Alguns poemas do maranhense Celso Borges:
| amor |
como padece o amor
– frágil –
como padece entre as rameiras
entre o chão e as esteiras de toda a vida
como padece feito pedra desgastada pela correnteza
como padece a vida do dia-a-dia
a vida e as esporas rastejantes
o amor
objeto da cidade em movimento
(p. 31)
| narciso acha feio o espelho |
rugas rugem no rosto
rasgam a pele pelo meio, rangem
abrem trilhas trevos, travessia de mau gosto
deixam rastro raízes imposto
rugas surgem na vertigem da cara
rasgam traços furam faros, ferem
fazem falhas fendas de carne rara
fabricam ferida que nunca sara
rugas mudam de cor a seda virgem
rasgam finos poros plantam fuligem
fundam sem truque a falta de infância
riscam estrias sobre tenra elegância
rugas inauguram dor e cicatriz na juventude
rasgam ventas mancham murcham toda plenitude
marcham com navalhas impondo duro corte
golpeiam o futuro anunciam sua morte
rugas vagam entre massas maçãs e narinas
rasgam véus vãos secam flores femininas
espalham decadência cegam punhais e beleza
quebram espelhos afiam lâminas trevas tristeza
(p. 35)
| pária |
somos poucos
cada vez menos
somos loucos
cada vez mais
somos além
dessa matéria óbvia
que nos faz dizer
– tá tudo bem.
(p. 39)
| now |
o sucesso do amanhã é um comércio
que desconheço como poeta
não me cabe exercitar a beleza do futuro
ou colorir utopias quase sempre alheias.
eis o preço que pago por trazer comigo
o presente em estado de emergência.
(p. 75)
| in |
te ponho dentro do poema
entre vírgulas, parêntesis
tua pele passa e brilhas folha a folha
te vejo entre aliterações e rimas
teu corpo vivo nu no verso
teu corpo verso
viva o verso no universo de teu corpo vivo
vivo. Vivo!
o futuro não é delicado com a gente
mas delicado multiplica-se nas páginas
– tu és o livro do mundo e ponto final
(p. 49)
| persona non grata |
eu disse quase tudo
eu quase não disse nada
é disso que sou feito
nem leite nem nata
persona non grata
esse o meu futuro
o ouro de que me acumulo
o verbo o pulo
o salto por cima do muro
| amor |
como padece o amor
– frágil –
como padece entre as rameiras
entre o chão e as esteiras de toda a vida
como padece feito pedra desgastada pela correnteza
como padece a vida do dia-a-dia
a vida e as esporas rastejantes
o amor
objeto da cidade em movimento
(p. 31)
| narciso acha feio o espelho |
rugas rugem no rosto
rasgam a pele pelo meio, rangem
abrem trilhas trevos, travessia de mau gosto
deixam rastro raízes imposto
rugas surgem na vertigem da cara
rasgam traços furam faros, ferem
fazem falhas fendas de carne rara
fabricam ferida que nunca sara
rugas mudam de cor a seda virgem
rasgam finos poros plantam fuligem
fundam sem truque a falta de infância
riscam estrias sobre tenra elegância
rugas inauguram dor e cicatriz na juventude
rasgam ventas mancham murcham toda plenitude
marcham com navalhas impondo duro corte
golpeiam o futuro anunciam sua morte
rugas vagam entre massas maçãs e narinas
rasgam véus vãos secam flores femininas
espalham decadência cegam punhais e beleza
quebram espelhos afiam lâminas trevas tristeza
(p. 35)
| pária |
somos poucos
cada vez menos
somos loucos
cada vez mais
somos além
dessa matéria óbvia
que nos faz dizer
– tá tudo bem.
(p. 39)
| now |
o sucesso do amanhã é um comércio
que desconheço como poeta
não me cabe exercitar a beleza do futuro
ou colorir utopias quase sempre alheias.
eis o preço que pago por trazer comigo
o presente em estado de emergência.
(p. 75)
| in |
te ponho dentro do poema
entre vírgulas, parêntesis
tua pele passa e brilhas folha a folha
te vejo entre aliterações e rimas
teu corpo vivo nu no verso
teu corpo verso
viva o verso no universo de teu corpo vivo
vivo. Vivo!
o futuro não é delicado com a gente
mas delicado multiplica-se nas páginas
– tu és o livro do mundo e ponto final
(p. 49)
| persona non grata |
eu disse quase tudo
eu quase não disse nada
é disso que sou feito
nem leite nem nata
persona non grata
esse o meu futuro
o ouro de que me acumulo
o verbo o pulo
o salto por cima do muro