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quarta-feira, 29 de agosto de 2012

A MISTERIOSA CAIXA NO MEIO DO NADA


Pavilhão intriga visitantes de parque norueguês

  (Foto: Diephotodesigner.de)
No meio do mapa da Noruega, em Dovre, num lugar que mais parece a fronteira entre o nada e coisa nenhuma, encontra-se uma enigmática caixa de aço bruto e vidro. Seus 75 m² saltam da paisagem selvagem como uma miragem para quem passa pelo parque nacional Dovrefjell. Ninguém sabe como ela foi parar lá, e pouca gente arrisca dizer qual é a serventia da construção isolada nas montanhas nórdicas.
Mas existe uma explicação para tal volume, bastante plausível (e um tanto natalina para o imaginário brasileiro): renas.
Basta olhar com atenção para desvendar o mistério da caixa e entender que ela não está abandonada à toa. A casa funciona como um posto de observação da poderosa montanha Snøhetta, que preserva as últimas renas selvagens da Noruega. Ali, vivem também alces, bois-almiscarados, raposas-do-ártico e centenas de espécies botânicas.
  (Foto: Diephotodesigner.de)
O pavilhão Tverrfjellhytta foi construído pelo escritório Snøhetta Oslo As para o programa educacional da Fundação Norueguesa das Renas Selvagens. Os arquitetos optaram por materiais naturais e formas simples para remeter às construções locais, mas usaram tecnologia para a concepção e fabricação do prédio.
O exterior rígido de metal lembra a dureza das rochas que formam o planalto, já o interior orgânico e fluido parece ter sido esculpido pela força dos ventos. Mas foram construtores navais que executaram a forma criada por modelos digitais 3D. Eles pregaram as placas de pinho de 10 polegadas apenas com estacas de madeira, o que garantiu o ar rústico e irregular do projeto. Além disso, o formato envolve as pessoas como um abrigo e traz, junto à lareira suspensa, calor e uma panorâmica estonteante das curvas da montanha. Um mistério muito interessante de ser desvendado.
  (Foto: Roger Brennhagen)
   (Foto: Ketil Jacobsen)
Fonte: casavogue.globo.com

quinta-feira, 15 de março de 2012

O CAÇADOR PERFEITO




Uma antiga estória chinesa nos conta:

Na dinastia Chou grassava uma epidemia de ratos. Estavam por toda parte, aos bandos. Até nos palácios dos senhores nada escapava. Um príncipe de Sung resolveu acabar com a praga. Se tivesse sucesso, obteria poder suficiente para desafiar o Imperador Amarelo e ocupar o trono da China.

Saiu para comprar um gato, mas não havia gato para vender. Libertados da dominação doméstica, os gatos se tinham aburguesado. Já não caçavam ratos. Apenas um ancião ainda se lembrava de um velho criador de gatos que vivia nas montanhas. Ele é que ainda poderia gatos antigos. Mas já devia ter morrido há bastante tempo.

O príncipe subiu as montanhas. Depois de muita busca, encontrou o velho criador de gatos. Comprou um gato muito bem treinado e voltou para a cidade. Chegando ao palácio pela noitinha, soltou o gato na despensa. A noite toda o gato caçou rato. Pela manhã, o príncipe estava satisfeito. Tinha resolvido o problema. Não se via um rato pelas redondezas. Correu ao Imperador a fim de levar a chave para a praga e suas pretensões. Por seu lado, os ratos se tinham recolhido aos buracos e o gato, que trabalhara a noite inteira, enrolou-se num canto e adormeceu. Os ratos, então, aproveitaram o descanso do caçador para reaparecer e limpar a despensa. Ao chegar ao palácio imperial, o príncipe soube da nova.

Revoltado, foi procurar o criador de gatos com uma queixa. O gato só caçava de noite. Passava o dia todo dormindo. E os ratos logo descobriram o método do caçador e agora dormiam de noite e roubavam de dia.

Ele precisava de um gato caçador inveterado, que caçasse dia e noite. O criador lhe disse que um gato assim era muito raro. Ele mesmo só tinha alguns exemplares. Resultava de um treinamento todo especial. Por isso era muito caro. Custava a metade de toda a riqueza do império. O príncipe achou o preço razoável para resolver um problema que lhe valeria o trono da China.

Trouxe um dos gatos especiais e soltou na despensa. O gato não parava mesmo de caçar. Caçava dia e noite, semanas a fio. O príncipe tinha resolvido o problema em definitivo. Mas os ratos esperavam nos esconderijos. Viria ainda um dia em que aquele caçador inveterado haveria de parar. Não era possível. Tinha de refazer as forças. E neste dia reapareceram com mais fome ainda e devoraram tudo que encontraram. O príncipe desesperou de vez. Já tinha comunicado ao imperador a solução definitiva. Era o fim de suas pretensões.

Voltou às montanhas e perguntou ao criador de gatos se não tinha por acaso um caçador perfeito. De nada adiantava caçar dia e noite por semanas a fio, se depois o gato especial ia dormir para refazer as forças. Queria um caçador que caçasse sempre e para sempre. Um gato assim, respondeu o criador, não apenas não tem preço, como só pode existir um. É o segredo de todos os criadores. Mesmo para o Imperador Amarelo não posse vender, só posso, no máximo, emprestar e por alguns dias apenas. – Mas de que vale um empréstimo de uns dias? – perguntou o príncipe. – A perfeição sempre tem valia, respondeu o velho criador de gatos.

O príncipe olhou para o gato caçador perfeito. Estava deitado em cima do forno e dormia. O criador o levantou e o pôs nos braços do príncipe. O gato não acordou. O príncipe o sacudiu, puxou-lhe os bigodes, apertou-lhe a cauda e o caçador perfeito continuava dormindo, sem nem se mexer. Embora descrente, o príncipe decidiu fazer ainda uma última tentativa e levar o gato por alguns dias. Durante os solavancos da volta, o gato continuava impassível dormindo o sono profundo dos perfeitos. Tão logo chegou, o príncipe deixou o gato num canto da despensa e foi cuidar de fazer as malas.

 Os ratos se recolheram para observar qual seria a técnica e o método do novo caçador. Passou o dia e o gato dormia. Passou a noite e o gato dormia. Veio a manhã e o gato dormia. Os ratos começaram a tremer! Não tem método, não tem técnica, não tem ferramenta, não tem meio: o caçador perfeito! Nele tudo é o silêncio de uma realização perfeita. E contra o silêncio da fala não há o que fazer. Junto com o príncipe, os ratos abandonaram a região de Shung e deixaram o império da dinastia Chou.

(Fonte: CARNEIRO LEÃO, Emanuel. Aprendendo a pensar. vol. II, 2.ed. Vozes: Petrópolis, Rio de Janeiro, 2000. pp.30-32.)

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