sábado, 2 de fevereiro de 2013
quinta-feira, 31 de janeiro de 2013
Justiça condena TV Bandeirantes após considerar preconceituosos comentários de Datena contra ateus
Flávio Florido/UOLJosé Luiz Datena teria feito comentários preconceituosos em relação aos ateus em um programa exibido em 2010 na Band
A TV Bandeirantes terá que dedicar 50 minutos de sua programação, durante o programa "Brasil Urgente", à veiculação de esclarecimentos à população sobre liberdade de consciência e de crença. A decisão é da Justiça Federal de São Paulo que considerou preconceituosos os comentários que o apresentador José Luiz Datena fez em relação aos ateus, em um programa exibido em 2010.
Embora a Justiça não tenha marcado a data para exibição do conteúdo, que será fornecido pelo Ministério Público Federal de São Paulo (MPF-SP), a veiculação deverá ocorrer assim que a TV Bandeirantes for notificada da decisão, o que ainda não ocorreu. Caso descumpra a determinação judicial, a emissora pagará uma multa de R$ 10 mil por cada dia de descumprimento.
O polêmico programa que gerou a batalha na Justiça foi ao ar no dia 27 de julho de 2010. Datena teria relacionado a execução de um jovem à "ausência de Deus". "Um sujeito que é ateu não tem limites, e é por isso que a gente vê esses crimes aí", afirmou o apresentador.
A reportagem sobre a morte do garoto ficou no ar por 50 minutos, e durante a matéria, Datena, que dialogava com o repórter Márcio Campo, fez vários comentários em que fez referências a pessoas que não creem em Deus. "Esse é o garoto que foi fuzilado. Então, Márcio Campos, é inadmissível; você também que é muito católico, não é possível, isso é ausência de Deus, porque nada justifica um crime como esse, não Márcio?"
Repercussão
Após a exibição do programa, o MPF-SP entrou com uma ação civil pública contra a TV Bandeirantes. Para o procurador que atuou no processo, Jefferson Aparecido Dias, "a emissora prestou um desserviço para a comunicação social, uma vez que se portou de forma a encorajar a atuação de grupos radicais de perseguição a minorias, podendo, inclusive, aumentar a intolerância e a violência contra os ateus".
Para o procurador, "em todo o tempo em que a matéria ficou no ar, Datena associava aos ateus a ideia de que só quem não acreditava em Deus poderia ser capaz de cometer tais crimes".
Além disso, o MPF-SP alegou que Datena atribuiu os males do mundo aos "descrentes", ao dizer que "é por isso que o mundo está essa porcaria. Guerra, peste, fome e tudo mais, entendeu? São os caras do mau. Se bem que tem ateu que não é do mau, mas, é ..., o sujeito que não respeita os limites de Deus, é porque, não sei, não respeita limite nenhum."
Defesa
Na Justiça, a TV Bandeirantes alegou que "em hipótese alguma a emissora ou o apresentador cometeu preconceito de qualquer espécie contra os ateus". Ressaltou que Datena foi incisivo ao ratificar que a sua crítica não era generalizada, uma vez que, no seu entendimento, "determinados indivíduos, ainda que não temente a Deus, jamais seriam capazes de operar qualquer conduta criminosa e que são pessoas do bem".
Procurada por meio da assessoria de imprensa, a Band preferiu não comentar o assunto. Apenas informou que ainda não foi notificada da decisão mas, quando for, irá recorrer.
Condenação
Para o juiz federal Paulo Cezar Neves Junior, "a emissora agiu no trilho da discriminação específica e direcionada quando o apresentador José Luiz Datena afirmou expressamente que ‘quem não acredita em Deus não precisa lhe assistir’". Ainda de acordo com Neves Junior, Datena ratificou este posicionamento socialmente excludente no momento em que disse não fazer "questão nenhuma que ateu assista seu programa".
Ponderou o juiz que não há quaisquer dados científicos ou estudos que demonstrem que os ateus estejam consideravelmente atrelados à prática de crimes e demais barbáries vistas em nossa sociedade, como a colocada como referência no programa.
