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segunda-feira, 21 de janeiro de 2013

O parasita mora ao lado

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por Alexandre Carvalho dos Santos
 
Psicopata que faz picadinho de quem pega carona. Psicopata que tortura uma família inteira num feriado. Psicopata líder de seita assassina. Psicopata canibal. Se todos os psicopatas usassem a máscara do Jason do Sexta-Feira 13, seria mais fácil mudar de calçada na mesma hora. Só que na vida real a maioria deles não tem a fachada nem os modos de um assassino sanguinário. E mais: poucos são os que matam ou aparecem nas manchetes.

"O psicopata com uma postura criminosa é o do tipo predatório, que satisfaz suas necessidades por meio de uma ação destruidora, agressiva e fria", diz Antônio de Pádua Serafim, coordenador do programa forense do Instituto de Psiquiatria do Hospital das Clínicas da USP. "Mas há o psicopata parasitário, que só se aproveita das pessoas mais vulneráveis para conseguir o que ele quer. Esse não adotará, necessariamente, uma conduta criminosa, mas provocará estrago no ambiente social", afirma.

O parasita pode passar a vida inteira sem chamar a atenção, apenas fazendo a especialidade do psicopata: manipular os outros, aproveitar-se do próximo, desestabilizar famílias, passar a rasteira em alguém para se dar bem.

E onde está essa gente mal-intencionada? Talvez no seu escritório, decidindo que ninguém vai ter participação nos lucros do ano - só ele. Ou entre os seus amigos, pedindo que banquem a conta da noitada (esqueceu a carteira...). Ou pior: talvez esteja na sua cama.

Caiu a ficha? Os psicopatas estão entre nós, e não é nada fácil identificá-los. "A dissimulação é um dos principais sintomas que compõem a psicopatia", diz Geraldo José Ballone, professor de psiquiatria da PUC de Campinas. "A simpatia e o carisma encobrem o seu verdadeiro perfil. Em geral, quando percebemos a possibilidade de um conhecido ser psicopata, o dano já está feito", diz Ballone.

Então, em quem confiar? Se você não quer ter um parasita manipulador azucrinando a sua vida, preste atenção às características de colegas, amantes e amigos psicopatas.


NA AMIZADE

É fácil confundir aquele amigo grudento e folgado com um psicopata. Os dois estão sempre telefonando em horas impróprias, não saem da sua casa, bebem a sua cerveja, pedem os seus livros emprestados e não devolvem. Mas o chato de galocha tem fácil solução: você o ignora, dá um chega para lá, e isso resolve. Mas, se for um psicopata de verdade, pode rezar.

No começo, é o amigo de fé. De tanto estudar a sua personalidade, projeta em si uma imagem que bate com tudo o que você espera de um irmão camarada. Assim, conquista a sua confiança e participa cada vez mais da sua vida. "Ele suga tudo que o relacionamento pode oferecer, de dinheiro e bens materiais à submissão quase escravista", diz o psiquiatra Geraldo José Ballone. Grudado no companheiro saudável, consegue tudo do amigo para si: status, dinheiro na conta, casa na praia, geladeira cheia, carro novo... E os empréstimos sempre são acompanhados de uma história comovente.

A marcação cerrada do "melhor amigo" custa à vítima a vida própria: lá se vão o namoro e outras amizades. Quando se dá conta, já é tarde demais.

Na hora de dar um basta no camarada sacana, o amigo ainda fica com pena. "Isso ocorre porque, quase sempre, a vítima é a última a acreditar na índole sociopática do amigo", afirma Ballone. Mas a recíproca não é verdadeira: quando já arruinou suas relações, o psicopata vem com a história de que precisa comprar cigarros... e some. Ele pode não arrancar pedaços do seu fígado para comer no café-da-manhã, mas vai tirar um bocado do que você tem de autoestima, dignidade e confiança no próximo.


NO AMOR
Num relacionamento amoroso o psicopata também extrai tudo de aproveitável da outra pessoa, até só sobrar o bagaço. Se a namorada for famosa, é para ganhar status. Se a esposa for bonita-bacana-inteligente, é para exibir como troféu. Se tiver dinheiro, então...

Foi o caso da americana Donna Andersen, uma mulher que, perto dos 40 anos, conheceu pela internet a versão melhorada do Sean Connery. Pelo menos era como o viúvo James Montgomery se descrevia. Militar das Forças Especiais da Austrália, foi condecorado por atos de bravura no Vietnã. Já distante da troca de tiros com vietcongues, entrou para a indústria de entretenimento dos EUA. Após algum tempo de e-mails, casaram-se.

