Meu
amado pai deixou-me. Partiu desta vida de modo súbito, inesperado, avassalador.
Seu desaparecimento nos tomou de surpresa, deixando um rastro de dor e o vazio
imenso agora compartilhado por filhos, pela irmã, por parentes e amigos.
Deus o
chamou, levou-o para junto de si assim, sem avisar, sem combinar nada com
ninguém. A chama da vida que nele pulsava apagou-se como num sopro. Como uma luz
que se esvai, num segundo.
Meu
velho e inesquecível pai me ensinou (e a minhas irmãs), talvez mesmo sem saber,
a amar a vida, a senti-la e a vivê-la com intensidade mesmo nas pequenas
coisas, nos gestos mais simples.
Ensinou-nos
a respeitar os outros, a sermos humildes, a praticar o bem, a portar-nos
dignamente, sem ser humilhado nem humilhar ninguém.
Honrou-me
com o legado de princípios e bons valores que me ajudaram a ser o homem que
hoje sou.
Viveu
sua existência com simplicidade. Era um homem que se comprazia com pequenas
coisas. Foi feliz vivendo ao seu modo. Apenas com o suficiente. Nunca quis a
riqueza, o luxo, bens materiais. Contentava-se com o que tinha. E assim trilhou
todo o seu caminho até o último dia, quando cuidou de fazer tudo o que mais
gostava.
Nesse
dia (mais triste e cruel dia da minha vida), meu velho conversou com alguns
amigos, passeou pelo bairro, cuidou dos pássaros que tanto apreciava, ouviu
seus cânticos, realizou tarefas caseiras, reviu suas queridas netinhas, sua
irmã de todas as horas, sua esposa, suas duas filhas e lembrou-se, perguntando
várias e várias vezes por mim, que estive com ele três dias antes, sem saber que
aquele seria então o meu último encontro, minha última conversa sobre as coisas
da vida, sobre futebol, sobre a gente... Eu que, infelizmente, por uma trapaça
do destino, não pude partilhar com ele um derradeiro contato naquele fatídico
dia de sua despedida.
Ó, meu
pai, que profunda dor! Que infeliz trama da história essa que me furtou esse
teu último aperto de mão, teu último olhar, nossa última tarde. Por que, meu
pai?
Com tua
morte, morro eu também um pouco. Ao nos deixar, assim tão de repente, nada mais
será como antes. Teremos de nos reinventar. Reaprender a caminhar a partir do
ponto em que ficamos.
Ainda
assim, saudoso amigo, sou grato por tudo. Sou grato por existir. Sou grato pela
história que vivemos juntos. Sou grato por cada passo que trilhei ao teu lado,
por tudo o que pude contigo aprender. Com teu bom humor, com teu sorriso, com
teus conselhos e orientações.
Cumpriste
tua missão nesse mundo, meu pai. Sei que sim. Os que te conheceram e te amaram
de verdade também o sabem.
Um dia
espero poder te encontrar de novo, para dar-te o abraço que faltou e retomar a
conversa que deixamos inconclusa. Fique com Deus!