Concluiu Neves Junior que, embora o apresentador tenha feito certa ressalva em algum momento de seus apontamentos negativos, seus comentários "não se restringiram à mera crítica ou manifestação de opinião sobre determinado tema", o que teria ficado evidenciado no trecho do programa em que diz: "Ah Datena, Mas tem pessoas que não acreditam em Deus e são sérias. Até tem, Atém tem, mas eu costumo dizer que quem não acredita em Deus não costuma respeitar os limites, porque se acham o próprio Deus".
Fonte: http://televisao.uol.com.br/noticias/redacao/2013/01/31/justica-condena-tv-bandeirantes-apos-considerar-preconceituosos-comentarios-de-datena-contra-ateus.htm
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Lorena esbraveja contra Bernardinho
Oposto do Sesi-SP reclama da falta de oportunidades na seleção brasileira e dispara contra técnico: 'Ele é a mesma coisa que nada'
Conhecido pelo seu jeito explosivo em quadra, o oposto Lorena, do Sesi-SP, decidiu desabafar no mesmo tom contra o técnico Bernardinho. Reclamando da falta de chances na seleção brasileira de vôlei, o jogador admitiu que tem um estilo "agressivo". Mas diz que Bernardinho não foi honesto com ele.
“Nunca tive oportunidade na seleção brasileira. Minha grande angústia sobre o Bernardinho é sempre me julgar sem me conhecer. Para mim, ele é a mesma coisa que nada. Comigo ele não foi muito honesto”, disse em entrevista à Rádio Bradesco Esportes FM Rio.
Lorena comentou que muitos jogadores convocados pelo treinador não merecem mais chances do que ele. Lembrando que o oposto é um dos maiores pontuadores da Superliga e já foi pré-convocado por Bernardinho para a Liga Mundial de Vôlei 2012, mas na convocação final, seu nome ficou de fora.
“Eu não sei qual é o pensamento dele, ele sempre teve o grupo formado. Ele é um vencedor, mas eu deveria, no mínimo, treinar com o grupo da Seleção. Nunca quis me testar, ele sempre quis me criticar. Vejo tanto oposto convocado que não fez metade do que eu fiz. Eu queria saber o julgamento que ele tem sobre mim, pelo menos, para ser testado. De repente eu não tenho nível para a Seleção, mas acho que não é isso”, esbravejou.
Segundo o atleta, se depender do técnico, a “Família Bernardinho” nunca contará com Lorena. “Não o conheço e não tenho nada para falar dele. Eu nunca fiz parte do grupo dele, ele me julgou por outras coisas e não pelo vôlei”, garantiu.
Jeito explosivo
Lorena é amado pelos torcedores do Sesi e odiado pelos rivais. Ele garantiu que é preciso ser agressivo para ser um grande atleta dentro das quadras.
“Sou agressivo sim e no esporte tem que ser assim. Estou ali para vencer e não para ser amigo de ninguém. Quando eu não tiver essa agressividade, eu vou ficar um pouco bolado. Não sou um cara difícil, sempre jogo nas maiores equipes”, concluiu.
Fonte: esporte.band.uol.com.br
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terça-feira, 29 de janeiro de 2013
ROD STEWART - "MY HEART CAN'T TELL YOU NO" (subtitulado al español)
Uma das mais belas canções feitas por Rod Stewart. Curtam!
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Uma nova mitologia
J. R. R. Tolkien |
A época é o começo da década de 1930; o lugar, o escritório de uma casa modesta em Oxford, na Inglaterra. O sujeito sentado na escrivaninha, um professor universitário de meia-idade, está de língua de fora depois de corrigir centenas de provas de uma espécie de Enem britânico daquela época - trabalho braçal e chato, mas indispensável por causa da grana extra que trazia, em especial para alguém com quatro filhos para sustentar. O professor fica até emocionado quando vê que um dos estudantes deixou uma folha inteirinha em branco, permitindo que ele descansasse um pouco. Sabe-se lá o porquê, ele se vê tomado por um impulso irresistível de escrever naquela página uma frase enigmática: "Numa toca no chão, vivia um hobbit".
O resto é história. Na tentativa de "descobrir" que diabos era o tal hobbit, nosso professor, John Ronald Reuel (ou simplesmente J.R.R.) Tolkien, acabaria consolidando um dos universos de ficção mais amados (e lucrativos) da história. Seus livros venderiam centenas de milhões de exemplares no mundo todo, sem falar nos bilhões de dólares abocanhados pelas adaptações de sua obra-prima, O Senhor dos Anéis, para o cinema. E tudo indica que mais bilhões virão por aí com a versão cinematográfica em três partes do livro que surgiu a partir da frase misteriosa, O Hobbit - o primeiro filme chega neste mês.
