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terça-feira, 11 de setembro de 2012

A VOLTA DO CARLISMO


ACM Neto resgata avô na campanha, apresenta-se como carlista moderno e passa a liderar as pesquisas à Prefeitura de Salvador

Pedro Marcondes de Moura
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Na batalha pela prefeitura de Salvador, o deputado federal ACM Neto, do DEM, resolveu, enfim, valer-se politicamente do status de neto de Antônio Carlos Magalhães. Se na última disputa pela capital baiana a sua campanha se esforçava em desvinculá-lo do patriarca da família, a estratégia neste pleito parece ter mudado. Em entrevistas ou atos públicos, o candidato faz questão de exaltar o legado do ilustre avô, que morreu em 2007. No lançamento de sua pré-candidatura, Neto e correligionários não dispensaram citações a ACM – principal face do carlismo –, que ditou por décadas os rumos das urnas do Estado da Bahia, além de influenciar decisões de presidentes até a gestão do tucano Fernando Henrique Cardoso. ACM Neto também aproveitou a ocasião para ler, com a voz embargada, um trecho de uma carta repleta de elogios enviada, em 1969, pelo escritor Jorge Amado ao avô, na época prefeito da capital baiana. Em seguida, lançou-se na disputa à sucessão municipal “por amor a Salvador.” “Estou diante do maior desafio da minha vida”, declarou.
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ESTRATÉGIA
Para vincular-se à imagem do avô, ACM Neto até chorou ao mencioná-lo em comício
Nesta campanha municipal, ACM Neto aproxima-se do legado de Antônio Carlos Magalhães num cenário político bem diferente da última disputa, em 2008. Na época, o carlismo vivia o ápice de sua derrocada junto aos soteropolitanos. Fileiras de antigos correligionários migravam para siglas da base aliada aos governos federal e estadual, comandados pelo PT. Bem avaliado, o governador Jaques Wagner era um eficiente cabo eleitoral. Não à toa, ACM Neto despencou da primeira à terceira posição durante aquela campanha. Hoje, apenas 16% dos eleitores de Salvador consideram a gestão estadual petista ótima ou boa, reflexo do aumento dos índices de criminalidade e de uma greve de mais de três meses na rede pública de ensino do Estado. Já a administração do prefeito da capital baiana, João Henrique Carneiro (PP), amarga avaliação ainda pior: 68% a consideram ruim ou péssima. Tamanho descontentamento popular é uma das explicações para certa nostalgia dos tempos em que o grupo de Antônio Carlos Magalhães comandava a política local. 
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AINDA NÃO DECOLOU
O petista Nélson Pelegrino é o principal adversário de ACM Neto 
Agora líder nas pesquisas, com 40% das intenções de voto, 27 pontos percentuais à frente de seu principal adversário, o advogado Nélson Pelegrino (PT), o deputado ACM Neto, ao mesmo tempo em que relembra as realizações de seu avô, apresenta-se como um político moderno, de 33 anos. Dessa forma, tenta desassociar sua imagem pública de práticas clientelistas e autoritárias adotadas pela oligarquia comandada pelo velho Antônio Carlos Magalhães, conhecido pela generosidade com aliados e a intolerância com os adversários. Em 2008, o próprio candidato foi vítima de sua verborragia ao ver amplamente divulgado no horário eleitoral um vídeo em que ameaçava dar uma surra no ex-presidente Lula ao denunciar ser vítima de grampos da Agência Brasileira de Inteligência (Abin). Com a nova estratégia, Neto tem logrado êxito.
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Fotos: Raul Spinassé/ Ag. a Tarde; Ichiro Guerra; Eduardo H Hanazaki
Fonte: Istoé - publicado na Ed. 2233

quinta-feira, 2 de agosto de 2012

MITT ROMNEY: UMA GAFE ATRÁS DE OUTRA




Flávio Aguiar – Carta Maior, em Debate Aberto

A maior parte da mídia européia considerou a tournée do pré-candidato republicano à presidência dos EUA, Mitt Romney, um rotundo fracasso, marcada por gafes e declarações fora do lugar. Ao desembarcar em Londres, Romney disse (até hoje não se sabe por quê) que a Inglaterra poderia não estar preparada para a realização de uma Olimpíada.

