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segunda-feira, 17 de fevereiro de 2020

A CHAMA PLURAL (por Eduardo Lourenço)






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'Não se pode dizer de língua alguma que ela é uma invenção do povo que a fala. O contrário seria mais exacto. É ela que nos inventa. A língua portuguesa é menos a língua que os portugueses falam, que a voz que fala os portugueses. Enquanto realidade presente ela é ao mesmo tempo histórica, contingente, herdada, em permanente transformação e trans-histórica, praticamente intemporal. Se a escutássemos bem ouviríamos nela os rumores originais da longínqua fonte sânscrita, os mais próximos da Grécia e os familiares de Roma. Juntemos-lhe algumas vozes bárbaras das muitas que assolaram a antiga Lusitânia romanizada, uns pós de arábica língua, que espanta não tenham sido mais densos, e teremos o que chamámos, com apaixonada expressão, o “tesouro do Luso”.

Na nossa Idade Média o estatuto da língua era, como o das outras falas cristãs, um “falar” sem transcendência particular. Com o Renascimento, abertura sobre o universal segundo o modelo greco-latino, paradoxalmente, os “falares” europeus tornam-se “língua”, e a língua, signo privilegiado de identidade. Nascem os discursos hagiográficos da língua nacional, da bela língua italiana para Bembo, da altiva fala castelhana para Nebrija, da polida língua francesa para Du Bellay, da nossa nobre e suave língua portuguesa para Fernão de Oliveira, Barros, António Ferreira que a converte em objecto de culto e de orgulho. Diz-me que língua falas, dir-te-ei o estatuto que tens. Nenhum destes endeusamentos ou apologias da dignidade das línguas nacionais é inocente. Fazem parte do processo histórico em que culmina o sentimento nacional.

Descobre-se que a língua não é um instrumento neutro, um contingente meio de comunicação entre os homens, mas a expressão da sua diferença. Mais do que um património, a língua é uma realidade onde o sentimento e a consciência nacional se fazem “pátria”.

Ainda vem longe o tempo em que para cada uma das línguas dominantes da cultura europeia se torne também claro que uma língua não é um dom do céu, destinado à vida eterna, mas um tesouro que deve ser defendido da usura do tempo e das pretensões das outras a ocupar os espaços sem defesa.

A língua é uma manifestação da vida e como ela em perpétua metamorfose. Não há expressão mais melancólica que a tão comum e tão pouco meditada de “língua morta”, nem maravilha maior que a da sua ocasional ressurreição. Como o universo, uma língua viva deve estar em perpétua expansão, ao menos no seu espaço interior, sob pena de se tornar ainda em vida “língua morta”. Essa vitalidade não releva apenas da mera ordem voluntarista ou do ritualismo conservador de academias ou profissionais das nobres ciências da gramática, ou da filologia. É, sobretudo, obra dos que a trabalham ou a sonham como exploradores de um continente desconhecido: romancistas, dramaturgos, poetas, sobretudo, que não apenas os que assim se chamam mas todos os que na quotidiana vida inventam sem cessar as expressões de que precisam para não se perder tempo que passa, do mundo que se renova e transfigura.

É de supor que os homens se tenham inventado como seres falantes por um acto mágico, por um “fiat” ainda hoje misterioso que cada palavra recomeça como se o fogo de hoje se ligasse ao fogo original por uma cadeia de chamas que se ateassem umas às outras. Essa magia original é ao mesmo tempo um desafio e um exorcismo. O destino de cada cultura está intimamente ligado a esses dois papéis que toda a língua encarna. As culturas que o esquecem são as que têm já, dentro de si, as primícias do seu esgotamento. Por graças da História, a língua portuguesa encontrou-se, em dado momento, em condições de elevar esse desafio, esse exorcismo conaturais a toda a fala, a exercício, quase se podia dizer, a missão vital, amalgamando como poucas o destino da sua cultura ao destino da sua língua. Essa aventura podia ter sido, como outras europeias, apenas um exemplo mais da violência colonizadora clássica. Foi também isso, mas foi algo mais e mais importante.

A celebrada alma portuguesa pelo mundo repartida, de camoniana evocação, foi, sobretudo, língua deixada pelo Mundo. Por benfazejo acaso, os portugueses, mesmo na sua hora imperial, eram demasiado fracos para “impor”, em sentido próprio, a sua língua. Que ela seja hoje a fala de um país-continente como o Brasil ou língua oficial de futuras grandes nações como Angola e Moçambique, que em insólitas paragens onde comerciantes e missionários da grande época puseram os pés, de Goa a Malaca ou a Timor, que a língua portuguesa tenha deixado ecos da sua existência, foi mais benevolência dos deuses e obra do tempo que resultado de concertada política cultural. Sob esta forma, um tal projecto seria mesmo anacrónico. Nenhum autor português, nem estrangeiro, escreveu acerca da nossa acção uma obra como “a conquista espiritual do México”, pois não tivemos nenhum México para conquistar e lusitanizar.

O derramamento, a expansão, a crioulização da nossa língua foram como a das nossas “conquistas”, obra intermitente de obreiros de acaso e ganância (da terra e do céu) mais do que premeditada “lusitanização” como nós imaginamos – porventura enganados – que terá sido a romanização do mundo antigo ou a francisação e anglicisação dos impérios francês e britânico.