Até aí, nada que J.K. Rowling (Harry Potter), ou até George R.R. Martin (A Guerra dos Tronos) também não tenham conseguido fazer, certo? De fato, mas é difícil negar que, cifras à parte, Tolkien ocupe uma categoria só dele. E não só pelo fato de ele ter criado, praticamente sozinho, o gênero da fantasia épica (ou a mania de autores desse gênero de usar iniciais para assinar seus livros). Tolkien é único porque nenhum autor, antes ou depois dele, conseguiu reproduzir com tamanha precisão a maneira como funcionam as mitologias "de verdade" (como a grega ou a escandinava).
Em certo sentido, Tolkien era o cara perfeito para a tarefa por causa de sua formação peculiar. Como professor na Universidade de Oxford, sua especialidade era a filologia, uma espécie de arqueologia linguística e literária.
Uma das tarefas dos filólogos é entender como as línguas evoluem - explicar, por exemplo, todas as modificações de sons e significados que fizeram uma palavrinha em latim, como tripalium, nome dado a um instrumento de tortura, virar "trabalho" em português.
Como esse exemplo indica, trata-se de um exercício que, além de ajudar muito na hora de criar dicionários e gramáticas, tem relevância direta para entender como as palavras expressam as ideias, as lendas e a história de um povo (no caso, deixa claro como os falantes das línguas latinas tinham sérias reservas quanto a esse negócio de trabalhar...). As descobertas da filologia "não trazem informações apenas sobre palavras, mas, principalmente, sobre as pessoas que as falavam", resume o filólogo britânico Tom Shippey, um dos principais estudiosos da obra de Tolkien, hoje aposentado depois de lecionar em Oxford e nos EUA.
As pesquisas filológicas, que ganharam enorme impulso ao longo do século 19, também permitiram outro tipo de arqueologia: a compreensão cada vez mais precisa de línguas e literaturas muito antigas ou praticamente "perdidas". E aí é que o bicho pegou para Tolkien. Explica-se: graças às técnicas filológicas, que incluem, por exemplo, a comparação de palavras em vários idiomas aparentados e a compreensão de como os sons das palavras tendem a mudar, textos antes difíceis, obscuros ou mesmo ilegíveis passaram a ficar mais claros. Isso lançou luz sobre narrativas antigas que contêm passagens quase impenetráveis para olhos modernos: a Bíblia, os épicos de Homero e - o mais crucial para Tolkien- a literatura medieval do norte da Europa. Ele descobriu esses textos - escritos em línguas como finlandês, islandês antigo, inglês antigo, galês e gótico - entre o fim do que hoje chamaríamos de ensino médio e o começo da faculdade. Acabou levando nota baixa nas disciplinas que cursava originalmente em Oxford (seu objetivo inicial era se especializar em latim e grego) por causa de seu fascínio por essas histórias estreladas por guerreiros orgulhosos, mulheres "belas como elfas", anões vingativos e, de vez em quando, algum dragão e seu tesouro.
Parece familiar, não é? A questão é que a principal característica dessas narrativas medievais que inspiraram Tolkien é o fato de pouquíssimas delas terem sobrevivido, para começo de conversa. No caso da Inglaterra do começo da Idade Média, a história é particularmente séria. Há um único grande poema épico que chegou até nós - Beowulf, a saga de um guerreiro que enfrenta ogros assassinos e um dragão. E só. Enquanto na Islândia algumas histórias ainda falavam sobre deuses (como Odin e Thor) e criaturas sobrenaturais, nada disso ficou preservado em inglês antigo.
Isso acabou deixando em Tolkien uma sensação terrível de vazio cultural, como ele explicou numa carta que enviou a um editor para tentar emplacar um de seus livros. "Desde meus primeiros dias, eu me entristecia com a pobreza de meu próprio e adorado país: ele não tinha histórias suas (ligadas à sua língua e ao seu solo), não da qualidade que eu buscava e achava (como um ingrediente) em lendas de outras terras. Havia lendas gregas e célticas, latinas, germânicas, escandinavas e finlandesas; mas nada inglês, exceto coisas empobrecidas de livros de segunda mão", escreveu ele.
