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domingo, 18 de março de 2012

Morre Aziz Ab'Sáber, decano da geografia física no Brasil


Aziz Nacib Ab'Sáber, pesquisador da USP e um dos maiores especialistas em geografia física do país, bem como uma voz ativa nos debates sobre biodiversidade e preservação ambiental, morreu na manhã desta sexta-feira, às 10h20, em São Paulo. Ele tinha 87 anos.

A informação foi dada pela SBPC (Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência), instituição que Ab'Sáber presidiu de 1993 a 1995 e da qual era presidente de honra e conselheiro.
Ab'Sáber morreu em casa. "Ele tomou café, sentou na cama e deu um suspiro. Morreu em seguida, foi fulminante", disse Nídia Nacib Pontuschka, irmã do geógrafo. Ela afirma que a causa da morte ainda não foi identificada, mas suspeita-se que tenha sido um infarto ou um derrame.
A SBPC confirmou que o corpo de Ab'Sáber será velado no Salão Nobre do prédio da administração da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da USP (Rua do Lago, 717, Cidade Universitária, São Paulo), das 19h às 22h. O velório será reaberto amanhã a partir das 8h e o enterro será às 11h no Cemitério da Paz, no Morumbi.
Ab'Sáber nasceu em São Luís do Paraitinga (SP) em 24 de outubro de 1924. Seu pai era libanês.
Silva Júnior/Folhapress
Foto de arquivo do geógrafo Aziz Ab'Saber, ao receber o troféu Juca Pato como intelectual do ano de 2011
Foto de arquivo do geógrafo Aziz Ab'Saber, ao receber o troféu Juca Pato como intelectual do ano de 2011
Embora já estivesse aposentado, Ab'Sáber continuava publicando livros e sendo um observador arguto das controvérsias políticas envolvendo a questão ambiental.
Envolveu-se, por exemplo, com a discussão do novo Código Florestal, que pode alterar as áreas de preservação obrigatórias em propriedades particulares, nos últimos dois anos.
Segundo a SBPC, o geógrafo criticou o texto por não considerar o zoneamento físico e ecológico de todo o país, deixando de lado a importância da diversidade de paisagens naturais no Brasil.
O estudioso também chegou a sugerir a criação de um Código da Biodiversidade para implementar a proteção a espécies da flora e da fauna.
Ab'Sáber deixa cinco filhos, seis netos e um bisneto.
LAUREADO
O site da SBPC traz uma extensa lista dos prêmios recebidos por Ab'Sáber ao longo da carreira. Destacam-se o Prêmio Jabuti em ciências humanas (1997 e 2005) e em ciências exatas (2007), o Prêmio Almirante Álvaro Alberto para Ciência e Tecnologia (1999), concedido pelo Ministério da Ciência e Tecnologia, a Medalha de Grão-Cruz em Ciências da Terra pela Academia Brasileira de Ciências; e o Prêmio Unesco para Ciência e Meio Ambiente (2001), concedido pelas Nações Unidas.
REPERCUSSÃO
Segundo a presidente da SPBC, Helena Bonciani Nader, Ab'Sáber dava atenção especial aos estudantes e jovens pesquisadores.
"Ele era sempre ouvidos e se dedicava a todos, principalmente aos jovens. Conseguia transmitir para os estudantes a importância da ética e da moral como poucos. A gente brinca que ele era um aliciador de jovens para o saber. Perdemos um grande amigo e a ciência perde um batalhador, que sempre lutou por seus valores e pelo o que acreditava ser o melhor para o país."
Luiz Davidovich, membro da diretoria da ABC (Academia Brasileira de Ciências), diz ter recebido a notícia da morte de Ab'Sáber com grande pesar.
"Ele era um vulto da ciência nacional. Deu grandes e importantes contribuições para a geografia. Além disso, teve presenca marcante como cidadão, lutando sempre para o desenvolvimento da ciência e tecnologia no país."
Em nota, Marco Antonio Raupp, ministro da Ciência, Tecnologia e Inovação, afirmou que Ab'Sáber já fazia parte da história intelectual brasileira há muitos anos. "Agora ele entra para a eternidade, mas seu legado de centenas de trabalhos continuará a nos guiar pelos caminhos que conheceu como poucos, como os da geografia, da ecologia, da biologia evolutiva, da geologia e da arqueologia."
Ele disse ainda que Aziz era dono de uma lucidez irrequieta e de uma formidável capacidade de lançar ideias muito à frente do senso comum.
"Bom exemplo dessa característica de Aziz Ab'Saber foi seu posicionamento nas recentes discussões do novo Código Florestal, não para repetir clichês ou acentuar antagonismos, mas sim para propor a criação de um Código da Biodiversidade --avanço que um dia o Brasil certamente consolidará."
O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva também enviou uma nota, por meio de seu instituto, lamentando a morte do geógrafo. Eles estiveram juntos nas Caravanas da Cidadania, viagens que Lula, membros do PT, além de especialistas de diversas áreas, fizeram pelo país nos anos 90.
"Aziz Ab'Saber foi, sem dúvida, um dos maiores geógrafos que o Brasil já teve. Seu profundo conhecimento da geografia e seu compromisso inabalável com o povo brasileiro foram fonte de inspiração para todos nós. (...) Sua presença sempre ativa, crítica e opinativa foi fundamental e ajudou a construir muitas das políticas públicas brasileiras. E foi assim que ele se manteve até seus últimos momentos. Aziz deixará muita saudade, mas o conhecimento que ele transmitiu a todos nós continuará, com toda certeza, presente em nossas ações."

