JERUSALÉM (Reuters) - Um mosaico de 1.500 anos com uma inscrição em grego foi encontrado durante obras para instalar cabos de comunicação na Cidade Velha de Jerusalém, uma descoberta incomum de uma relíquia antiga e um documento histórico ao mesmo tempo.
A inscrição cita Justiniano, imperador romano do século 6, assim como Constantino, que serviu como abade de uma igreja fundada por Justiniano em Jerusalém. Os arqueólogos acreditam que a descoberta os ajudará a entender os projetos municipais do imperador na cidade.
A inscrição diz: "O piedosíssimo imperador romano Flavio Justiniano e o sacerdote e abade que mais ama a Deus, Constantino, ergueram este edifício na décima-quarta indicção".
A indicção é um método antigo de contar anos que era usado com propósitos de coleta de impostos. Os arqueólogos disseram que a inscrição sugere que o mosaico remonta aos anos 550-551 depois de Cristo.
Justiniano foi um dos governantes mais importantes da época bizantina. Em 543 d.C. ele estabeleceu a Igreja Nova da Mãe de Deus (ou Igreja Nea) em Jerusalém, uma das maiores igrejas cristãs do Império Romano.
"O fato de a inscrição ter sobrevivido é um milagre arqueológico", disse David Gellman, diretor da escavação para a Autoridade de Antiguidades de Israel, em um comunicado.
Os investigadores creem que o edifício do qual o mosaico formava parte, situado perto da Porta de Damasco da Cidade Velha, era usado como um alojamento para peregrinos.
O mosaico, exibido à imprensa nesta quarta-feira, foi descoberto semanas atrás. Especialistas em conservação o removeram para submeter a peça a um tratamento.
Por um tempo, o hábito se tornou tão incomum, que algumas civilizações tomavam apenas um banho por ano
Bruno Vieira Feijó
A humanidade melhora com o passar dos séculos, certo? Nem sempre.
Prova disso é o que ocorreu com um de nossos hábitos mais comuns, o
banho. Durante a Idade Média, os ocidentais abandonaram os sofisticados
rituais de limpeza da Antiguidade e mergulharam numa profunda sujeira.
Principalmente por causa da religião, o homem medieval comum achava
suficiente tomar um banho por ano. Foi preciso muito tempo – e alguns
bons exemplos dos povos orientais e indígenas – para que voltássemos às
nossas asseadas origens.
Acredita-se que todos os povos, desde tempos imemoriais, tenham
praticado alguma forma de higiene pessoal. Os primeiros registros do ato
de se banhar individualmente pertencem ao antigo Egito, por volta de
3000 a.C. Os egípcios realizavam rituais sagrados na água e tomavam ao
menos três banhos por dia, dedicados a divindades como Thot, deus do
conhecimento, e Bes, deus da fertilidade.
“Mais do que limpar o corpo, eles presumiam que a água purificava a
alma”, diz o egiptólogo francês Christian Jacq, fundador do Instituto
Ramsés, em Paris. “A crença valia tanto para a realeza, cortejada com
óleos aromáticos e massagens aplicadas pelos escravos, quanto para as
populações mais pobres, que recorriam inclusive a profissionais de rua
quando não conseguiam tratar da própria beleza.” O apreço pela higiene é
o motivo ao qual arqueólogos atribuíram a sobrevivência dos egípcios às
pragas e doenças que assolaram a Antiguidade.
A Grécia foi outro local em que os banhos prosperaram. Em Cnossos e
Faístos, na ilha de Creta, os palácios de 1700 a.C. a 1200 a.C,
surpreenderam por suas avançadas técnicas de distribuição da água. “Todo
banquete que precisava ser luxuoso incluía uma sessão de banho para os
convidados”, explica Georges Vigarello, professor de Ciências da
Educação da Universidade de Paris-5.
Embora os gregos tenham iniciado a prática dos banhos públicos no
Ocidente, os pioneiros nos balneários coletivos foram os babilônios. A
diferença é que, na Grécia, o banho não era motivado apenas pela higiene
e espiritualidade. Entre 800 a.C. e 400 a.C., o esporte,
particularmente a natação, era um dos três pilares da educação juvenil –
ao lado das letras e da música. Bom cidadão era aquele que sabia ler e
nadar, como comprovam imagens presentes em centenas de vasos de cerâmica
pintados naquela época.
