Analistas da velha mídia apressam-se em apontar uma derrota acachapante do PT nas eleições municipais. Claro, associam o “resultado” (por enquanto são apenas pesquisas; e o PT – mostra a história – tem candidatos bons de chegada) ao julgamento do chamado “mensalão”. Trata-se de torcida, mais do que qualquer coisa…
Por outro lado, não é bom brigar com os fatos. Na eleição presidencial de 2010, já estava claro que o chamado “voto de opinião” nas principais capitais brasileiras tinha se afastado do PT. Dilma teve votações abaixo do esperado em cidades como BH, Recife e mesmo no Rio. Para quem foram esses votos? Para os tucanos? Não, para Marina Silva. As pesquisas eleitorais, até agora, apontam para um aprofundamento dessa tendência em 2012.
Do que estamos falando? Se o PT vê seu eleitorado refluir nas capitais e maiores cidades brasileiras, de outro lado o PSDB (principal partido de oposição) não parece ser o beneficiário desse movimento.
Comecemos pelo Sul do país. Em Porto Alegre, PT e PSDB naufragam. Em Florianópolis, PSD e PCdoB é que devem disputar o segundo turno. Em Curitiba, o governador tucano (Beto Richa) lançou um candidato por outra legenda – o PSB – e o PT se escondeu numa aliança com Fruet (PDT).
O fenômeno é semelhante no Sudeste. Em Minas, estado administrado pelos tucanos há 3 mandatos, Aécio e Anastasia descobriram que não é bom negócio usar a legenda do PSDB. O candidato tucano em BH, Márcio Lacerda, aparece também travestido de “socialista”, com boas chances de vitória (aliás, o mesmo ocorre em Campinas, onde o candidato de Alckmin usa a legenda do PSB contra o petista Marcio Pochmann). No Rio, PMDB e PSOL disputam a Prefeitura. Em São Paulo, o azarão Russomano (PRB) lidera, enquanto PT e PSDB se engalfinham para buscar uma vaga no segundo turno. A exceção é Vitória, onde Veloso Lucas (um quadro histórico do PSDB) deve ganhar com certa folga.
Cheguemos à região Norte. O PSDB tem chances em Manaus, com o inesquecível Artur Virgílio; e quem pode derrotá-lo não é o PT, mas Vanessa Graziotin (PCdoB), com apoio de Lula. Em Rio Branco, os sinais se invertem: o PT tem candidato forte, mas aí são os tucanos que estão fora da disputa. Em Belém, a corrida (repetindo o Rio) se dá entre PSOL e PMDB (PT e PSDB assistem de camarote).
E aquela história de que o Nordeste é a região mais ”petista” do país? Os tucanos devem vencer em Teresina e Maceió. Os petistas têm boas chances em João Pessoa; e na reta final o PT deve crescer também em Salvador e Fortaleza. Em nenhum desses casos há polarização entre PSDB e PT.
No Centro-oeste, a região do agronegócio (sempre mais mais “tucana” nas eleições presidenciais), é o PT que deve vencer em Goiânia; e tem alguma chance também em Cuaiabá. O PSDB não vai ganhar em nenhuma capital da região.
Qual o resumo da ópera? O PT certamente não colherá resultados estupendos em 2012 (isso pode mudar se Haddad for ao segundo turno e bater Russomano em São Paulo). Mas de outro lado os tucanos e o DEM não serão os beneficiários de uma onda “antipetista”. O que existe – sim – é o avanço de uma “terceira via”, que já estava visível na eleição presidencial de 2010.
Acontece que essa terceira via não tem forma por enquanto. O PSB pode colher ótimos resultados, vencendo em BH e Curitiba (associado aos tucanos), além do Recife e Cuiabá. Eduardo Campos ganha assim mais cacife para negociar com o lulismo. Se for “rejeitado”, pode servir como cavalo de tróia para uma candidatura em 2014 – com cara de “lulismo” e recheio “tucano”. Ou vice-versa.
O velho bruxo maranhense, José Sarney, dissera já há muitos anos: a verdadeira oposição a Lula e ao PT não virá de PSDB e DEM, mas vai brotar das entranhas da coalizão lulista. Fica cada vez mais claro que a oposição tem mais chance de vitória quanto mais abandonar o figurino “paulista/tucano/privatista”, ganhando ares centristas.
Por fim, alguns dados que tornam a avaliação de todo o quadro ainda mais complexa: no lulismo, PCdoB e PDT também ficam um pouco mais fortes para negociar espaços na coalizão governista. E na oposição, o velhíssimo DEM, que era dado como “morto”, ganha sobrevida com candidatos competitivos em Salvador, Fortaleza e Aracaju. No PSOL, uma (boa) novidade: se ganhar com o ponderado Edmilson Rodrigues em Belém, o partido fará uma administração em coalizão com o lulista PCdoB, forçando os psolistas a abandonar a retórica udenista vazia (fato reforçado pela saída de Heloisa Helena, que deve dar os braços para Marina Silva em 2014).
A provável derrota de Serra em São Paulo deve deslocar o eixo da oposição direitista para longe de São Paulo e do PSDB tradicional. Já no lulismo, o PT seguirá forte, mas terá que negociar com outros partidos se quiser evitar rachas que possam nutrir uma candidatura “alternativa” já em 2014.
Imagem: PT e PSDB protagonizam a luta pelo poder central no Brasil há 20 anos. (Foto – charge/Diogo web)
Fonte: Página Global