Apesar de se dizer tão bem de vida, Montgomery logo convenceu a mulher a patrocinar os seus negócios. Um deles: vender restos do Titanic num show itinerante. O "itinerante" significava que Montgomery tinha gastos estratosféricos com passagens aéreas, contas de celular e outras despesas. Tudo bancado pela dedicada esposa, que tinha um negócio próprio e foi se endividando até chegar ao fundo do poço.

Somente quando o prejuízo beirou os US$ 300 mil, a moça descobriu com quem se casara. Montgomery era maridão de mulheres em outras cidades - daí tantas viagens. E o harém todo pagava pelas aventuras extraconjugais.

Mas como um veterano do Vietnã seria capaz disso? Sua mente teria sido afetada pelos horrores do campo de batalha? Não. Apesar de dar palestras sobre a guerra em escolas, participar de desfiles de veteranos e passear com o cachorro de boina verde, Montgomery nunca tinha sido do Exército.


DO CÉU AO INFERNO

"Não há jeito de manter um relacionamento com um psicopata sem se ferir de algum modo", afirma Sandra L. Brown, autora do livro Women Who Love Psychopaths ("Mulheres Que Amam Psicopatas"). "Não existe uma cartilha do tipo ‘como ter uma relação feliz e sadia com um psicopata’. As pessoas normais são sempre afetadas pela patologia dos seus parceiros." E por que insistir num romance que inevitavelmente vai deixar cicatrizes?

Porque o coração é cego e burro, e isso dá espaço para o psicopata pôr em prática sua estratégia de abordagem.

Funciona assim: enquanto conhece a vítima, ele se empenha em descobrir seu calcanhar-de-aquiles. Se a garota tem complexo de inferioridade, trata de apontar beleza onde o resto do mundo vê a Betty, a Feia. Se a garota procura um cara bem de vida para apresentar aos pais, ele diz que herdará 5 fazendas no Mato Grosso. Tudo mentira, claro. Mesmo que nunca pague a conta nos restaurantes, ele disfarça com tanto charme que a cara-metade nem se importa.

Uma vez estabelecida a relação, o psicopata começa a mostrar as garras. Vive às custas do outro, mantém casos extraconjugais, só pensa na própria satisfação e impõe uma relação de posse. E, por mais que apronte, ele sempre transfere a sua culpa à vítima. Se abusar do dinheiro da namorada rica e mais velha, será porque sua infância foi difícil e miserável; se for pego pulando a cerca, será porque a mulher não lhe dá a atenção devida.

Se você descobriu que se casou com um psicopata, prepare-se, pois não vai ser fácil romper com ele. Quando não precisa mais do relacionamento, o psicopata novamente sai para comprar cigarros e nunca mais dá as caras. Mas, se a situação for inversa e sentir que perdeu um brinquedo que lhe pertencia, o cara vai dar trabalho. "O psicopata vai ignorar a vontade da vítima. Poderá segui-la, arquitetar uma vingança e chegar até a ameaçar a vida da pessoa", diz Sandra Brown. "Quem deseja terminar uma relação com um psicopata precisa de ajuda para traçar um plano seguro de saída."


NO TRABALHO

O ambiente das grandes empresas é um cenário convidativo para o psicopata montar seu teatro - principalmente a partir dos anos 90, numa competitiva era de aquisições, fusões e falências em que, para sobreviver, organizações se tornaram menos burocráticas e controladoras e muito mais agressivas.

Segundo Paul Babiak em seu livro Snakes in Suits ("Cobras de Terno"), a autoconfiança, a força e a frieza que caracterizam os psicopatas fez a cabeça de muitos caçadores de talentos que buscavam funcionários "proativos" e dispostos a assumir riscos. "Egocentrismo e insensibilidade tornaram-se repentinamente defeitos toleráveis na hora de buscar talentos necessários para sobreviver num mundo de negócios acelerado", diz Babiak.

Mas, ao procurar pessoas com senso de liderança - isto é, que assumem metas, tomam decisões sem medo e obtêm dos outros o necessário para tais metas -, tornou-se fácil confundi-las com um pacote de coerção, dominação e manipulação ocultado por uma bela embalagem.

E como um departamento de RH bem estruturado deixa passar um psicopata após tantas análises de currículos, entrevistas e dinâmicas?

