sábado, 22 de outubro de 2011

Candidatos reclamam de textos longos nas provas do ENEM


Agência Brasil



São Paulo – O tamanho dos textos e enunciados das questões do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) foi a principal reclamação dos candidatos que fizeram a prova na Universidade Nove de Julho (Uninove), na zona oeste paulistana. A estudante Daniela Andrade, 18 anos, diz que não achou a prova difícil, mas cansativa. “É muito texto, são muito grandes as perguntas”, disse a jovem que admitiu ter estudado somente “um pouco”.

Avaliação semelhante teve Camila Feliciano, estudante da mesma idade. “Eu achei que deveria ter estudado mais, porque estava fácil”. Apesar do baixo nível de dificuldade, ela acha que foi mal devido ao pouco empenho no último ano no cursinho. Camila também reclamou dos enunciados. “Muito texto, dava até sono.”

No entanto, os temas tratados na prova ajudaram a candidata Michele Oliveira. Ela achou o exame menos complicado do que o do ano passado. “Como foi bem focado em atualidades, e eu leio muito, estava bem fácil”, disse a aluna do ensino médio que pretende usar a nota para entrar em um curso de psicologia ou jornalismo.

Por acompanhar diariamente as notícias na internet, Micael Magalhães também acha que se saiu bem nas questões relacionadas a política e atualidades, em especial as que trataram da situação da Líbia. O estudante de 17 anos espera que o segundo dia do exame seja ainda mais fácil. “Acho que tenho habilidade para redação”, ressaltou.

Cursando economia em uma faculdade particular, Leandro Loiola, 26 anos, pensa justamente o contrário. Para ele, a prova de redação, parte da avaliação de amanhã, é um desafio à parte. “A redação sempre precisa de um tempo a mais”, destacou. (Fonte: correioweb.com)
Comentário: Nossos estudantes, infelizmente, em sua grande maioria, tem preguiça de encarar a leitura a sério. Leem pouco ou quase não leem. Acham perda de tempo. Cansativo. Preferem o audiovisual. Por isso a dificuldade em analisarem com criticidade as relações intertextuais e as questões subjacentes a vários momentos da leitura. 
Afeitos à leitura acrítica, rasa, superficial, de textos curtos, mal redigidos, bem como do uso de gírias internéticas, que praticamente descontroem a língua culta, nossos alunos se veem em maus lençóis quando vislumbram a sua frente um artigo, uma crônica, uma resenha, enfim, uma construção textual um pouco "maior", um texto mais "aprofundado". Acham, como disseram alguns estudantes ouvidos na matéria acima, que são "muito grandes".
É tarefa dos professores alertarem constantemente para a necessidade de se criar, de fato, o hábito de ler. E de se preparar para uma leitura crítica, atenta, problematizadora. Assim como é tarefa da escola, dos professores e dos pais (também), exercitarem nesses jovens a capacidade de raciocínio lógico, crítico, sistêmico. 
Já é por demais sabido que o molde das provas do ENEM, desde sua criação, busca romper com a clássica pergunta "decoreba", trazendo em suas questões problemas interligados, trabalhando a resposta a partir da visão inter, trans ou mesmo multidisciplinar. Logo, numa mesma questão pode se cobrar um conteúdo que envolva, por exemplo, conhecimentos e habilidades nas áreas de história, geografia, literatura (só para ficar por aqui). Por isso, me surpreende que, ainda hoje, alguns alunos pareçam não ter se dado conta dessa realidade. Sinal de que ainda há muito a se corrigir.

Há algo em comum entre esses clipes

Os vídeos abaixo possuem algo em comum. Será que você saberia dizer o que é??? Lembrou? Se não, assistam e descubram.










Bem, como você viu, nos três vídeos temos bandas de rock cantando em ambientes urbanos, nas ruas. O clima que envolve as canções transita entre a tristeza e a melancolia, com locações poucos iluminadas ou mesmo à noite. Outro detalhe diz respeito à figura feminina, visto que, de uma forma ou de outra, a temática das letras e da ação que se desenrola gira em torno de uma mulher. E o detalhe final: em todos vemos as bandas tocando acompanhadas por um conjunto de cordas (ou uma orquestra de câmara, se assim posso dizer). Afora isso, são três músicas inesquecíveis da carreira do Savatage, The Cult e INXS. Curtam!




