O grito do Ipiranga |
No início
do século XIX, mais precisamente no dia 7 de setembro de 1822, às margens do
rio Ipiranga, D. Pedro, o jovem príncipe-regente, inconformado com a condição
da política da metrópole em relação ao Brasil, montou em seu cavalo, puxou a
espada e erguendo-a, gritou o famoso lema “Independência ou morte!” Foi assim
que durante anos nos ensinaram nas escolas. Muito simples se fosse só isso, não
é mesmo!
Como
sabemos hoje, a história acima não condiz fielmente com o que representou o
episódio da nossa independência. Por mais que quisesse, um homem sozinho não
teria condições de mudar o contexto político-social de uma nação com um mero
gesto de indignação. Na verdade, a independência foi o resultado de uma série
de acontecimentos anteriores, bem como de determinadas mudanças ocorridas na
sociedade brasileira colonial. Dentre elas um conjunto de condições e forças
atuantes (grandes comerciantes, proprietários de terra, camadas médias da
população, etc.), cada uma lutando por seus interesses. A ruptura que se deu em
1822 foi, portanto, a conclusão de um processo histórico.
Dragões da Independência |
Entretanto,
devemos lembrar também de um elemento externo que influenciou decisivamente a
independência: as guerras napoleônicas
e o bloqueio continental à
Inglaterra. Acontecimentos que precipitaram a transferência da corte portuguesa
para o Brasil (dado o pavor de Portugal ante a possibilidade da invasão do país
pelas tropas de Napoleão) e a dissolução do monopólio do comércio com a metrópole,
significando o fim do Pacto Colonial (já
em 1808, com a chegada da Família Real, ou seja, bem antes da proclamação da
independência).
Bandeira do Império |
Durante
muitas décadas, em nosso país, o governo, por meio dos livros didáticos e da
educação formal, construiu uma imagem muito fantasiosa de D. Pedro, o príncipe
português, denominando-o de ‘heroi da independência’, demarcando o seu ato como
um gesto de bondade para com o povo brasileiro, emancipando-o do domínio dos
colonizadores. No imaginário que se buscou sedimentar, D. Pedro agira quase que
sozinho, movido por sua própria vontade libertária, opondo-se inclusive aos
interesses de sua terra natal.
Como
já frisamos acima, tal empreendimento é impossível em termos sociais e políticos.
Contudo, é bom ressaltar, embora amparado por setores importantes da sociedade,
não houve apoio ou participação popular no processo de independência encabeçado
pelo príncipe-regente. As elites brasileiras, por sinal, tinham pavor às
revoltas populares. Por isso mesmo evitavam todas as formas de envolvimento do
povo em questões políticas. O que explica o fato de terem escolhido o príncipe
português (e não um brasileiro) para ser o condutor da emancipação nacional.
Desse modo é que, sem maiores alardes, a independência foi preparada e
executada. Sem nenhuma participação
popular.
Por
fim, apenas a título de curiosidade, um dado interessante, apontado por
historiadores, diz respeito ao fato de que logo após a independência (nos anos seguintes)
ninguém costumava comemorar a data do 7 de setembro. Os festejos oficiais
ocorriam no dia 12 de outubro, data da aclamação de D. Pedro imperador. O 7 de
setembro só viria a ser instituído em 1830, pelos opositores liberais do
imperador, como forma de lembrar o grito do Ipiranga.
Rogério Henrique C. Rocha