Simples: o psicopata tem um talento enorme para enganar. Se ele colocar na cabeça que quer ser piloto de uma companhia aérea, vai dar um jeito de forjar um comprovante da Nasa dizendo que já foi até astronauta. Vai mentir no currículo, vai mentir nas entrevistas e vai fazer tudo isso com o sangue frio e o charme. Psicopatas são convincentes, encantadores e conseguem transformar um punhado de conhecimentos superficiais numa tese de doutorado.

E o que pode resultar da contratação de um psicopata? Dificilmente algo que preste. Para começo de conversa, ele não tem espírito de equipe. Muito pelo contrário: se for preciso puxar o tapete de um colega para promover-se, não vai pensar duas vezes. Outro lado da questão é que o psicopata não tem o menor interesse no futuro da empresa. Para ele importa o aqui-e-agora, a satisfação rápida e intransferível.

Além disso, psicopata não compartilha dos mesmos valores da companhia e de seus colegas. A diretoria quer gente que dê duro, todo dia, das 8 às 18 horas, e que vista a camisa da empresa? Pode esquecer. Ele até consegue encarar essa rotina por um certo tempo, sempre com a intenção de passar uma imagem falsa. Mas os únicos valores que lhe dizem respeito são só os que estão na própria cabeça.

Como regras sociais não lhe dizem nada, ele frequentemente comete atos ilegais, o que joga a reputação da empresa no buraco. Desvio de grana, assédio moral e sexual são corriqueiros. Por isso, não dura muito na empresa. No entanto, sua passagem é um vendaval (veja o quadro à esquerda).

Se a trajetória do psicopata não prejudicar a empresa como um todo, no mínimo alguém vai sofrer com seu convívio. Nas mãos de um mestre da mentira e da manipulação, seu colega precisa passar o expediente todo com os olhos nas costas - caso contrário, vai acabar fazendo o trabalho que o psicopata deixa de lado (sem levar os créditos por isso), além de ser envolvido numa teia de intrigas.

Esse é o seu caso? Então fique contente por ele não ser seu chefe. Em algum momento você já disse que seu chefe é um carrasco. Pode ser verdade, mas daí para ele ser um psicopata são outros quinhentos.

Ele vai sentir prazer físico em humilhá-lo na frente de colegas e de outros chefes; vai culpá-lo por qualquer porcaria que ele mesmo fez, e vai assumir o crédito por qualquer trabalho bacana que você produzir.

Sim, abusos de autoridade e falta de ética não são exclusividades de chefes psicopatas. A diferença é que, para o psicopata, esse é o padrão.



Como lidar com um amigo psicopata

Ligue o detector de mentiras

Psicopata mente mais que político em campanha. É um especialista no assunto, mas a constância das papagaiadas acaba entregando o sujeito. Se 90% do que seu amigo diz parece cascata da brava, mantenha os dois pés atrás.


Ouça a voz da razão
Sua namorada não vai com a cara do seu amigo, diz que é folgado, que só se aproveita de você e não merece um pingo da sua dedicação? Ok, namorada diz isso de todos os nossos amigos. Mas, se a turma toda concordar, fique com a pulga atrás da orelha.


Esconda a grana
Só empreste dinheiro para seu amigo se tiver certeza de que não é um psicopata. Se for e concluir que você é um cofre ambulante, prepare-se para ver sua conta no fundo do poço. Ele sempre vai convencê-lo de que pagará tudo, com juros, no fim do mês. Só não vai dizer de qual mês.


Não seja cúmplice
"Uma mão lava a outra", "te devo uma" e "só pediria uma coisa dessas a você" são clássicos do psicopata. Mas nunca negocie com o Diabo. Se fizerem bobagem juntos e forem descobertos, adivinhe para quem vai apontar o dedo...


Feche a porta de casa
O pior que você pode fazer, numa amizade com um psicopata, é dividir a sua casa. Enquanto você mantiver a geladeira cheia e pagar o aluguel sozinho, ele não vai ter motivo para procurar outro teto. A não ser que arrume alguém mais trouxa.


Imponha regras
Ignorou a dica aí de cima? Enquanto não arruma uma boa desculpa para despejá-lo, mostre quem manda na casa. Sujou, limpou. E o que é seu é seu. Para casos extremos, coloque etiquetas nos seus xampus, iogurtes, cds preferidos.


Caia fora
Você só tem a perder na amizade com um psicopata. Além de se aproveitar de você, ele vive num mundo fora das regras sociais, o que torna qualquer relacionamento perigoso. Se sua casa ainda está inteira e você não perdeu a namorada ou os outros amigos, considere-se um sortudo e corte o mal pela raiz. Agora! Já!


