Contam que em 445 a.C., na deslumbrante Atenas, o sábio Herôdoto (ou
Heródoto) teria lido pela primeira vez, em público, longos trechos de
sua obra-prima: História. Num mundo como o de hoje, no qual as
telecomunicações deixam-nos lado a lado com realidades múltiplas e
distantes, e a internet nos mostra tudo em tempo real, talvez seja
difícil imaginar a estupefação dos atenienses ao ouvir os relatos
pormenorizados das viagens de Herôdoto, repletos de curiosidades,
guerras, amores, traições, ritos e mitos. Talvez melhor assemelharmos a
sua narrativa à de um viajante espacial que, após o retorno de outros
mundos, põe-se a contar em minúcias tudo o que viu e ouviu.
Considerado o primeiro historiador, pela riqueza de detalhes, estilo
soberbo e, principalmente, método apurado e honestidade intelectual,
Herôdoto nasceu persa, em Halicarnassos. Sua vida comprova o lema dos
grandes viajantes, para quem o ato mesmo de viajar amplia
exponencialmente o conhecimento, quer pela apreensão de novas
realidades, quer pela comparação entre a nossa cultura de origem e
aquelas novas com as quais se tem contato.
Porém, viajar, por si só, não garante a ninguém a sabedoria e o
aperfeiçoamento intelectual. Há que se ter a curiosidade própria dos que
buscam continuamente. Não por outro motivo, o nome História cai bem à
obra e bem ao autor: originalmente, historía significa busca,
investigação, pesquisa.
Enfim, o livro é daqueles que merecem estar entre as maiores obras da
humanidade, e sem a leitura da qual ninguém pode se autodenominar
leitor.