Os romanos herdaram muito da cultura da Grécia, incluindo a adoração
pelo banho. Mas, entre eles, esse hábito tomou proporções inéditas.
Enquanto construíam um dos maiores impérios de todos os tempos, os
romanos levavam a suntuosidade de suas termas (enormes balneários
públicos) aos mais diversos lugares. Por causa disso, algumas cidades
europeias ganharam nomes que incluem, literalmente, a palavra “banho” – é
o caso de Bath, na Inglaterra, Baden Baden e Wiesbaden, na Alemanha, e Aix-le-Bains,
na França. Mas as maiores termas ficavam mesmo na capital do império,
Roma: eram as de Caracala, inauguradas em 217, e as de Diocleciano, do
ano 305. Esses edifícios, cujos nomes homenageavam imperadores, tinham
capacidade para receber, respectivamente, 1.600 e 3.200 pessoas.
Romanas nas termas da Pompéia / Wikimedia Commons
A engenharia romana teve que se desdobrar para acompanhar o frenesi
dos banhos. Na onda das termas surgiu o hipocausto, uma espécie de
assoalho construído sobre câmaras de gás subterrâneas. Esse sistema
ajudava a esquentar os cômodos e mantê-los climatizados. Cada salão das
termas era decorado com estatuetas e mosaicos. Ao redor de um pátio
central, havia uma espécie de sauna, um vestiário e piscinas de água
quente, morna, fria e ao ar livre. Os complexos de banho do Império
Romano tinham ainda jardins, bibliotecas e restaurantes (como se fossem
antepassados dos spas e resorts de hoje).
As visitas diárias às termas tinham fundo religioso, já que o banho
público era um ato de adoração à deusa Minerva. E o costume não era
restrito às classes mais abastadas. Boêmios, prostitutas, imperadores,
filósofos, políticos, velhos e crianças, todos se banhavam no mesmo
espaço, sem constrangimento. Ponto de encontro e de troca de
informações, era o lugar onde um aristocrata podia medir sua
popularidade de acordo com a quantidade de cumprimentos que recebia. “Em
épocas de plebiscito, os plebeus nem precisavam pagar a pequena taxa
que geralmente era cobrada. Os custos da entrada eram cobertos pelos
ricos e nobres”, escreveu o historiador francês Jérôme Carcopino no
livro Aspects Mystiques de la Rome Païenne (“Aspectos místicos da Roma pagã”).
Prazeres perdidos
A liberdade que os romanos tinham de se banhar e ficar nus em público
foi entrando em declínio à medida que uma nova religião se tornava
popular por todo o império. Era o cristianismo, que pregava a castidade e
se tornou a crença oficial de Roma no ano 380. Menos de um século
depois, o império viria abaixo, junto com vários de seus costumes.
Enquanto isso, a Igreja seguiria cada vez mais forte. Foi a gota d’água
para que os prazeres do banho fossem boicotados durante cinco séculos. ➽
Mania de brasileiro A higiene dos índios demorou a ser aceita pela elite portuguesa
Obra mostra como a água dominava a vida dos indígenas / Albert Eckout
Quando
aportaram por aqui, em 1500, os portugueses se assustaram com a limpeza
dos índios, que mergulhavam em rios e no mar até 12 vezes ao dia. Pero
Vaz de Caminha, escrivão da esquadra de Cabral, chegou a escrever,
surpreso: “São tão limpos e tão gordos e tão formosos que não podem ser
mais”. Os portugueses acabaram cedendo aos hábitos dos nativos
brasileiros, percebendo que eles eram muito mais saudáveis que os da
Europa. Os membros da corte, entretanto, resistiram aos deleites da
água, pois estavam acostumados a passar meses sem sequer mudar de
camisa. Já os mais humildes aceitaram o banho mais facilmente –
começaram lavando os pés diariamente em bacias. “Com o tempo, o rio se
tornou extensão da casa. Sem rede encanada, era nele onde se lavavam as
roupas, as louças e o corpo”, escrevem Renata Ashcar e Roberta Faria no
livro Banho – Histórias e Rituais.
