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A CONSCIÊNCIA DO SOFRIMENTO DOS ANIMAIS
Os animais são conscientes de seu sofrimento? Para qualquer pessoa que conviva com um animal, a resposta para essa pergunta é muito clara. No entanto, o que a neurociência tem a dizer sobre o assunto? Podemos assegurar que a ciência comprova a consciência que os animais têm de seu próprio sofrimento e do alheio?
Bom, como não podia ser de outra forma, a resposta é “sim”. A neurociênciatem provas contundentes de que todos os animais mamíferos, aves e outras espécies são conscientes de seu próprio sofrimento. A informação não é nova. Em 2013, a Declaração de Cambridge falou sobre este assunto com provas inegáveis. As pesquisas continuam e confirmam cada vez mais esta verdade.
Foram identificados circuitos homólogos, tanto em humanos quanto em animais, cuja atividade coincide com a experiência consciente. Parece que os circuitos neuronais que se ativam enquanto um animal sente uma emoção são os mesmos que se ativam em humanos para a mesma emoção.Neurologistas reconhecidos de todo o mundo avaliam este estudo e concordam que os animais experimentam a consciência de seu próprio sofrimento.
A Declaração de Cambridge sobre a consciência
Há sete anos, em 7 de julho de 2012, cientistas renomados assinaram a Declaração de Cambridge sobre a Consciência. Este documento declara que não só os seres humanos, mas também uma quantidade significativa de animais, incluindo vertebrados e invertebrados, são seres conscientes. Isso quer dizer que são seres sensíveis, ou seja, experimentam o que acontece com eles e têm estados mentais que podem ser positivos ou negativos para eles.
Existe um consenso científico da evidência que demonstra que os animais não humanos possuem os substratos neuroanatômicos, neuroquímicos e neurofisiológicos dos estados conscientes junto com a capacidade de exibir comportamentos intencionais. Ou seja, os humanos não são os únicos a possuir os substratos neurológicos que geram consciência.
Philip Low, fundador e diretor executivo da companhia neurodiagnóstica NeuroVigil, na California; Christof Koch, do Instituto Allen de Ciências do Cérebro em Seattle; David Edelman, do Instituto de Neurociências de La Jolla, California, e outros neurocientistas de prestígio participaram da Declaração de Cambridge.
É uma mensagem nítida que confirma que a capacidade de ter experiências positivas e negativas possibilita que um ser possa ser machucado. Existem evidências poderosas para pensar que isso é o que se deve ter em conta quando se trata de dar a alguém uma consideração não discriminatória.
Os estudos recentes sobre a consciência do sofrimento dos animais
Durante todo este tempo foram realizados estudos que confirmaram, mais uma vez, estes acontecimentos. Jarrod Bailey e Shiranee Pereira apresentaram em 2016 uma pesquisa sobre os circuitos cerebrais relativos às emoções e à empatia em cães. Este estudo confirma e amplia as conclusões da declaração de Cambridge.
O INRA, em colaboração com a Autoridade Europeia de Segurança Alimentar, realizou uma nova avaliação científica atualizada da literatura sobre a consciência animal. Os resultados foram apresentados em 2017 em Parma, na Itália. Esta pesquisa corrobora que os animais possuem sistemas nervosos que suportam processos conscientes de informação complexa, incluídas as emoções negativas causadas por estímulos nociceptivos.
O estudo contempla diferentes espécies, entre primatas, corvídeos, roedores e ruminantes. A pesquisa conclui que devido à memória autobiográfica observada em animais como os primatas, corvídeos e roedores, é possível que eles tenham desejos e metas que se estendem ao passado e ao futuro, podendo ser afetados negativamente pela experiência aversiva.
Não há desculpas para justificar o sofrimento dos animais
Sete anos depois da apresentação de evidências sólidas sobre a consciência que os animais possuem em relação ao seu próprio sofrimento e a infinidade de estudos posteriores que comprovam o mesmo, não há desculpas para ignorar os maus-tratos animais alegando que eles não sofrem.
Todos aqueles que ignoram e defendem seu direito de se divertir com o dano causado a outros seres vivos devem procurar outros argumentos, pois a ciência não cabe mais. Da mesma forma, a regulação do direito destes seres vivos à proteção e bem-estar está produzindo um importante eco no campo jurídico, onde estas evidências estão se materializando em forma de leis que vão afetar muitos outros campos.
Apesar do estudo da consciência em humanos ser complexo, parece que, a partir de agora, os estudos sobre a consciência humana andarão de mãos dadas com a dos nossos companheiros de planeta.
Retirado do site: A mente é maravilhosa
Acesso ao artigo no site: https://amenteemaravilhosa.com.br/consciencia-de-sofrimento-dos-animais/
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Rogério Rocha
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segunda-feira, 1 de abril de 2019
O destino de cada um (por Alexandre Correa Lima)
O destino de cada um segue uma trilha quase insondável aos olhos humanos. O que faz com sejamos o que somos ou nos tornemos o que nos tornamos?
