Nome bonito, por sinal, e nome
de gente (a primeira vez que ouvi alguém chamá-lo energicamente, pensei
que fosse algum novo morador que chegara).
Sei que Maurício,
hoje alegre e faceiro, é um misto de cão sem raça definida e Labrador
Retriever; ícone das manhãs iluminadas, das tardes chuvosas e das
noitadas sonolentas. Ora a perseguir outros dogs, ora a implicar com os
gatos, correndo feito louco pelo jardim, ou a encarar os transeuntes com
seus mimos e assédios.
O cão muitas vezes age como um ator.
Em sua performance mais costumeira apresenta aquilo que poderíamos
chamar de falso ataque. Vai ao encontro de alguns moradores menos
conhecidos (sim, aqueles que a gente não vê quase nunca), rosnando e
encarando-os para, logo depois, passado o susto tremendo de quem foi
alvo de seus latidos abafados, tornar à posição inicial de cão de
guarda. Sem morder ou arranhar ninguém, senta-se ou deita-se no mesmo
posto em que estava, como se nada tivesse acontecido (para a irritação
de suas espantadas quase-vítimas).
Amado por muitos e
odiado por outros, é filho, amigo, problema, solução, companheiro,
morador, barulhento, moleque, serelepe, bagunceiro, intruso e
guarda-noturno. Um cão de todos e de ninguém. Aliás, foi assim que
chegou: como se fosse ninguém, como se um nada houvesse chegado. Como se
fora uma coisa, um ente estranho, de origem ignorada. Chegou como se
uma espaçonave vinda de Vênus o tivesse deitado ao solo durante o
silêncio puro da madrugada.
Ilustre e famoso morador do
condomínio (hoje com endereço, dono e moradia) nosso Maurício apareceu
aqui com o abandono estampado na pele, a dor na carcaça e o fel da
amargura habitando em seus olhos.
Era arredio, desconfiado,
carente. Aparentava ter sofrido muito lá por onde andou. Parecia
congregar em si, a um só tempo, angústia e necessidade. A angústia
solitária de ver-se qual ser-aí-no-mundo, em meio a hominídeos
desconfiados, insanos e atrozes. E a necessidade de tudo: afeto,
acolhimento, de uma geografia, um entorno, um fora e um dentro onde
estar.
Hoje, ajudante da segurança, monta guarda todas as noites
ao lado dos vigias dos blocos. Não recebe por isso nada mais do que sua
paga habitual: o carinho daqueles que o amam e o desprezo dos que o
detestam. Vida de cão é assim!
No mundo, eu sei, há muita gente
que se sente como Maurício: triste às vezes, feliz em outras tantas, a
correr atrás de gatos imaginários, lambendo o pelo depois de ser molhado
pela lama da poça d’água que um automóvel lhe espirrou; sem pai nem
mãe; despejado de um lar que nunca habitou, que nunca lhe pertenceu.
Essa mesma gente, penso, tem muito a aprender com a humanidade presente
na alma do nosso sofrido cão.
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Rogério Rocha
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15:36
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domingo, 12 de abril de 2020
Angra - Rebirth (acústico)
Rebirth (Angra)
Cooling breeze from the summer dayHearing echoes from your heart
Learning how to recompose the words
Let time just fly
Joyful sea-gulls roaming on the shore
Not a single note will sound
Raise my head after I dry my face
Let time just fly
Recalling, retreating
Returning, retrieving
A small talk you're missing
More clever, but older now
A leader, a learner
A lawful beginner
A lodger of lunacy
So lucid in a jungle
A helper, a sinner
A scarecrow's agonizing smile
Oh Oh! Minutes go round and round
Inside my head
Oh Oh! My chest will now explode
Falling into pieces
Rain breaks on the ground! -blood
One minute forever
A sinner regreting
My vulgar misery ends
(And I) ride the winds of a brand new day
High where mountains stand
Found my hope and pride again
Rebirth of a man
Time to fly...
Inside my head
Oh Oh! My chest will now explode
Falling into pieces
Rain breaks on the ground! -blood
One minute forever
A sinner regreting
My vulgar misery ends
(And I) ride the winds of a brand new day
High where mountains stand
Found my hope and pride again
Rebirth of a man
Time to fly...
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Rogério Rocha
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domingo, 5 de abril de 2020
MAYA ANGELOU
Recentemente, escutei algo como "os aniversários são para sempre". Não
sei quem me disse isso, se li ou ouvi, e nem o contexto. Mas quando
penso sobre hoje, aniversário de Maya Angelou, só consigo concluir que,
sim, é uma data para ser sempre celebrada.