Quiseram também as circunstâncias – na sua origem pouco recomendáveis – que a nossa língua europeia, em contacto com a africana escrava, se adoçasse, mais do que já é na sua versão caseira, para tomar esse ritmo aberto, sensual, indolente, do português do Brasil ou o tom nostálgico da de Cabo Verde.

A miragem imperial dissolveu-se há muito. Da nossa presença no mundo só a língua do velho recanto galaico-português ficou como elo essencial entre nós, como povo e como cultura, e as novas nações que do Brasil a Moçambique se falam e mutuamente se compreendem entre as demais... Uma língua não tem outro sujeito que aqueles que a falam, nela se falando. Ninguém é seu “proprietário”, pois ela não é objecto, mas cada falante é seu guardião, podia dizer-se a sua vestal, tão frágil coisa é, na perspectiva do tempo, a misteriosa chama de uma língua.

Mas como duvidar que a longa cadeia dos mais exemplares e ardentes dos seus guardiães, aqueles que tornaram sensível o que nela há de imponderável, de Fernão Lopes a Gil Vicente, de Camões a Vieira, de Castro Alves a Pessoa, de Machado de Assis a Guimarães Rosa, ou de Baltazar Lopes a José Craveirinha, se apague ou se estiole? Houve épocas de depressiva configuração em que não era possível pensar no futuro da nossa plural e una fala portuguesa, sem alguma melancolia.

Hoje, não temos motivos para imaginar que, em prazo humanamente concebível, o seu destino seja o dos famosos versos da Tabacaria de que o tempo apagará o traço e a memória. A pluralizada língua portuguesa tem o seu lugar entre as mais faladas no Mundo. Isso não basta para que retiremos dessa constatação empírica um contentamento, no fundo, sem substância. Se contentamento é permitido, só pode ser o que resulta de imaginar que esse amplo manto de uma língua comum, referente de culturas afins ou diversas, é, apesar ou por causa da sua variedade, aquele espaço ideal onde todos quantos os acasos da História aproximou, se comunicam e se reconhecem na sua particularidade partilhada. Não seria pequeno milagre num Mundo que sonha com a unidade sem alcançar outra coisa que o seu doloroso simulacro.'


'Eduardo Lourenço (São Pedro de Rio Seco, 1923) é um professor e filósofo português. Entre 1953 e 1965, foi leitor de Cultura Portuguesa na Alemanha e em França. Começou como maître assistant na Universidade de Nice, até que se tornou jubilado pela mesma, em 1988. Em 1989, assumiu funções como conselheiro cultural junto da Embaixada Portuguesa em Roma e, desde 1999, ocupa o cargo de administrador da Fundação Calouste Gulbenkian. Ganhou o Prémio Pessoa em 2011 e, da sua obra, destacam-se: Heterodoxia (1949); Nós e a Europa ou as Duas Razões (1988) e Os Militares e o Poder (2013).'


In Ciberdúvidas da Língua Portuguesa, https://ciberduvidas.iscte-iul.pt/outros/antologia/a-chama-plural-/678 [consultado em 17-02-2020]

domingo, 16 de dezembro de 2018

PADRE ANTÔNIO VIEIRA E SEUS SERMÕES

Resumo e Análise dos Sermões de Padre Antônio Vieira
Em 2016, UFRGS e UFBA são duas das universidades federais que incluirão o maior representante do conceptismo em suas provas de Literatura.
Para aumentar suas chances de aprovação, a melhor estratégia é ler bons resumos (como os presentes aqui neste artigo) ou a obra completa e, depois, testar seus conhecimentos através de questões de vestibular sobre os Sermões.
O padre Antônio Vieira (em Portugal é António Vieira) é uma das figuras mais importantes de nossa história. Primeiramente, pelo seu domínio da língua portuguesa, que fez com que Fernando Pessoa lhe dedicasse um poema em seu único livro publicado em vida, Mensagem, na parte dos poetas que anunciam o futuro.
Imperador da língua portuguesa,
Foi-nos um céu também.
Uma vez que a língua é uma parte muito importante na constituição de uma nação, Vieira é quem, pela primeira vez, encontra uma expressão apropriada para essa manifestação inicial da nacionalidade. Seu estilo é limpo, claro, conciso, e suas sentenças, semelhantes aos aforismos, são cheias de energia.
Padre Antônio Vieira
Ele também é importante pois participou da maioria das questões relevantes da história portuguesa no século XVII:
  • a questão dos índios
  • da luta dos bandeirantes paulistas contra a Companhia de Jesus
  • dos governantes contra as missões
  • da retomada da independência de Portugal
Além disso, foi embargador extraordinário nas principais cortes da Europa, participando dos debates em torno do barroco romano. Vieira também foi perseguido pela Inquisição, principalmente devido a sua defesa dos judeus, que julgava muito importantes para a restauração portuguesa.