sexta-feira, 21 de outubro de 2011

Favorecimento à prostituição e o consentimento da vítima (artigo: Cezar Roberto Bitencourt)



Fonte da imagem: http://hypescience.com/prostituicao-um-terco-dos-estudantes-alemaes-encararia-trabalho-sexual/
No que diz respeito à notícia da condenação do proprietário da boate Bahamas por favorecimento à prostituição, já nos manifestamos anteriormente sobre a validade do consentimento do ofendido nos crimes previstos no Capítulo V, dos crimes contra a dignidade sexual (Título VI do Código Penal):
É válido o consentimento do ofendido nos crimes previstos no Cap. V e que tenham sido praticados sem violência, grave ameaça ou fraude?
Todas as pessoas maiores têm o direito e a liberdade de orientarem sua vida sexual da forma como quiserem, inclusive de se prostituírem; podem exercer sua sexualidade, satisfazer seus instintos e fantasias sexuais livremente, desde que não violem direitos de terceiros, especialmente de menores. Nesse sentido, é o magistério de Luiz Flavio Gomes:
“As pessoas maiores contam com a liberdade de darem à sua vida sexual a orientação que quiserem. Podem se prostituir, podem vender o prazer sexual ou carnal, podem se exibir de forma privada etc. Só não podem afetar direitos de terceiros (nem muito menos envolver menores)”. Por isso, apesar dos falsos moralismos, ao longo dos séculos, desde Maria Madalena, o exercício da prostituição continua sendo uma atividade lícita (embora moralmente questionável), a despeito da existência de rufiões e proxenetas, aliás, estes, somente estes, é que devem ser criminalizados pela exploração ilícita que fazem das pessoas prostituídas.
Como destaca Nucci: “Dissemina-se na sociedade a prostituição, que não é punida em si, mas ainda subsiste o tipo penal que pune o indivíduo que contribui, de alguma forma, à prostituição alheia. Ora, se a pessoa induzida, atraída, facilmente inserida ou impedida (por argumentos e não por violência, ameaça ou fraude, que configuraria o § 2º) de largar a prostituição é maior de 18 anos, trata-se de figura socialmente irrelevante”.
Com efeito, a sociedade, ao longo dos tempos, não só convive com a prostituição como entende, tolera e aceita não apenas a prostituição como as próprias prostitutas, que convivem normalmente no meio social. Razões as mais variadas podem levar alguém a prostituir-se, inclusive a falta de opção para sobreviver, embora não interesse aqui questionar esses fundamentos, mas apenas destacar o direito de as pessoas direcionarem sua sexualidade como melhor lhes aprouver. Aliás, ao longo de mais de vinte e cinco anos de magistério superior, tivemos, como nossas alunas, inúmeras meninas que mantinham seus estudos trabalhando como “garotas de programa”, e nem por isso eram piores ou diferentes das demais. Certamente, não era uma simples opção de vida, mas imperiosa necessidade para manterem-se na universidade.
Mas nem todas podem exercer a prostituição com a comodidade de uma “garota de programa”, necessitam de um local adequado, de preferência o melhor lugar possível. Por essa razão, basicamente, as prostitutas procuram, batalham, lutam para serem aceitas nas denominadas “casas de prostituição” ou “estabelecimentos em que ocorra exploração sexual”. Em outros termos, lutam, prostituem-se, sobrevivem nesses locais, por vontade própria, livremente, sem coação ou imposição de natureza alguma, ou seja, consentem em trabalhar e até viver (muitas delas) nesses “locais” destinados a prostituição, atos de libidinagem ou a exploração sexual, como quer o atual legislador.
Ora, todos estamos de acordo que a prostituição e, consequentemente, seuexercício são atividades lícitas permitidas e aceitas pela sociedade não hipócrita (os hipócritas fazem que censuram). Como a liberdade sexual é um direito de todos, e a prostituição não só não é crime, como é permitida, isto é, lícita, a sua proteção penal dirige-se a um bem jurídico disponível, seja qual for a concepção que se tenha sobre o tema. Enfim, estamos chegando ao ponto a que queríamos chegar, qual seja, examinar os efeitos do “consentimento do ofendido” em se deixar explorar em estabelecimento em que pode ocorrer (a lei fala em que ocorra) exploração sexual”. Vejamos a seguir.