Fonte: Folha Uol

P.S.: Tive a honra de assistir a uma palestra do brilhante professor Aziz durante a edição da 47ª reunião anual da SBPC, aqui em São Luís, no já distante ano de 1995. Na ocasião, o ilustre mestre, na condição de presidente de honra da instituição, discorreu a respeito da questão amazônica e sobre meio ambiente, um dos seus assuntos prediletos. À época, apenas iniciava meus estudos em Direito e Filosofia na Universidade, mas, como nunca deixei de ser, estava curioso e sedento em conhecer mais e mais. Por isso, logo que soube, me dirigi ao local em que se apresentaria o saudoso geógrafo, mesmo se tratando de tema aparentemente distante das minhas áreas de estudo. Não me arrependi. Pelo contrário. Foi uma verdadeira aula de conhecimento e simplicidade aquela. 

Aziz Ab'Saber foi Um grande divulgador do conhecimento da ciência, sobretudo da geografia, que sabia como ninguém transmitir aos jovens, com toda sua larga vivência nos assuntos a que se dedicou. Pude ver ali um ser humano admirável, um pensador,  intelectual e mestre inesquecível a quem rendo essa singela homenagem.

segunda-feira, 12 de março de 2012

Morre cientista que alertou sobre riscos do buraco da camada de ozônio


Foto: AP
F. Sherwood Rowland em foto tirada em 1989

Morreu neste sábado (10) o cientista F. Sherwood Rowland , prêmio Nobel de química que alertou o mundo sobre o buraco da camada de ozônio. Rowland era professor da Universidade da Califórnia, tinha 84 e morreu em decorrência do mal de Parkinson.
Em 1995, juntamente com três cientistas ele foi laureado com o prêmio Nobel de química por explicar como a camada de ozônio é formada e como processos químicos na atmosfera proviocam a sua decomposição.
O prêmio foi concedido mais de duas décadas depois de Rowland e o pós-doutorando Mario Molina calcularem que se o uso humano de clorofluorocarbonos - um subproduto de aerossóis, desodorantes e outros produtos domésticos - continuassem, a camada de ozônio seria esgotada em questão de décadas. O trabalho foi desenvolvido a partir da descoberta feita pelo cientista Paul Crutzen.
O prognóstico da dupla de pesquisadores chamou muita atenção e foi duramente questionado, pois as propriedades não tóxicas do CFC eram consideradas benéficas para o meio ambiente. O trabalho só ganhou reconhecimento mais de uma década depois de sua publicação com a descoberta de que havia um buraco na camada de ozônio sobre as regiões polares. 
Fonte: Último Segundo IG