A EDUCAÇÃO JESUÍTICA

Antônio Vieira veio ao Brasil em 1614, aos seis anos. Sua família era humilde, com provável descendência índia ou negra. Seu pai só viera trabalhar nos Tribunais de Justiça graças ao casamento, já que o cargo fora lhe oferecido como dote.
Naquela época o Brasil era dividido em dois estados, o Estado do Brasil, cuja sede estava na Bahia, e o Estado do Grão-Pará e Maranhão. Os Portugueses com algum destaque mandavam seus filhos para serem educados no Colégio da Bahia e assim também se deu com Vieira.
O Colégio da Bahia (Collegio do Salvador da Bahia), fundado em 1553 pelo padre Manuel da Nóbrega, foi a primeira instituição de Ensino Superior do Brasil. Este colégio jesuíta teve êxito graças à qualidade da educação, baseada em um modelo internacional humanista que privilegiava a educação clássica (leitura de gregos e romanos, utilização da retórica, estímulo da competição intelectual).
Collegio Salvador da Bahia - 1553
Porém, seu sucesso se deu, especialmente, pela capacidade de adaptação do ensino às culturas em que se inseriam.
No caso do Brasil, os jesuítas precisavam ir contra uma série de preceitos católicos, a fim de levar a cabo a incorporação dos índios, como assistir missas nus ou se confessar através de intérpretes. A doutrina, assim, depende da situação, não está acabada.
É importante destacar que isso não significa que os jesuítas agiam desta maneira porque respeitavam a cultura indígena. Sua ação era baseada na convicção de que revelariam a verdadeira natureza do índio até então deformado pelos costumes viciosos acumulados pelo tempo.
Os indígenas não eram cristãos, mas tinham naturezas boas em costumes equivocados e, por esta, razão, os jesuítas recuperariam sua natureza via conversão. Por isso, Vieira achava que os jesuítas deveriam ter o monopólio dos negócios indígenas, sem a interferência dos moradores ou do Estado.

A POLÍTICA DA COMPANHIA DE JESUS

Os jesuítas compreendiam a teologia ao lado da prática, ou seja, era preciso agir no mundo, através da conversão dos indivíduos e na correção das políticas do Estado. Esse grupo sempre esteve próximo das elites, participando ativamente das políticas católicas.
A política indianista dos jesuítas, desde Nóbrega, procurava separar os índios dos seus costumes:
  • As crianças eram separadas dos pais e havia um lugar em que os índios eram fixados.
  • Era importante separar os índios os brancos.
  • Os capitães de mato buscavam escravizá-los e distribuí-los para as famílias que os fariam trabalhar exaustivamente sem educação religiosa alguma.
Ou seja, pensava-se nos índios como uma “nova cristandade” e, enquanto guerreiros, capazes de formarem um exército para a Igreja. Posteriormente, com o fortalecimento dos paulistas bandeirantes, Vieira tentou negociar o trabalho indígena em determinadas partes do ano e com pagamentos, mas foi expulso do Maranhão. Os colonos argumentavam que não podiam sobreviver sem a mão de obra escrava.
Em 1661, Vieira é preso, colocado numa galé junto com seus companheiros e enviado para Portugal.
O autor dos famosos sermões voltou para Portugal pela primeira vez em 1641, depois da Restauração, aos 33 anos. Quando Dom João IV assume o poder, ele acompanha o filho do vice-rei e é logo aceito no Paço devido a sua oratória sedutora e às suas opiniões sobre diversos assuntos.
Ele hostilizou a Inquisição, por exemplo, por causa dos judeus. Achava que a saída deles do reino era um desastre anunciado. Além disso, queria suspender os confiscos.
Como diplomata, acabou, de certa forma, fracassando. As embaixadas o desgastaram e decidiu, então, voltar para o Brasil.

OS SERMÕES DO PADRE ANTÔNIO VIEIRA

Uma vez que Antônio Vieira alternou sua vida entre o Portugal e Brasil, sua obra é considerada tanto literatura portuguesa quanto literatura brasileira. Sua produção literária é composta, em sua grande maioria, por sermões, os quais pregava aos índios e aos moradores da época.
Somente os sermões editados por Vieira totalizam mais de 200.
O sermão era considerado um gênero literário superior, resultado de um enorme esforço intelectual. Os jesuítas os criavam com base em estudos de retórica:
Para a sua preparação, os padres estudavam a forma de exposição, a ordem dos argumentos.
Para a elocução, atentavam para a função dos efeitos que o sermão deveria obter.
Para a execução, memorizavam, praticando impostação da voz, gestualidade e posição do corpo.
Tudo era objeto de estudos sistemáticos desde que entravam no noviciado. Nenhum padre saía dos estudos antes dos 34 anos, tendo treinamentos diários. Assim, os sermões eram pregados normalmente nas igrejas e eram muito concorridos. O anúncio de um grande orador na missa do dia, por exemplo, criava grandes expectativas na comunidade.
O sermão acontecia após a leitura do Evangelho do dia (definido canonicamente) e antes da comunhão. O padre interpretava a passagem bíblica lida anteriormente de modo a renová-la, encaixando a História com a vida. Além de seus sermões, Vieira também escreveu poesias, livros poéticos e centenas de cartas. Muito desse material ainda é inédito.

