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terça-feira, 22 de julho de 2014

História Antiga: A Civilização Persa

Por Alan Bernetto

Apesar de terem criado pouca coisa de original, os persas souberam aproveitar a herança de conhecimento que lhes transmitiram os povos conquistados. Na arquitetura, por exemplo, onde nos deixaram magníficas construções, os palácios assentam sobre plataformas, como na Mesopotâmia; os tetos são sustentados por colunas, como nas salas hipóstilas egípcias; as paredes se apresentam ornadas por baixos-relevos, como na Assíria; e por tijolos esmaltados, como em Babilônia. A escrita persa utilizou os caracteres cuneiformes mesopotâmicos. O grande rei Dario acolhia em sua corte sábios babilônios, médicos gregos e artífices egípcios.

Dois aspectos caracterizaram a civilização persa: o religioso e o político. Com efeito, o Zoroastrismo apresentava uma elevação moral e espiritual pouco comum na Antiguidade. Quanto ao aspecto político, a obra realizada pelos persas foi totalmente original, quer no que diz respeito ao tratamento dispensado aos povos sob seu domínio, quer no que tange à organização administrativa.

Coube-lhes o mérito de aproximar as nações conquistadas. Fazendo desaparecer rivalidades e desconfianças, estimularam o intercâmbio de produtos e de ideias. Com a unificação do sistema monetário por meio do dárico (moeda mandada cunhar por Dario I), as atividades comerciais foram grandemente incrementadas. A excelente rede de estradas, algumas com mais de 2 mil quilômetros, facilitava as comunicações oficiais e o trânsito das caravanas. A justiça e a clemência dos reis persas foi fator preponderante nessa aproximação.

Se a civilização persa não nos deixou obras originais no campo da arte, da cultura e da ciência, ou se seu legado, nesse terreno, foi inferior ao dos egípcios e mesopotâmicos, podemos dizer que a ela se deve a revelação de valores éticos de profundo significado humano. E essa contribuição é inestimável.
Guillaume Rouille/pt.wikipedia
Guillaume Rouille/pt.wikipedia
August Baumeister/pt.wikipedia
Darius retratado no chamado vaso grego Darius em Nápoles, encontrado em 1851, em Canosa di Puglia
Cambises II era filho de Ciro, o Grande (r. 559-530 aC), fundador do Império Persa e sua primeira dinastia Xerxes, filho de Salamida, foi um Shahanshah Persa (imperador) do Império Aquemênida
zazzle.fr
Dárico (moeda cunhada por Dario) Ciro, o Grande

O império 

A expansão persa se iniciou em 549 a.C. com a manobra política que colocou Ciro no trono da Média. A união dos dois países iranianos formava, por si só, uma poderosa potência. Mas a habilidade diplomática e o talento militar dos soberanos aquemênidas transformariam a Pérsia no centro do maior império até então constituído. Semitas, hititas, gregos e egípcios foram, durante muitos anos, vassalos da aristocracia persa.

A base da organização política do Estado era a satrapia (província), cujo governador se mantinha em permanente contato com o rei, recebendo ordens e enviando relatórios sobre a situação local. As comunicações eram rápidas e eficientes, graças às ótimas estradas, que interligavam os principais pontos do império, e a um perfeito serviço de correio a cavalo.
Rafael Sanzio/pt.wikipedia
Zoroastro

Apesar de nunca terem descurado o exercício de sua autoridade, os soberanos persas asseguraram uma larga margem de autodeterminação, em assuntos internos, aos povos conquistados, permitindo que falassem as próprias línguas, cultuassem os próprios deuses e desenvolvessem em paz suas atividades econômicas. A cunhagem de uma moeda única para todo o império, como foi dito, foi fator importante para impulsionar as atividades comerciais. Caravanas partiam da Babilônia, da Ásia Menor e da Média, ligando regiões distantes por meio de um ativo intercâmbio de mercadorias, facilitado pela inexistência de fronteiras e pela paz reinante.
O rei, de tão vasto e poderoso império, era, como todos os soberanos orientais que o haviam precedido, um rei absolutista. Governava em nome de deus e vivia em meio à extrema pompa e aparato. Quem quer que dele se aproximasse, devia fazê-lo ajoelhando- se. Mas a nobreza desempenhava relevante papel nos negócios da Corte e muitas das decisões reais levavam em conta a opinião dos membros da aristocracia.
A fase de maior vitalidade do Império Persa foi a de sua formação e organização (549-485 a.C.) sob os governos de Ciro, Cambises e Dario. Esse último lhe deu fronteiras definitivas e uma estrutura altamente eficiente. A expansão persa foi freada pelo conflito com os gregos, iniciado ao tempo de Dario (490 a.C.) e concluído com as derrotas de Salamina (480 a.C.) impostas pelos helenos a seu filho e sucessor: Xerxes.
A Pérsia renunciou a novas conquistas, permanecendo como maior potência asiática até a invasão macedônica em 331 a.C.
Anton Gutsunaev/pt.wikipedia
Até hoje o Império Aquemênida é considerado o maior de todos os impérios da história, e uma das maiores nações (Mapa do Império Aquemênida ca. 500 a.C.)

