Fonte: Freepik
Por Rogério Rocha
No final de tarde a gente chega. As crianças passam e olham. A banca de bombons do vô está na praça. É um sucesso. Sei que é porque sempre tem alguém querendo comprar alguma coisa.
Os meninos jogam bola aqui perto. As meninas pulam corda, dançam ou brincam de amarelinha. Depois encostam. Tem bolinhos, doces, chocolates e balas. Tudo que elas gostam.
Quase todo dia a gente monta a banca. Eu venho com ele. Fico ao lado brincando com meu carrinho. Trago sempre uma garrafa com água e uma sacola com o lanche. Às vezes dá fome, sede, mas eu estou sempre aqui com ele. O vô gosta muito de mim.
Meu pai nunca vem. Ele fica em casa. Diz que precisa cuidar das entregas. Uns saquinhos que vende para o pessoal da comunidade. Neles eu não posso mexer, o pai sempre diz. Ficam guardadinhos, mas nem sei onde.
Quando os adultos vêm comprar, o vô entrega os bombons, mas eles escondem logo. Botam no bolso ou na mochila. Não gostam da praça. Saem ligeirinho, com cara estranha. Acho que os pais deles estão esperando em casa. Podem apanhar se demorarem na rua. Deve ser bem por isso.
Na minha casa não falta nada. O pai e o vô sabem ganhar dinheiro, viu. Até quando já é bem tarde, e estou quase dormindo, bate gente na porta atrás de um docinho.
Essa semana um menino chegou na banca com os olhos vermelhos. Acho que estava com sono. Com sono ou chorando, não sei. Mas ficou feliz. Abriu um sorriso quando levou umas balinhas.
Na praça também tem meninas. Umas moças que falam baixinho e gostam de sorrir. São muito bobas. Riem à toa. Até sem ter piada. Eu não entendo, mas acho engraçado.
Tem dia que vamos embora mais cedo. Afinal, meu vô não gosta quando tem polícia. Parece que fica preocupado. Guarda uma parte das coisas numa caixa de papelão. Depois me olha sério, diz para eu pegar meu brinquedo e guardar na sacola. Ele fala no celular e, não demora, aparece um moço do táxi que leva a gente para casa. Gosto muito de andar de táxi.
Também não demora para mudar de bairro, sabe! Toda semana é um lugar diferente, outra praça em outro bairro. Muda a paisagem, mudam as pessoas, mas os bombons não.
Ah, um dia ainda vou ser como o vô.
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