RESUMO DO SERMÃO PELO BOM SUCESSO DAS ARMAS DE PORTUGAL CONTRA AS DE HOLANDA

Sermão pelo Bom Sucesso das Armas de Portugal contra as de Holanda
Este sermão foi pregado em 1640, na Igreja de Nossa Senhora da Ajuda, Bahia. Neste ano, a Bahia lutava contra o domínio holandês. Com o monopólio ibérico do comércio açucareiro, outros países europeus, como os holandeses, buscavam a sua fatia do mercado.
Para este fim, a Holanda instituiu a Companhia das Índias Orientais. A primeira tentativa de invasão holandesa fracassou, em 1624. Seis anos depois, porém, a nova investida terminou com a conquista de Pernambuco. Em 1640, os holandeses tentam novamente conquistar a Bahia.
Em meio à ameaça de invasão, o Padre Antônio Vieira prega, na Igreja de Nossa Senhora da Ajuda, um sermão que busca fortificar os ânimos da população para lutar contra os hereges holandeses. Como se em um palco, Vieira dirige-se indiretamente ao público enquanto conversa com Deus.
Vieira inicia com o Salmo bíblico 43, comentando-o.
Com tanta propriedade como isto descreve David neste Salmo nossas desgraças, contrapondo o que somos hoje ao que fomos enquanto Deus queria, para que na experiência presente cresça a dor por oposição com a memória do passado.
Para Vieira, a situação do Salmo é semelhante à situação da Bahia.
Esta é, Todo-Poderoso e Todo-Misericordioso Deus, esta é a traça de que usou para render vossa piedade, quem tanto se conformava com vosso coração. E desta usarei eu também hoje, pois o estado em que nos vemos, mais é o mesmo que semelhante. (…) O que venho a pedir ou protestar, Senhor, é que nos ajudeis e nos liberteis: Adjuva nos, et redime nos. Mui conformes são estas petições ambas ao lugar e ao tempo. Em tempo que tão oprimidos e tão cativos estamos, que devemos pedir com maior necessidade, senão que nos liberteis: Redime nos?
Viera passa a exigir de Deus uma solução. Em seguida cita as passagens bíblicas em que os hebreus conquistam Canaã e libertam-se da escravidão egípcia.
O recurso utilizado aqui é o mesmo da maioria dos sermões de Vieira: utiliza as passagens da Bíblia para solucionar problemas do presente.
Assim como os hebreus conquistaram sua terra prometida, os portugueses encontraram a sua. Ou seja, justifica a colonização. Com a iminência da invasão holandesa, Vieira cobra de Deus que expulse de Sua terra os hereges. Em um dos momentos de maior, talvez, atrevimento do sermão, Vieira diz:
Se acaso for assim (o que vós não permitais), e está determinado em vosso secreto juízo que entrem os hereges na Bahia, o que só vos represento humildemente e muito deveras, é que antes da execução da sentença repareis bem, Senhor, no que vos pode suceder depois, e que o consulteis com vosso coração enquanto é tempo; porque melhor será arrepender agora, que quando o mal passado não tenha remédio.
É uma queixa indignada, que em momentos torna-se ironia. Vieira utiliza inúmeros recursos para demonstrar que se sente desamparado, cobrando uma ação divina imediata. Como argumento, defende a superioridade da Igreja católica, especialmente em relação aos protestantes holandeses. O sermão se encerra com pedidos de perdão.

RESUMO DO SERMÃO DE SANTO ANTÔNIO AOS PEIXES

Sermão de Santo Antônio aos Peixes
Este sermão foi pregado em São Luís, Maranhão, em 13 de junho de 1654, no âmbito das lutas que dividiam os jesuítas e os colonos em razão dos índios. Três dias depois, Vieira viajaria sigilosamente para Portugal, buscando negociar com a Coroa uma lei que regulamentasse a liberdade do indígena na colônia.
O sermão parte de um conceito presente na Bíblia (em Mateus, 5:13): “Vós sois o sal da terra”. Assim Vieira interpreta a sentença:
  • “Vós” – os pregadores jesuítas;
  • “Sal” – a mensagem cristã;
  • “Terra” – o lugar e os moradores, no caso, a colônia.
Dessa forma, o sal da terra seriam os pregadores, que deveriam conservar a nova terra portuguesa com a fé cristã. Em seguida, Vieira procura os germes da corrupção do mundo. Encontra-os nos próprios pregadores, que fracassam ao pregar a doutrina errada e agindo de acordo com interesses particulares, e também nos ouvintes, que não agiriam conforme a doutrina.
Ou é porque o sal não salga, e os pregadores dizem uma coisa e fazem outra; ou porque a terra se não deixa salgar, e os ouvintes querem antes imitar o que êles fazem, que fazer o que dizem; ou é porque o sal não salga, e os pregadores se pregam a si, e não a Cristo, ou porque a terra se não deixa salgar, e os ouvintes em vez de servir a Cristo, servem a seus apetites. Não é tudo isto verdade?
Uma vez que Santo Antônio, não encontrando quem ouvisse suas palavras, pregou aos peixes, Vieira imita-o e prega da mesma forma.
Isto suposto, quero hoje, à imitação de Santo Antônio, voltar-me da terra ao mar, e já que os homens se não aproveitam, pregar aos peixes. O mar está tão perto que bem me ouvirão. Os demais podem deixar o sermão, pois não é para eles.
Primeiro, Vieira coloca os peixes acima dos seres humanos e depois trata de seus defeitos.
As virtudes são referentes aos peixes de Tobias, Rémora, Torpedo e Quatro-Olhos e os defeitos vão para os Roncadores, Pegadores, Voadores e para o Polvo. Vê-se, assim, que o recurso utilizado é o da alegoria. Ele se dirige aos peixes visando dirigir-se aos homens. As virtudes dos peixes, por exemplo, são os defeitos dos humanos. O principal defeito apontado é a voracidade, já que os peixes devoram uns aos outros, e, pior ainda, os maiores devoram os menores.
Vede, peixes, e não vos venha vanglória, quanto melhores sois que os homens. Os homens tiveram entranhas para deitar Jonas ao mar, e o peixe recolheu nas entranhas a Jonas, para o levar vivo à terra.
Por trás dessa alegoria está a crítica ao comportamento dos colonos maranhenses em relação aos índios. Para torná-la evidente, Vieira passa várias vezes do plano alegórico para o plano concreto.
Ele termina o sermão, que é dividido em seis partes, exaltando a natureza dos peixes: não podendo ser sacrificados, sacrificam-se em respeito a Deus. E coloca-se, enquanto homem, abaixo dos peixes:
Em tudo o que vos excedo, peixes, vos reconheço muitas vantagens. A vossa bruteza é melhor que a minha razão e o vosso instinto melhor que o meu alvedrio. Eu falo, mas vós não ofendeis a Deus com as palavras; eu lembro-me, mas vós não ofendeis a Deus com a memória; eu discorro, mas vós não ofendeis a Deus com o entendimento; eu quero, mas vós não ofendeis a Deus com a vontade.
O sermão termina com uma oração de louvação a Deus.