Superado o questionamento sobre a admissibilidade de causas supralegais de exclusão da ilicitude (antijuridicidade), a doutrina passou a defender oconsentimento do ofendido como uma delas, na hipótese de bens jurídicos disponíveis. Mas somente o consentimento que se impõe de fora para dentro, para excluir a ilicitude, sem integrar a descrição típica. Elucidativo, nesse sentido, é o magistério de Assis Toledo, que afirmava: “Não vemos, entretanto, no momento, espaço no Direito brasileiro para outras causas supralegais de justificação e menos ainda para o extenso rol de causas legais, geralmente citado nos tratados de origem alemã. É que, entre nós, a inclusão, no Código Penal, como causas legais, do exercício regular de direito e do estrito cumprimen­to do dever legal,inexistentes no Código alemão, faz com que tais causas legais operem como verdadeiros gêneros das mais variadas espécies de normas permissivas, espalhadas pelo nosso ordenamento jurídico, abrangendo-as todas”.
No entanto, ao se examinar a natureza e a importância do consentimento do ofendido, devem-se distinguir aquelas situações que caracterizam exclusão de tipicidade das que operam como excludentes de antijuridicidade. Na verdade, se fizermos uma análise, ainda que superficial, constataremos que em muitas figuras delituosas, de qualquer Código Penal, a ausência de consentimento faz parte da estrutura típica como uma característica negativa do tipo. Logo, a presença deconsentimento do ofendido afasta a tipicidade da conduta que, para configurar crime, exige o dissenso da vítima, como, por exemplo, era o caso do crime de rapto(art. 219, já revogado), da invasão de domicílio (art. 150), da violação de correspondência (art. 151) etc. Outras vezes, o consentimento do ofendidoconstitui verdadeira elementar do crime, como ocorria, por exemplo, no rapto consensual (art. 220, também revogado) e no aborto consentido (art. 126). Nesses casos, o consentimento da vítima é elemento essencial (constitutivo) do tipo penal.
Enfim, são duas formas distintas de o consentimento do ofendido influir natipicidade: para excluí-la, quando o tipo pressupõe o dissenso da vítima; paraintegrá-la, quando o assentimento da vítima constitui elemento estrutural da figura típica. De qualquer sorte, nenhuma dessas modalidades de consentimento configura o consentimento justificante, isto é, com aquela função, supralegal, de excluir a antijuridicidade da ação. Mas o consentimento justificante poderá existir quando decorrer de vontade juridicamente válida do titular de um bem jurídico disponível. O consentimento do titular de um bem jurídico disponível — como é oexercício da prostituição no local em que desejar — afasta a contrariedade à norma jurídica, ainda que eventualmente a conduta consentida venha a se adequar a um modelo abstrato de proibição. Nesse caso, o consentimento opera como causa justificante supralegal, afastando a proibição da conduta, como, por exemplo, nos crimes de cárcere privado (art. 148), furto (art. 155), dano (art. 163) etc.
Pois é exatamente o que ocorre com o exercício da prostituição, em que as prostitutas consentem, livremente, em praticá-la em locais adequados, como são as denominadas “casas de prostituição” ou, atualmente, os “estabelecimentos em que ocorra exploração sexual”. Em outros termos, a conduta dos proprietários, gerentes ou responsáveis por esses “estabelecimentos” até pode ser típica, mas não será antijurídica se ficar demonstrado o consentimento das supostas ofendidas. Nessa linha, complementa Luiz Flavio Gomes, “As pessoas maiores frequentam essas casas se quiserem (e quando quiserem). São livres para isso. Nos parece um absurdo processar o dono de um motel ou de uma casa de prostituição, que é frequentada exclusivamente por pessoas maiores de idade, pois a utilização desse recurso dogmático — consentimento do ofendido — impede que esse absurdo de que fala Luiz Flavio Gomes se concretize.
Fonte: Atualidades do Direito