No século 18, algumas cidades já usavam a água de poços e chafarizes
mantidos pelo Estado. Quando a família real portuguesa chegou ao Brasil,
em 1808, fez do Rio de Janeiro o primeiro município a contar com água
encanada no país.
➽ Começava
a Idade Média, época em que a cristandade varreu da Europa as termas, o
esporte e outras atividades em que as pessoas se expusessem demais.
Gregório I, o Grande, que foi papa entre 590 e 604, chegou a qualificar o
corpo de “abominável vestimenta da alma” – ou seja, a carne era o
depósito de tudo o que era pecado. Com tantos pudores, o prazer de tomar
banho de corpo inteiro passou a ser visto como um ato de luxúria. Lavar
as mãos e o rosto (às vezes nem isso) bastava. Quando muito, era
aceitável tomar um banho por ano. Um único barril de água servia para
toda a família, sem que a água fosse trocada. “O privilégio do primeiro
mergulho era do homem da casa, enquanto as crianças ficavam por último,
na sopa suja que sobrava”, escrevem Renata Ashcar e Roberta Faria no
livro Banho – Histórias e Rituais.
Sem água corrente, as pessoas se viravam como podiam. A limpeza da
pele era feita friccionando-a com um pano úmido. Mas, mesmo entre os
nobres, o ritual era repetido apenas a cada dois dias. Os cabelos deviam
ser escovados com um tipo de pó que supostamente mantinha os fios
limpos. E, como não podia deixar de ser, era preciso muita maquiagem e
perfume – nas roupas, nos corpos e nos cabelos – para amenizar o mau
cheiro.
Toda essa falta de higiene abriu as portas para epidemias
devastadoras, propagadas principalmente por roedores. Foi o caso da
peste, que matou cerca de 200 milhões de pessoas ao longo da Idade
Média. Ao notar que muitos judeus não pegavam a doença, a Inquisição
chegou a julgá-los e executá-los, acusados de bruxaria. Mas eles, na
verdade, não agiam de má-fé – muito pelo contrário. O que fazia os
judeus serem menos suscetíveis a doenças era uma recomendação religiosa
que seguiam: lavar as mãos antes das refeições e tomar banho ao menos
uma vez por semana.
Escravos do antigo Egito dando banho em seu senhor / Wikimedia Commons
Foi só durante as Cruzadas, as guerras religiosas travadas entre os
séculos 11 e 13, que muitos europeus puderam redescobrir as delícias da
água, na aproximação – ainda que violenta – entre Oriente e Ocidente. É
que, fora dos territórios dominados pela Igreja, onde ocorreram muitos
combates, os banhos públicos da Antiguidade haviam sido mantidos, com
seus rituais e instalações sofisticados. Nas hamans,
casas de banho turco-árabes, os muçulmanos aproveitavam o prazer de
alternar águas quentes e frias. Sessões de banhos completos incluíam
depilação, massagem, hidratação, branqueamento dos dentes e maquiagem –
ritual que, até hoje, é seguido meticulosamente. Os cavaleiros cristãos
que partiram para o Oriente com a missão de tomar a Terra Santa dos
muçulmanos não se fizeram de rogados. “Não só passaram a se banhar por
lá mesmo, como espalharam pela Europa a prática de jogar água pelo corpo
quando retornavam dos combates”, contam Renata Ashcar e Roberta Faria. A
certa altura, a atitude contagiou o restante da população européia
medieval e alguns banhos públicos chegaram a reabrir as portas.
Nem só aos sábados
Depois do fim da Idade Média, a religião voltou a suprimir os banhos
no Ocidente. Nos séculos 16 e 17, irredutíveis cristãos bradavam que a
água dilatava os poros da pele, por onde a saúde escaparia e o mal
penetraria, em formas como a friagem e os germes. Todo mundo acreditou
nisso, incluindo os médicos. E, enquanto nações como Portugal e Espanha
descobriam, na América, populações que amavam tomar banho, os europeus
voltavam para o mundo da sujeira.