O que fazer quando seu amor é um psicopata

Desconfie quando a esmola for muita

Nos primeiros encontros, sua cara-metade é a gentileza em pessoa? Quer jogar golfe com o seu pai? Adorou o filme iraniano de que só você gosta? Diz que tem dinheiro à beça, mas não pode falar sobre o trabalho porque é agente secreto? Ou você acertou na Mega-Sena ou arrumou um psicopata.


Banque o Sherlock
Psicopata legítimo já vem de berço. E ninguém melhor que os parentes e os amigos (se ele tiver) para revelar seus podres. Chame a sogrona de canto e comece o questionário. Se não der certo, tente o irmão caçula. Esse deve ter uns quinhentos motivos para dedurar as torturas do mais velho.


Não tenha pena
Psicopata que é psicopata adora se fazer de coitado. Se enche a sua cara de porrada, é porque você o mata de ciúme. Se rouba a sua grana, diz que mandou para a avó doente que mora no interior. Às vezes, até chora enquanto dispara as lorotas. Tadinho...


Não tente mudá-lo
Coloque uma coisa na cabeça: psicopatas não têm cura. Não adianta rezar, fazer simpatia, levar à mãe-de-santo. Muito menos achar que a força do amor vai regenerá-lo. Uma hora, a pessoa vai aprontar, e vai sobrar para você.


Não vacile
Se desconfia que o amorzão é um baita de um psicopata, não dê sopa para o azar. Conta conjunta, só por cima do seu cadáver. E suma com machados, serras elétricas e outras ferramentas que viram armas. Resumindo: se ele ainda não pensou em fazer picadinho de você, não dê ideia.


Compre um cachorro
É batata. Dez entre dez psicopatas treinam suas maldades no vira-lata mais próximo. Fique atento ao modo como seu par trata o cãozinho. Se vibra de prazer ao amarrar rojão no rabo do cachorro, imagine o que ele pode fazer com você.


Caia fora
Descobriu o que todo mundo via, menos você? Então dê no pé enquanto é tempo. Só lembrando: psicopatas não reagem bem quando levam um fora. Troque o número do telefone e a fechadura da casa. Também é boa hora para aquela viagem que você tanto adiava para a Oceania.


Como sobreviver a um chefe psicopata
Seja um Top Gun
Qualquer desempenho abaixo da perfeição é o sonho do chefe psicopata. Ele é pago para ava­liar o seu trabalho e vai explorar suas deficiências ao máximo. Qualquer pequeno deslize pode virar um tsunami. Mas, se você for um ninja em tudo o que faz, ele vai escolher outro alvo.


Deixe por escrito
Tudo de que o psicopata precisa é um escritório em que ninguém consegue provar as suas sacanagens. Será a sua palavra contra a dele. E ele é o chefe, o lado mais forte da corda. Então guarde os e-mails trocados, faça atas de reunião, registre tudo o que puder. Assim, as mentiras dele terão perna curta.


Conte até 100
Brigar com o chefe nunca é uma boa ideia. Com o psicopata, então, é suicídio; ele é mestre em trazer o seu pior lado à tona. Evite atritos e, quando for inevitável, não perca a cabeça. Ah, e não desconte no cachorro ou no irmão caçula quando voltar do trampo.


Ponha a boca no mundo
Procure o RH e faça as suas queixas. Em algumas empresas, você pode até manter anonimato, mas lembre-se de que isso enfraquece a sua história; tem que haver outras reclamações parecidas para o bicho pegar para ele.


Peça uma transferência
O psicopata do seu chefe resolveu pegar bem no seu pé? Busque alternativas para ficar longe dele. Pode haver uma vaga em outro departamento. E pode ser do outro lado da cidade.


Caia fora
Emprego não é casamento. Se nada funcionar, atualize o currículo e avise sua rede de contatos que está à caça de "novos desafios". Melhor que passar o resto da vida deprimido no domingo à noite, antecipando os sofrimentos da semana.


Os passos do parasita engravatado Segundo Babiak, o aminho do psicopata no mundo corporativo tem 5 fases

1. CONTRATAÇÃO

Sua capacidade de contar lorotas e seduzir está a todo vapor. A incapacidade de se emocionar também vai contar pontos na comparação com outros candidatos, prejudicados pelo nervosismo natural das entrevistas de emprego.


