domingo, 6 de novembro de 2011

Sugestão de leitura - "O homem que sabe"



O livro apresenta um discurso raro, entre a filosofia e o poema, sobre a atual condição do Homem. Viviane Mosé reflete sobre a Modernidade, oferecendo ao leitor a oportunidade de pensar, por exemplo, sobre como ela pode provocar enormes avanços tecnológicos, mas, ao mesmo tempo, também crises sociais, ambientais e econômicas.

Qual é a ideia principal do livro?
 O livro quer mostrar que o modo como organizamos nosso pensamento, o modo como estruturamos nosso raciocínio no ocidente é um modelo construído pelos gregos e que se tornou o padrão do pensamento em geral. Não apenas isto, busca mostrar que este modelo é excludente e fundamenta os diversos modos de exclusão que instauramos em nossa cultura. Raciocinamos em linha, para afirmarmos alguma coisa temos que excluir o seu oposto: ou bonito ou feio, ou certo ou errado, ou bem ou mal, isto dividiu o mundo em dois, e instaurou a oposição ao mesmo tempo em que negou os graus e sutilezas que existem entre uma coisa e outra. Pensar racionalmente é opor. A grande novidade é que as novas mídias estão nos impondo um pensamento complexo, da linha fomos lançados à rede, e isto exige que nossos modelos educacionais se transformem. O livro busca mostrar também que, desde Kant no final do século XVIII, uma razão mais ampla surgiu, um modo de conceber a relação do homem com o mundo, sustentada não apenas no pensamento conceitual, ou na razão pura, mas também e ao mesmo tempo em um pensamento prático, ou moral, e no pensamento estético. O que acontece é que já sabemos desde Kant que nossa razão é complexa, sustentada na percepção e no corpo, quer dizer, na sensibilidade, e acontece como um jogo entre três faculdades: conhecer, querer e sentir, mas esta concepção não atingiu o modo como aprendemos e ensinamos, sobretudo na escola, que se sustenta unicamente no conhecer. O que Kant não conseguiu por meio de argumentos hoje é imposto pelas novas mídias. Ainda bem.
 “Pensar o múltiplo e o móvel é o desafio, ser capaz de lidar ao mesmo templo com diversas interpretações e perspectivas. Não mais pensar de modo sucessivo, mas simultâneo, compor ao invés de excluir, e retomar a difícil complexidade que é viver, pensar, criar, conhecer, querer, sentir... Todas as coisas se relacionam, não há nada realmente isolado, todo gesto produz desdobramentos incalculáveis; um saber, uma escola, uma pessoa não existe sem um contexto: talvez este seja o aprendizado social, a maturidade política que precisamos. Somos ao mesmo tempo o indivíduo e o todo, o apolíneo e o dionisíaco, a lei e a transgressão.”

O Homem que Sabe - Viviane Mosé

Radicais sem rosto

Ligados à extrema-esquerda, estudantes que invadiram a reitoria da USP compõem um grupo pequeno, sem reconhecimento da UNE nem apoio de seus colegas de universidade

Paula Rocha

chamada.jpg
CONTRA
Encapuzados, cerca de 50 estudantes invadiram a
reitoria da USP para pedir a saída da PM do campus
Eles nasceram na elite, estudam numa das melhores universidades do Brasil, usam roupas e tênis de marca, se dizem anarquistas e afirmam que defendem a causa operária. Os estudantes que lideraram as manifestações contra a presença da Polícia Militar no campus da USP (Universidade de São Paulo) nas últimas semanas compõem um grupo pequeno, movido por questões ideológicas ultrapassadas, mas capaz de gerar uma discussão de âmbito nacional. Munidos de paus e pedras, e com os rostos cobertos para não serem identificados, cerca de 50 jovens invadiram a reitoria da USP na terça-feira 1o, como forma de forçar o reitor, João Grandino Rodas, a retirar a PM da universidade. O protesto foi motivado pela repressão a três alunos da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas (FFLCH), pegos fumando maconha no campus. Quando seriam encaminhados a uma delegacia para assinar um termo circunstanciado, outros estudantes intervieram e a PM usou cassetetes e bombas de gás lacrimogêneo para dispersá-los. A ação truculenta da polícia serviu de gatilho para que os radicais colocassem em prática o movimento autointitulado Ocupa USP – Contra a Repressão. Na quinta-feira 3, a Justiça autorizou a reintegração de posse do prédio da reitoria. Mas eles decidiram manter a ocupação.