Existiam algumas medidas de higiene, é verdade. Mas elas não eram lá
essas coisas. Antes ou depois de qualquer atividade física e após as
refeições enxugava-se a pele com um pano e simplesmente mudava-se de
camisa. Supunha-se que a roupa branca agia como “esponja” e absorvia a
sujeira. Assim, trocar de roupa passou a ser sinônimo de se lavar – e,
para se sentir limpas, as pessoas usavam punhos e colarinhos impecáveis.
A privação de água durou até o século 18, quando se provou
definitivamente que as doenças se originavam não do banho, mas da falta
dele. O iluminismo, que celebrava a razão e defendia a tese de que o
mundo deveria ser esclarecido pela ciência, ajudou a fazer do ato de se
lavar o símbolo da saúde. Banhos públicos para higiene, esporte e
terapia foram, aos poucos, sendo reabilitados.
Mas, após anos de religiosos dizendo o contrário, não foi todo mundo
que voltou a tomar banho, mesmo com insistentes conselhos médicos.
Quando a célebre rainha Vitória subiu ao trono, em 1837, ainda não havia
local para banho no palácio de Buckingham, sede da coroa inglesa. Até
os anos 1870, eram raras as casas ocidentais que tinham um cômodo para
seus habitantes se lavarem.
Já cientes do bem que a água podia fazer pela saúde, médicos banhavam
doentes à força em hospitais. “Não era difícil encontrar um sujeito
que, tendo de enfrentar a experiência do primeiro banho, demonstrasse
verdadeiro terror, gritasse, tentasse escapar da sensação de sufocamento
e palpitação que a água fria proporcionava”, diz um relato da época,
citado pelo historiador americano Lawrence Wright no livro Clean and Decent: The Fascinating History of the Bathroom (“Limpo e Decente: A Fascinante História do Banheiro”).
Os banhos rotineiros reapareceram definitivamente nas grandes cidades
ocidentais apenas por volta dos anos 1930. Mas, no começo, eles não
eram lá tão frequentes. Eram tomados aos sábados, dia em que também eram
trocadas as roupas de baixo das crianças. Nessa época, navios ofereciam
cabines de banho e barcos delimitavam áreas em rios que serviam como
piscinas naturais. Após o fim da Segunda Guerra, em 1945, quando boa
parte das casas europeias teve que ser reconstruída, elas ganharam
banheiros, abastecidos com a cada vez mais comum água encanada. A França
foi a pioneira nas inovações sanitárias, seguida pela Inglaterra e pela
Alemanha.
Hoje, voltamos a expor nossos corpos sem pudor, como fazíamos na
Antiguidade. Mas isso não ocorre mais durante o ato de se lavar, e sim
depois dele. “Ao mesmo tempo em que os trajes começam a valorizar o
corpo e deixar adivinhar suas formas, realçando-as e, por vezes,
revelando o bronzeado e a pele lisa e firme, o banho se transforma num
hábito estritamente íntimo”, escrevem os historiadores franceses Gerard
Vincent e Antoine Prost na obra História da Vida Privada: da Primeira Guerra aos Dias Atuais.
Tomar banho virou um método individual de se preparar para a exposição
pública. Não é à toa que todo banheiro contemporâneo que se preze tem um
espelho – um objeto que, dificilmente seria visto num lugar como esse.
Difícil higiene Saiba como os antigos se viravam sem sabão, chuveiro ou xampu
Antigo balneário romano na Inglaterra / Reprodução
➽ Ferro no couro: Uma espátula de ferro de mais ou menos 30 centímetros, o strigil era
usado pelos antigos gregos e romanos para esfregar vigorosamente a
pele, untada com um óleo verde-oliva. Entre os ricos, essa limpeza era
feita por escravos.
➽ Cascata caseira:
Sem rede encanada, os povos antigos tomavam banho com água derramada de
bacias e jarros. Às vezes a pessoa ficava dentro de uma banheira rasa
de pedra, mas o mais comum era se inclinar num banco de pedra.