RESUMO DO SERMÃO DA SEXAGÉSIMA

Sermão da Sexagésima
Pregado na Capela real de Lisboa, em janeiro 1655, provavelmente, para a nobreza católica de Portugal.
A palavra “sexagésima”, do título, refere-se à data em que o sermão foi exposto: segundo o calendário litúrgico católico da época, tratava-se do penúltimo domingo antes da Quaresma (ou o sexagésimo dia antes da Páscoa).
O sermão possui dez partes e trata da arte de pregar, uma espécie de poética da oratória. Inicia-se assim:
E se quisesse Deus que este tão ilustre e tão numeroso auditório saísse hoje tão desenganado da pregação, como vem enganado com o pregador! Ouçamos o Evangelho, e ouçamo-lo todo, que todo é do caso que me levou e trouxe de tão longe.
Primeiramente, Vieira afirma que seu público está enganado sobre a sua prática. Como eram conhecidas as suas posições acerca dos índios, escravos e cristãos novos, ele busca inverter essa desconfiança. Assim, ele elogia seu público, ressalta a importância do tema e relembra que viera de muito longe para pregar-lhes.
Nesse sermão, o padre mantém uma das características dos seus sermões: a elaboração de uma imagem sobre a qual o texto se apoiará e revolverá. No caso, trata-se de Lucas, 8: 11:
Ecce exiit qui seminat, seminare. Diz Cristo que «saiu o pregador evangélico a semear» a palavra divina.
Sendo ele um semeador, passa a falar dos pregadores que atuavam em sua pátria e ao seu trabalho no Maranhão. Cada pregador possui suas dificuldades e, para argumentar, Vieira utiliza a citação de passagens bíblicas e a sua experiência com os missionários no Maranhão. Na segunda parte, também explica o significado da parábola do semeador.
O trigo que semeou o pregador evangélico, diz Cristo que é a palavra de Deus. Os espinhos, as pedras, o caminho e a terra boa em que o trigo caiu, são os diversos corações dos homens. Os espinhos são os corações embaraçados com cuidados, com riquezas, com delícias; e nestes afoga-se a palavra de Deus. As pedras são os corações duros e obstinados; e nestes seca-se a palavra de Deus, e se nasce, não cria raízes. Os caminhos são os corações inquietos e perturbados com a passagem e tropel das coisas do Mundo, umas que vão, outras que vêm, outras que atravessam, e todas passam; e nestes é pisada a palavra de Deus, porque a desatendem ou a desprezam. Finalmente, a terra boa são os corações bons ou os homens de bom coração; e nestes prende e frutifica a palavra divina, com tanta fecundidade e abundância, que se colhe cento por um: Et fructum fecit centuplum.
E encerra com uma pergunta:
Pois se a palavra de Deus é tão poderosa; se a palavra de Deus tem hoje tantos pregadores, porque não vemos hoje nenhum fruto da palavra de Deus?
Vieira seguirá o sermão respondendo a essa interrogação. Apontará as três figuras atuantes em uma pregação:
  1. Deus
  2. o ouvinte
  3. o pregador
sendo o último o responsável pelo sucesso da mensagem. Listará cinco qualidades para o pregador:
No pregador podem-se considerar cinco circunstâncias: a pessoa, a ciência, a matéria, o estilo, a voz. A pessoa que é, e ciência que tem, a matéria que trata, o estilo que segue, a voz com que fala. Todas estas circunstâncias temos no Evangelho.
E em seguida, examinará cada uma dessas circunstâncias. Sobre o estilo, defenderá um estilo simples e natural, como o céu. Assim, o estilo pode ser claro e alto para agradar os que sabem e os que não sabem. Sobre a matéria do sermão, Vieira sugere o foco em um único tema, a fim de não confundir os ouvintes.
Uma árvore tem raízes, tem tronco, tem ramos, tem folhas, tem varas, tem flores, tem frutos. Assim há-de ser o sermão: há-de ter raízes fortes e sólidas, porque há-de ser fundado no Evangelho; há-de ter um tronco, porque há-de ter um só assunto e tratar uma só matéria; deste tronco hão-de nascer diversos ramos, que são diversos discursos, mas nascidos da mesma matéria e continuados nela; estes ramos hão-de ser secos, senão cobertos de folhas, porque os discursos hão-de ser vestidos e ornados de palavras.
Vieira também defende que o pregador deve buscar a ciência e ser original, sem precisar copiar outros pregadores.
O pregador há-de pregar o seu, e não o alheio.
A voz do pregador não seria tão importante, pois Jesus pregara sem gritar, e questiona:
Em conclusão que a causa de não fazerem hoje fruto os pregadores com a palavra de Deus, nem é a circunstância da pessoa: Qui seminat: nem a do estilo: Seminare; nem a da matéria: Semen; nem a da ciência: Suum; nem a da voz: Clamabat. (…) Pois se nenhuma destas razões que discorremos, nem todas elas juntas são a causa principal nem bastante do pouco fruto que hoje faz a palavra de Deus, qual diremos finalmente que é a verdadeira causa?
Ele então responde que os pregadores mudam o sentido da palavra de Deus, impondo significados, usando a Bíblia para justificar ideias próprias.
O sermão é concluído com uma crítica: os pregadores lisonjeiam o povo por medo de perderem a reverência. Propõe que o sermão deve fazer os ouvintes refletirem sobre suas ações e a buscarem o perdão. Exemplifica com a atividade do médico, que se preocupa com a recuperação do paciente e não com a dor. O sermão termina com Vieira chamando a atenção para sua profissão:
Que conta há-de dar a Deus um pregador no Dia do Juízo? O ouvinte dirá: Não mo disseram. Mas o pregador? Vae mihi, quia tacui: Ai de mim, que não disse o que convinha! Não seja mais assim, por amor de Deus e de nós.