2. ACLIMATAÇÃO
Agora o psicopata tenta descobrir quais são as pessoas mais importantes da empresa. Seu objetivo é ficar íntimo delas para influenciá-las em decisões que o beneficiem.


3. MANIPULAÇÃO
Começa o seu jo­guinho. Faz fofocas sobre potenciais concorrentes a uma promoção, joga informações falsas na “rádio-peão”. Quanto maior o caos, mais ele se sente em casa.


4. CONFRONTAÇÃO
O psicopata começa a tirar a máscara, pois precisa livrar-se dos que usou para avançar na empresa. O colega que foi confidente e cúmplice passa a ser humilhado e ameaçado.


5. PROMOÇÃO
Depois de muito mexer as peças de um xadrez perverso, o psicopata avança na empresa, conquistando um posto de maior poder e deixando um rastro de destruição atrás de si. Pronto, o estrago está feito.

Fonte: Superinteressante, jul. 2009
 

sexta-feira, 20 de julho de 2012

Chomsky e as 10 estratégias de manipulação midiática


O lingüista estadunidense Noam Chomsky elaborou a lista das “10 estratégias de manipulação” através da mídia:
1- A ESTRATÉGIA DA DISTRAÇÃO.
O elemento primordial do controle social é a estratégia da distração que consiste em desviar a atenção do público dos problemas importantes e das mudanças decididas pelas elites políticas e econômicas, mediante a técnica do dilúvio ou inundações de contínuas distrações e de informações insignificantes. A estratégia da distração é igualmente indispensável para impedir ao público de interessar-se pelos conhecimentos essenciais, na área da ciência, da economia, da psicologia, da neurobiologia e da cibernética. “Manter a atenção do público distraída, longe dos verdadeiros problemas sociais, cativada por temas sem importância real. Manter o público ocupado, ocupado, ocupado, sem nenhum tempo para pensar; de volta à granja como os outros animais (citação do texto 'Armas silenciosas para guerras tranqüilas')”.
 
2- CRIAR PROBLEMAS, DEPOIS OFERECER SOLUÇÕES.
Este método também é chamado “problema-reação-solução”. Cria-se um problema, uma “situação” prevista para causar certa reação no público, a fim de que este seja o mandante das medidas que se deseja fazer aceitar. Por exemplo: deixar que se desenvolva ou se intensifique a violência urbana, ou organizar atentados sangrentos, a fim de que o público seja o mandante de leis de segurança e políticas em prejuízo da liberdade. Ou também: criar uma crise econômica para fazer aceitar como um mal necessário o retrocesso dos direitos sociais e o desmantelamento dos serviços públicos.
 
3- A ESTRATÉGIA DA GRADAÇÃO.
Para fazer com que se aceite uma medida inaceitável, basta aplicá-la gradativamente, a conta-gotas, por anos consecutivos. É dessa maneira que condições socioeconômicas radicalmente novas (neoliberalismo) foram impostas durante as décadas de 1980 e 1990: Estado mínimo, privatizações, precariedade, flexibilidade, desemprego em massa, salários que já não asseguram ingressos decentes, tantas mudanças que haveriam provocado uma revolução se tivessem sido aplicadas de uma só vez.
 
4- A ESTRATÉGIA DO DEFERIDO.
Outra maneira de se fazer aceitar uma decisão impopular é a de apresentá-la como sendo “dolorosa e necessária”, obtendo a aceitação pública, no momento, para uma aplicação futura. É mais fácil aceitar um sacrifício futuro do que um sacrifício imediato. Primeiro, porque o esforço não é empregado imediatamente. Em seguida, porque o público, a massa, tem sempre a tendência a esperar ingenuamente que “tudo irá melhorar amanhã” e que o sacrifício exigido poderá ser evitado. Isto dá mais tempo ao público para acostumar-se com a idéia de mudança e de aceitá-la com resignação quando chegue o momento.
 
5- DIRIGIR-SE AO PÚBLICO COMO CRIANÇAS DE BAIXA IDADE.
A maioria da publicidade dirigida ao grande público utiliza discurso, argumentos, personagens e entonação particularmente infantis, muitas vezes próximos à debilidade, como se o espectador fosse um menino de baixa idade ou um deficiente mental. Quanto mais se intente buscar enganar ao espectador, mais se tende a adotar um tom infantilizante. Por quê? “Se você se dirige a uma pessoa como se ela tivesse a idade de 12 anos ou menos, então, em razão da sugestão, ela tenderá, com certa probabilidade, a uma resposta ou reação também desprovida de um sentido crítico como a de uma pessoa de 12 anos ou menos de idade (ver “Armas silenciosas para guerras tranqüilas”)”.
 