➽ Limpeza pesada:
Os babilônios ferviam gordura animal com cinzas vegetais para passar
sobre a pele e os cabelos. Já no Egito, uma mistura de bicarbonato de
sódio, cinzas e argila fazia as vezes do sabão.
➽ Arranca-cascão: No Oriente, materiais ásperos feitos de rocha ou cerâmica eram usados para esfoliar a pele e retirar a sujeira. O ritual se completava com o uso de água de flor de laranjeira, pentes, pastas e perfumes.
➽ Asseio preguiçoso:
As banheiras portáteis se popularizaram no fim do século 19,
primeiramente entre os ingleses. Quando um fidalgo ia tomar banho,
camareiras carregavam a banheira para o quarto e a enchiam à mão, com
água aquecida.
Saiba mais
Banho - Histórias e Rituais, Renata Ashcar e Roberta Faria, 2006
Uma História do Corpo na Idade Média, Jacques Le Goff e Nicolas Truong, 2006
Clean and Decent: the Fascinating History of the Bathroom, Lawrence Wright, 2005
Retirado da Revista Aventuras na História
Link: http://aventurasnahistoria.uol.com.br/noticias/reportagem/aguas-tempo-historia-banho-435136.phtml#.WXpJQOmQzIU
Pergunte a Daniel Mills, professor de Veterinária comportamental na Universidade de Lincoln (Reino Unido). Em um estudo recente, Mills e sua colega Alice Potter comprovaram de modo científico o que já se sabia na prática: gatos são mais autônomos e solitários do que os cachorros.
Apesar de envolver a já famosa reputação dos gatos, executar essa pesquisa foi mais difícil do que poderia parecer.
"Eles são complicados se você quer que façam algo de uma certa maneira", diz Mills. "Eles tendem a fazer o que querem."
Donos de gatos do mundo inteiro irão concordar. Mas por que exatamente os gatos são tão relutantes em cooperar, seja entre si ou com humanos? Ou, perguntando de outra forma, por que tantos outros animais - domésticos ou selvagens - têm espírito de equipe?
A vida em grupo é comum na natureza. Pássaros formam bandos e peixes, cardumes. Predadores frequentemente caçam juntos. Até mesmo o leão, parente do gato doméstico, vive em grupo.
Para as espécies que são caçadas por outras, obviamente há uma estratégia de maior segurança em um bando. "Chama-se efeito de diluição", diz o biólogo Craig Packer, da Universidade de Minnesota (EUA).
"Um predador só consegue matar um, e se há cem da mesma espécie isso reduz as chances de cada um deles ser pego para 1%. Mas se você estiver sozinho você será escolhido 100% das vezes."
Animais em bando também se beneficiam do efeito "muitos olhos atentos": quanto maior o grupo, é mais provável que alguém perceba um predador se aproximando. "E quanto mais cedo você detectar o predador, mais tempo tem para iniciar a fuga", diz Jens Krause, da Universidade de Humboldt em Berlim, Alemanha.
Essa vigilância coletiva traz outras vantagens. Cada um pode gastar mais tempo e energia procurando por comida. E não se trata apenas de evitar predadores. Animais que socializam em grupos não precisam perambular em busca de companheiros, o que é um problema para espécies solitárias que vivem em territórios amplos.
Uma vez que se reproduzem, muitos animais que vivem em grupo adotam a máxima "é necessária uma aldeia inteira para criar uma criança", com os adultos trabalhando em equipe para proteger ou alimentar os mais novos.
Em várias espécies de pássaros, como a zaragateiro-árabe de Israel, os pequenos permanecem em grupos de familiares até que eles estejam prontos para procriar. Eles dançam em grupo, tomam banho juntos e até trocam presentes entre si.
Princípio 'Volta da França'
Viver em grupo também poupa energia. Os pássaros que migram juntos ou os peixes que vivem em cardumes se movimentam com mais eficiência do que os mais solitários.
É o mesmo princípio que os ciclistas da Volta da França utilizam quando formam um pelotão. "Os que estão mais atrás não precisam investir tanta energia para atingir a mesma velocidade de locomoção", diz Krause.