Fonte: Leituras da História

sexta-feira, 7 de setembro de 2012

A Bandeira Brasileira do Império: 1822


Ficheiro:Flag of Empire of Brazil (1822-1847).svg

A bandeira do Império do Brasil foi o pavilhão usado desde a Independência até a proclamação da República, quando então ganharíamos uma com nova configuração e simbolismo.

Nela podemos ver a predominância do verde e do amarelo (marcantes em nossos pavilhões) já sob a forma de retângulo e losângulo. Ao centro a bandeira contém uma formação circular formada por 19 estrelas. Mais ao centro, no interior da formação estrelada circular, vemos elementos simbólicos que remetem à antiga bandeira do Principado do Brasil e à Cruz da Ordem de Cristo. 

Abaixo do Brasão central vemos dois galhos ou ramos de plantas: o da esquerda trata-se de um ramo do café (coffea), intimamente ligado a nossa cultura agrícola e, até hoje, um dos grandes símbolos nacionais; o da direita é um ramo de tabaco (nicotiana tabacum). Um discreto laço vermelho une as duas plantas.

Por fim, acima do brasão presente ao centro do losango amarelo, pode-se vislumbrar a Coroa Imperial, presente em quase todas as bandeiras nacionais de períodos pré-republicanos.



terça-feira, 10 de julho de 2012

SAIBA MAIS SOBRE O LEVANTE POPULAR DA CABANAGEM


A miséria e a submissão imposta pelo Império levaram às armas a população de Belém. Um dos maiores levantes do período, a Cabanagem transformou servos em senhores

Texto Fred Linardi / Ilustrações Carlos Caminha | 23/05/2012 19h1
Era noite de festa de Reis no Brasil Império e o povo de Belém festejava ao luar. Autoridades portuguesas e famílias poderosas brindavam na noite de gala do Teatro da Providência. Do lado de fora, estava armado o palco de uma guerra anunciada. No dia 6 de janeiro de 1835, aproveitando a distração geral pela data santa, mais de 1 000 guerrilheiros empunhando espingardas, mosquetões, foices, terçados e espadas se escondiam nas matas ao redor da cidade, cortada por igarapés. Moradores de Belém misturavam-se a combatentes vindos do interior. Chegaram à capital no começo do ano e já planejavam o ataque.

À saída do teatro, o presidente da província, Bernardo Lobo de Souza, foi para a casa da amante. Demorou a perceber o caos na cidade. Esgueirando-se pelos quintais, de casa em casa, conseguiu ficar escondido até o início do outro dia. Quando saiu à rua, foi morto à bala por um índio tapuio. Caiu em frente ao palácio do governo, tomado pelos cabanos durante a madrugada. Comerciantes, fazendeiros e intelectuais apartados das decisões na província lideraram a ofensiva dos tapuios (índios que abandonaram suas tribos), negros escravos e libertos, mamelucos, cafuzos, mulatos, mestiços e também brancos. Entre tantas origens diferentes da massa que surpreendeu os soldados aliados à Regência, uma característica comum batizou a revolta. Muito pobres e explorados na economia extrativista da região, os rebeldes moravam em cabanas simples de barro, cobertas de palha. A Cabanagem (1835-40) combateu o domínio do Império e da elite portuguesa local, acostumada aos privilégios coloniais. A população buscava melhores condições de vida e reclamava da tirania do governo do Grão-Pará, imposto pelo poder central no Rio de Janeiro. Não foi difícil para um grupo de proprietários e religiosos cooptar os mais necessitados sob a bandeira da luta pela autonomia da província. Mais próxima de Lisboa do que do Sudeste, Belém resistiu a aderir ao Brasil independente. Não aceitava as ordens vindas da nova capital do Império, o Rio. A instabilidade política se arrastava havia vários anos.

A revolta estourou depois da morte do cônego João Batista Campos. Ameaçado após sucessivas brigas públicas com Bernardo Lobo de Souza, ele fugiu da cidade no fim de 1834. Uma infecção no rosto provocada por um acidente com uma lâmina de barbear matou o religioso enquanto ele estava foragido. Para os cabanos, a culpa era do presidente.

Há quem compare a tomada do palácio do governo pelos cabanos à Queda da Bastilha, marco da Revolução Francesa na Paris de 1789. Era grande a presença de estrangeiros na região. A França costumava exilar prisioneiros contrários ao regime vigente na vizinha Guiana Francesa. No livro A Miserável Revolução das Classes Infames, o historiador Décio Freitas relata o testemunho de Jean-Jacques Berthier, um exilado francês que vai a Belém e se une ao movimento. "Na época havia, sim, um temor do Império quanto à aproximação das camadas populares, principalmente dos escravos e índios, com os franceses. Mas a Revolução Francesa saiu vitoriosa, enquanto o triunfo da Cabanagem está mais na memória", diz Eliana Ferreira, historiadora e pesquisadora na Universidade Federal do Pará.

A partir de Belém, os rebeldes conseguiram manter o controle da província por pouco mais de um ano.