Maya (Marguerite Annie Johnson) foi uma poeta, escritora, condutora de
bondes (a primeira negra contratada para a função), atriz, cantora,
dançarina, diretora de cinema, ativista pelos direitos dos negros, ou
seja, teve uma vida recheada de histórias - que
ela gostava de contar e repetir, e que lhe renderam 7 autobiografias,
sucessos mundiais.
Com a poesia, Maya conquistou o Pulitzer (com o livro "Apenas me dê um
copo de água gelada antes que eu morraaa) e 3 Grammy com álbuns de
poesia falada, e essa era uma relação especial porque foi através da
poesia que Maya conseguiu romper com um trauma vivido
na infância. Quando tinha 7 anos, Maya foi estuprada pelo namorado de
sua mãe. Ela compartilhou o acontecido com seu irmão, Bailey, que contou
para o resto da família - dias depois, o estuprador foi encontrado
morto. Com isso, Maya acreditou que sua voz tinha
matado aquele homem e que, portanto, poderia matar qualquer um, por
isso, parou de falar e esse mutismo durou anos, sendo quebrado pela
provocação feita por uma amiga da família, a senhora Flowers, com quem
Maya passava algumas tardes. A senhora Flowers lia
para Maya uma infinidade de poetas (Shakespeare, Dickens, Poe) que,
depois, se tornaram referências para ela.
"Maya, você não gosta de poesia… Você nunca vai gostar até que a
recite, até sentí-la rolar pela sua língua, sobre os dentes, através de
seus lábios. Você nunca vai gostar". Diante disso, 5 anos depois que decidiu parar de falar, Maya tentou recitar
um poema. Essa relação que criou com a poesia, Maya explicava como "a prova de que algo bom pode nascer de uma situação ruim".
Desse momento em diante, mesmo com diversas atividades, Maya sempre
enxergou a poesia como seu trabalho e algo de extrema importância.
Publicou 5 livros de poesia: Apenas me dê um copo de água gelada antes
que eu morraaa; Oh, reze para que minhas asas me caiam bem; E ainda
assim eu me levanto; Shaker, por que você não canta? e Eu não serei
levada, além de diversos poemas avulsos, que foram
traduzidos e publicados no Brasil, em março. Seus poemas falam sobre a
condição da mulher negra estadunidense, que ama, que viaja, que
trabalha, que tem fé, que resiste e luta - como dizia: "afiando a ponta
da caneta nas cicatrizes que existiam no seu próprio
corpo". Com a chegada desta publicação ao país, é possível, ainda, se
tratando de uma existência particular, encontrar diversas relações entre
a vida da Maya e as vidas de tantas mulheres negro-brasileiras.
Abaixo, poemas de Maya e suas traduções, um bocado de cada livro. Que
com eles, que com a vida que existe neles, possamos celebrar a
existência dessa mulher fenomenal - como ela mesma se enxergava.
Lubi Prates
* * *
Quando penso sobre mim mesma
Quando penso sobre mim mesma,
Gargalho até quase morrer,
Minha vida tem sido uma grande piada,
Uma dança que se anda,
Uma canção que se fala,
Gargalho tanto que quase perco o ar,
Quando penso sobre mim mesma.
Quando penso sobre mim mesma,
Gargalho até quase morrer,
Minha vida tem sido uma grande piada,
Uma dança que se anda,
Uma canção que se fala,
Gargalho tanto que quase perco o ar,
Quando penso sobre mim mesma.
Sessenta anos no mundo dessa gente,
A criança para quem trabalho me chama de garota,
Eu respondo “Sim, senhora” por causa do emprego.
Muito orgulhosa para me curvar,
Muito pobre para me quebrar,
Gargalho até meu estômago doer,
Quando penso sobre mim mesma.
A criança para quem trabalho me chama de garota,
Eu respondo “Sim, senhora” por causa do emprego.
Muito orgulhosa para me curvar,
Muito pobre para me quebrar,
Gargalho até meu estômago doer,
Quando penso sobre mim mesma.
Meus pais podem me fazer cair na gargalhada,
Rir tanto até quase morrer,
As histórias que eles contam soam como mentiras,
Eles cultivam a fruta,
Mas só comem a casca,
Gargalho até começar a chorar,
Quando penso sobre meus pais.