Como pinguins e morcegos podem atestar, a vida pode ser mais calorosa quando se vive cercado de amigos.
Com tantos benefícios, pode parecer surpreendente que qualquer animal rejeite seus companheiros. Mas, como os gatos domésticos demonstram, a vida em grupo não é para todos. Para alguns animais, os benefícios da coletividade não compensam ter que dividir comida.
"Chega a um ponto em que se alimentar com outros indivíduos com grande proximidade reduz a sua quantidade de alimento", diz John Fryxell, biólogo da Universidade de Guelph, no Canadá.
Um fator-chave para essa decisão é ter alimentação suficiente, o que depende de quanta comida cada animal precisa. E os gatos têm um gosto caro. Por exemplo, um leopardo come cerca de 23 kg de carne em poucos dias. Para gatos selvagens, a competição por alimentos é cruel, e por isso leopardos vivem e caçam sozinhos.
Há uma exceção à regra de felinos solitários: leões. Para eles, é uma questão territorial, diz Packer, que passou 50 anos de sua vida estudando os leões africanos. Alguns locais da savana têm emboscadas perfeitas para a caça, então controlar esse lugar resulta em uma vantagem significativa em termos de sobrevivência.
"Isso impõe sociabilidade porque você precisa de equipes para dominar seu bairro local e excluir outros times. Assim, o maior time vence", diz Packer.
O que torna essa vida em grupo possível é que a presa de um único leão - um gnu ou uma zebra - é grande o bastante para alimentar várias fêmeas de uma vez só. "O tamanho da caça permite que eles vivam em grupos mas é a geografia o que realmente os leva a viver em grupos", diz Packer.
Não é a mesma situação dos gatos domésticos, já que eles caçam animais pequenos. "Eles vão comê-lo inteiro", diz Packer. "Não há comida o suficiente para dividir."
Domesticação
Essa lógica econômica está tão integrada ao comportamento dos gatos que parece improvável que até mesmo a domesticação tenha alterado essa preferência fundamental por solidão.
Isso é duplamente verdade quando você leva em consideração o fato de que os humanos não domesticaram os gatos. Em vez disso, em seu próprio estilo, os gatos domesticaram a si mesmos.
Todos os gatos domésticos são descendentes dos gatos selvagens do Oriente Médio (Felis silvestris), o "gato-do-mato". Os humanos não coagiram esses gatos a deixar as florestas: eles mesmos se convidaram a entrar nos alojamentos de humanos, onde havia uma quantidade ilimitada de ratos ao seu dispor.
A invasão a essa festa de ratos foi o início de uma relação simbiótica. Os gatos adoraram a abundância de ratos nos alojamentos e depósitos e os humanos gostaram do controle grátis da infestação de ratos.
Os gatos domésticos não são completamente antissociais. Mas sua sociabilidade - em relação a outro humano ou entre eles - é determinada inteiramente por eles, em seus próprios termos.
"Eles mantêm um nível alto de independência e se aproximam de nós apenas quando querem", diz Dennis Turner, especialista em comportamento animal no Instituto de Etologia Aplicada e Psicologia Animal em Horgen, Suíça.
"Os gatos desenvolveram muitos mecanismos para se manter à parte, o que não os conduz para a vida em bando", diz Mills. Os gatos marcam seu território para evitar encontros constrangedores entre si. Se eles acidentalmente se toparem, os pêlos são levantados e as garras saltam para fora.
Em determinadas circunstâncias pode parecer que os gatos domésticos adotaram a vida coletiva, como quando um grupo vive junto em um galpão. Mas não se engane. "Eles têm laços muito frouxos e não têm uma identidade real como grupo", diz Fryxell. "Eles só gostam de ter um lugar comum para deixar seus filhotes."
Aliás, mesmo diante de um grande perigo, quando eles se unem para se defender, é pouco provável que os gatos colaborem entre si. "Não é que algo que eles tipicamente façam quando se sentem ameaçados", diz Monique Udell, bióloga da Universidade de Oregon (EUA).