Talvez você esteja se perguntando: e as histórias do rei Arthur e da Távola Redonda, não contam? "Sua naturalização [como lendas inglesas] é imperfeita", argumentou Tolkien. De fato, as lendas arturianas provavelmente tiveram seus começos entre populações celtas, que falavam galês, e que celebravam justamente a luta desses moradores nativos da Grã-Bretanha contra os anglo-saxões - invasores vindos do norte da Alemanha que, na vida real, conquistaram a Grã Bretanha e se tornaram os ancestrais dos ingleses modernos.
Pior ainda, quem realmente popularizou as histórias do rei Arthur foram escritores medievais franceses. E, ao que tudo indica, foi justamente a influência cultural da França que acabou soterrando as lendas e a literatura dos anglo-saxões depois do ano de 1066, quando Guilherme, o Conquistador - duque da Normandia, no norte da França - invadiu e subjugou a Inglaterra. Durante os 300 anos seguintes, a língua e a cultura da elite do país ficaram totalmente afrancesadas, e a memória da cultura anglo-saxã desapareceu - a ponto de até pouco tempo atrás haver dúvidas sobre se houve mesmo uma culturaanglo-saxã na ilha.
Mas Tolkien e outros filólogos da época tinham convicção de que, sim, ela existiu um dia, até porque Beowulf e os outros poucos poemas anteriores a 1066 continham breves alusões a personagens e histórias que apareciam em textos da Alemanha e da Escandinávia. Em seu livro The Road to Middle-earth ("A Estrada para a Terra-média", sem versão em português), Tom Shippey argumenta que a ficção de Tolkien é, em grande medida, uma tentativa de reconstruir esses cacos num conjunto bem organizado, que fizesse sentido e contasse uma grande história mitológica. De fato, é o que o filólogo-escritor parece ter feito, começando com a criação do mundo, no conjunto de textos publicado com o título de O Silmarillion após a morte dele. O perfeccionista Tolkien nunca conseguiu concluí-lo da maneira que desejaria em vida, mas não há dúvidas sobre as intenções do autor para a obra. A principal característica do majestoso mito da criação que inicia o livro é a tentativa de casar figuras parecidas com deuses pagãos com a ideia de que existiria um único Deus com D maiúsculo.
Esse Deus, Eru Ilúvatar, teria criado primeiramente um grupo de seres semelhantes aos anjos bíblicos, mas com um papel bem mais ativo: seriam os responsáveis por colocar em prática o plano divino para o Universo e por governar a Terra em nome do Criador. É claro que o poder acabaria subindo à cabeça de um desses "vices" cósmicos, que se rebela contra Deus. Trata-se de Melkor, a versão tolkieniana do Diabo. Essa figura satânica foi o mestre de Sauron, o vilão de O Senhor dos Anéis. A partir dessa cena inicial, o escopo grandioso da obra se mantém. Um dos motivos pelos quais a saga supera em complexidade todas as demais mitologias é justamente a maneira como autor arquitetou todo o processo de transmissão dessas histórias de uma geração para outra.
O primeiro truque que o filólogo empregou para isso parece loucura: fingir que ele não escreveu os livros, só os traduziu a partir de manuscritos antigos. O Senhor dos Anéis e O Hobbit seriam, pela lógica tolkieniana, apenas a tradução do "Livro Vermelho do Marco Ocidental", manuscrito que reuniria as memórias dos hobbits Bilbo, Frodo e Sam - J.R.R. realmente afirma isso nos prólogos e apêndices dos livros. E a coisa vai mais longe.
Tolkien sabia muito bem como os manuscritos medievais do mundo real englobam várias versões diferentes do mesmo livro, incluindo coisas como erros de ortografia, modificações feitas de propósito pelos escribas, anotações feitas nas margens etc. O escritor tirou partido desses detalhes para resolver uma pequena inconsistência entre O Hobbit, publicado em 1937, e O Senhor dos Anéis, cujo volume 1 saiu em 1954. É que, na primeira edição de O Hobbit, o personagem Gollum - aquele que chama o Anel de "meu Preciosssso" - até que era um sujeito gente fina. Quando propõe ao hobbit Bilbo um duelo de adivinhações, Gollum não só aposta de bom grado o Anel como prêmio pela vitória na disputa como, ao ser derrotado, aceita sem problemas. E até pede desculpas a Bilbo por não poder dar ao hobbit o Anel prometido (Gollum não sabe que, num lance de sorte, Bilbo já tinha pegado o objeto). "Nem sei quantas vezes Gollum implorou o perdão de Bilbo", escreve o narrador do livro. "Ele não parava de dizer: `Sssentimosss muito; nóss não queríamosss trapacear, queríamosss dar a ele nosssso único presente, se ele ganhasssse a competição¿. Ele até se ofereceu para pegar para Bilbo uns peixes suculentos como consolação."
