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segunda-feira, 16 de setembro de 2013

O planeta do desperdício. E da fome.



por Antonio Carlos Prado e Elaine Ortiz

A Organização das Nações Unidas para a Alimentação e Agricultura (FAO) estima que em todo o mundo 870 milhões de pessoas passem fome todos os dias. Na semana passada, veio outro dado impactante revelado também pela ONU: um terço de toda a alimentação produzida pelo homem é desperdiçada pelo próprio homem. Em termos econômicos isso significa prejuízo na casa dos US$ 750 bilhões anuais. “Não podemos mais nos omitir”, declarou o diretor-geral da FAO, o brasileiro José Graziano da Silva. O relatório aponta que 54% da comida desperdiçada ocorre na colheita, manipulação e armazenagem. Os outros 46% acontecem na fase de processamento, distribuição e consumo – nesse último ponto cabe já a ação individual responsável: não pôr comida no prato, por exemplo, além do apetite e acompanhar constantemente o prazo de validade dos alimentos estocados. “Do produtor ao consumidor falta a racionalidade da sustentabilidade”, diz Achim Steiner, diretor executivo da ONU.

Fonte: http://www.istoe.com.br/assuntos/semana/detalhe/324237_O+PLANETA+DO+DESPERDICIO+E+DA+FOME

sexta-feira, 20 de janeiro de 2012

Do clima à fome. Da fome à guerra


Cientistas comprovam a relação entre o El Niño e a ocorrência de guerras civis em países pobres

por LETÍCIA SORG (Revista Época)
TRAGÉDIA  CÍCLICA Moradores fogem da fome causada pela seca na Somália. A falta de chuvas na região foi prevista, mas o alerta não evitou a crise humana  (Foto: Boris Roessler/dpa/Corbis/Latin Stock)














As tristes imagens que tornaram a Somália uma catástrofe mundial no início da década de 1990 voltaram ao noticiário nos últi-mos dois meses. As fotos de crianças severamente desnutridas e de milhares de refugiados não deixam dúvidas sobre a gravidade da seca no Chifre da África, região de condições políticas precárias. Além da seca e da fome, a população já convive há duas décadas com uma guerra civil.
Que as consequências dos conflitos militares são mais graves em regiões com condições climáticas extremas é um fato comprovado há tempos. Um grupo de cientistas, no entanto, foi mais longe. Seu estudo, publicado na revista Nature, mostra o que muitos suspeitavam: as condições climáticas também podem agravar ou criar guerras locais. “O clima pode ser o último empurrão para a eclosão de uma guerra civil”, disse Solomon Hsiang, líder do grupo de pesquisa do Instituto da Terra da Universidade Colúmbia, em Nova York.
No Chifre da África, a atual seca é consequência do fenômeno La Niña – resfriamento de parte das águas do Oceano Pacífico. Em outras partes do mundo, porém, é geralmente associada a outro fenômeno, de características opostas, o El Niño – aquecimento das águas do Pacífico. Com os dois fenômenos em mente, Hsiang e seus colegas analisaram a variação climática de 175 países e a ocorrência de conflitos civis entre 1950 e 2004. Notaram não só que as guerras eram mais frequentes nos anos do El Niño, mais quentes e secos, como também costumavam eclodir no segundo semestre, junto com os efeitos do fenômeno climático. Encaixam-se nesse padrão a retomada da guerra civil no Sudão, em 1983, depois de dez anos de armistício; os conflitos no Haiti, após o golpe de Estado de 1991; e o início da guerra civil na República Democrática do Congo, em 1997. 
No ano passado, os cientistas já haviam alertado sobre o risco de que, se não voltasse a chover, o Chifre da África teria de se preparar para a fome. As águas não vieram, e estima-se que 30 mil crianças já tenham morrido de inanição. O quadro pode piorar: 750 mil pessoas correm o risco de morrer nos próximos quatro meses se não receberem ajuda humanitária. A Organização das Nações Unidas considera a atual crise a mais grave dos últimos 60 anos. Mas não se trata de um problema novo. Somália, Etiópia, Sudão, Eritreia, Quênia e Uganda sofrem com a fome há décadas. Nem inesperado: a crise atual foi prevista com meses de antecedência por cientistas e agências meteorológicas. Embora os ciclos de resfriamento e aquecimento das águas do Pacífico repitam-se há milhares de anos, a maioria dos países ainda não consegue lidar com as consequências dos períodos de seca. Entre elas, para aqueles mais instáveis politicamente, pode ser incluído o risco de um aumento da violência.Cientistas já desconfiavam que as alterações no clima poderiam estar ligadas a graves problemas sociais. O livro Late victorian Holocausts (Holocaustos do fim da era vitoriana), de Mike Davis, relaciona o El Niño às fomes do fim do século XIX. Mas é a primeira vez que conseguem estabelecer uma ligação estatística entre o clima e as guerras civis no mundo contemporâneo. Em média, a ocorrência do El Niño dobra o risco de um conflito civil nas áreas tropicais, mas o efeito parece ser mais significativo para os países mais pobres. “O El Niño geralmente torna o clima mais quente e seco, o que é muito ruim para a agricultura”, diz Hsiang. “E as perdas na produção agrícola afetam especialmente os países mais pobres, que dependem mais desse setor.” Com oferta menor de alimentos, a disputa por recursos naturais se acirra, o que pode levar muitos a trocar o debate político pacífico pelas armas. 
Em países mais ricos e com instituições políticas mais sólidas, como a Austrália e o Brasil, o El Niño não chega a ameaçar a paz social. O clima seria então apenas um último – mas importante – fator para a ocorrência de uma guerra. A conclusão é significativa quando o pla-neta caminha para um clima mais quente e mais seco. Não é possível comparar diretamente os efeitos do El Niño – um fenômeno abrupto e cíclico – com os do aquecimento do planeta – gradativo e permanente. Mas o mundo precisa estar atento para a possibilidade de novos conflitos gerados pela seca e pela escassez de alimentos.

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