sábado, 4 de fevereiro de 2012

Entrevista: cientista japonês cria robôs humanoides de olho no futuro


Ele já foi comparado por alguns cientistas ao Dr. Frankenstein da literatura por estar sempre levantando questões profundas sobre a humanidade e suas criações. As roupas de cores pretas e os cabelos cheios, no estilo dos anos 70, são a marca registrada de Hiroshi Ishiguro, o especialista em robótica mais famoso do Japão e um dos mais importantes do mundo. Dedicado ao trabalho – que ele considera um “divertido passatempo” – em um dos seus quatro laboratórios, Ishiguro, 48 anos, começou a construir robôs há mais de uma década, depois de abandonar a ideia de ser um artista plástico. E defende a ideia de os robôs se parecerem conosco para facilitar sua aceitação. “Se faltam pessoas, por que não criar algumas?”, diz.
Com a agenda sempre lotada de compromissos, dentro e fora do Japão, Ishiguro aceitou receber a reportagem do Terra em seu laboratório instalado no campus Toyonaka da Universidade de Osaka. Numa tarde fria de outono, o professor chegou atrasado ao encontro – o que é muito raro, disse uma das três secretárias. Mal entrou na apertada sala onde está instalada a recepção, um professor assistente o levou para o escritório e, com as portas abertas, discutiram uma palestra de última hora na cidade de Xangai, na China.
Passou novamente pela recepção, soltou um wait a minute (“espere um momento”) e saiu apressado. Voltou cerca de dez minutos depois, ainda atordoado com o novo compromisso. Depois de discutir a agenda do dia seguinte, pediu-me para acompanhá-lo ao seu escritório. No pequeno cômodo, não tão diferente de qualquer outra sala de um professor universitário – abarrotado de livros, caixas, enfeites -, um poster do filme Substitutos(Surrogates) se destaca na parede – Ishiguro e um dos seus androides aparecem no começo deste filme. “Como salvar a humanidade quando a única coisa real é você?”, lê-se no cartaz. “Você já assistiu a esse filme?”, pergunta o professor ao ver que anoto a frase no caderno. “Não…”, começo a responder, mas sou cortado por ele. “É um ótimo filme. Assista.”
Tento começar a entrevista, mas sou interrompido novamente com perguntas sobre o Brasil, mulheres brasileiras e nosso Carnaval. Ishiguro não escondeu a vontade de conhecer o País e falar para os brasileiros sobre suas criações. “Mas quero ir no Carnaval, para conhecer o Rio de Janeiro”, fala. “Posso levar robôs pequenos e também os que jogam futebol”, emenda. A conversa é interrompida pela secretária que nos serve chá verde e bolachas. Durante toda a entrevista, Ishiguro pediu para repetir as perguntas diversas vezes, pois estava sempre fazendo outras coisas ao mesmo tempo: respondendo e-mails, atendendo ligações. Talvez esteja cansado de falar das suas criações, robôs que o tornaram um dos cientistas mais famosos no mundo. Confira abaixo os principais trechos da conversa exclusiva de Terra com o pesquisador.
Hiroshi Ishiguro tem 48 anos de idade. O Geminoid HI-1 (à direita) foi construído à semelhança do cientista
Terra – Como é o seu dia-a-dia? Quantas horas por dia trabalha?
Hisroshi Ishiguro -
 Meu trabalho é meu passatempo. Apenas tento sobreviver neste mundo, então tento fazer do meu trabalho um hobby. Estou sempre a procura de inspiração para minhas criações, meus livros e, mais recentemente, estou investindo na área artística. Muitas pessoas dizem que eu sou como um adolescente (risos).
Terra – O senhor se diverte com seu trabalho então?
Ishiguro -
 Sim, tento me divertir, sempre. Mas às vezes é difícil. Tem horas que penso apenas no meu ganha-pão.
Terra – Como os robôs entraram na sua vida? Ishiguro - Eu queria ser pintor, mas entrei para a área de ciência da computação e comecei a estudar inteligência artificial e a área de reconhecimento visual. A questão é: o computador precisa reconhecer algo. Então, para ter um reconhecimento real, achei que o computador precisava ter um corpo para ter essa experiência. Então, naturalmente passei para a área de robótica.
Terra – Mas eles precisam se parecer conosco?
Ishiguro -
