O velho Sigmund Freud, em sua obra-prima "A Interpretação dos Sonhos" (Die Traumdeutung), já dizia: "o sonho é a estrada real que conduz ao inconsciente". A frase se tornou clássica e a obra, naquela época, ajudou a fundar as bases conceituais e metodológicas do que passaria a se chamar de psicanálise.
A partir da teoria nela apresentada, Freud desenvolveria toda a sua obra. Mas o que trouxe de novo esse livro, escrito no fim do século XIX? Além de ter nada menos que fundado a teoria psicanalítica, o estudo levantava a tese de que os sonhos expressariam a realização de um desejo infantil reprimido.
Ao criar a psicanálise, sob o contexto de um trabalho voltado a interpretar o conteúdo onírico, o grande pensador austríaco trouxe a lume algo que seus antecessores vislumbraram apenas vagamente, haja vista adotarem concepções sobre o sonho que o aproximavam mais a elementos do simbolismo, premonições ou manifestações de caráter divino. Freud disseminou em nossa cultura o conceito de inconsciente, de uma natureza humana movida pelas pulsões, impossível de ser captada integralmente pela consciência.
Conheça outras interpretações do sonho ao longo da história do pensamento.
Séc. 8 a.C.
Os gregos, como os babilônios e os egípcios, entendiam os sonhos como poderosas mensagens divinas. Por isso, construíram o templo de Asclépio, em Epidauro, onde os doentes dormiam e esperavam que um sonho lhes indicasse o caminho da cura.
Séc. 5º a.C.
O filósofo grego Heráclito sugere que o mundo dos sonhos é individual, não sendo necessariamente resultado de influências externas, nem mesmo divinas.
Séc. 3º a.C.
Aristóteles, outro filósofo grego, propõe que os sonhos são reflexo do estado do corpo e, por isso, podem ser utilizados pelos médicos para diagnosticar doenças. Essa teoria é encampada por Hipócrates, pai da Medicina.
Séc 1º a.C.
O romano Artemidoro escreve Oneirocroticon, primeiro livro sobre a interpretação dos sonhos. Nesse trabalho de cinco volumes eme argumenta que as imagens sonhadas são reflexo da profissão do sonhador e de seu status social.
Sécs. IV e V d.C.
Santo Agostinho de Hipona |
Pensadores cristãos, como Santo Agostinho (354-430) e São Jerônimo (342-420), retomam o conceito dos sonhos como eventos sobrenaturais e premonitórios. Há passagens na Bíblia que falam dos seus poderes proféticos. José, pai de Jesus, também teria sido avisado em sonho sobre a gravidez de Maria.
Séc. VII e VII d.C.
O profeta Maomé (570-632) dava extremo valor aos sonhos. Recebeu, inclusive, grande parte do Alcorão durante um delírio noturno. Também interpretava os sonhos de seus discípulos.
Séc. XIII
Martinho Lutero |
A Igreja Católica passa a associar os sonhos, especialmente os eróticos, a obras do demônio. O alemão Martinho Lutero (1483-1546), fundador do Protestantismo, era um dos que partilhavam dessa opinião.
Séc. XVIII
Johann Fichte |
O filósofo alemão Johann Fichte lança a tese de que os sonhos revelam temores e desejos inconscientes.
Séc. XIX
O psiquiatra austríaco Sigmund Freud (1856-1939) retoma a teoria dos desejos contidos, salientando a essência erótica dos sonhos. Objetos longos e pontiagudos representariam o pênis, enquanto os ocos simbolizariam a vagina.
Séc. XX
Carl Gustav Jung |
Carl Gustav Jung (1875-1961) não identificava a origem da maioria dos sonhos em problemas sexuais ocultos. Acreditava que eles revelassem desejos, quaisquer que fossem. Também sugeriu a existência do "inconsciente coletivo", parte da mente na qual estão depositadas as informações comuns a todos os humanos. Assim tentava explicar o fato de pessoas de culturas opostas relatarem sonhos com significados praticamente iguais.
Fonte: Manual do sono, ed. 001/2011 (com adaptações pessoais)