Parece uma maluquice perto do Gollum sombrio dos filmes. É que, nessa versão da história, o Anel era só um artefato mágico - Tolkien ainda não havia decidido que o objeto era o "Um Anel" todo-poderoso do demoníaco Sauron. As edições posteriores de O Hobbit retratam um Gollum torturado pela posse do Anel.
Mas como conciliar as duas versões da história? Fácil: no prólogo de O Senhor dos Anéis, Tolkien diz que havia variantes do manuscrito escrito por Bilbo. Algumas cópias preservavam a versão "boazinha" da história - que o hobbit, já influenciado pelo Anel, inventou para afirmar que Gollum teria lhe dado o artefato de livre vontade. É o tipo de manipulação ideológica responsável, no mundo real, por versões alteradas de textos da Bíblia, por exemplo.
Outro fator importantíssimo para a ilusão de que os textos da Terra-média são uma mitologia "de verdade", com milhares de anos, e não a criação de um autor único ao longo de algumas décadas, é a maneira cuidadosa como Tolkien reciclava as próprias histórias. O que acontece é que as narrativas mais importantes de sua mitologia possuíam inúmeras versões: algumas mais curtas, outras mais longas, às vezes em prosa, outras vezes na forma de poesia (com centenas de versos). É um processo comum no caso de mitos reais, que eram transmitidos de geração em geração pela tradição oral e acabavam assumindo as formas mais diversas.
Graças a essa gigantesca massa de textos, Tolkien conseguia realizar truques como a citação, em meio à narrativa em prosa de O Senhor dos Anéis, de um "antigo" poema da época de O Silmarillion. Com isso, o leitor acaba tendo a impressão, mesmo que inconscientemente, de que existe uma tradição cultural gigantesca por trás de tudo.
E, claro, nenhum outro autor foi tão longe na viagem mental de criar idiomas para seu mundo fictício. A originalidade dele nesse quesito envolveu, mais uma vez, o rigor da filologia. Em vez de simplesmente inventar o vocabulário e a gramática das cerca de dez línguas de seu mundo, ele começava com um idioma ancestral (o equivalente do latim para o português, o espanhol, o francês e o italiano, digamos) e ia derivando as diversas "línguas-filhas", seguindo regras de mudanças nos sons das palavras já conhecidas no caso de famílias linguísticas de verdade. Um trabalho hercúleo. E único, como define o professor de língua inglesa Michael Drout, do Centro de Estudos Medievais do Wheaton College, nos EUA: "Todas essas qualidades são ímpares, seja entre autores de fantasia, seja em qualquer outro tipo de literatura".
O HOBBIT (LANÇADO EM 1937)
Um grupo de 13 anões liderados por Thorin Escudo-de-Carvalho, herdeiro do reino anão da Montanha Solitária, está em busca de um especialista para invadir o interior da montanha, que fora dominada pelo dragão Smaug. Então convocam o hobbit Bilbo Bolseiro, um sujeito caseiro e nada aventuresco, que acaba sendo arrastado para um mundo de monstros, batalhas e um anel mágico.
A SOCIEDADE DO ANEL (1954)
Na primeira parte de O Senhor dos Anéis, Bilbo e seu herdeiro, Frodo, descobrem que o anel de O Hobbit na verdade é o "Um Anel", no qual foi depositada a maior parte do poder de Sauron, o segundo Senhor do Escuro. O herói Frodo forma a Sociedade do Anel, com seus amigos hobbits e o mago Gandalf, entre outros, para destruir o objeto.