 Depende da situação. Se for uma recepcionista, um robô com aparência humana é muito melhor do que outro qualquer. Além disso, nós já temos a expectativa de encontrar um ser humano nesta função, certo? Agora, trabalho com os Elfoid (um robô com função de telefone celular) e Telenoid, robôs com uma aparência humana, mas que não podemos dizer sua idade ou seu gênero sexual. Penso que os idosos vão gostar de usar esses robôs, pois podemos usar nossa imaginação para mentalmente projetar uma feição para essas máquinas. É muito mais fácil falar com esses aparelhos, pois falamos com nossa imaginação, sem nenhuma pressão.
Terra – Podemos dizer que caminhamos para uma sociedade integrada entre máquinas e homens, como nos filmes de ficção científica? Ishiguro - Filmes mostram sempre situações extremas, mas parte do que é retratado nós vamos usar definitivamente. Teremos um mundo parecido com o que é mostrado nos filmes. Por exemplo, Substitutos (Surrogates) mostra que teremos um androide idêntico a nós que faria o nosso trabalho. Eu adoraria ter um substituto nas aulas, caso eu fique doente. E pessoas com problemas físicos também poderiam usar um androide para executar tarefas que elas não podem fazer.
Terra – Os filmes de ficção científica geralmente retratam o homem lutando contra os robôs…
Ishiguro -
 Não em Transformers. Robôs são amigos dos humanos neste filme. Os produtores de Hollywood parece que finalmente se influenciaram com a cultura japonesa e mudaram de ideia (risos).
Terra – O Geminoid foi um grande marco na robótica. Continua a desenvolver esse robô?
Ishiguro -
 Continuamos a trabalhar com ele, e logo teremos um Geminoid muito melhor e mais portátil. Nós usamos muitos computadores e sistemas complicados para criar esse robô. Mas a próxima versão será mais simples e compacta. Está quase pronto e não posso contar os detalhes ainda. Quero fazer com que ele possa me substituir em entrevistas como esta ou conferências, assim posso continuar trabalhando em outros projetos (risos).
Terra – O senhor acredita, assim como outros pesquisadores como David Levy e Kurz Weil, que algum dia homens e robôs poderão até mesmo ter relações de amor e sexo?
Ishiguro – Por que não?
 Você acredita que sou um ser humano, mas como ter certeza disso? Por exemplo, temos muitos amigos que conhecemos virtualmente pela internet. Mas como checar se eles são humanos de verdade? Além disso, os humanos são cheio de mistérios. Já ouvi muitos dizerem que meus androides são muito melhores que humanos. Olha só: podemos tocá-los de forma mais amistosa, sem pressão social.
Terra – No que a sociedade japonesa pode servir como modelo, já que a robótica está tão avançada entre os japoneses?
Ishiguro -
 Nós temos uma situação diferente do resto do mundo. Aqui não temos militares e não temos a pressão de criar máquinas com intuito bélico. Nunca pensamos nisso. Nós pensamos em aplicações dos robôs no dia-a-dia, por isso que a tecnologia se desenvolveu rapidamente aqui. Somos bons em desenvolver pequenos aparelhos, como gadgets eletrônicos, celulares, televisores… Podemos construir robôs para o uso cotidiano ou mesmo para ajudar a cuidar de idosos.
Terra – Qual o estágio da robótica hoje? Em cinco ou dez anos, que tipos de robôs teremos?
Ishiguro -
 Falei sobre isso uma vez. A situação hoje da robótica é igual dos computadores pessoais. Há alguns anos, não sabíamos usar um computador. Ele já existia, mas não tinha muitas funções e aplicativos de uso fácil. Na robótica hoje temos muita tecnologia sendo desenvolvida. Mas ainda não sabemos como usá-los. Em breve teremos aplicativos que facilitarão o uso deles pelas pessoas comuns.
Terra – Em quanto tempo? Cinco anos? Dez anos?
Ishiguro -
 Não saberia dizer. Nossa sociedade muda muito rápido. Não dá para prever nada nessa área tecnológica. Há poucos anos, não dava para esperar uma sociedade tão informatizada ou essa invasão dos smartphones. Nossa sociedade é muito dinâmica e vai ser mais dinâmica ainda.
Terra – O senhor tem algum robô em sua casa?
Ishiguro – …
 (alguns segundos pensando)… Não. Mas hoje muitas pessoas têm aquele aspirador de pó que trabalha sozinho e também aparelho de ar condicionado que faz autolimpeza dos filtros. Ah, sim, e os aparelhos celulares também são uma espécie de robôs, pois têm sensores e câmeras.
Fonte: Terra/Japão Online

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