Cultura brasileira (artigo de João Baptista Herkenhoff)


Neste mundo globalizado, neste tempo em que o fato ocorrido no mais remoto rincão da Terra chega instantaneamente ao conhecimento geral, neste nosso tempo, a influência de um povo sobre outro povo, de uma cultura sobre outra cultura é fenômeno que não pode ser evitado. O intercâmbio de experiências é mesmo salutar para o progresso de todos. Não obstante essa realidade, cada país tem o direito de escolher seu caminho.
O país que tem a liderança econômica, política e militar, hodiernamente, tende a praticar um tipo de imperialismo diferente do que foi adotado em outras fases da História. Prefere colonizar culturalmente. Decreta a verdade, as escolhas políticas, econômicas, jurídicas, o modo de pensar, vestir, o lazer, a música nos países que estão sob sua égide.
Creio que a mais eficiente forma de nos defendermos da invasão estrangeira consiste na valorização da Cultura Brasileira. Emprego aqui o termo cultura no sentido sociológico (cultura espiritual), e não na acepção antropológica (cultura material).
Temos sim no Brasil uma Cultura que nos singulariza como povo. Foi à identificação e ao registro dessa cultura que Câmara Cascudo dedicou sua vida. Esse Cascudo que, segundo Carlos Drummond de Andrade, “fez coisas dignas de louvor, em sua contínua investigação de um sentido, uma expressão nacional que nos caracterize e nos fundamente na espécie humana.”
A Cultura Brasileira é a síntese da alma nacional, síntese a que se chega pela soma e fusão de nossas culturas regionais e locais.
Todos os Estados da Federação podem comparecer com seu quinhão de oferta na edificação dessa cultura.
Universidades que se espalham pelo território nacional podem todas trazer sua contribuição para a reflexão coletiva. Jornais publicados em todo o nosso espaço geográfico devem ser lidos, rompendo as fronteiras estaduais (hoje inclusive com o auxílio da internet). Livros que vêm à luz ali e aqui, alguns sob a chancela de pequenas editoras, merecem circular amplamente. A jurisprudência dos tribunais e as decisões de primeiro grau, venham de onde vierem, fazem jus a cuidadosa análise. Na televisão é preciso que haja uma maior regionalização dos programas. Mesmo os fatos nacionais devem ser interpretados e discutidos à luz das realidades locais, por jornalistas locais, por pessoas da comunidade.
Essa consciência de que os frutos do espírito brotam de norte a sul do país enriquecerá o cabedal de nossa riqueza cultural e contribuirá para o fortalecimento da nacionalidade.
João Baptista Herkenhoff é professor da Faculdade Estácio de Sá do Espírito Santo, palestrante Brasil afora e escritor. Acaba de publicar o livro Curso de Direitos Humanos (Editora Santuário, Aparecida, SP).

STJ decide manter ex-goleiro Bruno preso

 (Paulo Filgueiras/EM/D.A Press)


O Superior Tribunal de Justiça (STJ) decidiu, nesta quinta-feira, manter o ex- goleiro do Flamengo, Bruno Fernandes de Souza preso, negando o pedido de habeas corpus, apresentado pela defesa do ex-jogador, devido à periculosidade do réu.


Bruno está preso há um ano e três meses em esquema de prisão cautelar, acusado de assassinar Eliza Samúdio, com quem teve um filho. O corpo não foi encontrado, mas a investigação policial mostra que o goleiro e outras oito pessoas participaram da morte de Eliza.


No pedido de habeas corpus, consta que Bruno tem endereço fixo, entregou o passaporte  à polícia e é arrimo de família. Além disso, o pedido registra que cinco dos nove acusados já estão em liberdade.


Bruno foi preso, inicialmente, por decreto de prisão preventiva. Em dezembro de 2010, foi citado pelo crime de homicídio e a ordem de prisão mantida. 

Fonte: O Imparcial

Bala na barriga matou Gaddafi


Do UOL
Muammar Gaddafi foi fatalmente ferido por uma bala em seus intestinos depois de ser capturado, de acordo com um médico que examinou o corpo, em meio a relatos conflitantes sobre a morte do ex-líder líbio.
Gaddafi, de 69 anos, foi morto na quinta-feira depois de capturado por combatentes líbios do governo provisório, a quem ele havia chamado de "ratos" no começo da insurreição de oito meses que pôs fim a seus 42 anos no poder.
Ele foi localizado na quinta-feira, quando as forças líbias assumiram o completo controle da cidade-natal de Gaddafi, Sirte.
"Gaddafi foi capturado vivo, mas morreu depois. Houve uma bala e essa foi a causa primária de sua morte; ela penetrou em suas entranhas", afirmou o dr. Ibrahim Tika à TV al Arabiya. "E houve uma outra bala na cabeça, que entrou e saiu".
Antes, o primeiro-ministro do governo provisório líbio, Mahmoud Jibril, ao ler o que disse ser o relatório da autópsia, declarou que Gaddafi foi retirado sem resistência de um "cano de esgoto", alvejado no braço e colocado em um caminhão, que foi então "pego num cessar-fogo" enquanto o levava ao hospital.