O pré-candidato republicano à presidência dos Estados Unidos, Mitt Romney, e seus assessores, podem estar achando que sua viagem ao Oriente Médio e à Europa tenha sido um sucesso – levando em conta a direita que baba nos Estados Unidos, ou sua correligionária Fox News.

Mas a maior parte da mídia européia considerou essa tournée um rotundo fracasso, marcada por gafes e mais gafes, ou declarações fora do lugar.
Para começo de conversa, Romney, ao desembarcar em Londres disse (até hoje não se sabe por quê) que a Inglaterra poderia não estar preparada para a realização de uma Olimpíada, o que provocou reações azedas por parte do primeiro ministro David Cameron.

A seguir, Romney foi a Israel, esperando agradar o eleitorado judaico nos Estados Unidos que, segundo pesquisas, têm manifestado uma preferência majoritária por Barack Obama. Mas deixou atrás de si uma coleção de novas farpas. Primeiro disse que a capital israelense deveria ser Jerusalém, não Tel Aviv. Chegou a dizer que moveria a embaixada norte-americano para a cidade multissanta – retirando-a, portanto, da capital de hoje.

Não só isso desagradou os palestinos, como criou uma situação embaraçosa, porque nem mesmo os Estados Unidos reconhecem de jure a ocupação do lado leste da cidade. Embora Jerusalem abrigue todas as instituições do governo israelense (residência e gabinete do primeiro-ministro, Parlamento e Suprema Corte), não há nenhuma embaixada estrangeira na cidade, porque a ocupação do lado leste da cidade foi conseqüência da guerra de 1967, e a comunidade internacional, nem a ONU, a reconhecem como legal.

Para completar, Romney declarou que o sucesso econômico de Israel se deve a sua “cultura”, conotando uma superioridade cultural que levantou suspeitas de racismo. Além disso, atribuiu esse mesmo sucesso à intervenção da “Providência Divina”, ressoando fundamentalismos religiosos, além de demagogia barata.

Mas ainda houve mais: o apogeu da campanha de Romney em Israel se dividiu entre sua visita ao Muro das Lamentações, em Jerusalém, e a realização de um almoço para arrecadação de fundos, a 25 mil dólares por cabeça, com 40 presentes. Isso, se lhe rendeu 1 milhão de dólares, deixou aquele rastro de “candidato dos ricos” por detrás.

Nas suas declarações Romney se limitou a dizer que apoiava as acusações de Israel contra o Irã. Porém, um de seus assessores complementou a declaração dizendo que um governo Romney apoiaria uma ação militar unilateral de Israel
contra o Irã. O bafo quente da guerra acompanhou a fala da campanha.

De volta à Europa, Romney foi à Polônia, à convite de Lech Walesa, hoje um líder de direita – inclusive no plano religioso – em contraposição àquele personagem que foi tido como um fino herói do Solidariedade. O encontro dos dois, em que Walesa, que recusou um encontro no passado com Barack Obama, desejou sucesso à campanha do pré-candidato, foi seguido por uma áspera declaração dos atuais líderes do Solidariedade dizendo que não compactuavam com a preferência daquele por Romney. Ao contrário, sabe-se que os “Solidarnösc” de hoje preferem Obama, graças, pelo menos, ao viéis claramente anti-sindical de Romney.

É claro que a ida de Romney à Polônia também se contrapunha à vinda de Obama a Berlim, quando era candidato, recuperando a imagem de John Kennedy em 1961. E o pré-candidato de hoje aproveitou para dirigir uma série de farpas contra Putin e a Rússia, falando em falta de democracia e proximidades com o Irã e Hugo Chavez, o abominável homem dos trópicos para o pensamento conservador.

Ora, acontece que, de fato, Putin não é uma preferência da mídia européia, que o aponta como despótico, tirânico, e no limite como suposto suspeito da eliminação de adversários e críticos. Porém a política de distensão de Obama em relação à Rússia é cara a essa mesma mídia. Dessa vez a retórica de Romney trouxe à tona o bafo gelado da Guerra Fria, que ninguém deseja mais que sopre no inverno econômico da Europa e da Zona do Euro, que nào se sabe se está em derretimento ou em congelamento.

Enfim, quod erat demonstrandum, um rotundo fracasso, que levou algumas vozes da mídia a levantar a hipótese de que Romney não está mesmo pessoalmente qualificado para o que almeja.

* Flávio Aguiar é correspondente internacional da Carta Maior em Berlim

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