Intrigas e traições entre os líderes causaram tanto prejuízo quanto as tropas inimigas. O governo cabano nasceu de uma culminância de movimentos formados ao longo dos anos anteriores. Os vários setores que se juntaram ao levante fizeram sua força, mas não demorou para que as divergências aparecessem. O primeiro presidente indicado, Félix Malcher, simpático ao Império, foi chamado de traidor e assassinado em meio à disputa de poder com o comandante de armas, Antônio Vinagre. O cadáver foi arrastado pelas ruas, a exemplo do que acontecera com Bernardo Lobo de Souza. Antes de completar 45 dias o governo cabano já tinha um novo chefe: Francisco Vinagre, irmão de Antônio.

Ao todo, três líderes rebeldes presidiram a província. Já na primeira gestão, uma moeda antiga passou a ser reutilizada e só valia no estado. Cabanos se apropriaram de casas de famílias portuguesas ou ligadas ao antigo regime. "Em algumas fazendas, castigaram os senhores com as mesmas torturas que haviam sofrido antes. O porte de arma foi legalizado, o que dava aos cabanos a sensação de realmente pertencerem à cidade. Isso tudo representava uma grande mudança no cotidiano", diz Ferreira. Mas em nenhum momento eles conseguiram consenso em torno de um projeto viável de governo.

Caos

A situação de Belém foi se tornando deplorável. Destruída pelos combates, enfrentou epidemias de varíola, cólera e beribéri. A população passava fome. A cidade ficou cercada por escunas e fragatas ligadas ao Império, onde se instalaram políticos e militares foragidos. O primeiro contra-ataque provocou a fuga dos cabanos para o interior. A ofensiva teve a ajuda do presidente Francisco Vinagre, em outro exemplo dos interesses contraditórios dentro do movimento. Os rebeldes resistiram sob o comando do irmão dele e de Eduardo Angelim. Em pouco tempo eles retomaram a capital e, aos 21 anos, Angelim assumiu o poder. Último presidente cabano, foi derrotado nove meses depois pela poderosa esquadra do brigadeiro Francisco José Soares de Andrea.

Angelim fugiu novamente da cidade, mas foi capturado e deportado. A violenta caça aos cabanos pela Amazônia prosseguiu até 1840. "Nesse período, a Cabanagem continua de forma que ainda não se sabe ao certo. Havia fortes lideranças em cidades como Vigia e Santarém, mas os estudos precisam ser aprofundados", afirma Ferreira. Mais de 30 mil rebeldes foram executados, um terço dos habitantes da província. A tortura era comum. Militares exibiam colares feitos com orelhas secas de cabanos.

No fim da revolta, Belém só tinha mulheres, crianças e idosos. A participação feminina nas conspirações e combates é foco de estudos recentes. Muitas mulheres foram atacadas e violentadas, do lado cabano e das famílias ligadas à Regência. Não há provas de que elas tenham participado das frentes de batalha, mas é certo que atuaram nos bastidores. "Um dos exemplos é a dona Bárbara, uma viúva de militar que foi até a corveta Defensora munida de moedas de ouro. O navio abrigava presos políticos." Eliana Ferreira sugere que ela tenha tentado comprar a liberdade de rebeldes. Parte do trabalho de troca de informações e suprimento de comida para os cabanos era feita por mulheres.
Mesmo sangrenta, a Cabanagem (1835-40) foi o mais bem-sucedido levante popular brasileiro.


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Vinte anos de luta

Os antecedentes e os marcos da revolta


1823

Mercenários de dom Pedro I forçam a adesão do Pará ao Império; 256 presos políticos são sufocados com cal.

1833

Instabilidade política continua. Bernardo Lobo de Souza assume a presidência local e persegue rebeldes.

1834

Foragido, morre Batista Campos, um dos líderes da resistência. Grupos se juntam para reagir.

7/1/1835

Cabanos tomam o poder, matam Souza e libertam Félix Malcher. O fazendeiro é indicado presidente.

21/2/1835

Malcher evita confrontar o Império. Chamado de traidor, é assassinado. Vinagre assume.

26/6/1835

Sucessor de Malcher, Francisco Vinagre, alia-se ao Império e renuncia à presidência. Líderes fogem para o interior.

23/8/1835

Cabanos retomam Belém. Eduardo Angelim é o novo presidente. A cidade sofre cada vez mais com a guerra.

13/5/1836

Esquadra do brigadeiro Francisco Andrea obriga cabanos a fugirem. Angelim é preso em outubro.

4/11/1839

É decretado o fim da guerra civil e foragidos são anistiados, mas a caça sangrenta vai até 1840.


Saiba mais


LIVROS

A Miserável Revolução das Classes Infames, Décio Freitas, Record, 2005

O autor analisa a Cabanagem a partir de cartas de Jean-Jacques Berthier, um francês exilado que vai a Belém.

Motins Políticos, Domingos Antônio Raiol, Universidade Federal do Pará, 1970

Escrito no século 19, o estudo de três volumes conta a história do Pará e é o primeiro a dedicar-se à Cabanagem.

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