Captura de Gaddafi é filmada em celular e rebeldes festejam

*com informações de agências internacionais

Walter Benjamin: o anjo da história

Reproduzo aqui artigo publicado no blog do Robert Lobato sobre a figura do filósofo Walter Benjamin.

Desajustado, eclético e visionário, o filósofo alemão é (ainda hoje) um dos melhores intérpretes de nossa época
Por José Francisco Botelho
Walter Benjamin
Muitas vezes, quem melhor capta a essência de uma época são aqueles que nela não se ajustam: os náufragos da história, condenados a lutar de forma apaixonada contra o tempo em que nasceram – e, por isso mesmo, capazes de vivê-lo e de interpretá-lo com intensidade única. Nesse sentido, o judeu alemão Walter Benjamin (1892-1940) encarnou como poucos a alma da modernidade – porque nela se sentia desconfortável, desorientado e cheio de angústia. Homem de sensibilidade passadista e aspirações utópicas, foi um espírito do século 19 transportado para o século 20: viu a civilização industrial com olhos de estrangeiro e por isso foi capaz de compreendê-la profeticamente.
Crítico literário, pensador político e filósofo da história, Benjamin foi, antes de tudo, um “homem de letras” (no sentido mais clássico e mais amplo do termo) numa época em que a ditadura dos especialistas já começava a estrangular o mundo ocidental. Profundamente judeu e profundamente alemão, só se sentia realmente em casa passeando pelas ruas de Paris – cidade que descrevia deliciosamente como “a capital do século 19”. Era dono de grande erudição, mas jamais se tornou um erudito profissional: desprezado pelas academias durante a vida, só foi por elas endeusado após a morte. Deixou- se seduzir pelo marxismo, mas jamais se encaixou no padrão do intelectual materialista, guardando até o fim da vida um viés místico herdado da tradição judaica. Todos esses ingredientes fizeram dele um desajustado universal. Não foi um favorito da fortuna, e sabia disso – até o último momento, sua existência foi marcada por uma mistura de má sorte, brilhantismo e trágica autoconsciência. Foi um daqueles que, no dizer do latino Cícero, “só venceram na morte”.
Walter Benjamin
O berlinense Walter Benjamin (1892-1940) debruçou-se com igual brilhantismo sobre a literatura e o cinema, a política e a propaganda. Seus escritos continuam influenciando críticos e pensadores ao redor do mundo.
Inadequação crônica
Walter Benjamin nasceu em Berlim, em uma família de judeus assimilados, nos tempos do Império Alemão. No início da juventude, assistiu o Velho Mundo descer aos infernos nas trincheiras da Primeira Guerra Mundial. Das ruínas da belle époque, emergiu uma Europa mecanizada e cheia de traumas. Mais tarde, em um ensaio, descreveria o choque dessas mudanças: “Uma geração que fora à escola em bondes puxados por cavalos se encontrou, subitamente, em uma paisagem onde tudo se alterara e nada permanecia igual ao que fora antes – exceto as nuvens e, debaixo delas, em meio a explosões, o frágil e minúsculo corpo humano”.
Benjamin jamais se adaptou aos novos tempos. Os fados o haviam dotado de dons brilhantes, mas incompatíveis com o mundo que o cercava. Tinha uma mente eclética e fascinada pelas minúcias, numa época em que a especialização e as generalizações ideológicas imperavam. Seu campo de estudo e fascínio era a vida humana: refletia com igual profundidade sobre a literatura alemã, a história dos brinquedos e a Hagadá (livro da Páscoa) judaica. Sua recusa à especialização custou-lhe a carreira acadêmica. Em 1925, tentou ganhar um diploma de livredocência na Universidade de Frankfurt com uma dissertação sobre o barroco alemão. Os caciques do departamento de letras acharam que o trabalho pouco tinha a ver com literatura e o enviaram à faculdade de filosofia. Os filósofos do instituto, por sua vez, consideraram que ali havia literatura demais e o mandaram de volta aos literatos. O século 19 saberia apreciar a figura do cavalheiro diletante, o hoje legendário homem culto, que ponderava ao sabor de sua biblioteca e podia falar sobre quase tudo sem dizer tolices – mas qual personagem seria mais ameaçador no tecnocrático século 20? Impossibilitado de lecionar, por excesso de inteligência, Benjamin passou a ganhar a vida com traduções e esporádicos artigos para jornais e revistas (o que faz dele, hoje, uma espécie de santo padroeiro dos escritores free-lancer).