6- UTILIZAR O ASPECTO EMOCIONAL MUITO MAIS DO QUE A REFLEXÃO.
Fazer uso do aspecto emocional é uma técnica clássica para causar um curto circuito na análise racional, e por fim ao sentido critico dos indivíduos. Além do mais, a utilização do registro emocional permite abrir a porta de acesso ao inconsciente para implantar ou enxertar idéias, desejos, medos e temores, compulsões, ou induzir comportamentos…
 
7- MANTER O PÚBLICO NA IGNORÂNCIA E NA MEDIOCRIDADE.
Fazer com que o público seja incapaz de compreender as tecnologias e os métodos utilizados para seu controle e sua escravidão. “A qualidade da educação dada às classes sociais inferiores deve ser a mais pobre e medíocre possível, de forma que a distância da ignorância que paira entre as classes inferiores às classes sociais superiores seja e permaneça impossível para o alcance das classes inferiores (ver ‘Armas silenciosas para guerras tranqüilas’)”.
 
8- ESTIMULAR O PÚBLICO A SER COMPLACENTE NA MEDIOCRIDADE.
Promover ao público a achar que é moda o fato de ser estúpido, vulgar e inculto…
 
9- REFORÇAR A REVOLTA PELA AUTOCULPABILIDADE.
Fazer o indivíduo acreditar que é somente ele o culpado pela sua própria desgraça, por causa da insuficiência de sua inteligência, de suas capacidades, ou de seus esforços. Assim, ao invés de rebelar-se contra o sistema econômico, o individuo se auto-desvalida e culpa-se, o que gera um estado depressivo do qual um dos seus efeitos é a inibição da sua ação. E, sem ação, não há revolução!
 
10- CONHECER MELHOR OS INDIVÍDUOS DO QUE ELES MESMOS SE CONHECEM.
No transcorrer dos últimos 50 anos, os avanços acelerados da ciência têm gerado crescente brecha entre os conhecimentos do público e aquelas possuídas e utilizadas pelas elites dominantes. Graças à biologia, à neurobiologia e à psicologia aplicada, o “sistema” tem desfrutado de um conhecimento avançado do ser humano, tanto de forma física como psicologicamente. O sistema tem conseguido conhecer melhor o indivíduo comum do que ele mesmo conhece a si mesmo. Isto significa que, na maioria dos casos, o sistema exerce um controle maior e um grande poder sobre os indivíduos do que os indivíduos a si mesmos.

Fonte: http://www.paginadowill.com/2012/06/chomsky-e-as-10-estrategias-de.html

quinta-feira, 26 de janeiro de 2012

Lábia Universal

Por Rowan Moore Gerety

As autoridades dão um tratamento opaco aos processos criminais contra a Iurd, afirma ativista de direitos humanos. Foto: Rowan Moore Gerety