Concluindo

Muito se estuda sobre as características e o contexto histórico do período Barroco na escola, mas pouco foco tem sido dado ao texto literário que de fato constitui esse momento da literatura.
Padre Antônio Vieira, sem dúvida, escreveu textos em forma de sermões que ultrapassam o mero propósito religioso, chegando a um patamar artístico. Opõe-se ao grande poeta Gregório de Matos no estilo, porém o complementa através de sua prosa concisa, exata.
Como leitura obrigatória de vestibular, não é dos autores mais fáceis, o que faz com que o candidato bem preparado possa destacar-se ao possuir o conhecimento necessário sobre os sermões listados no site da UFRGS, por exemplo.
Ler o Sermão da Sexagésima, o Sermão de Santo Antônio aos Peixes e o Sermão do Bom Sucesso das Armas de Portugal contra as de Holanda pode não ser a tarefa mais agradável, mas certamente dará seus frutos quando sua nota em Literatura ajudar a conquistar sua vaga na universidade pública.

Referências

Entrevistas de Antônio Alcir Pécora.
PÉCORA, A. “Para ler Vieira: as 3 pontas das analogias nos sermões”, in: Floema: Caderno de Teoria e História Literária. Vitória da Conquista, nº 1, p. 29-36, 2005.
PÉCORA, A. “Vieira, a inquisição e o capital”, in: Topoi. Rio de Janeiro, nº 1, p. 178-196.
VIEIRA, A. Sermões do Padre Antônio Vieira. Porto Alegre: L&PM, 2010.

sexta-feira, 2 de janeiro de 2015

Como surgiu a expressão "cabra da peste"?

Cabra da Peste - Imagem Flickr.com
Existe mais de uma versão para a origem da expressão, que até hoje possui duplo sentido. "Em geral, é usada para designar o sujeito destemido, mas também pode ser dita em tom de ofensa, quando a valentia vira prepotência", diz o lingüista Flávio de Giorgio, da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP). No Dicionário do Folclore Brasileiro, o folclorista Luiz da Câmara Cascudo afirma que "cabra" era como os navegadores portugueses chamavam os índios que "ruminavam o bétel", uma planta com folhas de mascar. Com o passar do tempo, o bicho pode ter virado sinônimo de homem forte por causa de seu leite, considerado mais denso e nutritivo que o da vaca. Tudo indica que a associação com "peste" surgiu por causa da má fama da cabra, considerada um animal simpático ao diabo na tradição sertaneja. Vale lembrar que os nordestinos também usam a palavra "peste" para nomear doenças graves.

