Leonid Kovachich –
Voz da Rússia
A
China ultrapassou os EUA quanto à sua dívida empresarial, apresentando agora
esse indicador como o mais elevado do mundo. No final do ano passado a dívida
corporativa da China ultrapassou os 14 trilhões de dólares. Assim, neste
momento 30% de todas as dívidas das empresas privadas no mundo cabem à China.
O
Ocidente recebeu essa notícia com apreensão. Segundo a análise da S&P,
quase um terço de todos os créditos concedidos a companhias chinesas, e que
constituem 4 trilhões de dólares, foram concedidos pela banca paralela. Além
disso, a parte de leão dos créditos se destinava a projetos na área do
imobiliário. Não é difícil contabilizar que 10% do mercando mundial de dívida
corporativa cabe à economia paralela chinesa. Os representantes da S&P
expressam seus receios que, nas atuais condições de abrandamento dos ritmos de
crescimento, os preços do imobiliário colapsem e isso crie problemas ao setor
bancário paralelo. O que, por seu turno, irá provocar uma reação em cadeia por
todo o mundo.
Uma
ainda maior preocupação dos analistas é a provocada pelo fato de as companhias
chinesas continuarem acumulando dívida. Já neste momento o volume dos créditos
na economia da China é de 210% do PIB e, segundo as previsões da S&P, ele
tem tendência a aumentar. Entretanto, a experiência dos EUA, do Japão e dos
países atingidos pela crise financeira asiática de 1997 demonstra que 200% do
PIB é o ponto crítico, depois do qual o colapso pode ocorrer a qualquer
momento, avisa o analista Igor Nikolaev:
“A
tendência é realmente alarmante. A China aumentou sua dívida corporativa quanto
tinha a economia em rápido crescimento. Mas neste momento ela está em desaceleração. Para
as empresas isso significa que o crescimento dos seus rendimentos se torna mais
baixo relativamente ao que poderia ter sido antes. As companhias pediam
empréstimos prevendo que a economia iria continuar crescendo 10-12% ao ano, mas
afinal são esperados apenas 7-8%. Por isso, os créditos que eram contraídos a
longo prazo serão muito difíceis de pagar.”
O
paradoxo está em que, por um lado, o abrandamento dos ritmos de crescimento
econômico cria uma ameaça de crise e que, por outro, as medidas dirigidas
contra esse abrandamento só agravam a situação. Como a economia chinesa
continua dependendo fortemente de investimentos, o Estado estimula o aumento da
atividade empresarial através de crédito barato. Em alguns casos subsidia-a
diretamente. Desde 2008, com o objetivo de proceder à recuperação após a crise
financeira mundial, o Estado subsidiou as empresas em 586 bilhões de dólares.
Foi precisamente isso que provocou o crescimento da dívida corporativa e a
bolha no mercado de ativos.
Recentemente
o FMI propôs à China a seguinte saída para a situação criada: se abster de
continuar estimulando a economia para aumentar os ritmos de crescimento e
continuar realizando reformas para a redução dos riscos relacionados com o
setor bancário paralelo e o peso da dívida dos órgãos de poder local. O
primeiro vice-diretor do FMI David Lipton declarou que a continuação do
estímulo à economia só podia ser realizada depois de um considerável
abrandamento dos ritmos de crescimento por comparação com as metas para este
ano.
Este
conselho é bastante duvidoso. Em março deste ano, o premiê do Conselho de
Estado da China Li Keqiang definiu 7,5% como meta para os indicadores de
crescimento. Esse número não foi escolhido ao acaso: em caso de queda dos
ritmos de crescimento para menos de 7%, o país poderá sucumbir a uma enorme
vaga de desemprego. Já sobre a criação de novos postos de trabalho nem vale a
pena falar. Entretanto, o emprego é definido como uma tarefa prioritária pela
direção do país. Por isso a questão está em quais serão agora as prioridades
definidas pelos líderes chineses: a manutenção da estabilidade financeira ou a
manutenção da estabilidade social no país.
Foto: AP
Fonte: Página Global