AS DUAS TORRES (1954)
A Sociedade do Anel é atacada por orcs e se separa. Enquanto Frodo parte para tentar destruir o Anel, os outros hobbits do grupo são capturados. Gandalf, o humano Aragorn, o elfo Legolas e o anão Gimli precisam estimular a resistência contra as forças de Sauron. No caminho para os domínios do vilão, Frodo e Sam encontram Gollum, o antigo dono do Anel em O Hobbit, que quer recuperar o artefato.
O RETORNO DO REI (1955)
Na conclusão de O Senhor dos Anéis, os exércitos de Sauron lançam ataques contra as últimas fortalezas da Terra-média que ainda impedem o triunfo do vilão. Aragorn tenta desesperadamente deter a maré da guerra e ganhar tempo para que Frodo e Sam finalmente destruam o Um Anel e aniquilem o poder do Senhor do Escuro de uma vez por todas.
AS AVENTURAS DE TOM BOMBADIL (1962)
Coleção de poemas, alguns já publicados em O Senhor dos Anéis. Dois deles versam sobre Tom Bombadil, misterioso personagem imortal que ajudou os hobbits a sair de sérios apuros na Saga do Anel. Outros poemas falam de monstros míticos ou têm uma pegada existencial. Na introdução, Tolkienafirma que os textos representam uma espécie de cancioneiro popular dos hobbits, editado anos depois dos eventos de O Senhor dos Anéis.
O SILMARILLION (1977)
Conta a criação do mundo de Tolkien e as origens de criaturas como elfos, anões e humanos. A parte principal versa sobre as guerras entre os elfos e o primeiro Senhor do Escuro, Morgoth, na disputa pela posse das Silmarils, joias criadas pelo maior artesão élfico. Também fala sobre a ascensão e queda da ilha de Númenor, a Atlântida de Tolkien, e resume a trama da Saga do Anel sob a perspectiva dos elfos.
O PANTEÃO DE TOLKIEN
HOBBITS
No universo de Tolkien, são um ramo da "raça dos homens", mas com a metade da altura e pés peludos. Gostam da vida simples e bucólica, cultivando a terra e vivendo em tocas.
OS VALAR E OS MAIAR
São espíritos que assumiram forma semelhante à humana para governar o Universo em nome do Criador. Seu rei é Manwë, senhor dos ares.
ELFOS
São a mais antiga das duas raças de seres inteligentes. Imortais, belos e sábios, estão destinados a ceder lugar aos mortais ao longo da história da Terra-média.
HOMENS
Nessa mitologia, os humanos são os "irmãos mais novos" dos elfos. Sua mortalidade é considerada um presente do Criador, e não um castigo.
ANÕES
Criados por Aulë, o ferreiro dos Valar, eles foram "adotados" pelo Criador. Fascinados por pedras preciosas, são atarracados e barbudos (mesmo as mulheres).
ENTS
Os "Pastores das Árvores" são gigantes que guardam as florestas da Terra-média. Extremamente lentos e longevos, estão entre os seres mais antigos do mundo.
ÁGUIAS
Criaturas a serviço do rei dos Valar, Manwë, elas são inteligentes e acompanham do alto o que acontece na Terra-média. Em momentos cruciais, ajudam os bons.
MELKOR / MORGOTH
Originalmente o mais poderoso dos Valar, rebelou-se contra o Criador, consumido pelo desejo de dominar a Terra. Seu apelido, "Morgoth", quer dizer "o Inimigo Escuro".
SAURON
É o vilão de O Senhor dos Anéis. Originalmente um servo de Morgoth, acabou assumindo o papel de seu antigo mestre depois que ele foi derrotado.
DRAGÕES
São resultados de "experimentos" de Morgoth, que colocou espíritos sombrios em corpos de répteis, para servi-lo.
BALROGS
São servos de Morgoth que assumiram formas demoníacas, tornando-se um dos monstros mais temíveis do séquito do Senhor do Escuro.
TROLLS
Foram criados a partir de rochas por Morgoth. Os primeiros trolls eram lentos, estúpidos, mas extremamente ferozes e destrutivos.
ORCS
Essas criaturas horrendas, usadas como soldados de Morgoth e Sauron, surgiram a partir de elfos torturados e desfigurados nos primórdios da Terra-média.
Para saber mais
Languages, Myths and History
Elizabeth Solopova, North Landing Books, 2009
Fonte: Revista Superinteressante, dez./2012
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