Assim, o "cabra da peste" seria o sertanejo que sobreviveu superando todos os sofrimentos, "da dentição difícil, do sarampo certo, da caxumba, da desidratação inevitável, da catapora, da coqueluche, da maleita e do amarelão, e de tudo mais que atormenta a vida de um cristão nascido no Nordeste", como sugere o folclorista Mário Souto Maior no livro Como Nasce um Cabra da Peste. "Por tudo isso, a expressão completa só deve ter surgido por volta do século 17", afirma Flávio. Mas alguns especialistas defendem outra hipótese. A expressão seria uma variação de "cabra-de-peia", também usada para indicar a valentia do nordestino, que apanhava sem reclamar. "Depois de açoitada com a peia (chicote), a vítima era obrigada a beijar o açoite na mão do seu algoz", diz o etimologista Deonísio da Silva, da Universidade Federal de São Carlos (Ufscar).
A bem da verdade, a expressão "cabra da peste" é uma locução substantiva, onde a palavra "cabra", um substantivo feminino, significa indivíduo, a pessoa, o cabra. A palavra "peste", também um substantivo feminino, significa, em seu sentido figurado, valente, corajoso, que enfrenta as dificuldades e agruras do lugar onde vive. No linguajar do povo nordestino, portanto, a expressão serve para significar o homem destemido, valente, macho.
Fontes: Mundo Estranho - Edição Online - Canais - Sessão Cultura / Site significados.com.br /Site Dicionário Informal - com adaptações.

sexta-feira, 28 de dezembro de 2012

Governo adia para 2016 início do acordo ortográfico


O governo federal adiou para 2016 a obrigatoriedade do uso do novo acordo ortográfico. A decisão foi publicada nesta sexta-feira no Diário Oficial da União.
As novas regras, adotadas pelos setores público e privado desde 2008, estavam previstas para serem implementadas de forma integral a partir de 1º de janeiro de 2013.
A reforma ortográfica altera a grafia de cerca de 0,5% das palavras em português. Até a data da obrigatoriedade, tanto a nova norma como a atual poderão ser usadas.
Editoria de arte/Folhapress
O adiamento de três anos abre brechas para que novas mudanças sejam propostas. Isso significa que, embora jornais, livros didáticos e documentos oficiais já tenham adotado o novo acordo, novas alterações podem ser implementadas ou até mesmo suspensas.
DIPLOMACIA
A decisão é encarada como um movimento diplomático, uma vez que o governo, diz o Itamaraty, quer sincronizar as mudanças com Portugal.
O país europeu concordou oficialmente com a reforma ortográfica, mas ainda resiste em adotá-la. Assim como o Brasil, Portugal ratificou em 2008 o acordo, mas definiu um período de transição maior.
Não há sanções para quem desrespeitar a regra, que é, na prática, apenas uma tentativa de uniformizar a grafia no Brasil, Portugal, nos países da África e no Timor Leste.
A intenção era facilitar o intercâmbio de obras escritas no idioma entre esses oito países, além de fortalecer o peso do idioma em organismos internacionais.
"É muito difícil querer que o português seja língua oficial nas Nações Unidas se vão perguntar: Qual é o português que vocês querem?", afirma o embaixador Pedro Motta, representante brasileiro na CPLP (Comunidade dos Países de Língua Portuguesa).
Editoria de arte/Folhapress
Editoria de arte/Folhapress
Fonte: Folha de São Paulo/Educação

terça-feira, 14 de fevereiro de 2012

Jornal estatal angolano rejeita Acordo Ortográfico


1ABCORTO


“Para o “Jornal de Angola”, o português falado neste país tem características específicas, “uma beleza única e uma riqueza inestimável”, que devem ser mantidas, assim como tem o português do Alentejo ou o português da Bahia.” tornando-se assim em mais uma voz discordante donovo Acordo Ortográfico, que a Angola e Moçambique ainda não o ratificaram, na nossa opinião vamos deixar a poeira assentar e focalizarmo-nos nos   graves problemas  que temos na Educação e Cultura, tais como iliteracia, analfabetismo  e educação para todos.

O novo Acordo Ortográfico começou a ser aplicado nos documentos do Estado a 1 de Janeiro, vigorando em todos os serviços, organismos e entidades na tutela do Governo português. No entanto, existem ainda instituições que não o aplicaram, como a Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa ou o Centro Cultural de Belém, que voltou atrás na decisão depois do novo presidente Vasco Graça Moura ter ordenado que todos os conversores – ferramenta informática que adapta os textos ao acordo – fossem desinstalados dos computadores da instituição. Desde então, a discussão tem estado em aberto, tendo surgindo cada vez mais vozes contra a aplicação do acordo.

Agora o tema chegou às páginas do jornal angolano de capiatis públicos, depois da reunião, em Lisboa, dos ministros da Comunidade dos Países de Língua Portuguesa (CPLP), onde se pode ler que “nenhum país tem mais direitos ou prerrogativas só porque possui mais falantes ou uma indústria editorial mais pujante”. No editorial, o jornal escreve que a questão do Acordo Ortográfico foi um dos temas debatidos na reunião de ministros, uma vez que a Angola e Moçambique ainda não o ratificaram.

O jornal, dirigido por José Ribeiro, escreve que é importante que todos os países “respeitem as diferenças e que ninguém ouse impor regras só porque o difícil comércio das palavras assim o exige”, arrebatando assim o argumento de que o Acordo Ortográfico servirá para aproximar as comunidades de língua portuguesa.
“Escrevemos à nossa maneira, falamos com o nosso sotaque, desintegramos as regras à medida das nossas vivências, introduzimos no discurso as palavras que bebemos no leite das nossas Línguas Nacionais”, defende o editorial, acrescentando que “do ‘português tabeliónico’ aos nossos dias, milhões de seres humanos moldaram a língua em África, na Ásia, nas Américas”.