A principal reivindicação do grupo, coordenado por três correntes de extrema-esquerda – a Liga Estratégica Revolucionária – Quarta Internacional, o Movimento Negação da Negação e o Partido da Causa Operária (PCO) –, é a suspensão do convênio entre a PM e a universidade, firmado após a morte do estudante Felipe Ramos de Paiva, baleado no estacionamento da Faculdade de Economia e Administração (FEA) em maio passado. O episódio chamou a atenção da sociedade para a falta de segurança no campus e levou a reitoria da USP a pedir reforço no policiamento. Segundo dados da Secretaria de Segurança Pública de São Paulo, a iniciativa conseguiu reduzir significativamente a incidência de diversas modalidades de crimes na universidade (leia quadro). Esse argumento, no entanto, é desconsiderado pelos garotos mascarados. “O real objetivo da Polícia Militar na USP não é o de inibir crimes, mas sim de combater manifestações políticas e cercear o direito de expressão livre de estudantes e trabalhadores”, dizem os estudantes no Manifesto da Ocupação, publicado na internet. Além disso, eles também exigem que os processos administrativos movidos contra docentes e discentes da USP, devido a ocupações anteriores, sejam suspensos.
img.jpg
A FAVOR
Manifestação de alunos que desejam a permanência da polícia para reprimir a violência
Apesar de fazer muito barulho, o grupo dos radicais não representa a opinião dos mais de 80 mil estudantes da USP. Na terça-feira 1o, alunos de diversos cursos realizaram uma manifestação pró-PM no campus, apoiada pelo Centro Acadêmico da FEA. “A presença da PM na USP tem apoio de 80% dos alunos da FEA e da Politécnica”, diz Thomás de Barros, estudante de economia e diretor de comunicação do CA da FEA. A postura dos radicais de extrema-esquerda é vista com maus olhos até mesmo entre aqueles que não querem a polícia atuando dentro da universidade. “Sou contra a PM no campus, mas também não concordo com a ocupação da reitoria”, disse um estudante de letras que não quis se identificar. A União Nacional dos Estudantes (UNE) declarou que não reconhece o grupo e que seu contato na USP é o Diretório Central dos Estudantes (DCE). O próprio DCE, também contrário à presença da PM, não apoia os radicais. “Infelizmente, um setor minoritário do movimento, derrotado na votação da assembleia de 1o de novembro, agiu de forma antidemocrática ao ocupar a reitoria, deslegitimando o debate feito no fórum”, declararam em nota.

Para o sociólogo Renato Cancian, autor do livo “Movimento Estudantil e Repressão Política”, a militância político-partidária, intensificada a partir dos anos 1970, acabou por enfraquecer o movimento estudantil, já que houve um completo distanciamento das demandas educacionais. “Os militantes partidários defendem uma agenda eminentemente política, enquanto os apartidários pregam a completa dissociação do movimento estudantil de questões políticas mais amplas”, diz Cancian. “E, na verdade, as duas agendas podem coexistir, desde que tenham equilíbrio.”  O especialista ainda defende a ideia de que a solução para a questão da violência no campus da USP deve incluir outras medidas além da presença da PM. “A USP deveria investir em mais iluminação e no treinamento da guarda universitária.” O orçamento em 2011 da USP é de R$ 3,6 bilhões, dinheiro que vem de impostos cobrados em São Paulo. Desse total, 85% vai para o pagamento de salários de professores e funcionários.
img1.jpg
Colaborou Flávio Costa

Fonte: Istoé

Postagens populares

Total de visualizações de página

Páginas