Poucos lugares do planeta fornecem terra mais fértil para uma mensagem de cura e prosperidade do que Moçambique. Com 90% da população tentando sobreviver com menos de dois dólares por dia, com metade das crianças sofrendo com desnutrição crônica, o país africano tornou-se um poderoso centro de captação de adeptos para a Igreja Universal do Reino de Deus, a Iurd.
Um exemplo do poder que a neopentecostal brasileira adquiriu em Moçambique ocorreu numa manhã de setembro de 2011. A Iurd promoveu o chamado “Dia de Decisões” (ou “Dia D”), um megaculto realizado no Estádio Nacional de Maputo, capital moçambicana. Teve como objetivo promover curas e demonstrações de fé e, claro, atrair novos fiéis. A igreja reuniu 42 mil pessoas no local e ainda viu outras 30 mil se aglomerarem do lado de fora, acompanhando via telão. As pessoas carregavam rosas nas mãos, símbolo do evento. A compor a massa estavam, entre ou-tros desesperados, jovens vítimas de poliomielite com suas bengalas, camponeses idosos descalços e vendedores ambulantes a sonhar com uma recompensa maior.
O megaculto marcou um ano lucrativo para a Iurd em Moçambique. O canal de televisão da igreja, a TV Miramar, ratificou-se como a líder de audiência. O seu apóstolo, Edir Macedo, foi recebido pelo presidente, Armando Guebuza. O chamado “Cenáculo da Fé”, um megatemplo para cultos, foi inaugurado em Maputo. E, por último, a concentração de populares no Dia D, que contou com a presença do primeiro-ministro Aires Ali e da ministra da Justiça, Benvinda Levy, entre outros figurões da política local.
Durante 20 anos de existência em Moçambique, a Iurd cresceu sempre além das expectativas e apesar das vozes contrárias de seus críticos. Nos primeiros anos da expansão, a Iurd enfrentou o então ministro de Cultura e Desporto, Mateus Katupha, que criticou o uso de instalações esportivas para eventos religiosos (enquanto seu atual sucessor presenciou o Dia D in loco). Em meados dos anos 1990, o falecido Carlos Cardoso, estrela do jornalismo moçambicano, publicou uma série de editoriais dizendo que a Iurd constituía uma empresa, ao invés de uma igreja, e como tal, deveria ser sujeita a impostos. -Concorrentes do canal Miramar – a TIM e a STV – têm feito reportagens sobre ex-fiéis da Iurd que entregaram as suas casas à igreja, na esperança de recompensas divinas.
Até hoje, epítetos como “Pastores Ladrões” e a “Igreja de Burla” (fraude), em homenagem à Universal, ecoam nos transportes públicos em Maputo. Descontentes com a igreja de Edir Macedo existem aos borbotões.
Num grupo de coral de outra igreja, a reportagem encontrou três personagens que lamentam ter participado dos quadros da Iurd. Graça entregou um crédito bancário no altar da Iurd para resolver um conflito com seu marido. Selma, que procurou seu filho durante 20 dias na Suazilândia e, aconselhada por um pastor, doou 1,2 mil dólares à igreja antes de tomar conhecimento do seu assassinato. E Felicidade, que interrompeu a construção da sua casa e deixou 25 sacos de cimento no quintal da igreja para se beneficiar de uma bênção anônima.
As três senhoras recordavam as exortações, entrevistas individuais e visitas à casa feitas pelos pastores da Universal, prática posteriormente considerada pelas três como mecanis-mo de manipulação.
Apesar das críticas, a Iurd estabeleceu-se como um ancoradouro na corrente principal da sociedade moçambicana. Nenhuma das queixas-crimes apresentadas contra a Iurd já logrou uma decisão judicial. A TIM e a STV cobram alto pelo enquadramento dos spots da Iurd em suas programações. A imprensa independente, apesar dos comentários ocasionalmente mordazes contra ela, deixa-se subsidiar pela propaganda. Um anúncio recente mostra um grupo de fiéis levantando retratos do presidente Guebuza durante uma “oração pela paz” da Iurd.
Tensões antigas com membros do gover-no foram resolvidas por meio de uma sutil simbiose com a Frente de Libertação de Moçambique (Frelimo), o partido no poder. “Certo, há muitos críticos”, assentiu José Guerra, fundador e presidente da Iurd em Moçambique. “Mas a Igreja fica mais cheia todos os dias.”
Para o Dia D, a estratégia de coerção da Universal assumiu o estilo das campanhas eleitorais. Caminhões com alto-falantes percorreram de forma constante os bairros de Maputo durante dois meses, tocando uma quizomba (música típica) sob encomenda.
A base da publicidade era um pôster, onipresente nas paredes e nos esgotos de Maputo, demonstrando o poder cura-tivo da fé: um par de pés coberto de repugnantes lesões (“Antes”) e, do outro lado, outro par, saudável e sem mancha nenhuma (“Depois”). “Meu nome é Armando”, anunciava o cartaz. “Sofri com feridas nos pés durante muito tempo. Mas, no dia em que tomei a decisão de participar de uma concentração de fé, fui curado e hoje estou livre.”
A Iurd foi a primeira igreja evangélica a se implantar em Moçambique, depois da longa e devastadora “Guerra de Desestabilização” (1976-1992).