Rir tanto até quase morrer,
As histórias que eles contam soam como mentiras,
Eles cultivam a fruta,
Mas só comem a casca,
Gargalho até começar a chorar,
Quando penso sobre meus pais.
When I think about myself
When I think about myself,
I almost laugh myself to death,
My life has been one great big joke,
A dance that’s walked,
A song that’s spoke,
I laugh so hard I almost choke,
When I think about myself.
Sixty years in these folks’ world,
The child I works for calls me girl,
I say “Yes ma’am” for working’s sake.
Too proud to bend,
Too poor to break,
I laugh until my stomach ache,
When I think about myself.
My folks can make me split my side,
I laughed so hard I nearly died,
The tales they tell sound just like lying,
They grow the fruit,
But eat the rind,
I laugh until I start to crying,
When I think about my folks.
When I think about myself,
I almost laugh myself to death,
My life has been one great big joke,
A dance that’s walked,
A song that’s spoke,
I laugh so hard I almost choke,
When I think about myself.
Sixty years in these folks’ world,
The child I works for calls me girl,
I say “Yes ma’am” for working’s sake.
Too proud to bend,
Too poor to break,
I laugh until my stomach ache,
When I think about myself.
My folks can make me split my side,
I laughed so hard I nearly died,
The tales they tell sound just like lying,
They grow the fruit,
But eat the rind,
I laugh until I start to crying,
When I think about my folks.
Para assistir a Maya declamando esse poema:
https://youtu.be/k9ywTJvBwTc
§
Minha culpa
Minha culpa são "as correntes da escravidão", por muito tempo
o barulho do ferro caindo ao longo dos anos.
Este irmão vendido, esta irmã que se foi,
tornam-se uma cera amarga tapando os meus ouvidos.
Minha culpa fez música com as lágrimas.
o barulho do ferro caindo ao longo dos anos.
Este irmão vendido, esta irmã que se foi,
tornam-se uma cera amarga tapando os meus ouvidos.
Minha culpa fez música com as lágrimas.
Meu crime são "os heróis mortos e esquecidos",
Vesey, Turner, Gabriel, mortos,
Malcolm, Marcus, Martin King, mortos.
Eles lutaram pesado e amaram bem.
Meu crime é estar viva para contar.
Vesey, Turner, Gabriel, mortos,
Malcolm, Marcus, Martin King, mortos.
Eles lutaram pesado e amaram bem.
Meu crime é estar viva para contar.
Meu pecado é “estar pendurada numa árvore”,
Eu não grito, isso me deixa orgulhosa.
Decidi morrer como um homem.
Faço isso para impressionar a multidão.
Meu pecado é não gritar mais alto.
Eu não grito, isso me deixa orgulhosa.
Decidi morrer como um homem.
Faço isso para impressionar a multidão.
Meu pecado é não gritar mais alto.
My guilt
My guilt is “slavery’s chains,” too long
the clang of iron falls down the years. This brother’s sold, this sister’s gone,
is bitter wax, lining my ears.
My guilt made music with the tears.
My crime is “heroes, dead and gone,”
dead Vesey, Turner, Gabriel*,
dead Malcolm, Marcus, Martin King.
They fought too hard, they loved too well.
My crime is I’m alive to tell.
My sin is “hanging from a tree,”
I do not scream, it makes me proud.
I take to dying like a man.
I do it to impress the crowd.
My sin lies in not screaming loud.
the clang of iron falls down the years. This brother’s sold, this sister’s gone,
is bitter wax, lining my ears.
My guilt made music with the tears.
My crime is “heroes, dead and gone,”
dead Vesey, Turner, Gabriel*,
dead Malcolm, Marcus, Martin King.
They fought too hard, they loved too well.
My crime is I’m alive to tell.
My sin is “hanging from a tree,”
I do not scream, it makes me proud.
I take to dying like a man.
I do it to impress the crowd.
My sin lies in not screaming loud.
*Nota: Vesey, Turner e Gabriel, assim como os também citados (e mais
conhecidos) Malcolm X, Marcus Garvey e Martin Luther King, foram
lutadores pela liberdade dos negros.
§
Um brinde à recomposição
Eu fui numa festa
lá em Hollywood.
A atmosfera era péssima
mas as bebidas estavam boas
e foi onde ouvi você rir.
lá em Hollywood.
A atmosfera era péssima
mas as bebidas estavam boas
e foi onde ouvi você rir.