Os gatos simplesmente não acreditam na força de um grupo. Tudo isso ajuda a explicar por que os gatos têm a reputação de dominação impossível. Ainda assim, há evidências de que o desprezo dos gatos pela vida em grupo possa ser uma fraqueza.
Caixa-preta da menta felina
Um estudo publicado em 2014 no periódico científico Journal of Comparative Psychology investigou os traços de personalidade dos gatos domésticos. A conclusão foi que manter-se solitário e desinteressado torna os gatos neuróticos, impulsivos e resistentes a ordens.
Curiosamente, no entanto, os gatos domésticos parecem capazes de cooperar um pouco mais que seus parentes selvagens. Quando os pesquisadores compararam o gato doméstico a quatro selvagens - o gato selvagem escocês, o leopardo-nebuloso, o leopardo-da-neve e os leões africanos -, os gatos domésticos foram os que mais se aproximaram dos leões em termos de personalidade.
É preciso dizer que os gatos domésticos trilharam um longo caminho a partir de seus ancestrais até aqui em termos de tolerar a companhia um do outro. Mesmo que gatos morando em galpões formem laços frouxos, eles ainda demonstram um nível impressionante de aceitação da presença do outro nesses espaços confinados.
Em Roma, cerca de 200 gatos vivem lado a lado no Coliseu, enquanto na ilha de Aoshima, no Japão, o número de gatos supera o de pessoas em uma proporção de seis para um. Essas colônias podem não ter tanta cooperação, mas estão bem avançadas em relação ao passado solitário dos gatos domésticos.
Enquanto isso, pode ser mais fácil para pesquisadores encontrar os gatos "no meio do caminho" ao realizar seus experimentos, fazendo certas concessões.
Quando Udell fez suas primeiras experiências com gatos, enfrentou uma série de dificuldades ao tentar motivar suas cobaias a participar de certa atividade. Ela já havia trabalhado com cachorros, que estariam dispostos a fazer qualquer coisa em troca de um petisco.
Os gatos, contudo, eram mais exigentes. Com o passar do tempo, Udell percebeu que teria mais sucesso se desse aos gatos a opção de escolher sua recompensa.
"Acho que parte do desafio é o quanto sabemos sobre os gatos", diz. Se os cientistas começarem a entrar na caixa-preta que é a mente felina, a domesticação à força pode ser substituída por uma coerção mais astuta.
"Muito do comportamento animal - incluindo uma afinidade ou resistência à domesticação - é profundamente ligado ao circuito neural. Portanto, parece pouco possível deixar para trás anos de seleção natural", diz Fryxell.
"Mas quem sabe? Obviamente, leões conseguiram essa proeza, então deve ser possível que mutações ocorram", diz ele. "E se eles conseguiram fazer isso, talvez domesticar gatos não seja uma ideia tão maluca, afinal de contas."
Deborah Greenfield, ILO’s Deputy Director-General for Policy
The ILO’s centenary in 2019 will arrive at a time when the world of work is at a crossroads. On the heels of the Great Recession that brought global unemployment levels to 200 million and led to widespread insecurity, labour markets across the world are undergoing deep transformations. These changes oblige us to rethink what work means and what it entails. They are also challenging societies to find ways to ensure that work delivers the jobs and incomes that people need.
For generations, work entailed for many of us – especially in the developed world – much more than a job. It was not only where we went to sustain our livelihoods and those of our families, but also where we created professional and personal communities. We were also rewarded for our efforts with a regular and fair wage, benefits such as retirement income, and some measure of security in case of illness or injury. In exchange for our efforts we were also granted a certain level of security: we knew when the next pay cheque was coming and were afforded some guarantees in case we fell or had an accident. The nature of this contract often led us to work for the same employer over an entire career.
For some workers in the developing and emerging world, especially those with a public sector or manufacturing job, this was also the case. For many others such a decent job was beyond reach but it was an aspiration. Managers, in turn, were rewarded with a stable workforce that they could train.