Exemplificando, o jornal recorre ao quotidiano dos jornalistas. “Ninguém mais do que os jornalistas gostava que a Língua Portuguesa não tivesse acentos ou consoantes mudas. O nosso trabalho ficava muito facilitado se pudéssemos construir a mensagem informativa com base no português falado ou pronunciado. Mas se alguma vez isso acontecer, estamos a destruir essa preciosidade que herdámos inteira e sem mácula. Nestas coisas não pode haver facilidades e muito menos negócios. E também não podemos demagogicamente descer ao nível dos que não dominam correctamente o português”, escreve o jornal, defendendo exactamente que os mais sábios ensinem os que menos sabem.

Para o “Jornal de Angola”, o português falado neste país tem características específicas, “uma beleza única e uma riqueza inestimável”, que devem ser mantidas, assim como tem o português do Alentejo ou o português da Bahia. “Todos devemos preservar essas diferenças e dá-las a conhecer no espaço da CPLP”, atesta, concluindo que não é aceitável que através de um qualquer acordo a grafia seja esquecida. “Se queremos que o português seja uma língua de trabalho na ONU, devemos, antes do mais, respeitar a sua matriz e não pô-la a reboque do difícil comércio das palavras.”

Fonte: Publico/Círculo Angolano Intelectual

quinta-feira, 6 de outubro de 2011

Questão de interpretação


'Um homem rico estava muito mal, agonizando. Pediu papel e caneta. Escreveu assim:


'Deixo meus bens à minha irmã não a meu sobrinho jamais será paga a conta do padeiro nada dou aos pobres. '


Morreu antes de fazer a pontuação. A quem deixava a fortuna? Eram quatro concorrentes.


1O sobrinho fez a seguinte pontuação:
Deixo meus bens à minha irmã? Não! A meu sobrinho. Jamais será paga a conta do padeiro. Nada dou aos pobres.


2) A irmã chegou em seguida. Pontuou assim o escrito:

Deixo meus bens à minha irmã. Não a meu sobrinho. Jamais será paga a conta do padeiro. Nada dou aos pobres.


3) O padeiro pediu cópia do original. Puxou a brasa pra sardinha dele:

Deixo meus bens à minha irmã? Não! A meu sobrinho? Jamais! Será paga a conta do padeiro. Nada dou aos pobres.


4) Aí, chegaram os descamisados da cidade.. Um deles, sabido, fez esta interpretação
:
Deixo meus bens à minha irmã? Não! A meu sobrinho? Jamais! Será paga a conta do padeiro? Nada! Dou aos pobres.


Moral da história:


"A vida pode ser interpretada e vivida de diversas maneiras.
Nós é que fazemos sua pontuação.
 
E isso faz toda a diferença..."

Texto enviado pela colega Sandra Portugal.

sexta-feira, 30 de setembro de 2011

Pelo uso correto da língua portuguesa




A Língua Portuguesa agradece e nossos ouvidos também. 

Não diga:
 
-Menas (sempre menos)
-Iorgute (iogurte)
-Mortandela (mortadela)
-Mendingo ( mendigo )
-Trabisseiro (travesseiro )
-Trezentas gramas (é O grama e não A grama)
-Di menor, di maior (é simplesmente maior ou menor de idade)
-Cardaço ( cadarço)
-Asterístico (asterisco)
-Beneficiente ( beneficente - lembre-se de Beneficência Portuguesa)
-Meia cansada (meio cansada)
 
E lembre-se também:
 
-Mal – Bem
-Mau – Bom
-A casa é GEMINADA (do latim geminare = duplicar)e não GERMINADA que vem de germinar, nascer, brotar.
-O certo é BASCULANTE e não VASCULHANTE, aquela janela do banheiro ou da cozinha.
-Se você estiver com muito calor, poderá dizer que está "suando" (com u) e não "soando", pois quem "soa" é sino!
-O peixe tem ESPINHA (espinha dorsal) e não ESPINHO. Plantas têm espinhos.
-Homens dizem OBRIGADO e mulheres OBRIGADA.
-O certo é HAJA VISTA (que se oferece à vista) e não HAJA VISTO.
"-FAZ dois anos que não o vejo" e não " FAZEM dois anos".
- POR ISSO e não PORISSO.
-"HAVIA muitas pessoas no local" e não " HAVIAM"
-"PODE HAVER problemas" e não "PODEM HAVER...."
-PROBLEMA e não POBLEMA ou POBREMA 
-A PARTIR e não À PARTIR
-Para EU fazer, para EU comprar, para EU comer  e não para MIM fazer, para mim comprar ou para mim comer.(mim não conjuga verbo; apenas "eu, tu, eles, nós, vós, eles")
-Você pode ficar com dó (ou com um dó) de alguém, mas nunca com "uma dó"; a palavra dó no feminino é só a nota musical (do, ré, mi, etc etc.)

E essa vai pro pessoal do TELEMARKETING.


-Não é eu vou ESTAR mandando, vou ESTAR passando, vou ESTAR verificando e sim eu vou MANDAR , vou PASSAR e vou VERIFICAR.

-Da mesma forma é incorreto perguntar:

COM QUEM VOCÊ QUER ESTAR FALANDO?

-Veja como é o correto e mais simples: COM QUEM VOCÊ QUER FALAR?


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