Então, eu fiz um cruzeiro
num velho navio grego.
A tripulação era divertida
mas os convidados não eram descolados,
foi aí que encontrei suas mãos.
num velho navio grego.
A tripulação era divertida
mas os convidados não eram descolados,
foi aí que encontrei suas mãos.
Numa caravana
para o Saara,
O sol acertava como uma flecha
mas as noites eram grandiosas,
e foi assim que eu encontrei seu peito.
para o Saara,
O sol acertava como uma flecha
mas as noites eram grandiosas,
e foi assim que eu encontrei seu peito.
Numa tarde no Congo
onde o Congo termina,
Eu me encontrei sozinha, ah
mas eu fiz alguns amigos,
e foi onde eu vi seu rosto.
onde o Congo termina,
Eu me encontrei sozinha, ah
mas eu fiz alguns amigos,
e foi onde eu vi seu rosto.
Eu tenho dedicado
todo meu tempo para reunir
partes suas que flutuam
ainda descoladas.
todo meu tempo para reunir
partes suas que flutuam
ainda descoladas.
E você não vai se recompor
Para
Mim
N E N H U M A V E Z?
Para
Mim
N E N H U M A V E Z?
Here’s to Adhering
I went to a party
out in Hollywood,
The atmosphere was shoddy
but the drinks were good,
and that’s where I heard you laugh.
I then went cruising
on an old Greek ship,
The crew was amusing
but the guests weren’t hip,
that’s where I found your hands.
On to the Sahara
in a caravan,
The sun struck like an arrow
but the nights were grand,
and that’s how I found your chest.
An evening in the Congo
where the Congo ends,
I found myself alone, oh
but I made some friends,
that’s where I saw your face.
I have been devoting
all my time to get
Parts of you out floating
still unglued as yet.
Won’t you pull yourself together
For
Me
O N C E.
out in Hollywood,
The atmosphere was shoddy
but the drinks were good,
and that’s where I heard you laugh.
I then went cruising
on an old Greek ship,
The crew was amusing
but the guests weren’t hip,
that’s where I found your hands.
On to the Sahara
in a caravan,
The sun struck like an arrow
but the nights were grand,
and that’s how I found your chest.
An evening in the Congo
where the Congo ends,
I found myself alone, oh
but I made some friends,
that’s where I saw your face.
I have been devoting
all my time to get
Parts of you out floating
still unglued as yet.
Won’t you pull yourself together
For
Me
O N C E.
§
Trabalho de mulher
Eu tenho crianças para cuidar
As roupas para remendar
O chão para esfregar
A comida para comprar
Depois, o frango para fritar
O bebê para secar
Eu tenho as visitas para alimentar
O jardim para aparar
Eu tenho camisetas para passar
O bebê para vestir
A cana para cortar
Eu tenho que limpar essa cabana
Depois, cuidar dos doentes
E colher o algodão.
Eu tenho crianças para cuidar
As roupas para remendar
O chão para esfregar
A comida para comprar
Depois, o frango para fritar
O bebê para secar
Eu tenho as visitas para alimentar
O jardim para aparar
Eu tenho camisetas para passar
O bebê para vestir
A cana para cortar
Eu tenho que limpar essa cabana
Depois, cuidar dos doentes
E colher o algodão.
Brilhe sobre mim, luz do sol
Chova sobre mim, chuva
Caiam suavemente, gotas de orvalho
E refresquem minha testa novamente.
Chova sobre mim, chuva
Caiam suavemente, gotas de orvalho
E refresquem minha testa novamente.
Tempestade, me sopre daqui
Com seus ventos violentos
Me deixe flutuar através do céu
Até que eu possa descansar novamente.
Com seus ventos violentos
Me deixe flutuar através do céu
Até que eu possa descansar novamente.
Caiam gentilmente, flocos de neve
Me cubram de beijos
Brancos e gelados e
Me deixem descansar esta noite.
Me cubram de beijos
Brancos e gelados e
Me deixem descansar esta noite.
Sol, chuva, céu turvo
Montanha, oceanos, folhas e pedras
Luz das estrelas, brilho da lua
Vocês são tudo que posso chamar de meu.
Montanha, oceanos, folhas e pedras
Luz das estrelas, brilho da lua
Vocês são tudo que posso chamar de meu.