A memória da antipatia marxista à religião, durante os primeiros anos da independência e do catolicismo paternalista do estado colonial, permitiu que a Iurd encontrasse um povo aberto a uma nova forma de expressão religiosa. Ganhou adeptos com o mesmo discurso existente no Brasil: a flexibilidade das suas orações, a ausência de regras fixas para os fiéis e, acima de tudo, pela grandeza da sua promessa de transformação pessoal.
Para cativar os fiéis, a Universal utiliza-se das mesmas mandingas e talismãs típicos das religiões afro de Moçambique, justamente as que tanto criticam por, na visão da própria Iurd, promoverem “feitiçaria”. A utilização de um óleo abençoado e um tratamento espiritual à base de envelopes com dicas a seguir (e pedidos de donativos) são de praxe. “Eles entendem de feitiçaria e tradição africana muito bem. Dão incensos, pulseiras e todas as coisas que um curandeiro dá”, afirma o Pastor Claudio Mulungo, da concorrente Igreja Maná.
A Igreja Universal, como a própria admite, tem a ousadia de prometer milagres a quem tiver a ousadia de pedi-los com convicção – muitos deles ambíguos e presenciados pela reportagem.
E todos os “milagres” do Dia D tenderam ao “infalível” frente às câmeras do Miramar. Um idoso com dores crônicas nas pernas conseguiu correr e tornou-se, nas palavras do pastor acompanhante, um paraplégico curado. Quando voltou a sentar, o senhor me confiou, em voz baixa, que seus pés recomeçaram a doer. Na lógica da Iurd, não “ser abençoado” ou não se beneficiar de um milagre qualquer significa um sacrifício insincero, uma fé insuficiente por parte do fiel. Os milagres malogrados (como o de um rapaz em cadeira de rodas, acorrentado a um cateter, a quem o testemunho público nem foi proposto, apesar do esforço feito para se levantar) não são divulgados. O mais importante é mostrar o sentimento do possível, de acreditar numa inversão da pers-pectiva calvinista: quem for um crente perfeito terá recompensa sem limite.
Dois dias antes do Dia D, Alice Mabota, presidente da Liga Moçambicana de Direitos Humanos (LDH), folheou o Código Penal, detendo-se no crime de burla – obtenção dos bens de outrem por meios fraudulentos.
A aplicação da lei a donativos religiosos poderia estabelecer um prece-dente polêmico: os partidários da Iurd defendem-se de acusações de burla por invocarem a livre e espontânea vontade dos doadores. Porém, existem casos na Iurd, afirma Mabota, que se aproximam de contratos verbais.
O escritório de serviços paralegais da Liga em Maputo recebe, com regularidade, reclamações de burla contra a Iurd, mas os queixosos sempre desistem antes de levar os seus casos à Procuradoria. Algumas disputas laborais da Iurd (por dispensas ilícitas, dívidas à segurança social, discriminação entre moçambicanos e brasileiros) foram resolvidas por acordos de indenização em favor de ex-funcionários da igreja, que já gastou mais de 100 mil dólares com isso. Várias grandes empresas estrangeiras em Moçambique já foram penalizadas dessa forma. Porém, os poucos processos de crime já iniciados contra a Iurd, segundo Mabota, são reféns de uma instrução opaca por parte da Procuradoria.
“Em um Estado normal, (esses casos) receberiam uma decisão. Mas aqui, não. É por causa do poder de influência da igreja através do medo.” As atividades da igreja de Edir Macedo em Moçambique não parecem ter suscitado o menor interesse das autoridades tributárias. “Aqui, em Moçambique”, disse Felicidade, antiga integrante da Universal, “eles (a Iurd) fazem e desfazem, porque o nosso governo aceita.”
Alice Mabota enumerou vários membros influentes do governo adeptos da igreja de Macedo. “Por que nossos dirigentes a frequentam?”, interrogou-se.
“Para mim, é o governo a cuidar de si mesmo. Quando chega a hora de votar, eles vão mobilizar todo o povo da Igreja Universal para votar neles.”
Ela vê um padrão de exploração no discurso de esperança ilimitada e sacrifício material promovido pela Universal. “O que é que vão decidir no Dia D?”, perguntou-me, dias antes do evento: “Vão decidir ter marido, vão decidir ter emprego, vão decidir serem ricos. Acha que é verdade? Mas como dizer a uma pessoa que não tem instrução para não acreditar nisso se deseja tanto acreditar?”.
No Dia D, após a “hora dos milagres”, a multidão foi instruída para voltar para casa com as suas rosas, que atrairiam todo o ruim, todo o mal no ambiente, para depois as levarem a uma Igreja Universal no domingo seguinte, a fim de serem incineradas. “As coisas mudam pouco a pouco”, concluiu Amélia, uma fiel que esperava para partir na boleia de um caminhão.
“Não vale a pena mudar de igreja só por não ver um milagre todos os dias. O Dia me mostrou que Deus existe”, insistiu. Mas eu liguei dias depois para Amélia e, até hoje, sua rosa ficou em casa.

Fonte: Carta Capital

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