Today, the world of work is witnessing an erosion of the classical employee-employer relationship. An increasing share of the world’s workforce is employed in what the ILO calls “non-standard” forms of employment (NSE). This includes temporary work, part-time and on-call work, multi-party employment relationships such as “dispatch work” or disguised employment and dependent self-employment relationships. The rise of the “gig” or “on-demand” economy in recent years, whereby work is mediated through online web platforms or apps, has brought renewed attention to these forms of work. In addition, the place of work has also changed, with many more workers taking advantage of developments in information technology to work from home or for themselves.
For some, working in NSE is an explicit choice that has positive outcomes. Part-time work, for example, can allow workers to combine paid work with child-rearing, elder care, studies or further training. Yet for many others it is associated with insecurity, not only in terms of employment, earnings and hours, but also in fundamental workplace issues such as the right to a safe and healthy workplace and representation and voice.
Indeed, in some instances NSE has helped improved work-life balance via increased autonomy to organize one’s working time – facilitated by new technologies where one is not always obliged to be “at the office”. However, this has led to longer hours and increased ambiguity between paid work and personal time that requires people to be constantly available – all of which is associated with higher levels of stress and questions about compensation.
Similarly, non-standard employment allows enterprises to adjust their workforces in response to changes in demand and scheduling needs or to replace temporarily absent workers. Yet an over-reliance on the use of temporary workers can lead to productivity challenges, as enterprises lose the incentive to invest in training of their staff or in organizational and technological innovations.
Looking forward to ILO’s centenary, these new forms of work are likely to intensify in the age of digitisation and new technologies. At this important crossroads, government, employers and workers policy approaches must evolve in parallel. This is one reason why on April 6-7, the ILO will bring together leading global experts to discuss “the Future of Work We Want.” This landmark event presents an important step to gain greater understanding of the changes we are witnessing and to develop effective policy responses that can shape the future of work.
We recognize policies are needed to ensure that all types of work arrangements constitute decent work, as no contractual form is immune to the ongoing transformations in the world of work. While the years ahead will undoubtedly bring new changes, the dependence on work for one’s livelihood and the effect of work on a person’s overall well-being will not change. It is thus incumbent on governments, as well as employers, workers and their organizations, through national, regional and international efforts, to focus on these challenges in the context of the future of work, with the goal of promoting decent work for all.
Por
376 votos favoráveis e sete votos contrários, a Câmara dos Deputados
aprovou na noite desta quarta-feira (15), em segundo turno, a Proposta
de Emenda à Constituição (PEC) 209/2012, que cria um filtro para a
admissão dos recursos especiais. A proposta agora será encaminhada ao
Senado Federal.
A
PEC 209 tem como autores a ex-deputada e atual senadora Rose de Feitas e
o ex-deputado Luiz Pitiman. Ela pretende reduzir o excessivo número de
recursos que chegam ao Superior Tribunal de Justiça (STJ) e viabilizar o
cumprimento de sua missão essencial, que é a interpretação do direito
federal infraconstitucional.
Congestionamento
De
acordo com a proposta, para que o recurso especial seja admitido, deve
ser demonstrado que a questão discutida tem repercussão relevante do
ponto de vista econômico, político, social ou jurídico que ultrapassa os
interesses subjetivos da causa.
Segundo
os autores, a ideia é evitar o congestionamento de recursos especiais
no STJ relativos a causas de menor relevância, temas corriqueiros, que
não extrapolam o mero interesse individual das partes envolvidas.
Filtro de relevância
O
texto insere o parágrafo 1º ao artigo 105 da Constituição Federal para
que a admissão do recurso especial siga os moldes da repercussão geral
exigida para o recurso extraordinário dirigido ao Supremo Tribunal
Federal (STF) – com a demonstração da relevância das questões jurídicas
discutidas pelo recorrente.
Sem
o filtro da relevância, o tribunal tende a funcionar como mera
instância de revisão dos julgados dos Tribunais de Justiça e dos
Tribunais Regionais Federais, diluindo seu papel constitucional na
análise de questões sem maior densidade jurídica, que não trazem impacto
para a uniformização da jurisprudência.
A expectativa é que o filtro de relevância diminua em 50% o volume de recursos que chegam ao tribunal.