Woman Work
I’ve got the children to tend
The clothes to mend
The floor to mop
The food to shop
Then the chicken to fry
The baby to dry
I got company to feed
The garden to weed
I’ve got the shirts to press
The tots to dress
The cane to be cut
I gotta clean up this hut
Then see about the sick
And the cotton to pick.
Shine on me, sunshine
Rain on me, rain
Fall softly, dewdrops
And cool my brow again.
Storm, blow me from here
With your fiercest wind
Let me float across the sky
Till I can rest again.
Fall gently, snowflakes
Cover me with white
Cold icy kisses and
Let me rest tonight.
Sun, rain, curving sky
Mountain, oceans, leaf and stone
Star shine, moon glow
You’re all that I can call my own.
I’ve got the children to tend
The clothes to mend
The floor to mop
The food to shop
Then the chicken to fry
The baby to dry
I got company to feed
The garden to weed
I’ve got the shirts to press
The tots to dress
The cane to be cut
I gotta clean up this hut
Then see about the sick
And the cotton to pick.
Shine on me, sunshine
Rain on me, rain
Fall softly, dewdrops
And cool my brow again.
Storm, blow me from here
With your fiercest wind
Let me float across the sky
Till I can rest again.
Fall gently, snowflakes
Cover me with white
Cold icy kisses and
Let me rest tonight.
Sun, rain, curving sky
Mountain, oceans, leaf and stone
Star shine, moon glow
You’re all that I can call my own.
§
Mais uma rodada
Não há pagamento mais doce sob o sol
Do que o descanso depois de um trabalho bem feito.
Eu nasci para trabalhar até morrer
Mas eu não nasci
Para ser escrava.
Não há pagamento mais doce sob o sol
Do que o descanso depois de um trabalho bem feito.
Eu nasci para trabalhar até morrer
Mas eu não nasci
Para ser escrava.
Mais uma rodada
E viramos o navio,
Mais uma rodada
E viramos o navio.
E viramos o navio,
Mais uma rodada
E viramos o navio.
Papai molda o aço e Mamãe mantinha a guarda,
Nunca os ouvi reclamando porque o trabalho era pesado.
Nasceram para trabalhar até morrer
Mas não nasceram
Para morrer escravos.
Nunca os ouvi reclamando porque o trabalho era pesado.
Nasceram para trabalhar até morrer
Mas não nasceram
Para morrer escravos.
Mais uma rodada
E viramos o navio,
Mais uma rodada
E viramos o navio.
E viramos o navio,
Mais uma rodada
E viramos o navio.
Irmãos e irmãs sabem as tarefas diárias,
O trabalho não fez com que perdessem a cabeça.
Eles nasceram para trabalhar até morrer
Mas não nasceram
Para morrer escravos.
O trabalho não fez com que perdessem a cabeça.
Eles nasceram para trabalhar até morrer
Mas não nasceram
Para morrer escravos.
Mais uma rodada
E viramos o navio,
Mais uma rodada
E viramos o navio.
E viramos o navio,
Mais uma rodada
E viramos o navio.
E agora vou contar qual é minha Regra de Ouro,
Eu nasci para trabalhar, mas não sou nenhuma mula.
Eu nasci para trabalhar até morrer
Mas não nasci
Para morrer escrava.
Eu nasci para trabalhar, mas não sou nenhuma mula.
Eu nasci para trabalhar até morrer
Mas não nasci
Para morrer escrava.
Mais uma rodada
E viramos o navio,
Mais uma rodada
E viramos o navio.
E viramos o navio,
Mais uma rodada
E viramos o navio.
One more round
There ain’t no pay beneath the sun
As sweet as rest when a job’s well done.
I was born to work up to my grave
But I was not born
To be a slave.
One more round
And let’s heave it down,
One more round
And let’s heave it down.
Papa drove steel and Momma stood guard,
I never heard them holler ’cause the work was hard.
They were born to work up to their graves
But they were not born
To be worked-out slaves.
One more round
And let’s heave it down,
One more round
And let’s heave it down.
Brothers and sisters know the daily grind,
It was not labor made them lose their minds.
They were born to work up to their graves
But they were not born
To be worked-out slaves.
One more round
And let’s heave it down,
One more round
And let’s heave it down.
And now I’ll tell you my Golden Rule,
I was born to work but I ain’t no mule.
I was born to work up to my grave
But I was not born
To be a slave.
One more round
And let’s heave it down,
One more round
And let’s heave it down.
There ain’t no pay beneath the sun
As sweet as rest when a job’s well done.