Outro motivo de desentendimento entre Benjamin e sua época foi um fenômeno moderno que o próprio autor diagnosticou, em ensaios como O Narrador, de 1935: a perda da experiência coletiva. Para Benjamin, as sociedades baseadas no artesanato viviam num tempo lento e orgânico, ritmado pelos trabalhos manuais, um tempo em que as experiências individuais podiam sedimentar- se e transmitir-se gradualmente em tradições compartilhadas, como as formações minerais que se depositam gota a gota. A civilização industrial havia esfacelado esse mundo feito de vagar, memória e contemplação. No século 20, os acontecimentos passaram a se amontoar de forma tão veloz que a mente humana se tornou impermeável à realidade. Desnorteado, desprovido daquele senso de pertença que era tão natural aos artesãos de outrora, o homem industrial estava condenado a ser o fragmento de um quebra-cabeça cuja forma não percebia. “Por isso, parecemos estar perdendo uma faculdade que antes nos parecia segura e inalienável”, escreve Benjamin, “a faculdade de intercambiar experiências”.
Em poucos lugares do mundo, essas mudanças eram tão notáveis quanto na Alemanha dos anos 1930, que vivia uma industrialização galopante, acompanhada pela corrida armamentista e pela ascensão do nazismo. Em 1933, Benjamin trocou Berlim por Paris, que então era o porto seguro dos desajustados e dos boêmios. Lá, viveu alguns dos anos mais felizes de sua vida. Mesmo no agitado coração do século 20, Paris continuava sendo “capital do século 19”. Flanando por seus bulevares em peregrinações diárias, Benjamin conseguia reencontrar o que mais lhe fazia falta no turbilhão moderno: o sabor da lentidão, que é a face amena e modesta da eternidade.
Mas esse idílio acabou em 1939. Em agosto daquele ano, o ditador soviético Joseph Stalin assinou um pacto de não agressão com Hitler – o que lançou boa parte dos intelectuais marxistas da Europa num estado de perplexidade incrédula. Dois me- ses depois, os nazistas invadiam a Polônia, dando início à Segunda Guerra Mundial. E foi sob o choque desses acontecimentos que Benjamin pôs-se a redigir, no início de 1940, um de seus textos mais pungentes: as curtas, melancólicas e eloquentes Teses sobre o Conceito de História, último escrito que completou antes de morrer.
Ruínas ao léu
Benjamin fora introduzido ao marxismo na década de 1920 graças a seus camaradas Theodor Adorno e Bertold Brecht – mas, à época do pacto entre Hitler e Stalin, já havia se desiludido com o comunismo real. E, a bem da verdade, sempre fora um marxista um tanto sui generis. O misticismo judaico acompanhou-o da infância ao túmulo. Sempre foi intelectualmente fascinado pela doutrina judaica do Messias, o futuro enviado de Deus, que virá redimir as confusões da história e encenar o epílogo de nossa tragicômica epopeia na terra. A decepção política e o sonho teológico perpassam suas Teses, escritas em tons de elegia e de parábola, num estilo de intensidade ominosa. Nessa reflexão profunda e urgente feita à beira do abismo, Benjamin lança um ataque certeiro contra o credo máximo daquele mundo que enlouquecia: a fé no progresso inelutável da humanidade.
Pelo menos desde o início da Revolução Industrial, o Ocidente se convencera de que o avanço técnico era sinônimo de avanço moral. A novidade de hoje, por banal que seja em si mesma, é sempre mais valiosa, mais sublime, mais respeitável que a novidade de ontem. No centro dessa concepção, está a ideia de que o presente é necessariamente melhor que o passado – em todos os aspectos. Segundo Benjamin, o culto ao Deus Progresso era uma neurose universal da qual o marxismo também padecia: para os materialistas clássicos, a história da humanidade era um fluxo implacável rumo à utopia e a revolução comunista era o resultado natural – e, portanto, acima de críticas – do desenvolvimento humano.