Não faz muito tempo eu estacionei meu carro numa rua do centro da cidade e uma voz sem vida me perguntou se poderia guardar o carro. Assenti com a cabeça, menos pelo desejo do serviço e mais pelo temor de alguma represália posterior. Uma transação comercial resolvida em gestos econômicos e silenciosos, porque são dois mundos que se constrangem ao se encarar.
Involuntariamente percebi o sujeito se afastando:
Moreno claro, pele queimada pelo sol, esquelético, tatuagens no braço, boné virado, bermuda surrada, o rosto chupado, e um sorriso banguela faltando um monte de dente.
E então bateu um estalo:
– Eu conheço esse cara!
Lembrei que frequentamos a mesma escola no ensino médio. Não a mesma sala, porque ele era pouco mais velho, mas agora parecia que era 20 anos mais velho do que eu, e olha que eu já estou um bocado estragadinho.
Ele era popular na escola, namorador, andava com roupa de marca e era um dos únicos caras que iam estudar de moto, mesmo com 15 ou 16 anos de idade.
Agora era viciado em crack, tinha perdido a saúde, a família, a dignidade e os dentes da boca.
E eu fiquei pensando, o que aconteceu na história de vida dele pra chegar nesse ponto da decadência humana?
Mas as tragédias humanas se multiplicam e repetem, só mudam os cenários e os nomes.
– “Ele tinha tudo, e o bobão faz isso”?
Quem falou a frase acima não fui eu, mas a mãe de Guilherme Taucci, de 17 anos, que estarreceu o Brasil quando junto com um amigo abriu fogo e matou diversos colegas de sua antiga escola em Suzano.
O destino de cada um segue uma trilha quase insondável aos olhos humanos. O que faz com sejamos o que somos ou nos tornemos o que nos tornamos?
Famílias, amigos e vizinhos dizem que os dois, apesar de um pouco reservados, não se comportavam de modo que causasse estranheza ou que pudesse indicar que um dia iriam protagonizar a monstruosidade que fizeram.
Uma barbaridade insondável, ou nem tanto.
Apesar de Tatiana, mãe do menor, dizer que ele tinha “tudo”, a verdade é que ele tinha, no máximo, “quase tudo”. Não tinha por exemplo a própria mãe, que morava longe dos filhos porque não conseguia abandonar as drogas e vagava feito zumbi pelas ruas queimando a própria dignidade num caximbo fedido. E o menino também não tinha o pai, que só costumava ver numa foto amarelada, que apareceu queimada ao lado da cama no dia que acordou para executar o seu grande plano.
Outras incontáveis tragédias têm em comum famílias desestrutadas, sem amor pra abrandar a dureza do asfalto, sem educação pra crescer, sem futuro pra sonhar.
O buraco causado pela ausência dos pais ajuda a explicar, mas não resolve os mistérios insondáveis da vida de cada um. Seu parcerio no crime morava com os pais e os avós e até onde se sabe não tinha o mesmo histórico familiar do colega. Filhos bem nascidos, bilíngues e educados também queimam índios e humilham colegas nos trotes das melhores e mais caras universidades do Brasil.
É que um monte de gente está crescendo sem pais, mesmo quando tem os pais ao lado. É possível estar ausente mesmo estando ao lado. E é possível criar filhos vazios mesmo quando cheios de coisas.
O destino de cada um segue uma trilha quase insondável aos olhos humanos. O que faz com sejamos o que somos ou nos tornemos o que nos tornamos?
Família, Educação, distúrbios emocionais, idiossincrasias, bullying, miséria moral podem até inclinar, mas jamais irão determinar.
Dentro da gente mora um monte de anjo e uma comunidade de demônios também. Todo dia eles tentam te convencer a fazer alguma coisa. Mas no final das contas é você quem decide a quem você dá ouvidos e a qual dos dois você alimenta.
Crimes como esse extrapolam a nossa capacidade de compreensão e nossa busca vã por um sentido qualquer que explique o inexplicável.
No final das contas são apenas mais um caso para a coleção de tragédias humanas que se acumulam desavergonhadamente no nosso caminho. Gente sem pai, sem mãe, sem dignidade, sem dente e agora sem vida também.
Amanhã estacionarei meu carro mais uma vez em alguma rua qualquer e alguma voz esquálida vai me pedir para guardar o carro e eu vou assentir com a cabeça mais uma vez pra não ter que encarar aquele sorriso banguela antes do meu almoço e não ter que ficar sem resposta pra pergunta que não quer calar:
O que faz com que nos tornemos aquilo que nos tornamos?
Fonte: Diário do Vale online, Coluna Contos e Crônicas.
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Rogério Rocha
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