I was born to work up to my grave
But I was not born
To be a slave.
One more round
And let’s heave it down,
One more round
And let’s heave it down.
Papa drove steel and Momma stood guard,
I never heard them holler ’cause the work was hard.
They were born to work up to their graves
But they were not born
To be worked-out slaves.
One more round
And let’s heave it down,
One more round
And let’s heave it down.
Brothers and sisters know the daily grind,
It was not labor made them lose their minds.
They were born to work up to their graves
But they were not born
To be worked-out slaves.
One more round
And let’s heave it down,
One more round
And let’s heave it down.
And now I’ll tell you my Golden Rule,
I was born to work but I ain’t no mule.
I was born to work up to my grave
But I was not born
To be a slave.
One more round
And let’s heave it down,
One more round
And let’s heave it down.
§
Despertando em Nova York
Cortinas se forçam
contra o vento,
as crianças dormem,
trocando sonhos com
os anjos. A cidade
se força a acordar nas
vias do metrô; e
eu, alarmada, acordo como
um rumor de guerra,
me espreguiçando pelo amanhecer,
indesejado e ignorado.
contra o vento,
as crianças dormem,
trocando sonhos com
os anjos. A cidade
se força a acordar nas
vias do metrô; e
eu, alarmada, acordo como
um rumor de guerra,
me espreguiçando pelo amanhecer,
indesejado e ignorado.
Awaking in New York
Curtains forcing their will
against the wind,
children sleep,
exchanging dreams with
seraphim. The city
drags itself awake on
subway straps; and
I, an alarm, awake as
a rumor of war,
lie stretching into dawn,
unasked and unheeded.
against the wind,
children sleep,
exchanging dreams with
seraphim. The city
drags itself awake on
subway straps; and
I, an alarm, awake as
a rumor of war,
lie stretching into dawn,
unasked and unheeded.
§
Por que eles estão felizes?
Arreganhe seus dentes, maldito seja,
agite seus ouvidos,
sorria enquanto os anos
correm
do seu rosto.
agite seus ouvidos,
sorria enquanto os anos
correm
do seu rosto.
Levante as bochechas, garoto negro,
enrugue seu nariz,
sorria enquanto os seus dedos
cavam
o seu túmulo.
enrugue seu nariz,
sorria enquanto os seus dedos
cavam
o seu túmulo.
Revire esses olhos grandes, garota negra,
emborrache seus joelhos,
sorria quando as árvores
se curvarem
com seus parentes.
emborrache seus joelhos,
sorria quando as árvores
se curvarem
com seus parentes.
Why are they happy people?
Skin back your teeth, damn you,
wiggle your ears,
laugh while the years
race
down your face.
Pull up your cheeks, black boy,
wrinkle your nose,
grin as your toes
spade
up your grave.
Roll those big eyes, black gal,
rubber your knees,
smile when the trees
bend
with your kin.
Skin back your teeth, damn you,
wiggle your ears,
laugh while the years
race
down your face.
Pull up your cheeks, black boy,
wrinkle your nose,
grin as your toes
spade
up your grave.
Roll those big eyes, black gal,
rubber your knees,
smile when the trees
bend
with your kin.
* * *
Lubi Prates (1986, São Paulo/SP) é poeta, tradutora, editora e curadora. Tem três livros publicados (coração na boca, 2012;
triz, 2016; um corpo negro, 2018). “um corpo negro”
foi contemplado pelo PROAC com bolsa de criação e publicação de poesia e
está em processo de publicação, em 2020, na Argentina, Colômbia,
Estados Unidos, Espanha e França, além de ser finalista
do Prêmio Rio de Literatura e do 61º Prêmio Jabuti. Tem diversas
publicações em antologias e revistas nacionais e internacionais.
Organizou os festivais literários para visibilidade de poetas,
[eu sou poeta] (São Paulo, 2016) e Otro modo de ser
(Barcelona, 2018) e também participou de outros festivais literários no
Brasil e em outros países da América Latina. É sócia-fundadora e editora
da
nosotros, editorial, e é editora da revista literária Parênteses.
Dedica-se à ações que combatem a invisibilidade de mulheres e negros.
Atualmente, é doutoranda em Psicologia do Desenvolvimento Humano, na
Universidade de São Paulo.
Extraído do site ESCAMANDRO.
Maya Angelou, por Lubi Pratespor guilherme gontijo flores |
Postado por
Rogério Rocha
às
12:57
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