Mostrando postagens com marcador crise mundial. Mostrar todas as postagens
Mostrando postagens com marcador crise mundial. Mostrar todas as postagens

sábado, 15 de outubro de 2011

Reflexões sobre os protestos mundiais contra a crise financeira

Uma onda de protestos, marcados por passeatas, marchas e manifestações públicas de insatisfação popular, marcou o dia de hoje ao redor do globo. Inspirados pelo movimento "Occupy Wall Street", que teve início na cidade americana de Nova York, a onda de protestos que corre o mundo levas às ruas e praças das principais capitais do planeta o descontentamento dos cidadãos com o rumo das ações governamentais frente à crise financeira mundial, puxada sobretudo por países europeus como Grécia, Espanha e Portugal, bem como pelos Estados Unidos da América, nações hoje extremamente endividadas e com graves problemas econômicos.

Em alguns lugares, como na Itália, houve confronto entre manifestantes e a polícia, com pessoas presas e feridas de ambos os lados. Em Washington, Nova York e Toronto, o tom pacífico marcou os atos públicos. Em Lisboa e na cidade do Porto, em Portugal, cerca de 40m mil pessoas foram às ruas, num dos maiores protestos recentes do país. Na Grécia, um dos países mais atingidos pela crise financeira e econômica, centenas de manifestantes ocuparam a praça Sintagma, em Atenas. Em Londres, a marcha popular dirigiu-se até a sede da Bolsa de Valores. Os protestos se seguiram em outras capitais como Rio de Janeiro, São Paulo, Madri, Bruxelas, Frankfurt e Tóquio.

Cerca de 20 mil pessoas foram às ruas de Lisboa e ocuparam as escadarias do Parlamento português

Em síntese, o que estamos a presenciar é um fenômeno digno de maiores reflexões, dada sua importância fundamental para os tempos que vivemos. As pessoas, cidadãos e cidadãs em um mundo globalizado, por meio de redes de relacionamento, em fóruns de debate na internet, ou mesmo mediante a ação direta do boca a boca, inauguram uma nova esfera pública, capaz de dar vez e voz a qualquer um, democraticamente, articulando ações reais voltadas para a manifestação dos interesses e aspirações populares. 


A indignação que pauta o movimento, que ora vemos surgir, recai sobre elementos fundantes do sistema capitalista.Preceitos e valores que durante décadas regeram os acordos políticos e empresariais, seduziram governantes e iludiram governados. Dessa forma, muitos Estados, ditos democráticos, com suas economias (neo)liberais, produziram riqueza e prosperidade, acumuladas e concentradas nas mãos de parcelas da população, sem, contudo, produzirem o bem-estar da sociedade. A pujança de organismos financeiros internacionais como o FMI contrasta com a economia hoje precarizada de países que antes navegaram nas ondas da riqueza. Por isso as massas populares, ora engajadas em lutar por mudanças, se questionam: o que há de errado? o que o capitalismo e os governos tem feito pelo bem das pessoas? por que o FMI e os Governos dos países socorrem os bancos e não fazem o mesmo com o povo?

Manifestantes vão às ruas em Frankfurt, na Alemanha; protestos contra crise se espalham pelo mundo

A iniciativa internacional que mobiliza dezenas de países clama por união das pessoas, dos governados, dos cidadãos, contra o capital financeiro, contra governos inoperantes, contra políticos corruptos (vide as também inéditas marchas brasileiras contra a corrupção), contra o desemprego constante e a cruel austeridade de planos econômicos ortodoxos, que acabam gerando verdadeiras "ditaduras" financeiras. 

Estamos diante de algo essencialmente importante. Quem sabe, a partir do que está acontecendo agora, não se possa estabelecer um novo momento na ordem mundial. Algo que sirva para redefinir os rumos do capitalismo (caso não seja possível enterrá-lo), dando lugar a novos princípios, valores que elejam como prioridade a realização do ser humano, pautados não numa lógica do dinheiro, apenas, mas sobretudo da solidariedade. Mostrando que um outro mundo é sim possível.


Um outro detalhe a ser destacado, e que fica patente no teor das manifestações mundiais, diz respeito à crise de representatividade política. Hoje, mais do que nunca, passa-se a entender que o modelo de representatividade clássico, elaborado a partir da ideia do contrato social, bem como dos princípios democráticos de eleição de pessoas (políticos) que representam as demais pessoas (eleitores), acha-se superado, ou seja, não responde mais aos anseios populares. 


A prova mais cabal disso reside no fato de que muitos políticos ocupam cargos públicos, parlamentos, chefias de poderes (Executivo e Legislativo), pelas vias constitucionais e legitimados pelo voto popular, para, em seguida, esquecer praticamente todas as promessas, projetos e compromissos assumidos perante a sociedade, frustrando assim àqueles que acreditaram em suas propostas. Pior ainda é quando esses mesmos legitimados assumem posturas autocráticas, de extremo apego pelo poder, perpetuando-se nesses cargos a custa de todo o tipo de artimanhas, negociatas e fraudes.

Uma saída para essa crise mundial (crise também de representatividade política) é o que se está tentando achar a partir de agora. O estopim foi aceso. A ideia está lançada. O movimento está nas ruas, em ação global. A marcha (assim espero) seguirá em frente. Crescerá a onda de descontentamento e indignação. Motor necessário às futuras mudanças.


Postagens populares

Total de visualizações de página

Páginas