No lugar do Deus Progresso, Benjamin colocou o demônio da catástrofe. O avanço da técnica, o domínio material sobre a natureza, a capacidade de erigir prédios e detonar bombas – nada disso, argumenta Benjamin, tem um valor intrínseco em si mesmo. O desenvolvimento moderno pode ser uma aceleração rumo ao desastre. O progresso, quando desabrido e arbitrário, é a pior forma de regresso. E Stalin lá estava, ao lado de Hitler, para provar que o “resultado natural” da história podia ser o oposto da utopia. Essas sombrias intuições estão expressas com soberba imaginação poética em um dos parágrafos mais belos na história do pensamento. É a Nona Tese de Benjamin, escrita sob a inspiração do Angelus Novus, uma aquarela do suíço Paul Klee.
Na pintura, uma desajeitada figura angélica parece voar em marcha à ré, com os olhos fixos no caminho que vai deixando para trás. Trancado em seu quarto enquanto o exército alemão se aproximava, Benjamin observou longamente a aquarela de Klee e por fim escreveu: “O anjo da história deve ter esse aspecto. Seu rosto está dirigido para o passado. Onde nós vemos uma cadeia de acontecimentos, ele vê uma catástrofe única, que acumula incansavelmente ruína sobre ruína e as dispersa a nossos pés. O anjo gostaria de deter-se para acordar os mortos e juntar os fragmentos. Mas uma tempestade sopra do paraíso e prende-se a suas asas com tanta força que ele não pode mais fechá-las. Essa tempestade o impele irresistivelmente para o futuro, ao qual ele vira as costas, enquanto o amontoado de ruínas cresce até o céu. Essa tempestade é o que chamamos de progresso”. O involuntário Anjo da História é uma dessas raras imagens que transcendem interpretações e dispensam comentários. Sabemos simplesmente que ele segue voando e que as ruínas ainda se acumulam ao léu.
Walter Benjamin foi, antes de tudo, um “homem de letras” (no sentido mais clássico e mais amplo do termo) numa época em que a ditadura dos especialistas já começava a estrangular o mundo ocidental
Naufrágio anunciado
Benjamin fugiu de Paris em junho de 1940, um dia antes que o exército alemão entrasse na capital – e a partir de então teve de perambular de cidade em cidade, carregando uma valise cheia de manuscritos inéditos, com a Gestapo em seu encalço. Em agosto daquele ano, conseguiu escapar para a Espanha. Seu plano era chegar a Portugal e dali emigrar para os Estados Unidos. Benjamin já estava na cidade fronteiriça de Portbou, na Catalunha, quando recebeu a notícia fatídica: o governo de Franco cancelara os vistos de todos os refugiados vindos da França. Alquebrado e exausto, após meses de pânico e fuga, Walter Benjamin tomou uma overdose de morfina em seu quarto de hotel, em 25 de setembro de 1940. Sua valise perdeu-se e até hoje não sabemos que manuscritos continha. As folhas rabiscadas com as Teses sobreviveram num dos raríssimos lances de sorte na vida de seu desafortunado autor: antes de fugir de Paris, ele entregara uma cópia a sua amiga, a filósofa Hannah Arendt, que, meses depois, conseguiu escapar para os Estados Unidos.
Se a execução de Sócrates foi o mito fundador da filosofia ocidental, o suicídio de Benjamin simbolizou de forma exemplar o naufrágio da modernidade. Um naufrágio anunciado: considerados em perspectiva, seus escritos têm uma sombria aparência de vaticínio. A disciplinada selvageria do Holocausto, com sua industrialização da morte em escala de milhões, seria impensável sem o avanço técnico e a mecanização das sociedades industriais. Mas o pensamento de Benjamin não é um simples aviltamento do presente ao sabor de idealizações do passado. Pelo contrário: em sua concepção da história, a catástrofe é permanente; cada nova era estraçalha algo de precioso que o período anterior conseguiu, por algum tempo, preservar. A redenção humana só virá quando o doloroso contínuo da história se interromper.
Como a revolução comunista falhou, só restava a Benjamin esperar que o prometido Messias judaico viesse um dia restaurar os escombros do Anjo desalentado. Em uma carta escrita a Hannah Arendt, em 1935, ele resumiu suas considerações sobre o futuro do ser humano – um pêndulo que oscila entre a redenção imaginada e o apocalipse provável. “Nesse planeta, um grande número de civilizações pereceu em sangue e horror. Naturalmente, é de se desejar que o planeta algum dia experimente uma civilização que renuncie a tudo isso… Mas é terrivelmente improvável que nós consigamos dar esse presente ao nosso mundo. E, se não o fizermos, o mundo finalmente punirá a nós, presenteando- nos com o Juízo Final.”

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